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28 de Abril de 2025

INDA

Portal Fator Brasil - RJ   28/04/2025

As compras do mês de março registraram queda de 4,5% perante a fevereiro, com volume total de 330,6 mil toneladas contra 346,0 mil. Frente a março do ano passado (304,9 mil toneladas), apresentou alta de 8,4%, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), no dia 24 de abril (quinta-feira).

Vendas — As vendas de aços planos em março contabilizaram alta de 3,1% quando comparada a fevereiro, atingindo o montante de 331,7 mil toneladas contra 321,8 mil. Sobre o mesmo mês do ano passado, quando foram vendidas 309,8 mil toneladas, registrou alta de 7,1%.

Estoques — Em número absoluto, o estoque de março obteve queda de 0,1% em relação ao mês anterior, atingindo o montante de 1.058,6 mil toneladas contra 1.059,7 mil. O giro de estoque fechou em 3,2 meses.

Importações — As importações encerraram o mês de março com alta de 62,7% em relação ao mês anterior, com volume total de 343,6 mil toneladas contra 211,2 mil. Comparando-se ao mesmo mês do ano anterior (249,1 mil toneladas), as importações registraram alta de 37,9%, — e incluíram chapas grossas, laminados a quente, laminados a frio, chapas zincadas a quente, chapas eletro-galvanizadas, chapas pré-pintadas e galvalume.

Projeções — Para abril de 2025, a expectativa da rede associada é de que as compras e vendas tenham uma queda de 4% em relação a março, segundo o presidente- executivo do Instituto, Carlos Jorge Loureiro, que apresentou os números que fecharam o mês de março de 2025.

Sindifer - MG   28/04/2025

Apesar do aumento das importações de aço, que chegou a 37,9% no mês de março, a venda de aços planos por distribuidores brasileiros aumentou 7,1%, segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Enquanto em 2024, 309,8 mil toneladas foram vendidas no terceiro mês do ano, em 2025, foram 331,7 mil toneladas no mesmo período.

Se comparadas às vendas de fevereiro, quando foram comercializadas 321,8 mil toneladas de aço plano, a alta foi de 3,1%. “As vendas surpreenderam e ficaram acima do que imaginamos. A gente faz a previsão em cima de uma enquete com nossos associados e o clima geral era de um certo pessimismo”, disse o presidente do Inda, Carlos Jorge Loureiro.

As distribuidoras de aço no Brasil vendem para diversos setores da economia, com destaque para a construção civil, o setor automotivo, a indústria de máquinas e equipamentos, além de empresas que utilizam aço em embalagens e produtos domésticos.

A expectativa do Inda é que em abril, as vendas recuem 4%, alcançando cerca de 318,4 mil toneladas.

O setor fechou o mês de março com estoques de 1,06 milhão de toneladas, alta de 17,2% na comparação com o ano anterior. O número é equivalente a 3,2 meses de comercialização, nível considerado elevado pela entidade.

Importações de aço
As importações de aço, mais uma vez, aumentaram, sinalizando a ineficácia do sistema de limitações impostas pelas cotas pelo governo federal em meados de 2024. Em março deste ano, foram 343,6 mil toneladas importadas, sobretudo da China, contra 249,1 mil toneladas importadas no mesmo período do ano passado.

“As cotas não adiantaram. Este sistema de 25% de impostos ao invés dos 10% não deu nenhum resultado. Basta analisar os números”, avalia Loureiro.

SIDERURGIA

InfraRoi - SP   28/04/2025

André Bier Gerdau Johannpeter foi eleito presidente do Conselho de Administração da Gerdau durante Assembleia Geral de Acionistas da empresa. O executivo substitui Guilherme Chagas Gerdau Johannpeter, que ocupava a posição desde 2020 e agora passa para a vice-presidência, seguindo o plano de alternância previamente programada da gestão do Conselho.

André Johannpeter iniciou sua carreira na Gerdau há 45 anos, em 1980, na Fábrica de Pregos, em Porto Alegre (RS), tendo atuado em inúmeras áreas e operações da companhia no Brasil e na América do Norte. Em 2002, assumiu o cargo de COO (Chief Operating Officer) das operações canadenses da Gerdau, além de liderar o processo de operação de sucata.

Ele ainda foi vice-presidente de Metálicos, COO da Gerdau nos Estados Unidos e, em 2006, tornou-se responsável pelos Processos Corporativos de Marketing e Vendas, Metálicos, Logística, Suprimentos e Recursos Humanos no Brasil, no cargo de vice-presidente Executivo. Em 2007, foi promovido a CEO da empresa, cargo que ocupou por 10 anos. Em 2018, foi eleito vice-presidente do Conselho de Administração.

