Siderúrgicas de Sete Lagoas paralisam as atividades

Diário do Comércio/MG – 04/06/2025

Siderúrgicas de Sete Lagoas e região planejam paralisar suas atividades das 6h às 18h desta terça-feira (3). O movimento, segundo o empresário do setor, Willian Reis, tem como objetivo fazer um alerta sobre as condições do mercado no País, que convive com vários problemas: concorrência com produtos importados, juros altos, aumento nas tarifas para aço e alumínio anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

“Com um conjunto de entraves, o setor está vivendo no limite, estamos chegando perto do colapso. As empresas não conseguem mais cortar custos”, ressalta Reis. Ele conta que a adesão à paralisação somou 18 siderúrgicas de Sete Lagoas e redondezas, que incluem Matozinhos, Pedro Leopoldo, Curvelo e Maravilhas. Essas 18 empresas empregam por volta de 3,5 mil pessoas.

Somente em Sete Lagoas, na região Central do Estado, o empresário destaca que a atividade conta com aproximadamente 5 mil postos de trabalho direto, em 23 empresas do segmento. “É muita responsabilidade manter os empregos diante desse cenário”, observa o empresário, que frisa que a ação dessa terça-feira (3) é fruto dos empresários do setor, sem qualquer tipo de liderança.

Durante o período da paralisação, devem deixar de ser produzidas aproximadamente 2,5 mil toneladas de ferro-gusa (matéria-prima para a produção de aço). Reis acrescenta que, em Minas Gerais, além de Sete Lagoas e região, se destacam na produção Itaúna e Divinópolis, municípios localizados na região Centro-Oeste do Estado.

Fora do País, na última sexta-feira (30), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que planeja aumentar as tarifas sobre aço e alumínio importados de 25% para 50%, aumentando a pressão sobre os produtores globais de aço e aprofundando a guerra comercial. “A maior parte das siderúrgicas exporta e por volta de 84% do ferro-gusa têm como destino os Estados Unidos”, observa o empresário de Sete Lagoas.

O Brasil é um dos principais exportadores de aço e alumínio para os Estados Unidos e vem negociando com o governo norte-americano a adoção de cotas sem tarifas, até agora sem resultados concretos.

Além da questão das tarifas, o setor convive há anos com a disputa de mercado dentro do País com o produto importado, tanto que o Instituto Nacional de Distribuidores de Aço (Inda) defendeu no mês passado uma taxa de 25% para as importações do aço chinês, para proteger a indústria nacional.

O fato é que mesmo com a imposição de cotas e o aumento de tarifas por parte do governo federal, em junho do ano passado, para limitar a entrada do aço importado no País, no acumulado do ano até abril, o crescimento das importações continua e foi de 31,7%, passando de 827,3 mil toneladas importadas de janeiro a abril de 2024 para 1,08 milhão de toneladas no mesmo período deste ano.

Internamente, o empresário reclama da elevada taxa de juros em vigor no País. No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, voltou a aumentar a taxa básica de juros da economia, a Selic. A elevação foi de 0,5 ponto percentual, chegando a 14,75% ao ano. Foi a sexta alta seguida. A taxa está no maior nível desde agosto de 2006, quando também estava em 14,75% ao ano. “Com isso o custo do dinheiro fica mais caro, o que desestimula os investimentos e estimula as aplicações financeiras. E agora surge mais um dificultador, que é o aumento do IOF”, observa.     

Reis diz que o cenário atual vivido pelo setor deve fazer com que as empresas revejam suas estratégias de produção, podendo reduzir a oferta. E acrescentou que o balanço da paralisação desta terça-feira (3) deve ser feito na próxima semana. “Vamos analisar os efeitos e definir as estratégias”, diz.