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27 de Abril de 2024

SIDERURGIA

Diário do Aço - MG   27/05/2024

Em um primeiro momento pode-se até não perceber, mas o aço está presente em quase tudo que cerca a humanidade. Construção civil, eletrodomésticos, obras rodoviárias e ferroviárias, utensílios domésticos, produção de veículos, entre outros. A região do Vale do Aço é conhecida por sua vocação siderúrgica e contribui para o Brasil ter o posto de maior parque industrial da América do Sul. É considerado o 9º maior produtor de aço bruto do mundo e que exporta o produto para mais de 100 países.

Quem passa pelas ruas e avenidas da região pode reparar as chaminés e grandes estruturas das indústrias. Próximo à Estação Ferroviária Intendente Câmara, em Ipatinga, é possível ver bobinas e chapas de aço em vagões, prontas para serem enviadas aos clientes.

Mas até chegar a esse estágio, é necessário todo um processo, a começar pela “receita do bolo”. A reportagem do Diário do Aço foi até o Centro de Pesquisa da Usiminas para acompanhar a dinâmica de criação do aço.

Centro de Pesquisa: onde tudo começa
Inaugurado em 1971, o Centro de Pesquisa é o embrião do aço produzido pela Usiminas. É neste setor que 29 pesquisadores desenvolvem os produtos fabricados pela indústria. O material é produzido a partir de demandas dos clientes, ou de ideias dos próprios profissionais.

“Nós contamos com o maior Centro de Pesquisa em Aço da América Latina, que é capaz de desenvolver de maneira completamente independente da área industrial. A partir do desenvolvimento em escala piloto, a gente passa ‘a receita de bolo’, para que os aços sejam produzidos em escala industrial, depois visando o fornecimento para os clientes. O novo aço na Usiminas nasce no Centro de Pesquisa a partir de demandas que a gente capta dos clientes ou levantadas pelos pesquisadores. A gente inicia o desenvolvimento pensando no fornecimento a curto prazo para os clientes e a longo prazo nos desenvolvimentos de aços mais disruptivos”, afirma Marco Antônio Wolff, gerente do Centro de Pesquisa. O setor também é responsável por otimizar e melhorar a performance da produção e dos próprios produtos.

“Além de desenvolver o aço, nós trabalhamos e estudamos a conformabilidade, soldabilidade, resistência à corrosão, fadiga, pintura dentre outros aspectos do material, para atender aos critérios de exigência dos nossos clientes. A Usiminas trabalha com assistência técnica mais próxima do cliente e além disso a gente trabalha também nas homologações dos materiais. Acompanhamos o desenvolvimento e a aplicação nos clientes também, inclusive, propondo algumas aplicações”, esclarece.

Criação do aço
O processo é iniciado a partir de uma determinada composição química criada no Centro de Pesquisa, que posteriormente dá origem a uma liga. A vantagem é que os lingotes fundidos no Centro de Pesquisa são de 50 quilos, enquanto na área de produção são de 180 toneladas. Essa escala reduzida permite a redução de custos. Esse material é laminado também em escala piloto, e na sequência recebe os tratamentos térmicos. O aço produzido em escala reduzida é avaliado para verificar se foram alcançados os requisitos dos clientes propostos para o material. Posteriormente os testes são reproduzidos em escala industrial.

Anderson Figueiredo
Marco Antônio Wolff, gerente do Centro de Pesquisa, esclareceu sobre o processo de criação do aço

Setor automobilístico
A indústria automotiva é de extrema importância para a siderurgia e vice-versa. O aço produzido para as montadoras, via de regra, atentem a critérios mais rigorosos, sobretudo em termos de qualidade superficial e de propriedades mecânicas dos aços também.

“Em um automóvel você tem vários aços diferentes, alguns precisam ter uma boa conformabilidade para fazer os painéis de cobertura, por exemplo, que têm estampabilidade mais complexa, outros precisam ter uma resistência mecânica bem alta e boa capacidade de absorção de energia para durante uma colisão absorver a energia do impacto e não transferir para os ocupantes do veículo. Outros aços precisam ter uma boa capacidade de restrição de deformações, são aqueles que vão ser utilizados para fazer o habitáculo do veículo, então durante o impacto eles não podem se deformar. Considerando o projeto da montadora e do carro, a gente consegue um aço e um carro que seja seguro e que tenha uma boa eficiência energética”, pontua o especialista.

A Usiminas, em especial, tem atuado principalmente no desenvolvimento de aços cada vez mais resistentes para permitir redução de espessura e, com isso, conseguir reduzir a emissão de consumo de combustível do automóvel.

“Isso aí é o ‘ganha-ganha’, tanto da siderúrgica quanto também das montadoras que produzem carros mais eficientes e seguros. Esse é o nosso grande desafio no desenvolvimento dos aços”, garante o gerente do Centro de Pesquisa.
Matheus Valadares

Tecnologia de ponta
No Centro de Pesquisa é possível simular todas as etapas de produção do aço executadas na indústria. “Temos equipamentos para fazer todo esse processo, além de equipamentos para fazer toda a análise de engenharia de aplicação, desde corte-conformação até corrosão e pintura em escala piloto e também toda a caracterização metalúrgica do material. Da análise metalúrgica do material, a gente conta com equipamentos aqui bastante específicos, como por exemplo um simulador de galvanização em escala piloto, fundo de fusão a vácuo, laminador escala piloto e equipamentos mais sofisticados de caracterização de materiais”, especifica Marco Antônio.

Diário do Aço - MG   27/05/2024

A Usiminas recebeu a maior premiação para fornecedores oferecida pela Moto Honda, em uma cerimônia realizada na sede da empresa, em Manaus (AM). Responsável por fornecer 100% do aço utilizado pela montadora, recebeu o prêmio Best Suppliers Award na categoria Diamante, que reconhece o atendimento a todos os pré-requisitos relacionados às metas de qualidade, inovação, proatividade, competitividade e compromisso com a preservação ambiental. As informações foram divulgadas pela siderúrgica.

"É um reconhecimento que muito nos orgulha e fortalece nossa relação com a Honda no Brasil. Somos fornecedores exclusivos de aço para a montadora desde o início das atividades deles em nosso país. Deixo um agradecimento especial a todas as nossas equipes, incluindo produção, comercial, qualidade, Supply Chain, entre outras. Durante o evento, eles ressaltaram que a Usiminas foi uma grande parceira no enfrentamento da maior seca da história da Amazônia no ano passado, superando os desafios e mantendo o abastecimento da produção sem paradas", destacou Rinaldo Machado de Almeida, diretor de Vendas Mercado Interno da Usiminas.

A Usiminas foi representada pela equipe Comercial na cerimônia, que contou com a presença do Chefe de Operações Executivas da Honda na América do Sul, Arata Ichinose, além de outros executivos da montadora.

Diário do Comércio - MG   27/05/2024

São Paulo – O Brasil exporta para a União Europa o aço não europeu mais sustentável do mundo, de acordo com um estudo do Banco Mundial entregue à Folha.

Mas o país não terá vantagens na exportação do produto quando os europeus colocarem em efetivação o Cbam, a taxação de produtos importados com base nas emissões de CO2.

De acordo com o estudo, que considera dados de 18 países, o aço brasileiro exportado para a União Europeia emite 0,14 quilo de CO2 equivalente por dólar. O cálculo considera a matriz elétrica utilizada pela indústria, o chamado escopo 2 de emissões. O país só está atrás da Áustria, país da UE que emite 0,12 kg CO2/US$.

O Cbam, porém, considera apenas as emissões de CO2 oriundas de operações de dentro da fábrica, eliminando, portanto, a origem da eletricidade usada na indústria.

Nesse caso, o aço brasileiro, segundo o Banco Mundial, emite 0,37 kg CO2/US$, atrás de dez países, o que impacta a exposição do produto brasileiro à taxação europeia.

A base de dados utilizada para a comparação é de 2019.

“A maior parte das emissões [da produção de aço] vem do escopo 1. A a UE diz que até 50% das emissões seriam cobertas com as regulações atuais. Além disso, pouquíssimas empresas são hoje capazes de prover essa informação, até mesmo na UE, então ir para o escopo 2 seria ainda mais complicado, porque você teria que descobrir de onde vem a eletricidade que está sendo usada”, diz Maryla Maliszewska, uma das autoras do estudo do Banco Mundial, ao tentar explicar a decisão dos europeus.

O Cbam visa cobrar do aço estrangeiro o mesmo que é exigido do aço europeu no mercado de carbono da UE. A medida, porém, é carimbada como medida protecionista por parte da comunidade global.

“Tem algumas incertezas em relação à regra, mas o fato é que qualquer empresa que exporta para a Europa produtos de aço vai ser impactada”, diz Bruna Dias, gerente da Strategy&, do grupo PwC.

Na plataforma criada pelo Banco Mundial para apresentar o nível de exposição de produtos ao Cbam, o Brasil aparece pintado de uma mistura de vermelho com verde, enquanto Canadá, Estados Unidos, México, Colômbia e Argentina estão pintados de verde.

O Brasil só não será mais prejudicado porque a quantidade de aço brasileiro que entra em solo europeu é pequena, apesar de significativa. De acordo com o Instituto Aço Brasil, 48,7% dos produtos siderúrgicos exportados pelo país em 2022 foram para os Estados Unidos, enquanto cerca de 9,5% foram para países da União Europeia e 9,4% para a Argentina.

Entre as grandes siderúrgicas brasileiras, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) é a que mais deve ser atingida. No ano passado, a empresa vendeu R$ 4,4 bilhões de produtos do setor de siderurgia para a Europa –o principal destino de exportação, segundo seu balanço de resultados.

A empresa considera o Cbam um “risco latente e de alta relevância” e o tamanho de uma eventual perda ainda está em estudo.

“As medidas do Cbam irão impactar todo o aço que a companhia exporta para a Europa, em particular o volume enviado para uma das nossas unidades em Portugal. Adicionalmente, existem impactos indiretos relacionados à entrada de um volume adicional de aço no Brasil produzido por países como China e Índia, por exemplo, e que teria como destino originariamente a Europa”, diz Helena Brennand Guerra, diretora de sustentabilidade e meio ambiente da CSN.

Guerra analisa que o torna o Cbam prejudicial para o aço brasileiro não é apenas o descarte do escopo 2, mas o financiamento público de siderúrgicas europeias em paralelo à taxação do produto feito em economias emergentes.

“A União Europeia tem disponibilizado recursos bilionários para que empresas de aço façam a sua transição para rotas de descarbonização. Muitos desses projetos entrarão em operação em 2026, justamente no ano em que o Cbam passará a taxar os produtos importados”, afirma Helena.

“Ou seja, taxam o aço produzido nos países em desenvolvimento, que historicamente menos contribuíram para a emissão de gases de efeito estufa, para financiar não apenas a transição energética mas principalmente a modernização do parque industrial europeu.”

O estudo do Banco Mundial mede as emissões por quilo de gás carbônico por dólares de aço vendido, mas, quando a métrica é tonelada de CO2 por tonelada de aço vendido, a referência padrão, o Brasil também aparece como um dos produtores mais sustentáveis de aço.

Entre 2020 e 2022, o setor siderúrgico brasileiro reduziu suas emissões de 1,9 t CO2/t de aço bruto para 1,7, ante a média global de 1,89, de acordo com o Instituto Aço Brasil.

Segundo a Global Efficiency Intelligence, consultoria americana de energia, o Brasil está em sexto no quesito sustentabilidade na lista de 16 países produtores de aço. Quando o carvão vegetal utilizado pelas siderúrgicas brasileiras não é considerado neutro devido a origens ligadas ao desmatamento, o Brasil vai para 12º lugar.

Em 2022, 84% do aço brasileiro foi feito via rota integrada, quando se utiliza altos fornos a carvão –maior fonte de CO2 nessa indústria. Desses, em 11% foram usados carvão vegetal em alguma medida, o que reduz as emissões.

Os outros 16% foram produzidos por meio de forno elétrico e sucata, hoje a forma mais sustentável mundialmente de produzir aço. Em comparação, no mundo a média é de 70% e 30%, respectivamente.

A Gerdau, uma das siderúrgicas com maior grau de sustentabilidade do país, tem a produção inversa ao mundo: 70% via forno elétrico e sucata e 30% via carvão mineral. Esse número, porém, deve trazer pouca vantagem à empresa em um contexto de Cbam concentrado em escopo 1.

“O que nos traz as oportunidades no aço brasileiro é a energia elétrica renovável. Se eu comparar a produção da Gerdau, à base de sucata, considerando o escopo 1 e 2, na unidade no Brasil, com uma unidade nos Estados Unidos, a primeira emite metade da outra. Mas, se eu olhar só o escopo 1, é praticamente igual”, diz Cenira Nunes, gerente-geral de meio ambiente da Gerdau.

O setor teme ainda que, com o mercado europeu concentrando o aço mais sustentável, aqueles países que não tenham regulações semelhantes, como o Brasil, sejam inundados de aço com maior pegada de carbono.

“Nós deveríamos ter um Cbam brasileiro. A China é 60% do mercado mundial; o mês de produção da China é a produção anual do Brasil. Ela está melhorando seu parque industrial, reduzindo a pegada de carbono daquela quantidade de aço que ela põe na Europa, para que não seja sujeita ao Cbam, em detrimento de colocar os demais no resto do planeta”, diz Guilherme Abreu, gerente-geral de sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil.

Recentemente a empresa vendeu seu primeiro aço zero carbono para a Águia Sistemas, empresa de intralogística.

Stefania Relva, consultora sênior do Instituto E +, pensa de maneira semelhante: “[Com o Cbam], a gente vai ter que competir com muitos produtos não certificados no mercado internacional, então a gente perde o mercado do Cbam, perde espaço na competição internacional e provavelmente perde o mercado nacional. Porque esses produtos não certificados que flutuam no mercado internacional vão acabar no mercado doméstico também.”

