Diário do Comércio – MG 21/02/2025
Diante do recuo do dólar e do elevado nível de importações de aço, as siderúrgicas brasileiras devem encontrar dificuldade para implementar aumento nos preços dos aços planos em março, como praticaram em janeiro, afirmou o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, nesta quinta-feira (20).
Segundo ele, os reajustes praticados no primeiro mês do ano variaram de 7% a 8% e aproveitaram a forte valorização do dólar em relação ao real no final do ano passado. Porém, com o recuo da moeda norte-americana este ano, isso não deve se repetir.
“Falou-se um pouquinho dessa segunda onda de aumento de preços para fevereiro e março, mas com a queda do dólar, perdeu-se um pouco a força, principalmente, frente aos preços da importação. Por outro lado, não vejo os preços caindo, na medida que nossas usinas estão bem vendidas. Então, não vejo isso acontecer”, disse Loureiro.
Em janeiro deste ano, as vendas de aços planos registraram queda de 2,9% se comparadas ao mesmo mês do ano passado, atingindo um montante de 320,3 mil toneladas contra 329,9 mil toneladas.
A queda em relação a 2024 foi atribuída ao menor número de dias úteis em 2025. “Avaliando as vendas diárias, vendemos, em janeiro, 16 mil toneladas por dia, só perdendo para janeiro de 2021. O menor número de dias fez com que as vendas caíssem, mas as vendas em janeiro foram muito boas”, avaliou Loureiro.
Quando comparadas a dezembro, as vendas contabilizaram alta de 28,4%, superando o índice de 15% esperado pelo Inda. “Tivemos uma reunião com a rede de associados para discutir o mercado e observamos que na última semana de janeiro as vendas deram uma melhorada, superando nossas previsões”, afirmou.
De acordo com o Inda, diferente de outros meses, a alta na última semana de janeiro não foi impulsionada por rumores de aumento de preços para fevereiro, mas, sim, por um movimento dos distribuidores em acelerar as vendas, mesmo com margens menores, a fim de manter o giro dos estoques em um nível semelhante ao de janeiro do ano passado.
Importações de aço continuam alta no País
Ainda conforme a apresentação do Inda sobre o setor, realizada nesta quinta, as importações de aços planos para o Brasil encerraram o mês de janeiro com alta de 83% em relação ao mesmo mês do ano anterior (2024).
O volume total importado de aço no primeiro mês do ano no País foi de 241,5 mil toneladas contra 131,8 mil em janeiro do ano passado. O avanço já era esperado pelo Instituto, segundo Carlos José Loureiro.
“A gente já esperava este aumento sabia que havia um volume de materiais siderúrgicos estocado no Porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, que é o principal porto de entrada de material importado, e que não pode desembarcar em dezembro por falta de espaço nos armazéns. Então, só começou a ser nacionalizado este ano”, explicou.
Por isso, esse não deverá ser o ritmo de crescimento de importação durante o ano, mas a prática de trazer o aço da China, em constante crescimento, continua sendo um problema para as indústrias nacionais. “Isso mostra que realmente não estamos tendo um desafogo com relação à importação”.
O presidente do Inda lembra ainda que estes materiais deverão ser taxados em 25% ao entrarem no País, já que as cotas de importação já foram ultrapassadas.
Comparando com as importações do mês de dezembro de 2024, as importações registraram alta ainda maior, de 95,5%, saltando de 123,5 mil toneladas em dezembro para 241,5 mil toneladas em janeiro deste ano.
Taxações de Trump não afetarão diretamente mercado brasileiro
As taxações de importações praticadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não afetarão diretamente o mercado de distribuição de aço brasileiro, na opinião do presidente do Inda, Carlos Loureiro.
“O grande problema não é nosso. O grande problema é do consumidor americano. São eles que pagarão os 25% de impostos”, afirmou Loureiro.
Loureiro avalia que se o acordo com os Estados Unidos realmente não for renovado com o governo brasileiro e os 25% passarem a ser cobrados, as usinas americanas continuarão a comprar o aço.
“Eles não têm oferta de placas no mercado interno para suprir a demanda. O preço da placa no Brasil pode até cair um pouco, mas vamos continuar exportando”, pontuou.
Por outro lado, “os americanos vão ter que subir o preço dos produtos, ou vão ter prejuízo”, avaliou Loureiro. Não conseguindo comprar toda a demanda no mercado interno, ele acredita que eles continuarão importando, aumentando o custo para as próprias empresas americanas.
No mês de janeiro, o Brasil exportou cerca de 555 mil toneladas de aço plano para os EUA, valor que correspondeu a 84% das exportações do aço do País naquele mês.