Reuters – SP 24/10/2025
O setor de distribuição de aços planos no Brasil pode ver ainda neste fim de ano um novo aumento nos preços cobrados pelas usinas siderúrgicas nacionais, em meio a um ambiente em que o consumo segue morno, mas as importações mostram recuo, afirmou o presidente da associação de distribuidores, Inda, nesta quinta-feira.
“Está se falando de eventualmente mais uma perna (de reajuste) em novembro ou dezembro. As usinas estão muito firmes… Existem algumas conversas de haver um novo aumento”, disse o presidente do Inda, Carlos Loureiro, em entrevista a jornalistas sobre o desempenho do setor em setembro.
Segundo ele, os aumentos de 7% a 8% em laminados a quente e de 3% a 4% nos laminados a frio e zincados anunciados no final de setembro para outubro foram “realmente implantados pelas usinas” e a grande maioria dos associados do Inda conseguiram repassá-los aos clientes integralmente ou “uma boa parte” deles.
“Acredito que em novembro o novo aumento será repassado. As margens estão muito ruins. Não repassar aumento de preço hoje é cortar na carne”, acrescentou.
As vendas dos distribuidores de aços planos em setembro somaram 361,7 mil toneladas, um crescimento de 10,6% sobre um ano antes e expansão de 7,2% ante agosto.
Mas Loureiro afirmou que o aumento das vendas ocorreu em meio à expectativa dos aumentos de preços que viriam em outubro. Tanto que as compras dos distribuidores de material das usinas no período subiram 10% ante agosto e 5,4% na comparação anual, a 360 mil toneladas.
Com isso, os estoques do setor no mês passado ficaram praticamente estáveis ante agosto e saltaram 11,2% sobre setembro de 2024, a 1 milhão de toneladas.
“O mercado não está brilhante, mas está com certo consumo”, disse Loureiro. “A demanda que se tem com ou sem aumento (de preços) vai acontecer porque o consumo é inelástico. Não se deixa de produzir um carro porque subiu R$500 o preço da tonelada de aço.”
E com a antecipação vista em setembro, o Inda espera que as vendas de aços planos pelos distribuidores em outubro fiquem estáveis ante o mês anterior.
Os movimentos no mercado interno coincidem com uma redução no fluxo das importações de aços planos ao país. Em setembro, o volume importado caiu quase 17% sobre um ano antes, para 241,4 mil toneladas, reduzindo a alta no acumulado do ano para 25,9%, segundo os dados do Inda.
Loureiro afirmou que essa redução no fluxo é sentida na principal porta de entrada de material siderúrgico importado ao país, o Porto de São Francisco do Sul (SC). Segundo o executivo, o volume de aço em navios esperando liberação e descarregado no porto baixou para cerca de 500 mil toneladas ante picos de meses atrás que chegaram a passar de 1 milhão de toneladas.
“O que incentiva importação é mercado…Mas também temos tido informações sobre essa perspectiva de entrada de dumping em laminados a frio e revestidos entre dezembro e fevereiro”, disse Loureiro citando expectativa do setor siderúrgico sobre novas medidas de defesa comercial do Brasil contra aço chinês.
O presidente do Inda explicou que essa expectativa de adoção de medidas antidumping cria risco aos importadores que estejam negociando a chegada de novas cargas ao Brasil, dado o tempo do transporte da carga até o país. “Qualquer fechamento hoje de contrato de importação está sujeito (ao risco) de sofrer dumping quando chegar…por isso os importadores estão se retraindo um pouco”, comentou.
Não à toa, as importações de laminados a frio em setembro despencaram 61,3% sobre um ano antes, a 20,7 mil toneladas, reduzindo o acumulado do ano para alta de 22,2%, segundo os dados do Inda. Segundo Loureiro, enquanto a expectativa sobre a medida antidumping para os laminados a frio e revestidos é de que seja adotada pelo governo entre dezembro e fevereiro, para laminados a quente a espera é para “provavelmente maio ou junho”. O executivo acrescentou que a medida do dumping deveria ser “nunca menor do que US$150 a US$200”.