Sob o mesmo receio, o Reino Unido, por exemplo, está se articulando para criar sua própria taxação. Já o Brasil discute a introdução de um mercado de carbono para a indústria local. (Pedro Lovisi)

ECONOMIA

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

Em depoimento recente à Câmara dos Deputados, o Ministro da Fazenda afirmou que a meta de inflação de 3% é “exigentíssima” e “inimaginável”. Não me parece nem uma coisa, nem outra, dado que vários países estáveis da América Latina, que compartilham conosco certa identidade, têm a mesma meta, ou até mais baixa, como é o caso do Peru.

A falha de imaginação do ministro não é, contudo, o principal problema de sua declaração precipitada. Há pelo menos outros dois, bem mais sérios.

Não é segredo a enorme suspeita acerca da orientação da política econômica. As palavras por vezes parecem certas (não neste caso, óbvio), mas os atos costumam caminhar na direção oposta.

Falas do presidente Lula no início de 2023, dando a entender seu desconforto com a meta de 3%, causaram estresse no mercado de renda fixa. Naquele momento o ministro buscou acalmá-lo definindo 3% como a meta “para sempre”. Já o decreto que deveria regulamentar tal proposta não veio à luz até agora (está prometido para junho; ao menos não é “até quinta-feira”).

Assim, a declaração de Haddad ajudou a botar lenha na fogueira da desconfiança sobre a atuação do Banco Central a partir de 2025, quando o governo terá indicado a maioria dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom). A diferença entre os títulos do governo sem indexação à inflação e com indexação, que serve como termômetro das expectativas para o IPCA, apresentou novo salto em seguida à sua fala, somando-se ao verificado após a decisão dividida do Copom, e agora se situa em patamar entre 5,5 e 6,0% ao ano.

Isto torna ainda mais difícil a tarefa do BC, inclusive para as próximas reuniões, reduzindo as chances de novos cortes nas taxas de juros.

À parte a fala desastrada, sua própria atuação no comando da política fiscal também tem deixado a desejar, o exemplo talvez mais claro da distância entre o discurso e a ação. Não apenas as metas prometidas de resultado primário são insuficientes para frear a marcha do endividamento público, mas é também pouco provável que sejam cumpridas, sinalizando dívida ainda mais alta à frente.

Já seu “novo arcabouço fiscal” faz água por todos os lados e provavelmente será abandonado na primeira ocasião que ameaçar os planos para reeleição do presidente.

Esta é a principal razão para a desconfiança sobre a trajetória futura de inflação, não os “fantasminhas” alegados pelo ministro. Se quisesse mesmo que a meta para a inflação fosse menos exigente e imaginável, trataria de pensar a sério o controle do gasto público, alternativa inexistente em suas políticas.

IstoÉ Dinheiro - SP   27/05/2024

A inclinação da curva de juros americana (medida como a diferença entre o título de 10 anos e o de 2 anos) está invertida desde julho de 2022. Este é o período mais longo de inversão da curva na série histórica nos Estados Unidos. O fenômeno da inversão ocorre sempre que a taxa de juros dos títulos de curto prazo excede a taxa de juros dos títulos de longo prazo. A ideia é que tal inversão seja um potencial precursor de uma recessão. O principal objetivo do presente artigo é avaliar a reação dos investidores e o significado de tal problema no atual contexto dos Estados Unidos.

O conceito da curva de juros tem início com títulos de diferentes ‘durations’ e é baseado nos títulos do tesouro americano. Estes são considerados ativos ‘livres de risco’, com probabilidade nula de eventual ‘calote’ da dívida pública americana. Em diferentes graus, eles integram uma parcela significativa das reservas internacionais de vários países, como Brasil e China. Uma forma simples de entender a curva de juros é olhar as taxas de juros, ou ‘yields’, pagos pelo tesouro americano com ‘durations’ de três meses, dois, cinco, dez e trinta anos. Os investidores em geral esperam obter um rendimento maior quanto maior for a ‘duration’ do título. Assim, em termos normais, o título de trinta anos paga mais do que um título de 2 meses, por exemplo. Esta é a curva normal de juros, que ocorre quando os ‘yields’ sobem à medida que o prazo de resgate (‘duration’) aumenta.

Quando a curva fica invertida as taxas dos títulos curtos passam a ser maiores do que as dos longos. A inversão pode ser vista como o Federal Reserve aumentando as taxas de juros de curto prazo acima da taxa de juros neutra (a taxa que não provoca nem inflação nem desemprego). Ninguém sabe ao certo o valor preciso de tal taxa neutra. Ainda assim, as taxas de longo prazo, ajustadas pela inflação, são uma boa proxy para tanto. Taxas curtas muito acima da taxa neutra tendem a desaquecer a economia até a chegada da recessão. A recessão emerge porque os bancos centrais preferem errar para cima e manter a política contracionista a terminar o ciclo de alta antes da inflação baixar.

Há três formas de analisar a inversão da curva. A primeira delas é tratar a mesma como um problema de informação, inerente ao mercado de títulos (renda fixa). A inversão expressa a visão dos investidores do mercado sobre a inflação futura e crescimento da economia. A segunda forma é uma espécie de profecia autorrealizável. Neste caso quando as empresas percebem a inversão da curva elas se tornam mais cuidadosas nos seus investimentos e contratações futuras. Isso faz com a que a ameaça de recessão se torne ainda mais presente. A terceira explicação é a visão causal. Esta última nos diz que se a autoridade monetária promover uma política monetária contracionista por bastante tempo, de modo abrupto e rápido você conseguirá promover uma recessão.

Muito embora não se saiba quando o Fed irá baixar juros é pouco provável que as taxas voltem a subir este ano. Não obstante, o retorno dos títulos de 10 anos está no segundo maior nível desde 2007; o de 30 anos desde 2011 e dos 10 anos atrelado a inflação desde 2009. A alta brutal dos retornos dos títulos parece estar relacionada à piora fiscal do país. A relação dívida/PIB nunca esteve tão alta e atingiu 130%. O fato da relação dívida/PIB estar no pico de 130% levou as agências de risco a rebaixarem a nota da dívida pública americana. O financiamento do déficit fiscal ocorre via venda de títulos públicos de diversos vencimentos. A venda de tais títulos leva a um aumento dos retornos e explica a alta dos títulos de médio e longo prazo. Tal fenômeno é conhecido como dominância fiscal. Este problema emerge sempre que existe um banco central comprometido com a meta de inflação que está subindo juros (e, portanto, vendendo títulos) e um tesouro nacional que não tem compromisso com a estabilidade fiscal e precisa financiar seu déficit via venda de títulos públicos. Neste sentido, a alta de juros por razões de política monetária termina sendo ainda mais exacerbada devido ao componente fiscal, dada pela venda de títulos públicos necessários para financiar o déficit. Em outras palavras, podemos dizer que a inversão da curva de juros possa estar ocorrendo devido à dominância fiscal.

*VITORIA SADDI é estrategista da SM Futures. Dirigiu a mesa de derivativos do JP Morgan e foi economista-chefe do Roubini Global Economics, Citibank, Salomon Brothers e Queluz Asset, em Londres, Nova York e São Paulo. Também foi professora na California State University, na University of Southern California e no Insper. É PhD em economia pela University of Southern California.

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

O Copom foi criado em 1996, já faz mais de um quarto de século, e sua reunião mais recente, a de número 262, fez muito barulho. Não foi a primeira vez que, nesse colegiado, que sempre teve nove membros, se observou um 5 a 4. Foi a segunda. A primeira foi também recente, na reunião de número 256, de 2/08/2023.

Os dois únicos casos de 5 a 4 na história do Copom foram, portanto, já na vigência do regime que alterou a sistemática dos mandatos dos dirigentes do Banco Central (LC179/2021). Os dois 5 a 4 ocorreram na parte da presidência de Roberto Campos Neto que fica no interior da presidência de Lula. Compreensível, ainda que inquietante.

Para entender o significado dessa divergência, é útil refletir sobre o que se passou nas 190 reuniões anteriores (a partir de 22/05/2002, a de número 71)¹: em apenas 28 dessas reuniões (14,7% dos casos) houve voto divergente, ou minoritário. Afora os dois casos recentes de quatro divergências, se observam 13 casos com três, 12 com duas e apenas um caso de um divergente solitário.

Nunca houve caso de divergência “de substância”, aquela mais profunda, na qual o minoritário queria ir na direção contrária do comitê. Foram sempre divergências de “dosagem” (0,25% a mais ou a menos, mas para o mesmo lado, por exemplo) ou de “timing”, ou seja, para apressar ou atrasar um ciclo que se confirma na reunião seguinte por meio de votos unânimes.

Essa propensão ao consenso nada tem de acidental, e é bem mais que uma “cultura” da casa. A diretoria do BC é colegiada por força de lei (art. 3, LC179/2021), ou seja, toma decisões sempre por consenso e, por isso, possui uma única voz.

Por transitividade, o Copom funciona como colegiado, pois, afinal, se confunde com a diretoria do BC, numa sessão especial, que funciona com a mesma dinâmica das outras reuniões, ainda que seja temática e traga chefes de departamento e seus números e estudos.

Uma diferença importante, entretanto, é a transparência: extensas atas transmitem inúmeras mensagens e, inclusive, registram os votos divergentes, funcionam como indicação de viés decisório.

Cada banco central faz de um jeito, em respeito à sua história. O nosso sistema é o que melhor se adapta ao nosso passado em matéria de bagunça com a governança da moeda e ao risco de captura sobretudo do CMN, esse, sim, uma jabuticaba e um perigo.

Sempre será possível melhorar alguma coisa, mas certamente seria um retrocesso substituir a colegialidade por um sistema de bancadas dentro do BC.

Globo Online - RJ   27/05/2024

O comportamento da China no sistema global de comércio foi amplamente criticado pelos chefes de finanças do G7, grupo que reúne algumas das economias mais desenvolvidas do mundo, em uma demonstração de unidade.

O clube de ministros e banqueiros centrais dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá concluiu sua reunião na cidade italiana de Stresa, às margens do lago, neste sábado, com um comunicado que citou nominalmente a segunda maior economia do mundo e acusou o país de prejudicar as economias de seus parceiros comerciais.

"Enquanto reafirmamos nosso interesse em uma colaboração equilibrada e recíproca, expressamos preocupações sobre o uso abrangente de políticas e práticas não mercadológicas pela China, que prejudica nossos trabalhadores, indústrias e resiliência econômica”, disseram. “Continuaremos a monitorar os potenciais impactos negativos do excesso de capacidade e consideraremos tomar medidas para garantir condições de concorrência equitativas.”

Essas palavras de advertência vieram um dia depois do anúncio da administração Joe Biden, dos Estados Unidos, na noite de sexta-feira de voltar a cobrar tarifas sobre centenas de bens importados da China. A escalada na retórica pode ser apenas o prelúdio para novas tensões se Donald Trump voltar à Casa Branca nas eleições dos EUA ainda este ano.

Washington permanece como o principal protagonista na pressão contra a China, embora no início da semana, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, tenha enfatizado que os participantes do G7 da Alemanha, França e União Europeia também têm queixas. O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, foi um dos participantes que pressionaram por uma frente unida.

Títulos verdes: Governo define alocação de recursos de 2ª emissão de título sustentável e está pronto para ir a mercado

“A questão das tarifas para a China é um fato objetivo, não uma escolha política”, disse o ministro das Finanças da Itália, Giancarlo Giorgetti, que presidiu a reunião, a repórteres no fim do encontro. “Quando os EUA, com sua Lei de Redução da Inflação, iniciaram esse tipo de política, isso forçou uma reflexão, também dentro da UE, sobre como se comportar nessas situações.”

Os EUA permitirão que as isenções tarifárias expirem para cerca de metade dos 400 produtos que haviam sido poupados, anunciou o escritório do Representante de Comércio dos EUA na sexta-feira. Outras 164 isenções serão estendidas até maio do próximo ano.

No início da semana, a China sinalizou que está pronta para impor tarifas de até 25% em carros importados com grandes motores, destacando como as disputas sobre automóveis — uma das maiores indústrias da Europa — são grandes no atual conflito.

O fabricante chinês BYD, que superou a Tesla no ano passado como o maior fabricante global de veículos elétricos, planeja trazer seu hatchback Seagull para a Europa no próximo ano. Após tarifas e modificações para atender aos padrões europeus, os executivos esperam vendê-lo por menos de €20.000 no continente.

Práticas Nocivas

A linguagem do comunicado do G7 sugere possíveis medidas retaliatórias do grupo como um todo.

“Trabalharemos para tornar nossas cadeias de suprimentos mais resilientes, confiáveis, diversificadas e sustentáveis, e para responder a práticas nocivas, enquanto protegemos tecnologias críticas e emergentes”, disseram os ministros. “Consideraremos, quando necessário, medidas apropriadas para promover a redução de riscos e a diversificação do fornecimento.”

Muralha começou a ser erguida no século III a. C., com objetivo de impedir a entrada de invasores estrangeiros; monumento tem milhares de quilômetros e levou centenas de anos para ficar pronto

Ainda não há consenso dentro do G7 sobre até onde elevar a temperatura na esfera do comércio global.

O chanceler do Tesouro do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse em uma entrevista à Bloomberg Television que seu país não se apressará em impor medidas.

“É muito importante que o mundo não volte inadvertidamente ao protecionismo”, disse. “Nosso ponto de partida é que realmente pensemos muito antes de impor tarifas ou remédios comerciais. Mas ainda estamos realizando o trabalho detalhado necessário para tomar uma decisão.”

Giorgetti reconheceu pessoalmente os diferentes graus de preocupação dentro do grupo.

“É inegável que há diferentes pontos de vista sobre como lidar com essa questão, e temos que enfrentá-la cientes da possível retaliação da China”, disse ele.

Mesmo assim, o resultado geral de uma reunião que originalmente se esperava focar principalmente na engenharia de ajuda para a Ucrânia, junto com discussões sobre a economia global, agora abrange uma linguagem mais assertiva do grupo sobre a China em um documento conjunto que normalmente mal menciona o comércio.

O que pode seguir inicialmente é um estudo aprofundado sobre a ameaça que a China representa, uma medida que Le Maire, ministro de Finanças da França, pressionou para implementar.

“Apoiamos o trabalho, em colaboração com outras áreas relevantes, para avaliar o impacto macroeconômico dos subsídios e outras medidas de política industrial e comercial globalmente”, disseram os ministros, comprometendo-se ainda a “promover um diálogo com países terceiros sobre questões relacionadas a políticas industriais, fragmentação econômica, riscos de concentração de mercado e excesso de capacidade.”

