Aço importado ofusca retomada da Usiminas

Valor – SP   09/07/2025

Companhia tem visto melhora sequencial dos resultados, mas ações caem 60% em 15 meses.

Maior produtora de aços planos do Brasil, a Usiminas é também a mais afetada, entre as companhias do setor listadas na B3, pelo avanço das importações de produtos siderúrgicos. Apesar dos esforços de reestruturação de seus passivos e dos ganhos de custo e eficiência com a reforma bilionária do alto-forno 3, em Ipatinga (MG), a empresa viu suas ações voltarem a rondar os níveis mais baixos em cinco anos, com queda de quase 60% no acumulado dos últimos 15 meses.

No fechamento desta terça-feira (8), os papéis da siderúrgica mineira eram cotados a R$ 4,38, baixa diária de 0,23%. Em 2025, a desvalorização chegou a 17,7%.

“Continuamos a ver um cenário desafiador para os produtores de aços planos no Brasil, com concorrência feroz de produtos importados, intensificada pela recente valorização do real, que pode ter impacto negativo sobre preços domésticos e demanda no segundo semestre”, escreveram analistas do Itaú BBA, em relatório recente.

Na ocasião, o banco cortou a recomendação para as ações da companhia, de compra para neutro (“market perform”), e reduziu em 31% o preço-alvo projetado para o fim do ano, de R$ 8,50 para R$ 5,90 por ação. Também reduziu de forma significativa a estimativa para o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 2025, de R$ 3 bilhões para R$ 2 bilhões (ante R$ 1,6 bilhão em 2024), na esteira de preços mais baixos do aço no mercado doméstico e de maiores despesas operacionais.

Ao contrário de suas pares, a Usiminas tem a maior parte de seu negócio exposta à dinâmica do mercado siderúrgico local – a companhia tem uma unidade de mineração, mas que não se aproxima dos resultados da siderurgia. A Gerdau, por exemplo, diversificou geografias e, hoje, metade de Ebitda é gerado nos Estados Unidos. Na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a mineração responde por cerca de 50% do resultado operacional.

Além disso, a Usiminas tem sua atuação focada em aços planos (usados pela indústria automotiva, por exemplo), justamente o tipo de produto siderúrgico mais importado pelo país. Dessa forma, acaba sentindo mais a queda dos preços domésticos, que chegou a 15% de janeiro a maio, segundo o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Jorge Loureiro. “É certo que [o preço] vai cair mais”, disse.

Segundo Loureiro, considerando-se o volume de material que está chegando ou aguardando para ser descarregado em portos, como São Francisco do Sul (SC), é possível prever mais pressão. “São mais de 900 mil toneladas, o que mostra que os números de importação em junho foram iguais ou maiores do que em maio”, comentou.

Dados do Instituto Aço Brasil mostram que a produção nacional de aço bruto cresceu pouco, 0,7%, entre janeiro e maio, para 13,7 milhões de toneladas. No mesmo intervalo, as importações subiram 26,8%, para 2,9 milhões.

Alguns distribuidores de aço, conforme o presidente do Inda, também passaram a importar certos volumes, a despeito do sistema de cota-tarifa implementado em junho do ano passado pelo governo federal, hoje válido para 23 produtos. “Com a queda de preços e o câmbio, ficou mais atrativo. Mesmo com 25% [de alíquota], eventualmente tem alguma vantagem na importação”.

Dentro de casa, a Usiminas deu novo passo importante de gestão financeira ao anunciar, há algumas semanas, o plano de resgate antecipado integral dos bônus com vencimento em 2026, utilizando recursos de uma emissão realizada em janeiro, com prazo de sete anos. Com isso, a companhia busca jogar para a frente o principal vencimento previsto até 2028, de R$ 1,2 bilhão em 2026.

“No momento, não vemos nenhum catalisador de mudança”

— Daniel Sasson

Segundo fonte próxima à siderúrgica, houve renegociação de dívidas em moeda estrangeira e nacional, o que contribuiu para alongar o perfil dos passivos e “reforçar a solidez financeira” em meio a um ambiente externo adverso.

Em março, a dívida líquida da companhia estava em R$ 1,4 bilhão, um salto de cerca de 50% frente aos R$ 937 milhões registrados em dezembro. A empresa atribuiu essa variação, que foi mal recebida pelos investidores, à “pressão no caixa pelo aumento do capital de giro” – em um trimestre que surpreendeu positivamente com margem Ebitda de 11% e lucro líquido de R$ 337 milhões.

Pesam ainda sobre as ações da Usiminas ruídos gerados pela disputa entre sua controladora, a ítalo-argentina Ternium e a CSN, que detém 12,9% da siderúrgica. Como informou o Valor na semana passada, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deu 60 dias para que a CSN apresente o plano de venda desses papéis.

A Usiminas seguirá enfrentando um cenário complexo, que ameaça a competitividade da indústria siderúrgica nacional. As importações de aço, sobretudo plano, vem ganhando ritmo pelo segundo ano consecutivo e já acumulam alta de 42% em 2025 (até maio), com a China respondendo por 78% dessas compras.

Esse avanço elevou a participação dos produtos importados para mais de 30% do consumo aparente nacional em maio. A Usiminas sofre ainda com o impacto das chamadas “importações indiretas” – bens industriais fabricados com aço estrangeiro, como veículos, máquinas e eletrodomésticos – que atingiram US$ 104 bilhões em 2024 e continuam avançando.

Para o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, neste momento, a visão do setor de siderurgia é cautelosa de maneira geral, mas a Usiminas acaba sendo a mais exposta às oscilações do mercado no Brasil. E o cenário para o aço, segue o especialista, permanece desafiador.

Para o segundo trimestre, o Itaú BBA projeta queda de 35% no Ebitda da companhia, na comparação com os três primeiros meses do ano, para R$ 470 milhões, explicada pela combinação de preços e volumes menores. “Não vemos nenhum catalisador para mudar esse cenário, então estamos menos animados com o setor”, diz. Procurada, a companhia informou que está em período de silêncio. Os resultados do segundo trimestre serão divulgados no dia 24.