Atualmente, André é presidente do Conselho do Instituto Gerdau e membro do Comitê Executivo da Associação Mundial do Aço (worldsteel), além de integrar o Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil e da Associação Latino-americana do Aço (Alacero).

O executivo é formado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Complementou sua formação acadêmica com os cursos de General Business Administration, na Universidade de Toronto (Canadá), Marketing, em Ashridge (Inglaterra), e Advanced Management Program, na Wharton School da Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos).

“A Gerdau é uma empresa genuinamente brasileira, com 124 anos de história, construída com princípios éticos e com o compromisso com a excelência operacional e a geração de valor para nossos todas os nossos stakeholders”, afirma André Johannpeter. “Continuarei contribuindo para que a estratégia de negócios da Gerdau siga impulsionando a construção do futuro da companhia.”

Guilherme Johannpeter, que passa a ocupar a vice-presidência do Conselho de Administração, deixa um legado importante para a visão de longo prazo da Gerdau.

Portal Fator Brasil - RJ   28/04/2025

Alta de 6,6% ante o mesmo mês em 2024. Aumento também nas exportações frente ao mesmo mês do ano passado, mas recuou 10,6% em valores. E assim também foi as exportações no acumulado de janeiro a março. Já as importações no mês e no acumulado do ano, de janeiro a março, tiveram aumentos significativos. Já as importações do mês de março foi o maior da história, na avaliação do Aço Brasil.

Produção brasileira de aço bruto atinge 2,9 milhões de toneladas, um aumento de 6,6% frente ao apurado no mesmo mês de 2024. Já a produção de laminados foi de 2,1 milhões de toneladas, 6,6% superior à registrada em março de 2024. A produção de semiacabados para vendas foi de 808 mil toneladas, um crescimento de 3,9% em relação ao ocorrido no mesmo mês de 2024, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Aço Brasil, no dia 23 de abril (quarta-feira).

Ainda segundo o Aço Brasil as vendas internas avançaram 10,7% frente ao apurado em março de 2024 e atingiram 1,9 milhão de toneladas. O consumo aparente de produtos siderúrgicos foi de 2,4 milhões de toneladas, 15,6% superior ao apurado no mesmo período de 2024.

Exportações — As exportações de março de 2025 foram de 970 mil toneladas, ou US$ 658 milhões, o que resultou em aumento de 7,8% e queda de 10,6%, respectivamente, na comparação com o ocorrido no mesmo mês de 2024.

Importações — As importações de março de 2025 foram de 663 mil toneladas e de US$ 547 milhões, um aumento de 36,5% em quantum e de 21,0% em valor na comparação com o registrado em março de 2024. Segundo o aço Brasil, o maior patamar de importação da história.

No acumulado janeiro a março de 2025, a produção brasileira de aço bruto foi de 8,5 milhões de toneladas , o que representa um aumento de 2,8% frente ao mesmo período do ano anterior. A produção de laminados no mesmo período foi de 6,0 milhões de toneladas, crescimento de 2,1% em relação ao registrado no mesmo acumulado de 2024. A produção de semiacabados para vendas totalizou 2,1 milhões de toneladas de janeiro a março de 2025, uma queda de 8,2% na mesma base de comparação.

Já as vendas internas foram de 5,3 milhões de toneladas de janeiro a março de 2025, o que representa uma elevação de 8,0% quando comparadas com igual período do ano anterior.

O consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos foi de 6,8 milhões de toneladas no acumulado até março de 2025. Este resultado representa um aumento de 13,3% frente ao registrado no mesmo período de 2024.

Exportações — As exportações de janeiro a março de 2025 atingiram 2,6 milhões de toneladas, ou US$ 1,9 bilhão. Esses valores representam, respectivamente, crescimento de 4,7% e redução de 3,6% na comparação com o mesmo período de 2024.

Importação — As importações alcançaram 1,7 milhão toneladas no acumulado até março de 2025, um aumento de 29,6% frente ao mesmo período do ano anterior. Em valor, as importações atingiram US$ 1,6 bilhão e avançaram 17,1% no mesmo período de comparação.

Quanto a distribuição regional da produção de aço bruto, distribuição regional da produção de semiacabados e laminados no mês de março, e no acumulado de janeiro a março de 2025, os estados aparecem nesta ordem: Minas Gerais; Rio de Janeiro ; Espírito Santo; São Paulo.