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ter a impressão de que há um “fantasminha fazendo a cabeça das pessoas e prejudicando o nosso plano de desenvolvimento”. Para ele, vários indicadores macroeconômicos mostram que o Brasil vai bem. “Às vezes me chega um comentário e eu fico pensando de onde está saindo essa informação?”, questionou o ministro, ao participar de audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara na última quarta-feira.

A confirmar as assombrações do ministro, o mercado financeiro teve um dia péssimo para os negócios. Parte desse movimento foi consequência da ata do Federal Reserve, o banco central dos EUA, que sinalizou juros altos por mais tempo e não descartou elevá-los caso a inflação norte-americana volte a subir. Mas é inegável que parte dessa reação se deveu às palavras do próprio ministro, que não poderia ter escolhido forma mais desastrosa para criticar o pessimismo dos investidores.

“As nossas expectativas, que eram consideradas exageradas até outro dia, ‘ah, não vai acontecer o que a Fazenda está dizendo’, por enquanto, estão acontecendo”, afirmou Haddad. “As contas estão mais equilibradas, a inflação totalmente controlada, os núcleos estão rodando abaixo da meta, que é exigentíssima”, acrescentou.

Sabendo como o mercado financeiro funciona, o ministro poderia ter parado por aí, mas não se conteve. “Uma meta (de inflação) para um país com as condições do Brasil, de 3%, é um negócio inimaginável. Desde o regime de metas instituído, quantas vezes o Brasil teve 3% de inflação? Em quantos anos isso aconteceu, nos 25 anos do regime de metas?”, questionou Haddad.

É bem provável que o ministro não tenha se dado conta da gravidade do que dizia naquele momento. Fato é que havia uma expectativa no ar sobre a próxima decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), quando o colegiado formado por Haddad, pela ministra Simone Tebet e pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, se reunirá para confirmar o alvo da inflação de 2025 e de 2026 e fixar a meta de 2027.

A completar o quadro, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC expôs um racha entre os membros mais antigos e os indicados pelo presidente Lula da Silva. Essa divisão acendeu o alerta de que o governo está incomodado com os juros elevados e poderá mudar os rumos da política monetária em 2025, quando terá maioria entre os integrantes do Copom.

Como se sabe, a Selic é o principal instrumento da autoridade monetária para conduzir a inflação à meta definida pelo CMN. Para o mercado, a declaração de Haddad soou como um recado. Se a meta é “exigentíssima”, é porque está fora do lugar. Para piorar, quem já disse publicamente que a meta estava errada e precisava ser alterada foi ninguém menos que o presidente da República, em abril do ano passado.

Foi o suficiente para estragar o humor dos investidores de vez. A curva futura de juros embicou para cima, o dólar fechou em alta, o Ibovespa encerrou a quarta sessão consecutiva em queda e atingiu o menor nível em quase um mês. Esse cenário assombrado não foi provocado por nenhum “fantasma”, e sim pelo próprio ministro Haddad. Se há espíritos a perturbar o trabalho do ministro, não é no mercado financeiro que eles estão, e sim no entorno de Haddad. O mercado não torce contra o governo, mas tampouco ignora o contexto político em que está inserido.

O que não falta são detratores a atuar contra os objetivos de Haddad de equilibrar as contas, o que necessariamente requer reduzir o gasto público, cortar os subsídios e zerar o déficit primário. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), desqualificou Simone Tebet depois que esta propôs a correção dos benefícios previdenciários pela inflação, única forma de preservar o arcabouço fiscal. Já seria bastante grave, não fosse o fato de que Gleisi muitas vezes é a porta-voz informal de Lula da Silva.

Portanto, Haddad faria melhor se, em vez de se ocupar de fantasmas, enfrentasse os vivíssimos adversários do equilíbrio fiscal.

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

As expectativas de inflação têm subido, por diferentes motivos, e isso é uma notícia ruim para o Banco Central, afirmou nesta sexta-feira, 24, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

“A gente vê expectativa de inflação subindo bastante”, disse, durante o 10º Seminário Anual de Política Monetária, do Centro de Estudos Monetários (CEM) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), no Rio de Janeiro. “Tem vários fatores, tema de política fiscal, tema externo, junto do tema de credibilidade do Banco Central”, completou.

Segundo Campos Neto, o BC “olha muito no detalhe os dados na margem” da inflação no Brasil. Ele acrescentou que tem chamado atenção mais recentemente o fato de que sempre que a inflação apresenta uma taxa mais comportada, esteja dependente de um preço de alimentação mais baixa.

“A gente começa a pensar se, por causa do Rio Grande do Sul, por causa do que está acontecendo, o preço de alimentação vai ser um pouco mais alto”, afirmou o presidente do BC.

Segundo ele, a autoridade monetária também acompanha as projeções de cálculos de quanto custará a reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul, lembrando que algumas contas vão até 2% do PIB. “Isso tem influência no fiscal na frente”, lembrou.

Campos Neto afirmou que, no início do ano, se sentia “desconfortável” com o pressuposto de que a inflação já estava sob controle. “Lembro de um evento recente de um banco em São Paulo. Todos falavam que a última milha da inflação já tinha ido, que a inflação já tinha convergido. Aquilo me deixava muito desconfortável”, disse.

Ele assinalou que o custo da crise de 2008 foi maior que o da pandemia de covid. “A gente viu que a crise de 2008 custou muito mais à economia global em termos de crescimento de longo prazo.”

O presidente do BC comentou ainda a meta fiscal perto de zero, que faz pensar o que isso significa, gerando um questionamento maior sobre a convergência. Campos Neto mencionou o histórico de taxas de juros reais no País, ressaltando que houve melhora recente.

“A taxa de juros real está em menor do que foi no passado. (O juro real) Foi muito maior do que os emergentes por muito tempo, agora está praticamente colado. A gente vê que, ao longo do tempo, o Brasil tem sido capaz de navegar com taxas de juros reais um pouco mais baixas”, apontou ele, acrescentando que o BC tem uma taxa neutra um pouco menor que a estimada pelo mercado.

Quanto ao crescimento da atividade econômica brasileira, Campos Neto disse que a expectativa do mercado é de expansão maior do que a prevista pelo BC. “A gente tem discutido o que isso significa para o aquecimento estrutural da economia”, apontou.

De forma geral, o BC “vê a parte do mercado de trabalho bastante bem” no País, disse.
Fábricas chinesas

O presidente do Banco Central afirmou ainda ser preciso observar qual será o custo da capacidade ociosa em um grande número de fábricas na China. “A China é outro tema que a gente tem discutido bastante”, disse, lembrando que o país asiático tem passado por uma fase de forte desinvestimento do setor imobiliário e investimento grande no setor industrial. “Dos investimentos no setor industrial, mais de 60% estão ligados a temas de eletrificação”, comentou.

Ao mesmo tempo, disse, as restrições comerciais contra o país estão subindo num padrão acima do observado no passado. “Isso faz com que haja uma capacidade ociosa grande na parte de eletrificação. Vemos em várias fábricas de carros elétricos, algumas inclusive ligadas a empresas de real estate que deram errado no passado.”

Neste cenário, apontou, pode ter ocorrido uma alocação ineficiente que terá impactos ainda desconhecidos. “Ficamos pensando se esse movimento de manada, conduzido por uma ideia ou um setor, não gera uma alocação ineficiente e qual o custo que isso vai ter lá na frente (na China).”

Desinflação americana

Para Campos Neto, a inflação dos EUA é tema recorrente de discussão e as autoridades financeiras vêm debatendo a situação. “A gente está sempre discutindo os EUA, perguntando de onde virá a desinflação americana”, disse.

Ele destacou que, nos EUA, há forte pressão nos custos, inclusive para promoção da sustentabilidade nas cadeias produtivas. “O custo da sustentabilidade tem sido mais alto do que o imaginado anteriormente. O custo de realocação das cadeias também.” Assim, haveria elevação da perspectiva da taxa de juros terminal no país.

Campos Neto disse haver um debate sobre o canal de transmissão da inflação, se seria efeito da poupança acumulada. “Há um debate se o padrão de consumo dos EUA mudou”, afirmou.

O presidente do BC disse ainda que, com os preços de energia parando de cair, o segmento não dará contribuição importante no controle da inflação ao redor do mundo.

“O desafio que a gente tem agora é o preço da energia parando de cair. A energia não vai ser grande contribuidora. E a alimentação é uma grande incógnita. Parece que não temos mais grandes elementos para dizer que vamos ter uma inflação de alimentos caindo no mundo”, disse.

“Quando olhamos para alimentos e energia, teve um grande pedaço da desinflação que veio dessa parte. Mas (o preço da) energia parou de cair. Na Europa, elementos indicam que isso não vai ser mais um grande contribuidor (para o controle da inflação)”, continuou.

Ele observou que os índices de anomalia de temperatura têm piorado ao longo do tempo. “Quais os impactos disso em termos de preço para alimentos e energia? Há um debate muito grande no mundo entre os banqueiros centrais, que é o quanto esse tema de sustentabilidade cabe na agenda do Banco Central. Nós temos defendido que isso é muito importante porque influi na estabilidade de preços”, disse.

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

Depois da divisão do Copom na reunião de maio, na qual quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriram divergência e votaram pelo corte maior dos juros, o mercado financeiro entende que o encontro de junho será decisivo para a credibilidade do Banco Central.

Desde 8 de maio, quando a Selic caiu para 10,5%, as expectativas de inflação para 2024 subiram de 3,73% para 3,8%, enquanto para 2025 foram de 3,64% para 3,74%. Em ambos os casos, as projeções ficaram mais distantes da meta de 3%, o que indica perda de confiança na autoridade monetária.

Economistas e investidores ouvidos pelo Estadão estão divididos sobre se o BC fará uma parada técnica nos cortes de juros ou se irão votar por mais uma redução de 0,25 ponto porcentual (pp.). Mais do que a decisão, porém, o que será analisado com lupa serão as escolhas dos diretores Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti, Ailton Santos e Rodrigo Alves Teixeira, os quatro indicados de Lula.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, entende que a próxima reunião será determinante na batalha das expectativas. Ele avalia que os novos diretores terão em mente que manter a divergência levará a um aumento dos juros longos negociados pelo mercado, com impacto direto sobre os empréstimos de longo prazo, como os financiamentos imobiliários.

Isso também levaria ao risco de novas altas da Selic em 2025 e 2026, um calendário mais próximo ao das eleições presidenciais. Por isso, ele acredita que a Selic vai parar de cair, em decisão unânime, como uma espécie de freio de arrumação na política monetária.

“Na época do Alexandre Tombini (presidente do BC no governo Dilma Rousseff), ele baixou muito a Selic, o mercado achava que ele estava errado, e o custo do dinheiro explodiu. O efeito sobre o crédito foi o contrário. Entendo que os diretores sabem disso e terão que ser duros em excesso agora”, disse.

Ele avalia que os sinais dados pelo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, já têm sido nessa direção. Galípolo é o principal cotado para assumir a presidência do Banco após a saída de Roberto Campos Neto, em dezembro. Com a indicação de mais três diretores por Lula até dezembro, o Banco Central no próximo ano terá sete dos nove indicados pelo atual presidente.

“Entendo que o Galípolo já tem demonstrado o que eles vão fazer. Desde a ata (da reunião do Copom), ele vem adotando tom mais duro em relação à inflação. Acho que vão ter que ser mais duros do que o necessário, em junho, dado o que ocorreu em maio. Meu cenário básico é de decisão unânime, com parada nos cortes, para mostrar força”, afirmou.

O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, avalia que o cenário de inflação permite mais um corte de 0,25 ponto na Selic, em junho. Os chamados núcleos (que excluem itens mais voláteis) do setor de serviços estão bem comportados, sem mostrar aceleração. Porém, como vem crescendo as apostas no mercado pela interrupção nos cortes, uma nova divergência poderá ter um efeito ainda pior sobre as expectativas.

“Uma decisão de parar de cortar, como parece ser a posição predominante no mercado, vai significar outra divergência no Copom, e desta vez até um ruído maior por parte do Lula e do PT. Isso vai ser muito pior para o mercado e para os longos meses de mandato do Roberto Campos Neto no cargo”, afirmou.

Luis Otávio Leal, do G5 Partners, aposta em redução em 0,25 ponto da Selic, em decisão unânime, ou no placar de 7 a 2, com divergências feitas pelos diretores Diogo Guillen e Renato Gomes, considerados mais conservadores dentro do colegiado.

“Entendo que os quatro diretores indicados pelo Lula já abraçaram um discurso mais duro, e não há como voltar atrás no curto prazo. Ainda acho difícil que o Copom tenha maioria para parar de cortar. Ou vai ser unânime ou vai ser 7 a 2 pelo corte”, explicou.

O economista-chefe da Acrefi, Nicolas Tingas, subiu sua projeção para a Selic de 9,75% para 10%, por isso, ainda prevê mais duas quedas de 0,25 ponto na taxa básica de juros. Ele enxergou a divisão na última reunião como um posicionamento político dos quatro diretores, mas entende que haverá uma busca pela convergência agora.

“Qualquer que seja o próximo presidente do Banco Central, é operacionalmente danoso começar um mandato após um conflito expressivo. Entendo que seja melhor já mitigar isso agora”, afirmou.

Na reunião de maio, o Banco Central cortou a Selic de 10,75% para 10,5%, mas com um placar dividido, com cinco votos dados por diretores herdados do governo anterior, em 0,25 pp, contra quatro votos dos diretores indicados pelo governo atual, em 0,50 pp.

Na ata da reunião, esses quatro diretores afirmaram que o cenário havia piorado, mas que era preciso seguir o “guidance”, ou indicação dada na reunião anterior, sob pena de perda de credibilidade na comunicação oficial do banco. A decisão provocou ruído entre os investidores, que passaram a temer que o BC, sobre o governo Lula, seja mais leniente no combate à inflação.

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

O Banco Central conviverá, nos próximos meses, com expectativas diferentes do habitual. O mercado não olhará apenas suas decisões sobre a taxa de juros, mas também como votaram seus diretores, além de especular em torno de quem será o próximo presidente, na primeira sucessão sob a autonomia operacional, estabelecida por lei em 2021. Não são questões triviais.

Desde a última reunião, quando houve uma divisão de 5 a 4, ficou a imagem de um Copom dividido entre os diretores indicados pelo governo anterior (5), que votaram por um corte de 0,25 ponto porcentual, e os indicados pelo atual (4), que votaram por um corte de 0,5 ponto. Isso acontece porque, como haverá troca no comando, o mercado teme que a próxima gestão venha a ser menos rígida no combate à inflação.

As expectativas do mercado são importantes porque influenciam as expectativas de inflação, que por sua vez influenciam a formação de preços. Quando aceitei o convite para presidir o Banco Central, em 2002, havia certa preocupação no mercado com o novo governo. Muitos acreditavam que o BC no primeiro governo do PT seria leniente com a inflação e, por isso, menos rígido com a taxa de juros.

Combinei com o presidente Lula que atuaria com independência, apesar de não haver ainda a lei da autonomia. Devido à nossa atuação na ocasião, em poucos meses o mercado entendeu que o BC seria rígido no combate à inflação e as expectativas se alinharam.

A constituição da diretoria foi baseada exclusivamente na competência. O Copom não precisa – nem deve – ter pessoas com as mesmas opiniões; precisa ser capaz de decidir de forma exclusivamente técnica para transmitir confiança ao País.

Procurei estabelecer um rito de votação em que a minha opinião como presidente não influenciasse a dos outros.

Nem sempre os diretores vão pensar igual, mesmo diante dos mesmos dados. O que a autoridade monetária precisa é ter credibilidade suficiente para que os agentes econômicos não tenham dúvidas de que está comprometida exclusivamente com o combate à inflação. Quando é assim, as divergências geram menos ruído.

Devido a críticas do presidente da República ao do Banco Central, e a certo falatório político, o mercado teme que a próxima diretoria seja menos rígida com a inflação. Pressão sobre o Banco Central sempre existirá. A única forma de resolver isso é decidir de forma exclusivamente técnica, com base nos dados que permitem enxergar o estado da economia e qual a melhor taxa de juros para trazer a inflação à meta e ancorar as expectativas. Deste modo, a sucessão poderá ser suave.

MINERAÇÃO

Valor - SP   27/05/2024

Com esse desempenho, a principal matéria-prima do aço elevou a 3,3% a alta acumulada em maio. No ano, o desempenho ainda é negativo, com perdas de 14,2%

Depois de interromperem brevemente a trajetória de quatro altas consecutivas, os preços do minério de ferro voltaram a subir no mercado à vista, retomando o patamar de US$ 120 por tonelada.

Segundo analistas, as importações da commodity pela China, maior consumidora global, podem alcançar o maior volume da história em 2024, com alta de 15 milhões a 50 milhões de toneladas frente ao volume importado no ano passado (1,18 bilhão de toneladas), em meio à demanda aquecida e à redução dos gargalos logísticos recentes.

No norte da China, segundo índice Platts, da S&P Global Commodity Insights, o minério com teor de 62% de ferro encerrou o dia com ganho de 0,9%, praticamente compensando a perda de 1% vista na véspera, e voltou a US$ 120,55 por tonelada.

Com esse desempenho, a principal matéria-prima do aço elevou a 3,3% a alta acumulada em maio. No ano, o desempenho ainda é negativo, com perdas de 14,2%.

Na Bolsa de Commodity de Dalian (DCE), os contratos mais negociados, com entrega em setembro, recuaram 0,33%, para 909 yuan (cerca de US$ 125,50) por tonelada.

Infomoney - SP   27/05/2024

Os preços futuros do minério de ferro oscilaram nesta sexta-feira mas se encaminhavam para uma segunda semana de ganhos, devido às esperanças persistentes de crescimento da demanda na China, principal mercado consumidor do minério, graças a uma enxurrada de estímulos imobiliários.
O contrato de setembro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com queda de 0,44%, a 908 iuanes (125,33 dólares) a tonelada, registrando um aumento de 2,6% na semana.
O minério de ferro de referência para junho na Bolsa de Cingapura subia 1%, a 120,75 dólares a tonelada, um aumento de 2,9% até agora nesta semana.

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“O sentimento geral permaneceu positivo, sustentado pelas últimas políticas de estímulo à propriedade”, disseram os analistas da Huatai Futures em uma nota.
A China anunciou medidas “históricas” na última sexta-feira para estabilizar seu setor imobiliário atingido pela crise, com o objetivo de limpar os estoques e aumentar a demanda de compradores de casas, com várias cidades reduzindo as taxas de juros de entrada e de empréstimos hipotecários como resposta.
Além disso, a China Vanke, uma grande incorporadora imobiliária com dificuldades de caixa, informou na quinta-feira que recebeu um empréstimo de 20 bilhões de iuanes.
Os preços do principal ingrediente da siderurgia sofreram pressão de baixa no dia anterior e foram negociados em uma faixa estreita na sexta-feira, conforme investidores e traders reavaliavam as perspectivas de demanda de curto prazo depois que o último dado de produção de metal quente não atendeu às expectativas, enquanto os estoques portuários continuaram a se acumular.
A produção média diária de metal quente entre as siderúrgicas pesquisadas pela Mysteel interrompeu um aumento de sete semanas, ficando em 2,37 milhões de toneladas em 24 de maio, enquanto os estoques de minério no porto aumentaram 0,3% na semana, para cerca de 148,55 milhões de toneladas, mostraram dados divulgados pela consultoria.

Valor - SP   27/05/2024

Contaminação do solo e de mananciais e emissão de gases de efeito estufa são as principais consequências da atividade industrial

Mina Cuiabá, da AngloGold Ashanti, em Sabará, que tem a primeira carregadeira de subsolo 100% elétrica no Brasil — Foto: Divulgação

Contaminação do solo, de mananciais e emissão de gases de efeito estufa (GEE) são as principais consequências da maior atividade industrial ao longo do tempo.

Para Antonio Leite, vice-presidente de estratégia, inovação e sustentabilidade da Rhodia, é cada vez maior o número de empresas engajadas em reduzir seus impactos ambientais, incluindo empresas centenárias, que se adaptam às necessidades do planeta.

Surgida na França, a Rhodia está no Brasil desde 1919 e é signatária e certificada no Programa de Atuação Responsável, uma iniciativa voluntária da indústria química brasileira e mundial visando a melhoria contínua de seu desempenho em saúde, segurança e meio ambiente. “Uma das nossas principais metas é a neutralidade de carbono. Temos instalado na nossa fábrica de Paulínia [SP] o maior projeto de abatimento de GEE da América do Sul, que transforma o óxido nitroso em gases inertes ao meio ambiente”, diz Leite.

A alemã Basf, no Brasil há 113 anos, se orgulha de ter iniciado estudos sobre emissão de poluentes na década de 1970, quando criou o catalisador de três vias. “O catalisador é um componente fundamental nos veículos, capaz de reduzir em mais de 90% os poluentes produzidos pelos motores a combustão, e já contribuiu para que mais de 1 bilhão de toneladas de poluentes como o monóxido de carbono [CO] e óxidos de nitrogênio [NOx] não fossem lançados na atmosfera”, diz Rodolfo Viana, gerente sênior de sustentabilidade da Basf para a América do Sul.

Desde 1984, a Basf adota práticas de restauração de florestas em suas áreas produtivas. O Programa Mata Viva nasceu no Complexo Químico de Guaratinguetá (SP) para proteger a qualidade da água, conservar o solo e criar áreas de preservação ambiental ao longo do rio Paraíba do Sul. “Precisamos repensar negócios de maneira que criem valor para o meio ambiente e para a sociedade, sem perder a rentabilidade”, afirma Viana.

Líder mundial na produção de aço e um dos maiores em mineração, o grupo ArcelorMittal teve sua primeira unidade no país em Sabará (MG) como Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em 1921. De acordo com Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil, a empresa aprimorou a sua gestão ambiental. “Priorizamos a gestão ambiental. Somos a única empresa do Brasil certificada pelo ResponsibleSteel, certificação referência em sustentabilidade.”

Os negócios devem criar valor para o meio ambiente”

— Rodolfo Viana

De Paula cita a maior planta de dessalinização de água do mar para fins industriais na Unidade de Tubarão (ES) com investimento de R$ 50 milhões, com capacidade inicial para dessalinizar 500 m³/hora de água. “Em nossa jornada pela descarbonização, anunciamos uma joint venture com a Casa dos Ventos para a construção de um dos maiores parques eólicos do país, que está sendo instalado na Bahia, com capacidade de produção de 553,5 MW e investimento de R$ 4,2 bilhões”, diz De Paula.

A história da AngloGold Ashanti no Brasil completa, em 2024, 190 anos e teve início com a produção de ouro em Nova Lima (MG). “Temos a sustentabilidade como valor. Só em 2023, investimos R$ 31 milhões em ações relacionadas à gestão ambiental nas nossas operações no Brasil”, diz Othon Maia, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos.

Segundo Maia, a AngloGold Ashanti tem o compromisso global de carbono zero até 2050. Em 2022, a meta de redução de 30% nas emissões, prevista para 2030, foi alcançada. “Parte desse trabalho é a primeira carregadeira 100% elétrica a operar em subsolo no Brasil, que começou este ano as suas atividades na Mina Cuiabá, em Sabará (MG).”

Leite, da Rhodia, acredita que a indústria, como agente poluidor, é mais cobrada do que os demais setores da economia. “Um exemplo disso, é o Projeto de Lei 182/24, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa [SBCE] e exclui os setores agropecuário e de uso da terra, responsáveis por 75% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil em 2022.”

Portal Fator Brasil - RJ   27/05/2024

Queda de 9% ante o mesmo período no ano passado. A receita foi de US$ 8,459 bilhões.

A Vale divulgou seus resultados do primeiro trimestre de 2024 na segunda quinzena de abril, onde registra lucro líquido de US$ 1,679 bilhão, abaixo dos US$ 1.837 do anos passado, portanto, menos 9%. o Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado ficou em US$ 3.438, menos 7% ante o mesmo período do ano passado. A receita líquida de vendas da mineradora somou US$ 8,459 bilhões.

Segundo a mineradora aAs vendas de minério de ferro aumentaram 8,2 Mt (+15%), enquanto as vendas de cobre aumentaram 14,1 kt (+22%) a/a, ambas apoiadas por melhorias operacionais contínuas. O custo caixa C1 de finos de minério de ferro, excluindo compras de terceiros, foi ligeiramente menor a/a, atingindo US$ 23,5 toneladas no primeiro trimestre, apesar do efeito negativo da apreciação do real.

—Começamos o ano de 2024 bem, impulsionados pelo nosso compromisso com a excelência operacional. No negócio de Soluções de Minério de Ferro, nossas vendas de minério de ferro aumentaram 15% ano a ano, apoiadas por uma produção forte — a maior produção de um primeiro trimestre desde 2019. Nós também estamos tendo progresso nos nossos projetos de crescimento, que ajudarão a melhorar a qualidade e flexibilidade do nosso portfolio de produtos. Dentro do negócio de Metais para Transição Energética, o melhor desempenho no complexo de Salobo, aliado ao ramp-up da planta de Salobo 3, permitiu o aumento na produção de cobre e nos volumes de vendas. Resultados promissores também foram vistos em nossas operações de níquel no Canadá, com maior disponibilidade de minério próprio. Alinhados ao nosso compromisso com a sociedade, temos orgulho de ter alcançado consumo de energia 100% renovável no Brasil, dois anos antes do previsto. Ao continuarmos nossa jornada, seguimos comprometidos com a construção de um Vale ainda melhor —comentou Eduardo Bartolomeo, CEO.

Money Times - SP   27/05/2024

A ação da Vale (VALE3) vivenciou um inferno astral nos primeiros meses do ano. Fraqueza do minério de ferro, multa do desastre de Mariana e impasse na troca do CEO, com direito a influência do governo na escolha. Tudo isso fez com que o papel acumulasse queda de 15%.

Porém, aos poucos, esses riscos estão se dissipando, destaca o BTG em relatório enviado a clientes nesta sexta.

Segundo os analistas Leonardo Correa, Caio Greiner e Bruno Lima, embora ainda exista dúvida sobre as provisões, mudança de CEO e, em última análise, a eficácia do estímulo chinês, há que se admitir que as perspectivas têm mostrado sinais de melhoria recentemente.

“Os preços do minério de ferro retornaram para US$ 120 a tonelada, as perspectivas para o segundo trimestre parecem boas (Ebitda de 30% t/t), os preços dos metais básicos estão melhorando significativamente e as autoridades chinesas estão liberando suporte com mais força”, discorrem.

Apesar disso, os analistas preferem esperar mais sinais antes de alterar a recomendação para compra. Mesmo assim, o trio não deixa de destacar que a dinâmica dos resultados melhorou e que a tese para investidores com foco no curto prazo está mais clara.

“Esta parece ser uma boa história de aceleração no 2T, e esperamos que a administração continue reduzindo o risco operacional da empresa (estimativa de volumes de minério de ferro para 2024 de 310-320Mt será entregue)”, coloca.

Analisando o valuation, o BTG luta para ver grandes upsides (potencial de alta), “mas acreditamos que as ações permanecem descontadas negociadas 4 vezes o Ebitda de 2024 e rendimentos de dividendos mais próximos de 9%”.

O preço-alvo é de R$ 77, o que abre potencial de alta de 18% ante o fechamento da última quinta-feira (23).

Melhora na China

Maior parceiro comercial do Brasil e grande comprador do minério de ferro da Vale, a China dá sinais de melhora. Os analistas, no entanto, recordam que há poucas dúvidas de que a bolha do mercado imobiliário do país estourou há alguns anos e o setor deverá ser menos relevante no longo prazo.

“No entanto, a nossa sensação é que os investidores ficaram muito preocupados com o nível de deterioração recente no indicador de novas construções e no m2 vendido, ainda caindo mais de 20% em termos anuais”, discorrem.