E na produção mundial do aço o Brasil aparece em oitavo lugar, respectivamente: China; Índia; Japão; Estados Unidos; Rússia; Coréia do Sul; Turquia; Brasil; Alemanha; Irã; Itália; Vietnã; Taiwan; México; Espanha; Canadá; Egito; França; Arábia Saudita; Ucrania; Bélgica; Áustria; Polônia; Países Baixos; Algéria; Tailândia; África do Sul; Austrália; Suécia; Kasaquistão; Emirados Árabes Unidos; Argentina; Paquistão; Finlândia; Omã; Iraque; Rep. Tcheca; Reino Unido; Peru; Catar; Outros.

O Índice de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) do mês de abril de 2025 — O indicador caiu 0,7 pontos frente ao mês anterior, e atingiu 31,6 pontos. — Um movimento contínuo de queda na confiança pela sexta vez seguida dos CEOs da indústria do aço.

ECONOMIA

Infomoney - SP   28/04/2025

O diretor do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Valdés, enfatizou que o Brasil tem um “desafio fiscal muito forte” e que um ponto central é se o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentará novas medidas para conter o crescimento da dívida pública.

“O Brasil tem um desafio fiscal muito forte, e eles estão tomando medidas para estabilizar a dívida, mas a discussão que temos com eles é se teremos mais ações nesta direção”, afirmou ele em entrevista coletiva nesta sexta-feira, 25.

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O FMI estima que o peso da dívida pública no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve aumentar de 87,3%, em 2024, para 92% neste ano. Ao fim do governo Lula, o organismo estima piora de mais de 12 pontos porcentuais, para 96% em 2026, o patamar de endividamento mais elevado desde 2020.

“Muitos países terão níveis de dívida com índices que retornarão ao pico da covid-19”, reforçou o diretor do FMI. Valdés enfatizou ainda a importância de o Brasil cumprir a meta de superávit primário neste ano.

Quanto aos juros, Valdés destacou que o Banco Central (BC) brasileiro tem mantido uma política monetária “rigorosa” no País, buscando voltar a inflação à meta de 3% com tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. “Dadas as incertezas neste ambiente, é muito importante que os bancos centrais reforcem o compromisso com a independência”, disse.

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Desaceleração

Valdés disse que políticas econômicas mais rígidas devem causar uma “desaceleração relevante” do Brasil em 2025. O FMI espera que o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresça 2,0% em 2025, uma queda de 0,2 ponto porcentual ante sua última projeção, de janeiro. No ano passado, a economia brasileira cresceu 3,4%.

“Continuamos esperando uma desaceleração relevante no Brasil, impulsionada por políticas mais rígidas apropriadas”, afirmou Valdés.

O FMI revisou o PIB do Brasil em linha com os cortes que fez em suas projeções diante dos efeitos esperados com a guerra comercial global nas economias. Na América Latina, o impacto será “heterogêneo”, com o México podendo enfrentar uma recessão neste ano. Já na Argentina e no Equador, o Fundo projeta uma “importante recuperação”.

IstoÉ Online - SP   28/04/2025

A prévia da inflação oficial no País desacelerou de uma elevação de 0,64%, em março, para 0,43% em abril. Passagens aéreas e gasolina deram uma trégua, mas os preços dos alimentos voltaram a pressionar o orçamento familiar. O grupo alimentação e bebidas teve uma elevação de 1,14%, no oitavo mês consecutivo de variação positiva. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 25.

Embora tenha ficado dentro do previsto por especialistas, o resultado fez a taxa acumulada em 12 meses acelerar pelo terceiro mês consecutivo, chegando agora a 5,49%, que é o maior patamar para o período em mais de dois anos. Com isso, a taxa ficou ainda mais longe da meta de inflação de 3% perseguida pelo Banco Central – cujo teto de tolerância é de 4,5%.

“O mercado de trabalho aquecido e o real enfraquecido mantêm o cenário bastante desafiador para a inflação”, definiu a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário.

Ela pondera que, se a queda nos preços de commodities e a perspectiva de um dólar mais fraco perdurarem nos próximos meses – como efeito do tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump -, teria espaço para reduzir sua projeção para a inflação no fechamento do ano (hoje, em 5,9%). Por ora, porém, a convergência à meta segue desafiadora.

O cenário de inflação ainda requer cautela, corrobora o economista-chefe da corretora de investimentos Monte Bravo, Luciano Costa. A Monte Bravo manteve sua previsão de uma elevação de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros na reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Se confirmada, a Selic passaria dos atuais 14,25% para 14,75% ao ano.