Para reverter esse cenário, o governo chinês resolveu entrar em campo introduzindo uma série de medidas, incluindo:
41 bilhões de dólares para comprar estoque de imóveis não vendido, procurando acelerar a conclusão de empreendimentos inacabados; pagamentos iniciais (financiamento) substancialmente menores (em alguns casos para apenas 10%), maior disponibilidade de crédito para o setor e taxas hipotecárias menores

“Embora o tamanho do pacote seja pequeno (alguns economistas estimam que seja necessário acima de 10 vezes o tamanho atual), a percepção de urgência parece ter mudado”, explica.

Além disso, para o BTG os riscos de cauda da China parecem ter desaparecido ultimamente, com uma taxa de crescimento de 5% bem encaminhada para 2024, suportada por uma balança comercial incrivelmente forte de 60 a 70 bilhões de dólares/mês e pela indústria (crescimento de produção industrial de 6,7% em abril).
Minério de ferro

Após o início de 2024 em um nível elevado de cerca de US$ 140/t, os preços caíram abaixo de US$ 100/t em abril, mas desde então se estabilizaram na faixa de US$ 115-120/t, o que os analistas consideram mais sustentável.

A queda nos preços do minério de ferro há alguns meses foi impulsionada por preocupações com a demanda (estresse imobiliário + cadeia siderúrgica pressionada), juntamente com volumes inesperadamente fortes do Brasil e da Austrália no início do ano.

“Essa maior oferta levou os estoques portuários na China a ultrapassarem 140 Mt, o nível mais alto desde 2022”, completa.

Recentemente, porém, os analistas viram alguns desses pontos de pressão diminuírem, principalmente devido à melhoria do sentimento em torno da economia chinesa e dos estímulos ao mercado imobiliário.
Menos ruídos para Vale?

Os analistas destacam que desde o início do ano, a Vale tem enfrentado uma pressão significativa do governo brasileiro em três questões principais.
Negociação com a Samarco

O BTG acredita que o impacto financeiro mais substancial teve boas notícias.

A Vale propôs um acordo que não exigiria o aumento de suas provisões de US$ 4,2 bilhões. Embora esta proposta tenha sido supostamente rejeitada pelo governo, os analistas acreditam que empresa apresente uma nova proposta em breve.
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“Apesar de ser difícil prever o resultado, acreditamos que o mercado já incorporou cerca de 2 a 3 bilhões de dólares adicionais em provisões. Parece improvável que a Vale se contente com um negócio que exceda esse valor”, destaca.
A sucessão do CEO

Também tem sido um tema quente entre os investidores, embora pareça ter diminuído um pouco nas últimas semanas (ou apenas sido temporariamente deixado de lado, na verdade).

“A governança da Vale parece ter prevalecido, e o conselho está abrindo caminho para uma transição tranquila, com um cronograma claro já divulgado”, coloca.

Na última quinta, a Vale contratou a consultoria Russell Reynolds para a seleção do novo CEO.
Ministério dos Transportes

Por fim, a empresa também parece estar tratando das renovações das concessões ferroviárias sem impacto relevante no valor presente líquido (VPL) para a Vale, “o que consideramos um resultado positivo”.

Em janeiro, o Governo Federal, por meio do Ministério dos Transportes, cobrou R$ 25,7 bilhões da Vale por conta de uma outorga de concessão da Estada de Ferro Carajás e Vitória Minas.

A cobrança diz respeito a outorgas não pagas na renovação antecipada de contratos, que ocorreu ainda na gestão Bolsonaro, em 2020. O contrato de Carajás, por exemplo, venceria em 2027, mas foi antecipado por mais 30 anos.

Máquinas e Equipamentos

IG - SP   27/05/2024

Em uma importante iniciativa para fortalecer sua posição no mercado latino-americano, a XCMG Machinery ("XCMG", SHE:000425) intensificou suas operações, marcando o 50º aniversário das relações diplomáticas entre China e Brasil. As escavadeiras e carregadeiras compactas da empresa, conhecidas por sua eficiência e custo-benefício em projetos de construção, têm sido um divisor de águas na construção de moradias em toda a América do Sul.

A retroescavadeira da XCMG revoluciona o processo de construção ao combinar capacidades de escavação e carregamento, otimizando as operações desde a escavação de fundações até o manuseio de materiais. Essa inovação não apenas aumenta a eficiência da construção, mas também reduz significativamente os custos do projeto ao eliminar a necessidade de diversos equipamentos.

O desempenho robusto das escavadeiras e carregadeiras da XCMG é especialmente notável em ambientes desafiadores, como construções de estradas municipais que frequentemente exigem a navegação por florestas tropicais e terrenos montanhosos. Equipadas com motores e sistemas de transmissão de alto desempenho, essas máquinas fornecem torque poderoso para mineração pesada, enquanto seus sistemas hidráulicos de bomba dupla otimizam o fluxo com base nas necessidades operacionais para economizar energia e reduzir custos.

Em abril, a XCMG apresentou seus mais recentes equipamentos de construção personalizados em diversos eventos do setor em toda a América Latina. Na Agrishow , a maior feira de tecnologia agrícola do Brasil e uma das maiores do mundo, a XCMG lançou mais de dez modelos de máquinas, incluindo carregadeiras, escavadeiras, niveladoras, rolos compressores e os novos produtos de energia, entre outros. Novos produtos como a niveladora GR1905BR, a miniescavadeira XE55DA e a carregadeira compacta XC7-SR08 receberam ampla aclamação dos clientes.

Na M&T Expo 2024 em abril, foram exibidos mais de vinte modelos exclusivos de alta qualidade, incluindo carregadeiras, escavadeiras, caminhões de mineração, veículos de grande porte, rolos compressores, niveladoras, fresadoras, plataformas de trabalho aéreo e empilhadeiras. As novas soluções de energia foram destaque, liderando o caminho rumo à construção sustentável com tecnologia inovadora que oferece emissões zero, além de benefícios econômicos.

Os negócios da XCMG na América Latina têm tido um progresso notável nos últimos anos, com uma crescente capacidade de serviço também em toda a América Central. Desde o 2T deste ano, a empresa entregou mais de 100 plataformas de trabalho aéreo na América Central, apresentando modelos como o XGA16K, conhecido pelo design compacto, navegação eficaz para evitar obstáculos e facilidade de operação, atendendo às várias necessidades do setor. Produtos e soluções personalizados têm conquistado os clientes da XCMG em toda a América Central.

Em colaboração com parceiros na América Central, a XCMG tem avançado ativamente no desenvolvimento de instalações, como fábricas mexicanas, redes de vendas, centros de peças de reposição e bases de treinamento.

AUTOMOTIVO

Auto Industria - SP   27/05/2024

Sob o risco de ter de interromper a produção de caminhões e ônibus em São Bernado do Campo (SP) por conta da tragédia no Rio Grande do Sul que, por óbvio, suspendeu as atividades de diversos fornecedores, a Scania decidiu importar peças da Europa.

“Os impactos foram diversos, desde funcionários de fornecedores que perderam tudo aos estoques comprometidos. Em um primeiro momento oferecemos ajuda e tomamos conhecimento da situação, mesmo porque há o fornecedor do fornecedor, de embalagem, tratamentos térmicos, por exemplo”, conta Adolpho Bastos, vice-presidente de Logística da Scania Operações Industriais. “A medida foi necessária e pontual.”

O executivo conta que 12% a 15% da rede de 274 fornecedores da Scania estão localizados na região Sul, em especial na Grande Porto Alegre, a mais afetada por alagamentos. “Também temos na parceiros na Serra Gaúcha, mas por lá as consequências impactaram na logística, no escoamento de peças.”

De acordo com Bastos, a produção dos fornecedores voltou, ainda que com alguma restrição, mesmo porque também há prejuízo social e emocional imenso. “É muito triste. Quem perdeu tudo tem muito mais a pensar a fazer do que ir trabalhar”, lamenta com a sensação e a torcida de que o pior tenha ficado para trás.

CONSTRUÇÃO CIVIL

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

O Senado Federal discute estabelecer um regime especial de tributação que suspende a cobrança de impostos federais em obras de reconstrução de infraestrutura básica afetada por catástrofes reconhecidas pelo poder público, como no caso das enchentes no Rio Grande do Sul. O objetivo é reduzir os custos de empreendimentos que beneficiam populações atingidas por desastres.

O projeto de lei 1.649, de autoria do senador Wilder Morais (PL-GO), propõe ainda dar o mesmo respaldo tributário para empreendimentos que sejam de relevante interesse nacional. O texto determina que a não tributação está condicionada à conclusão das obras e que fica ao encargo do poder Executivo ou do Congresso Nacional a tarefa de determinar o estado de catástrofe ou se a construção é de relevância suficiente para que os possíveis beneficiários possam optar pelo regime especial.

O projeto se encontra na Comissão de Infraestrutura (CI) e aguarda nomeação do relator. Depois de passar pela CI a proposta segue à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) onde será avaliado. Por fim, se aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) sem recurso para votação em Plenário, o texto segue diretamente para a Câmara dos Deputados.

A proposta surge no encalço da catástrofe que atingiu o Estado do Rio Grande do Sul, onde enchentes afetaram cerca de 2 milhões de pessoas em 441 municípios, com 600 mil tendo que deixar suas casas e 71 mil alojadas em abrigos. Em boletim da noite deste sábado, 25, a Defesa Civil gaúcha informou que o número de mortos pela catastrofe chegou a 165, com 64 pessoas ainda desaparecidas

Um cálculo inicial do governo do Rio Grande do Sul estimou em R$19 bilhões a quantia necessária para enfrentar os impactos das inundações, que além de casas, comércios, áreas agrícolas, indústrias e outras construções, destruíram também parte da infraestrutura do Estado.

Ao portal do Senado Federal, para justificar a apresentação do projeto, o senador Wilder, além de citar catástrofes climáticas como a do Rio Grande do Sul, destacou que o Brasil também é atravessado por tragédias industriais. O parlamentar relembrou o caso do rompimento das barragens de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, em que as cidades ficaram submersas em lama tóxica da atividade de mineração e tiveram, além de seus rios poluídos por dejetos, centenas de mortes e destruição de casas e comércios e outras construções.

“O que acontece no Rio Grande do Sul não é um caso isolado. Distúrbios climáticos que geraram forte chuva recentemente também se verificaram nos estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo [...] esta proposição contribuirá como auxílio para a recuperação das áreas afetadas pelas catástrofes e para a realização de obras de relevante interesse nacional, atendendo os postulados constitucionais da solidariedade e do desenvolvimento nacional”

Senado debate catástrofe no Rio Grande do Sul

Na próxima segunda-feira, 27, o Senado Federal realizará no plenário da casa uma sessão de debate sobre a catástrofe climática que atinge o estado do Rio Grande do Sul. O presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) é o responsável por abrir o evento que contará com a presença de representantes do governo federal, do governo do Rio Grande do Sul e dos municípios gaúchos atingidos pelas enchentes.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a secretária do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, Marjorie Kauffmann, também vão estar presentes. A realização do debate atende a um requerimento do senador Paulo Paim (PT-RS) que menciona as “cenas de guerra” vistas no Estado e a necessidade da união dos poderes da República e dos governos estaduais e municipais para dar assistência às vítimas.

A lista de convidados para a sessão de debate, definida pela Comissão Temporária Externa do Rio Grande do Sul, inclui especialistas como o geólogo Rogério Porto; o climatologista Carlos Afonso Nobre; a professora Mercedes Bustamante; Suely Araújo, representando o Observatório do Clima; o ambientalista e líder indígena Ailton Krenak; e o cientista Paulo Moutinho.

Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, 90% da indústria foi atingida pelas cheias. Ao mesmo tempo, houve perda de grande parte da safra e extensas áreas agricultáveis permanecem alagadas. Além de R$50,9 bilhões em medidas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Senado aprovou a suspensão da dívida do Estado com a União por três anos.

Grandes Construções - SP   27/05/2024

O Rio Grande do Sul enfrenta uma catástrofe sem precedentes que evidencia a negligência em questões ambientais.

A tragédia, que afetou profundamente a vida dos gaúchos, exige ações imediatas, mas além de contabilizar os prejuízos materiais e as vidas perdidas, a população precisa se concentrar na reconstrução de suas comunidades.

A infraestrutura, a urbanização e a construção de novas moradias são pontos críticos nesse processo. É nesse contexto que a construção industrializada se apresenta como uma opção essencial, oferecendo sistemas construtivos rápidos e eficientes, com menores impactos ambientais.

Os sistemas de construção como Steel Frame, Wood Frame e Construções Modulares têm se consolidado no Brasil e em toda a América do Sul, seguindo o exemplo de países como Estados Unidos, México, Japão e China.

Durante a pandemia, vimos a construção de hospitais em tempo recorde utilizando esses métodos. Em fevereiro de 2023, a tragédia no litoral norte de São Paulo, que deixou aproximadamente 4 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas, foi um exemplo concreto da eficácia da construção industrializada.

Com 518 unidades habitacionais, o empreendimento composto por 30 prédios de quatro andares com apartamentos de 41 a 47 m², além de 38 casas térreas, foi feito em um curto espaço de tempo. Do início da montagem no canteiro à entrega das chaves, se passaram apenas seis meses.

O setor da construção industrializada está se articulando entre associações, câmaras e sindicatos, junto com a esfera pública, para coordenar ações e desenvolver soluções inovadoras nesse cenário de crise.

A cadeia produtiva desse setor está preparada para aportar seu know-how na reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul. Importantes players e plantas industriais desses sistemas estão localizados no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, prontos para contribuir com a recuperação da região.

Empresas representativas como Master Wall, Center Steel, Espaço Smart, Quick House e Imecon, situadas na área de Porto Alegre e Grande Porto Alegre, têm a expertise necessária para liderar esses esforços.

O segmento também se mobiliza para debater inovações e o futuro da construção no 7º Congresso Latino-Americano de Steel Frame e Construção Industrializada, previsto para acontecer nos dias 24 e 25 de outubro de 2024.

Valor - SP   27/05/2024

Com novas construções, população da região deve crescer 90%, prevê prefeitura

Leonardo Mesquita, da Cury Construtora: preexistência de infraestrutura urbana foi um dos motivos que atraíram a empresa para a zona portuária do Rio — Foto: Leo Pinheiro/Valor

O cabeleireiro Luis Antonio dos Santos Carvalho, de 49 anos, sempre teve o “sonho da casa própria”, desde que começou a trabalhar profissionalmente, há 12 anos. A pesquisa para comprar um imóvel ficou mais séria a partir de 2018. Como o expediente diário é em Botafogo, na zona sul do Rio, buscou inicialmente opções perto do trabalho, com valores e alternativas de financiamento compatíveis com a capacidade de pagamento. A renda mensal de Carvalho se situa entre R$ 8 mil e R$ 10 mil. “Mas o que eu encontrava perto [do trabalho] era muito caro”, lembra, uma vez que Botafogo tem um dos metros quadrados mais caros da capital fluminense.

“E o que eu encontrava que era barato ficava longe do trabalho”, completa. Até que, em 2021, soube de lançamento de projetos residenciais na zona portuária do Rio, ao lado da região central da cidade e próximo da zona sul. As condições eram atraentes e o cabeleireiro comprou uma unidade em janeiro de 2022, com entrega prevista para janeiro de 2025. Mas que, segundo ele, pode ser antecipada para este ano.

A futura “casa própria” de Carvalho faz parte do projeto de revitalização da zona portuária da capital fluminense, cujo pontapé foi dado em 2009, quando surgiu a primeira legislação para reerguer a área economicamente. Desde então, com algumas “paradas” no meio do caminho (como em 2020, devido à pandemia), governo municipal, iniciativa privada e Caixa uniram forças para reviver a área. E consideram o ano de 2024 como um marco para a região.

Isso porque, 15 anos após a primeira lei em prol da revitalização, a localidade deve receber neste ano fluxo de moradores sem precedentes na história recente. A prefeitura contabiliza, até abril de 2024, lançamentos de 12 empreendimentos e de 9.129 apartamentos na zona portuária. As construções devem gerar acréscimo de 27 mil moradores na região, aumento de 90% na população da zona portuária, também segundo a prefeitura.

“O nosso primeiro empreendimento que foi o Rio Wonder [Rio Wonder Condomínio Praia Formosa, lançado na planta em 2021], de 1.240 unidades, vai ser entregue agora a partir de junho”, diz o vice-presidente da Cury Construtora, Leonardo Mesquita. A empresa foi uma das primeiras a investirem em projetos residenciais na área recentemente. “Com outro lançamento [residencial] que acabamos de fazer em abril, chegamos perto de 7.500 unidades lançadas ali [na zona portuária]”, completa.

A construtora, que atua no Rio de Janeiro e em São Paulo, espera encerrar o ano com valor geral de vendas (VGV) de R$ 5,5 bilhões este ano, contra cerca de R$ 4,5 bilhões no ano passado. O VGV é o valor calculado pela soma do valor potencial de venda de todas as unidades de um empreendimento. “O Rio representa em torno de 35% [das operações da empresa]”, diz. “A operação no Rio cresceu muito em função do porto [de projetos residenciais na zona portuária]”, acrescenta.

Um dos aspectos que atraíram a companhia para a região foi a preexistência de infraestrutura urbana, principalmente em transportes, diz o executivo. “Tem um VLT, é do lado da rodoviária; você está perto do metrô. É uma região na cidade onde até todo o cabeamento é subterrâneo.”

Para Mesquita, a revitalização da região no Rio não difere do que ocorreu com outras zonas portuárias em grandes metrópoles no mundo. “Normalmente, grandes cidades têm uma zona portuária que é focada em algo ‘premium’. Veja o que aconteceu com Puerto Madero [área restaurada do cais de Buenos Aires]: se pegou uma zona que não era muito usada e se colocaram restaurantes, um planejamento para aquela área. O Rio não tinha isso [planejamento para uso de sua zona portuária]”, diz.

O arquiteto e urbanista Miguel Pinto Guimarães concorda. E vai além: para ele, a zona portuária tem potencial para se tornar um “Puerto Madero” carioca. Mas adverte que transformações como essa são empreendimentos de longo prazo. “É preciso um investimento contínuo, um planejamento contínuo, ininterrupto”, completa ele, um dos arquitetos responsáveis pelo projeto vencedor para modernizar o Jardim de Alah, parque entre os bairros de Ipanema e Leblon. Para Guimarães, em duas décadas a região do porto poderia se tornar tão dinâmica quanto é, hoje, Puerto Madero.

É importante, porém, contar com o direcionamento do gestor público, salientou. O arquiteto lembrou que, no passado, terrenos mais baratos na região oeste da capital acabaram “puxando”, via especulação imobiliária, o crescimento do Rio por aquela região da cidade. Para Guimarães, é preciso valorizar, com oportunidades de novos empreendimentos, áreas dotadas de infraestrutura, de saneamento, de transporte - como é o caso da zona portuária carioca. “Nunca interessou ao gestor público planejar as cidades, porque eles não vão inaugurar em quatro anos, não vão inaugurar em oito anos. Então, nunca se investiu em urbanismo. O Rio de Janeiro [a prefeitura], diferentemente de muitos lugares, tem hoje um pensamento voltado para o urbanismo.”

O desenvolvimento urbano precisa, porém, ser acompanhado de estímulos para que a iniciativa privada também se interesse por investir em determinadas áreas. É o que pensa Thiago Dias, subsecretário-executivo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico do Rio. “O que houve [com a zona portuária] foi política pública bem desenhada, com estímulos corretos, de maneira republicana, de maneira técnica. E toda vez que você consegue desenhar esse tipo de modelo de incentivo, a iniciativa privada responde positivamente.”

A região vem se consolidando com vocação residencial”

— Sérgio Henrique Bini

Dias acrescenta que o empreendimento é concatenado com o Reviver Centro, plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica da região central do Rio, que fica ao lado da zona portuária. “Acreditamos tanto nisso que expandimos a operação [de revitalização da zona portuária do Rio] até São Cristovão.” O subsecretário se refere à Lei Complementar nº 267/2023, do Poder Executivo, sancionada em dezembro do ano passado, que trata dessa expansão.

No entendimento de Carlo Caiado (PSD), presidente da Câmara dos Vereadores do Rio, a parceria do Executivo com o Legislativo foi fundamental para decolar o projeto do “Porto Maravilha”, termo usado pela prefeitura do Rio para os planos de revitalização da zona portuária carioca.

Caiado salientou que o pontapé inicial, para a reurbanização da região, se deu por meio de uma Operação Urbana Consorciada (OUC), constituída pela prefeitura da cidade há 15 anos. De maneira sucinta, esse é um mecanismo que abre exceção, em uma localidade, na Lei de Uso e Ocupação do Solo (que vale para a cidade toda). É válida para requalificar uma área da cidade, a fim de atrair melhorias, via incentivos, para instalação de projetos e investimentos de iniciativa privada.

No caso da zona portuária, a OUC foi regulamentada por lei municipal em 2009 e abrangia 5 milhões de metros quadrados, incluindo parte dos bairros do Caju, Gamboa, Saúde, Santo Cristo e centro da cidade. E, na prática, a nova lei mencionada por Dias, de dezembro de 2023, que trata de expansão até bairro de São Cristóvão, acrescentou 3,7 milhões de metros quadrados à região portuária delimitada pela OUC.

Para construir na zona portuária, é necessário adquirir os Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). As Cepacs são uma espécie de título que dá direito ao proprietário de construir além dos limites determinados pelo código municipal de edificações. Para a região do porto, quase todas as Cepacs disponíveis foram compradas em 2011 pelo Fundo de Investimentos Imobiliários Porto Maravilha (FIIPM), administrado pela Caixa.

Com o dinheiro da venda dos Cepacs, o gestor municipal efetuou obras na área, de infraestrutura e de instrumentos urbanísticos de arte e lazer, como a derrubada do viaduto da Avenida Perimetral, em 2013; a construção do Museu do Amanhã e da Orla Conde, inaugurados em 2015.

Para construir no porto, o empreendedor tem que fazer a compra do terreno. Na hora de adquirir o potencial construtivo, a empresa precisa comprar o Cepac da Caixa. “A Caixa ‘comprou’ o potencial construtivo [da área], com essa legislação que foi aprovada, e estabeleceu um mercado para esse potencial construtivo”, diz Caiado.

O interesse da iniciativa privada por Cepacs do porto do Rio - e, na prática, de investir na região -, no entanto, demorou a decolar. Em maio de 2016, o Valor informou que menos de 17% dos Cepacs no fundo gerido pela Caixa haviam sido revendidos, segundo auditoria conduzida Tribunal de Contas da União (TCU).

O Rio tem hoje um pensamento voltado para o urbanismo”

— Miguel Guimarães

Mas a maré de demanda fraca deu sinais de virada, nos anos seguintes. Entre 2017 e 2019, 22 empresas instalaram sedes em edifícios novos no porto, o que levou a um acréscimo de 12,5 mil pessoas a circular diariamente na região.

Mas, com o passar do tempo, ficou claro que o projeto não deslancharia se o perfil da região fosse majoritariamente comercial. “O projeto em si teve as suas dificuldades. Inicialmente a ideia era fazer um desenvolvimento, uma vocação mais comercial para a região”, admitiu Sérgio Henrique Oliveira Bini, vice-presidente de fundos de investimento da Caixa. O executivo explicou que, nos anos de 2020 e 2021, se iniciaram conversas com a prefeitura, o mercado, investidores e incorporadoras sobre possíveis caminhos para o desenvolvimento do porto.

Na prática, as conversações levaram a uma grande mudança, no entendimento dos players interessados no projeto, de qual seria o perfil da área, comentou. “Então, [depois das conversas] começou a se sair de uma vocação mais comercial para uma vocação mais residencial [no perfil dos empreendimentos]. E algumas incorporadoras que foram pioneiras acreditaram nisso”, comenta. Hoje, na área, a Caixa atua como financiador para interessados em comprar imóveis ou para construir na área; como investidora, via FGTS, do Fundo de Investimentos Imobiliários Porto Maravilha, e como administradora do FIIPM.

“A região vem se consolidando com vocação residencial. Temos em torno de 8 mil unidades lançadas. As primeiras começam a ser entregues neste ano” acrescenta o executivo da Caixa. “Se formos pensar que em cada uma delas [das 8 mil unidades] morem duas ou três pessoas, estamos falando de mais de 20 mil pessoas morando na região”, diz.

Sobre os novos residentes na área, Marcos Saceanu, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), comenta que o ano de 2024 “é o momento de colher o fruto plantado”. Saceanu disse que os novos moradores vão passar a fazer propaganda da região: “Quem vai começar a falar bem da região é o morador. Isso traz um grau de confiança, uma credibilidade diferente do que só o governo falar, ou só uma associação falar, ou só um empreendedor falar, ou todos falarem junto.” Este “boca a boca” pode elevar demanda por residências na área e estimular a entrada de mais interessados em investir na região.

Claudio Hermolin, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro, concorda. Na visão dele, a região portuária tem potencial para ganhar cerca de 25 mil unidades habitacionais (número que inclui os lançamentos já realizados), em horizonte de longo prazo. E ele lembra de outra vantagem que esse fluxo maior de residentes pode atrair, para a região. Com maior número de moradores na área, isso atrairá, organicamente, interesse em construções de pequenos e grandes comércios. “Na hora em que se começa a ter as pessoas morando, essas pessoas começam a demandar produtos e serviços na região”, lembra. “A nossa expectativa é que, ali, vire uma nova centralidade do Estado do Rio.”

No último dia 19 a prefeitura anunciou mais uma novidade para a área, o projeto Parque do Porto. A área será localizada atrás dos antigos armazéns da zona portuária e incluirá uma nova orla, formada por um conjunto de praças flutuantes, na baía de Guanabara. Ciclovias e um novo píer de cruzeiros para turistas estão inclusos no empreendimento.

FERROVIÁRIO

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assinará na próxima quarta-feira, 29, o contrato de concessão para a construção do Trem Intercidades Eixo Norte, que ligará a cidade de São Paulo a Campinas. O governador afirmou em entrevista ao Estadão que aproveitará a ocasião para lançar o programa “São Paulo nos Trilhos”, uma iniciativa que engloba 13 projetos entre linhas de trem e de metrô, totalizando mais 890 quilômetros na rede estadual.

Tarcísio será um dos painelistas do Summit Mobilidade Estadão, que acontece nesta terça-feira, 28 de maio, das 8h às 19h, na Casa das Caldeiras, em São Paulo. Saiba mais sobre como se inscrever e adquirir os ingressos. O evento também contará com as presenças do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), e do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

“Estamos montando uma carteira de longo prazo, raciocinando para o futuro”, afirma o governador. “Aí vem o nosso arranjo: eu preciso, primeiro, distribuir os projetos no tempo porque se eu chegar e quiser fazer cinco leilões de transporte metroferroviário no ano que vem não vai ter player para tudo. Então, eu tenho que dosar esses leilões no tempo. Eu consigo fazer dois, três leilões por ano. Mais do que isso, vai faltar capacidade para o mercado absorver”, explica ele. Os projetos envolvem aportes públicos e privados.

Para construir os cerca de 890 km em novos trilhos, o investimento previsto é de R$ 130 bilhões apenas entre os projetos já inclusos no Programa de Parceria de Investimentos (PPI). Além deles, estão em estudo três trens intercidades: São José dos Campos-Taubaté, Sorocaba-Campinas-Ribeirão Preto e Campinas-Araraquara, além da Linha 22-Marrom do Metrô, ligando São Paulo a Osasco e Cotia.

A assinatura da concessão na quarta-feira será com o consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos, formado pela gigante chinesa CCRC e o Grupo Comporte, que venceu o leilão realizado no final de fevereiro. São R$ 14,2 bilhões previstos em investimento, dos quais cerca de R$ 9 bilhões serão aportados pelo governo paulista.

De acordo com o Executivo, as obras do Trem Intercidades São Paulo-Campinas começarão em agosto de 2026 e estão previstas para terminar em agosto de 2032. O contrato inclui ainda a implementação do Trem Intermetropolitano, com estações em Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos e Campinas, e melhorias na Linha 7-Rubi. Neste caso, o prazo previsto para as obras é de três anos, entre agosto de 2026 e agosto de 2029.
Programa São Paulo nos Trilhos:

Projetos já elaborados:

Trem Intercidades Eixo Norte – CampinasTrem Intercidades Eixo Oeste - SorocabaAmpliação das linhas 11, 12 e 13 de trens urbanos da CPTMNovas estações da linha 10 e futura linha 14 de trens urbanos da CPTMImplementação das linhas 19 e 20 de metrôTrem Intercidades Eixo Leste - São José dos CamposTrem Intercidades Eixo Sul – SantosVeículo Leve sobre Trilhos CampinasVeículo Leve sobre Trilhos Sorocaba

Projetos em avaliação:
Trem Intercidades São José dos Campos-TaubatéTrem Intercidades Sorocaba-Campinas-Ribeirão PretoTrem Intercidades Campinas-AraraquaraLinha 22-Marrom do Metrô (São Paulo, Osasco e Cotia)

Veja a conversa com o governador sobre mobilidade:
Quando será lançado o programa São Paulo nos Trilhos?

A gente vai lançar dia 29 de maio. Por que? Porque no dia 29 a gente vai assinar o contrato do Trem Intercidades Eixo Norte, que é o Campinas-São Paulo. A gente fez o leilão no dia 29 de fevereiro e ainda tem aquela questão: apresentação de garantias etc. A gente chegou ao final do processo agora, vamos assinar o contrato de concessão e a gente vai aproveitar e lançar o programa São Paulo nos Trilhos.

Nós já temos nove projetos de mobilidade urbana qualificados no nosso Programa de Parceria de Investimentos (PPI). E tem mais quatro que estão em avaliação. Então são 13 projetos que são objetos de estudo. Alguns, obviamente, já estão bastante adiantados, outros a gente acabou de qualificar na reunião do PPI. E tem mais quatro que a gente está estudando, pra sentir cheiro de pré-viabilidade, pra ver se a gente submete ao conselho do PPI.

Há algum prazo para esses quatro projetos que estão em avaliação serem submetidos ao PPI?

A gente vai continuar estudando. Primeiro, a gente tem que saber até se serão. Esses que serão depende da pré-viabilidade. O que a gente está fazendo, que é importante: a gente está montando uma carteira de longo prazo. A gente está raciocinando para o futuro.

Vamos começar pelas obras em execução. Eu tenho a linha 6 do metrô, a linha laranja, que vai ligar Brasilândia à estação São Joaquim, então sai da zona norte de São Paulo para o Centro. A previsão é que esse metrô comece a operar em 2026, pelo menos da Brasilândia até a estação Sesc Pompéia e ela vai estar completamente concluída em 2027.

A outra obra em andamento é da linha 2 do metrô no trecho Vila Prudente-Penha. Já demos a ordem de serviço para o projeto executivo e a nossa ideia é que possa iniciar a obra a partir do ano que vem do trecho Penha até Dutra. Essa é a próxima perna. Se eu somar essas obras que já estão em andamento, estou falando de investimentos de R$ 31 bi: R$ 18 bi da linha 6 e mais R$ 13 bi da linha 2. Isso é obra em andamento.

Temos o leilão do Trem Intercidades Eixo Norte Campinas-São Paulo, R$ 14,2 bilhões de investimento, sendo que R$ 8,5 bilhões de contrapartida do Estado. Nós temos os projetos que estão bem adiantados e prontos para ir à consulta pública: linhas 11, 12 e 13 da CPTM.

A linha 11 vai ser estendida até a estação César de Sousa, em Mogi da Cruzes, e a linha 12 que mantém o traçado atual. A linha 13, que hoje chega na estação Cecap, nós vamos ter a partir de agosto, provavelmente, a ligação com os três terminais de Guarulhos via People Mover. Então, nós vamos ter o monotrilho que vai ligar essa última estação da linha 13 até o terminal três do aeroporto de Guarulhos.

Temos também o Trem Intercidades Eixo Oeste, de Sorocaba a São Paulo. É um projeto que está bastante adiantado e que vai se conectar à linha 8 da CPTM. As linhas 11, 12 e 13 devem ir para consulta pública em breve.
Ainda neste ano?

Sim. O leilão vai acontecer ou no final deste ano ou no início do ano que vem. A questão de definição de data de leilão é sempre conversada com o mercado. O mercado precisa se preparar. São obras de grande porte e que demandarão muito investimento. Obviamente, existe a contrapartida do Estado e a gente precisa ter os players se preparando e isso leva muito tempo.

E os demais projetos?

Nós temos um estudo que está bem adiantado também para as linhas 10 e 14 da CPTM. A linha 10, que já existe e chega no ABC, e a linha 14 que é uma aposta. Seria uma linha, a primeira do gênero, que vai cruzar a cidade de São Paulo e ligar o ABC a Guarulhos.

Ela cruza toda a zona leste da capital fazendo a interconexão com as linhas da CPTM que estão operando. É uma linha que vai ser construída em três fases, de maneira que a gente possa paulatinamente ir colocando em operação a partir do momento que eu tenho a interface entre linhas e ela possa gerar receita. Gera receita, começa a operar e já constrói o próximo trecho e assim por diante.

Nós temos um estudo que está bem adiantado também para as linhas 10 e 14 da CPTM. A linha 10, que já existe e chega no ABC, e a linha 14 que é uma aposta. Seria uma linha, a primeira do gênero, que vai cruzar a cidade de São Paulo e ligar o ABC a Guarulhos.

Tarcísio de Freitas

Nós estamos estudando as concessões das linhas 1, 2, 3 e 15 do metrô. A ideia é que a gente faça a concessão agregando uma linha existente com a construção de uma linha nova. A linha existente, em operação, gera receita e a gente impõe a construção de uma linha nova. Ainda assim, os projetos vão demandar aportes do governo do Estado. A gente vai ver a melhor forma de fazer essa junção de linhas para contratos de concessão.

Essas linhas serão conjugadas com as linhas 19, 20 e a linha 16. A linha 16 vai chegar à zona Leste de São Paulo, a linha 19 vai ligar o Anhangabaú a Guarulhos e a linha 20 ligará o Centro de São Paulo ao ABC. A gente deve começar, inclusive, a construção dessa linha pelo ABC, a partir de Santo André.
Na última reunião do PPI foram quatro projetos qualificados (VLT Campinas, VLT Sorocaba, TIC São José dos Campos e TIC Santos)

O Trem Intercidades Eixo Leste é a ligação São Paulo-São José dos Campos. Provavelmente, a gente vai atacar a partir de alguma das linhas da CPTM, a mais viável que está parecendo para nós é seguir a partir da linha 13 em direção a São José dos Campos.

O Trem Intercidades Eixo Sul, ligando São Paulo a Santos. Estamos avaliando algumas possibilidades, como trabalhar com cremalheira, trabalhar paralelo à Imigrantes e aí fazendo uma derivação com o túnel e pegando um trecho da antiga (ferrovia) Santos-Cajati. Isso tudo está em análise.

E tem uma terceira análise, que nos pareceu mais inviável por ser mais cara, que em princípio a gente vai fazer o estudo de pré-viabilidade, mas não deve levar em consideração. É uma antiga rota de descida a partir da zona sul de São Paulo chegando em Mongaguá e aí a gente pegaria a Santos-Cajati até chegar em Santos.

E nós temos outros projetos em avaliação. A gente está estudando hoje para ver se fica de pé a extensão do Trem Intercidades de São José dos Campos para Taubaté e do Trem Intercidades de Sorocaba para Campinas e a possibilidade de chegar em Ribeirão Preto. E, por fim, a extensão do Trem Intercidades de Campinas para Araraquara.

Além da linha 22 do metrô que é São Paulo-Osasco-Cotia. A gente tem interesse em levar o metrô para fora da cidade de São Paulo.
Essa é uma demanda muito forte da população da região metropolitana. Quais são os planos para levar o Metrô a outras cidades?

A gente tem duas extensões de metrô previstas para iniciar a obra no ano que vem: a extensão da linha 4, que vai sair da Vila Sônia até Taboão, com isso a gente alcança uma cidade da região metropolitana. A gente aprova o projeto esse ano. A ideia é que em 2029 já esteja operando.

E também a extensão da linha 5, ainda dentro da cidade de São Paulo, para chegar até o Jardim ngela. O projeto executivo está em andamento, fica pronto no final do ano e a ideia é que a gente inicie a obra no ano que vem também começando a operar em 2029.

Outra extensão é na linha 6. Vamos aproveitar que ela já está mobilizada e vamos tentar estender o contrato para que a gente possa chegar no Eixo Norte, agregar mais duas estações para chegar a Campinas. A gente vai alcançar passageiros mais da zona norte, que estão mais isolados em termo de transporte sobre trilhos. E também mais quatro estações na direção sul, a partir da estação São Joaquim até chegar na Mooca.

É isso que está planejado. Estamos falando de mais de 890 quilômetros de trilhos, tanto de metrô quanto de trem que serão inseridos na rede. Obviamente, são projetos faseados: projetos que qualificamos na quinta-feira no PPI, entram agora em estudo de pré-viabilidade e isso vai levar de cinco a seis meses. Depois, entram na fase de projeto para depois consulta pública, ajuste de modelagem. Provavelmente são projetos que serão leiloados em 2027.

Estamos falando de mais de 890 quilômetros de trilhos, tanto de metrô quanto de trem que serão inseridos na rede.

Tarcísio de Freitas

A gente está compondo a carteira. Linhas 11, 12 e 13, início do ano que vem. 10 e 14 a gente vai tentar ou ano que vem ou 2026, assim como as linhas 1, 2 e 3 agregadas às 16, 19 e 20. Então, a gente tem que distribuir isso no tempo para que os players possam se organizar, preparar e entrar e também para que a gente tenha uma carteira contínua e saiba exatamente onde quer chegar. A aposta é na sustentabilidade, em transportes de alta capacidade e muito mais eficiente do ponto de vista energético.

Tem também o VLT de Campinas, que vai ligar a última estação do Trem Intercidades ao Aeroporto de Viracopos, e o VLT de Sorocaba, que fará uma ligação leste-oeste e cruzar os três eixos do BRT que atravessam a cidade. Nossa ideia é chegar até Iperó e faria essa ligação até o Trem Intercidades Sorocaba-São Paulo.

São muitos projetos, envolvendo tanto aportes do Estado quanto da iniciativa privada. O mercado consegue absorvê-los?

Consegue. Vem o nosso arranjo aqui: eu preciso, primeiro, distribuir isso no tempo. Obviamente, se eu chegasse agora e resolvesse fazer cinco leilões de transporte metroferroviário no ano que vem não terá player para tudo. Eu tenho que dosar: consigo fazer dois, três leilões por ano. Não consigo fazer mais do que isso porque vai faltar capacidade no mercado.

A medida em que a gente vai soltando projeto, as empresas vão entrando, se comprometendo, alavancando e eu tenho sempre que buscar novos players. O roadshow que a gente fez na Europa recentemente foi muito bem-sucedido. A gente foi lá justamente para ativar o mercado e trazer novos players. Eles já vieram pra cá e estão estudando detidamente as linhas 11, 12 e 13, fizeram inspeção de linha, estão participando do projeto e apresentando sugestões.

Obviamente, se eu chegasse agora e resolvesse fazer cinco leilões de transporte metroferroviário no ano que vem não terá player para tudo. Eu tenho que dosar: consigo fazer dois, três leilões por ano.

Tarcísio de Freitas

Teremos que fazer isso sempre para trazer mais players da Europa e da Ásia. A partir do momento que eu começo a expandir o transporte sobre trilhos, eu começo a despertar o interesse de outros atores que ainda não estão olhando o Brasil.
Desde a pandemia, o Metrô de São Paulo perdeu passageiros e não conseguiu retornar ao antigo patamar. Como resolver este problema?

Aquele passageiro que hoje está no ônibus e mora na Brasilândia, na Freguesia do Ó, com a linha 6 vai passar a andar de metrô. Quando o passageiro incorpora no metrô e ele chega no centro da cidade de São Paulo, ele vai ser distribuído para outras linhas. Então, a integração do sistema de transporte é fundamental. Quanto mais integrado o sistema estiver, melhor.

Se eu vou buscar passageiros em Campinas, em Jundiaí, e entregar eles na estação Água Branca, em São Paulo, quando chegar lá eles serão distribuídos pelas outras linhas de metrô. Quando eu faço uma extensão, por exemplo, da linha 2 até Guarulhos eu vou puxar uma quantidade relevante de passageiros por dia.

A linha 6 vai trazer 600 mil passageiros por dia. E eles vão ser distribuídos no sistema. E aí eu começo a descomprimir determinadas linhas, começo a ter outras alternativas para fazer determinados percursos. Começo a melhorar a qualidade dos serviços, diminuir o tempo de viagem, interligar mais as linhas e despertar maior interesse. Então toda vez que eu levo a linha para algum lugar, estou agregando mais passageiros. Quanto mais conexões essa rede tiver, mais passageiros traremos para o sistema.

NAVAL

Canal Rural - SP   27/05/2024

Para auxiliar na gestão e governança, em busca maior eficiência na operação, os portos paranaenses contam com duas ferramentas para reunir dados e otimizar o comércio internacional marítimo. O Port Community Sistem (PCS), uma plataforma eletrônica que conecta os múltiplos sistemas operados pelos operadores portuários na cadeia multimodal de transporte e logística. Ela otimiza, gerencia e automatiza processos portuários e logísticos, em um canal integrado de informações e dados, conectando transporte e cadeias logísticas.

A outra ferramenta já utilizada é o VTBS, um sistema integrado de radares marítimos que dá a visão de tudo o que acontece no mar. “Os portos vêm se preparando cada vez mais, a fim de atender essa demanda crescente de movimentação, com estratégicas de alta tecnologia, licitações de novos terminais, malha ferroviária e rodoviária, com olhos nos próximos dez anos”, explica o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luíz Fernando Garcia.

Em outra frente, conta Garcia, Paranaguá segue ampliando as parcerias com portos internacionais, como as alianças já firmadas com Rotterdam na Holanda e Valência na Espanha. O diretor-presidente destaca o ganho operacional que virá com o “Moegão”, obra em andamento com investimentos de R$ 600 milhões, financiada pelo BNDES, que vai aumentar a capacidade de receber cargas ferroviárias.

Os portos paranaenses movimentaram 21,37 milhões de toneladas de janeiro a abril, contra 19,06 milhões de toneladas no mesmo período do ano passado. O destaque em volume vai para a exportação de açúcar, com 1,64 milhão/t, representando um crescimento de 119% em relação à 2023 (747 mil/t). Garcia explica que as condições de mercado internacional, o sucesso da safra brasileira, aliados à safra não tão boa quanto o esperado na Índia, favoreceram a este aumento na exportação de açúcar.

A soja foi outro produto com performance positiva no período jan/abr de 2024, com incremento de 35% dos embarques, de 3,7 milhões para 4,9 milhões de toneladas.

A estrutura portuária do Paraná conta ainda com investimentos da ordem de R$ 10 bilhões nos próximos sete anos. Os recursos serão garantidos principalmente por parte da concessão das rodovias do lote 2, que levam ao porto, nas licitações da malha ferroviária sul, cujo contrato atual será encerrado em janeiro de 2027. “Existem discussões sobre a renovação ou antecipação da nova concessão, agilizando o processo de melhoria das ferrovias”, diz Garcia.

Portos e Navios - SP   27/05/2024

O Porto do Itaqui deu um passo significativo em sua jornada de descarbonização. Na quinta-feira (23), a Valenciaport, parceira estratégica, concluiu a fase de diagnóstico do plano abrangente de descarbonização. O objetivo é tornar o Itaqui o primeiro porto público do Brasil a ter um Plano de Descarbonização.

Esta etapa envolveu o mapeamento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em todo o complexo portuário, abrangendo desde as operações portuárias até os diversos atores da comunidade do porto. Os resultados do diagnóstico e as estratégias propostas para a segunda fase do plano de descarbonização foram apresentados à diretoria da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), que administra o Porto do Itaqui. Em seguida, os representantes da Valenciaport estiveram com os operadores portuários e demais membros da comunidade portuária para compartilhar os resultados do diagnóstico e discutir as ações conjuntas para a aplicação do plano.

Com base no diagnóstico, será possível traçar um caminho estratégico para reduzir significativamente as emissões de GEE. O presidente do Porto do Itaqui, Gilberto Lins, destacou a importância do plano: “Com esse plano, o Porto do Itaqui incentivará outros portos e empresas a promoverem a defesa do planeta e práticas ESG. Além disso, um porto comprometido com a redução de emissões torna suas cargas mais competitivas.

PETROLÍFERO

IstoÉ Dinheiro - SP   27/05/2024

A diretoria colegiada da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aprovou por unanimidade, em reunião extraordinária realizada nesta sexta-feira, 24, a pré-operação do Terminal de Regaseificação de Gás Natural Liquefeito de São Paulo (TRSP), com ressalvas.

O TRSP é da Compass e foi construído no Porto de Santos, São Paulo, com uma capacidade de regaseificação nominal licenciada de 14 milhões de m³/dia, armazenamento de 150.000 m³ e um investimento aproximado de R$ 670 milhões.

Segundo a ANP, o projeto está “umbilicalmente ligado ao gasoduto Subida da Serra”, cuja polêmica decisão sobre a natureza da operação – se de transporte ou transmissão – ainda tramita na agência. Por este motivo, o GNL produzido no TRSP não poderá utilizar o gasoduto Subida da Serra até que a decisão sobre a vocação do gasoduto seja tomada.

“Há dois projetos interconectados umbilicalmente, o terminal TRSP e o gasoduto Subida da Serra, e minha recomendação é ressaltar que esta decisão não está necessariamente indicando o que decorrerá do resultado do processo de Subida da Serra”, disse a diretora Symone Araújo ao votar acompanhando a relatora, diretora Patrícia Baran.

O Estado de S.Paulo - SP   27/05/2024

Dados preliminares da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que a produção de petróleo e gás natural no Brasil caiu 4,87% em abril contra março, para 4,054 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d). No ano, a queda é de 10,4%.

A produção de petróleo nacional ficou em 3,194 milhões de barris por dia (bpd), queda de 4,82%, e a de gás natural cedeu 5,04%, para 136,7 milhões de metros cúbicos por dia (m3/d).

A queda de abril foi puxada principalmente pela Petrobras, maior produtora do País, que registrou produção de 2,639 milhões de boe/d, contra 2,738 milhões de boe/d em março, redução de 3,6%, segundo apurou a ANP. Se considerado apenas o petróleo, a estatal produziu 2,049 milhões de barris por dia (bpd), menos 4% do que no mês anterior.

Em relação ao gás natural, a produção da estatal caiu 1,9% na mesma comparação, para 93,8 milhões de metros cúbicos diários (m3/d).

A produção na região do pré-sal foi responsável por 77,83% do total, com queda de 5,79% ante março e totalizando 3,155 milhões de boe/d. Foram 2,488 milhões de bpd, recuo de 5,10%, e 106,1 milhões de m3/d de gás natural, redução de 8,25% contra março, informou a ANP.

Petro Notícias - SP   27/05/2024

Conforme o Petronotícias já havia antecipado em primeira mão no mês passado, a Petrobrás fechou a compra de mais duas plataformas com a Seatrium. As duas companhias assinaram hoje (24) os contratos de aquisição dos FPSOs P-84 e P-85, que serão instalados nos campos de Atapu e Sépia, em águas ultraprofundas, no pré-sal da Bacia de Santos, com início de produção previsto entre 2029 e 2030.

Mas ainda não será desta vez que a indústria naval deve ter uma participação massiva nas obras. Isso porque o conteúdo nacional será de 20% na P-84 e 25% na P-85. O coração da construção ficará em Singapura, sede da Seatrium, e também na China. Aos estaleiros brasileiros, muito provavelmente só caberá a construção de módulos e a realização de serviços de comissionamento.

No Brasil, a Seatrium opera os estaleiros BrasFELS, em Angra dos Reis (RJ) e Jurong Aracruz, em Aracruz (ES). Atualmente, um dos projetos em andamento no BrasFELS é a construção e montagem de módulos da P-78, sexta plataforma da Petrobrás a ser instalada no campo de Búzios. Já o estaleiro Jurong Aracruz trabalhou até 2023 no processo de finalização – comissionamento, inspeções regulatórias e testes operacionais – do FPSO Anita Garibaldi, que entrou em operação em agosto daquele ano.

As duas plataformas terão cada uma, capacidade de produção diária de 225 mil barris de óleo por dia e processamento de 10 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Atualmente, os campos de Atapu e Sépia contam com a produção de duas plataformas, sendo a P-70 no Campo de Atapu e o FPSO Carioca no campo de Sépia. P-84 e P-85 serão as segundas unidades em seus respectivos campos.

Os projetos da P-84 e P-85 têm a previsão de redução de 30% na intensidade de emissões de gases de efeito estufa por barril de óleo equivalente produzido, colocando-os entre os FPSOs mais eficientes a entrar em operação no Brasil. A redução se deve aos benefícios da configuração All Electric, de otimizações na planta de processamento para o aumento da eficiência energética e da incorporação de diversas tecnologias, tais como: zero ventilação de rotina (recuperação de gases ventilados dos tanques de carga e da planta de processamento), captação profunda de água do mar, uso de variadores de velocidade em bombas e compressores, cogeração (Waste Heat Recovery Unit), zero queima de rotina (recuperação de gases da tocha – flare fechado), válvulas com requisitos para baixas emissões fugitivas e a captura, uso e armazenamento geológico do CO2 do gás produzido.

AGRÍCOLA

Cultivar - RS   27/05/2024

O setor agrícola brasileiro acaba de ganhar inovação no acesso ao crédito. A plataforma E-agro registrou as primeiras operações de Cédula de Produto Rural (CPR) com garantia de maquinário, novidade que pode revolucionar a forma como os produtores rurais financiam suas atividades. O volume inicial dessas operações atingiu quase R$ 30 milhões.

A Massey Ferguson foi a primeira a se beneficiar desse novo meio de pagamento. Em parceria com a E-agro, a marca contribuiu para as primeiras emissões de CPRs com garantia de máquinas e equipamentos. Roberto França, diretor de agronegócios do Bradesco, destacou a relevância dessa iniciativa: “A CPR com garantia de máquinas e equipamentos é uma das iniciativas mais importantes do E-agro, e conta com a garantia e todo suporte do Bradesco. Estamos felizes de ter parceiros, que assim como a Massey Ferguson, acreditam na força da marca e do marketplace do E-agro”.

A plataforma E-agro tem como missão democratizar o acesso ao crédito para os produtores rurais, permitindo que financiem as necessidades de suas propriedades de forma simples e moderna. Nadege Saad, "head" do E-agro, ressaltou a importância dessa inovação para o mercado agrícola: “E isso vem de encontro a estratégia dos nossos parceiros, que apostam na eficácia da plataforma, como acontece com a Massey Ferguson”.

“Atingir o marco de quase R$ 30 milhões mostra o potencial dessa inovação e o quanto empresas e produtores acreditam na digitalização do agronegócio”, celebra Nadege.

O marketplace da E-agro oferece um portfólio completo de máquinas e equipamentos das marcas do grupo AGCO, incluindo Massey Ferguson, Valtra e Fendt. Rodrigo Junqueira, gerente geral AGCO & vice-presidente Massey Ferguson América do Sul, reforçou a aposta nessas ferramentas: “Apostamos nessas ferramentas como E-agro porque acreditamos que vai facilitar a vida do produtor, desburocratizar e agilizar o processo de aquisição de maquinários”.

Um dos grandes diferenciais das operações de crédito oferecidas pela E-agro é a total digitalização do processo. Segundo Nadege Saad, essa abordagem torna o acesso ao crédito mais democrático e eficiente, eliminando a necessidade de deslocamento até agências bancárias ou cartórios e sendo isenta de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

IstoÉ Dinheiro - SP   27/05/2024

Arroz, trigo, milho, aveia… Mesmo que nem todos saibam, grande parte dos alimentos sobre a mesa dos brasileiros é produzida no Rio Grande do Sul, e que hoje tem suas lavouras destruídas pelas inundações do estado ou estão debaixo d’água. Até mesmo a cevada que abastece 25% da demanda das cervejarias do País tem nacionalidade gaúcha. No caso do arroz, o percentual chega a 71%, segundo cálculo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso ajuda a explicar a fatia de 12,6% do Rio Grande do Sul no PIB do agronegócio brasileiro.

• Todos esses números sinalizam que o agronegócio deve ser a atividade econômica mais afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

• Um relatório produzido pelo Bradesco projeta que a tragédia provocará uma retração de 3,5% no agronegócio brasileiro neste ano.

• Com isso, os preços dos alimentos em todo País devem ser pressionados em decorrência das perdas da safra gaúcha.

• Mesmo com autorização do governo para importação emergencial de arroz, para evitar desabastecimento nacional, é muito provável que os alimentos empurrem a inflação para cima.

• Afinal, além do arroz, o Rio Grande do Sul também é um dos maiores produtores de soja, trigo e carnes. A sorte — se é que existe alguma neste cenário — é que o estado está no fim da colheita de verão e cerca de 70% da soja e 80% do arroz já foram colhidos.

A isenção das tarifas de importação foi aprovada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), durante reunião extraordinária na segunda-feira (20). “Ao zerar as tarifas, buscamos evitar problemas de desabastecimento ou de aumento do preço do produto no Brasil, por causa da redução de oferta”, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin.

A redução a zero das tarifas vale até 31 de dezembro deste ano. A Secretaria de Comércio Exterior do MDIC (Secex) pode prolongar o período de vigência, se considerar necessário. O governo pretende importar até 1 tonelada de arroz para abastecer o mercado e assegurar para o consumidor final o preço de R$ 20 para o pacote de 5 quilos de arroz, na importação do produto.
EFEITOS

Pelas contas do Bradesco, na hipótese que metade do que não foi colhido tenha sido perdido nas lavouras por causa do dilúvio, 800 mil toneladas de arroz e 3,2 milhões de toneladas de soja serão perdidas neste ano, o que deve representar redução de 7,5% da produção de arroz e 2,2% na de soja. O relatório destaca que projeções são conservadoras, já que ainda não se sabe a dimensão das perdas nas lavouras gaúchas, além de pastos e rebanhos. O estado foi responsável por 12% dos abates de suínos e 9,5% dos abates de frangos em 2023.

Segundo o Bradesco, o impacto do desastre sobre o PIB nacional deve ficar de 0,2 a 0,3 ponto percentual. A queda também pode colocar em xeque o crescimento econômico de 2% do Brasil previsto em 2024. Analistas estimam que o PIB do Brasil terá crescimento de 2,05% em 2024, segundo o Boletim Focus, do Banco Central (BC). Portanto, uma redução de 0,3 ponto percentual levaria a expansão do PIB para algo perto de 1,75%, o que é uma desaceleração em relação a 2023, quando o Brasil avançou 2,9%.
3,5%
é a estimativa do Bradesco de redução do PIB do agro com a devastação de plantações no estado

Tudo justifica as previsões de que os estragos causados pelas chuvas no Rio Grande do Sul vão contaminar a balança comercial deste ano. O estado foi o 6º no ranking dos que mais contribuíram para o superávit da balança comercial em 2023. Os gaúchos responderam por US$ 8,6 bilhões do saldo de US$ 98,9 bilhões registrado no ano passado, o que equivale a 8,6% do total. Os dados são do MDIC. O estado também é o 6º que mais exporta e também o 6º que mais importa. Embarcou para o exterior US$ 22,3 bilhões em 2023 (6,6% do total do País). Importou US$ 13,8 bilhões (5,7%).

Os prejuízos do agronegócio devem ser amplificados em razão dos problemas de logística, que afetam tanto o escoamento da safra, assim como impede a chegada de insumos. Os obstáculos devem afetar principalmente os segmentos de laticínios e carnes, que são mais perecíveis. O cenário deve se refletir diretamente nos preços dos alimentos. O Bradesco enfatiza que em 2008, quando um ciclone subtropical atingiu o Rio Grande do Sul, os preços do arroz subiram cerca de 40% no atacado e 20% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em um mês.

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