“Esse movimento resultará em uma taxa de juros real de 9,1% ao ano, nível bastante restritivo, o que deverá permitir ao Banco Central manter a Selic estável nesse patamar até o fim do ano”, previu Costa, que estima um IPCA de 0,48% no fechamento de abril, devido ao reajuste de medicamentos e à pressão sazonal de vestuário. “Alimentos deverão arrefecer, mas devem seguir em alta em abril. Mantemos a expectativa de alta de 6,0% para o IPCA em 2025”, complementou.

Alimentação

O encarecimento da alimentação respondeu por cerca de 60% de todo o IPCA-15 de abril. Se somada ainda a elevação de 0,96% no custo com saúde e cuidados pessoais, apenas os dois grupos concentraram 88% da inflação deste mês.

A alimentação para consumo no domicílio avançou 1,29% em abril, pressionada por reajustes no tomate (32,67%), café moído (6,73%) e leite longa-vida (2,44%). Já a alimentação fora do domicílio aumentou 0,77%; a refeição fora de casa subiu 0,50%; e o lanche avançou 1,23%.

Em saúde, houve pressão de reajustes nos itens de higiene pessoal (1,51%), produtos farmacêuticos (1,04%, após a autorização do reajuste de até 5,09% nos preços dos medicamentos, em vigor desde 31 de março) e plano de saúde (0,57%).

Na direção oposta, o recuo de 14,38% no preço das passagens aéreas resultou no maior alívio para o IPCA-15 no mês – de -0,11 ponto porcentual. Os combustíveis também diminuíram, puxados por etanol (-0,95%), gás veicular (-0,71%), óleo diesel (-0,64%) e gasolina (-0,29%).

Na leitura do economista do ASA Leonardo Costa, o IPCA-15 veio modestamente pior que o esperado, com destaque para o avanço mais forte nos bens industriais. “Uma hipótese seria a defasagem da desvalorização do câmbio no final de 2024”, afirma. O economista prevê alta de 0,43% para o IPCA fechado de abril, mas considera que o resultado da prévia no mês deve promover uma revisão para baixo na estimativa.

Para o economista-chefe do Banco BMG, Flavio Serrano, o IPCA-15 de abril registrou uma leitura da qualidade ruim, com destaque para a pressão na alimentação no domicílio, bens industriais e serviços. Serrano chama atenção para os serviços nesta divulgação, uma vez que o segmento segue em nível elevado na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada, apesar de alívio na passagem de março para abril. “Na métrica de três meses, está rodando acima de 7,5%”, calcula.

Já o Bradesco avaliou que a prévia da inflação de abril veio em linha com esperado, mas com surpresas para cima registradas em alimentação e bens industriais. A alta nesses segmentos foi compensada pela queda de 14,38% das passagens aéreas, disse o banco em relatório. “A surpresa na alimentação concentrou-se nos produtos in natura; já nos bens industriais pode ser atribuída à alta dos perfumes – ambos itens bastante voláteis.”

O Estado de S.Paulo - SP   28/04/2025

O economista Armínio Fraga enxerga o Brasil em um jogo de tabuleiro: “Anda para a frente, mas de vez em quando volta algumas casas para trás”. Por isso, vê com preocupação o futuro do País, apesar dos avanços na economia das últimas décadas, com a superação da hiperinflação e vitórias sobre as crises bancária e cambial.

A questão, diz, é que há um “problema mais sério” e que se reflete na curva de juros de longo prazo: “Esses juros estão altos não apenas em função de uma questão cíclica, de a inflação estar acima da meta, mas por um problema mais sério, de natureza fiscal”, diz.

Para Armínio, não existem atalhos para o desenvolvimento do País, que terá de superar também o fim do bônus demográfico, quando a população brasileira tinha mais jovens entrando no mercado de trabalho do que idosos se aproximando da aposentadoria.

“O bônus foi um período em que o peso dos aposentados era relativamente leve, ou seja, onde sobrava mais para investir. Agora, teremos de ampliar a produtividade com esforços em várias frentes: educação, saúde, segurança, tecnologia, inovação, mais investimento.”

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
O Brasil avançou na economia, nas últimas décadas, principalmente depois da redemocratização, mas continua com crescimento baixo e preso a uma crise fiscal. Por quê?

Apesar das vitórias contra a moratória da dívida e a hiperinflação, nos anos 90, o Brasil seguiu tendo crises periodicamente. Como num jogo de tabuleiro, a gente anda pra frente, mas de vez em quando tem de voltar algumas casas para trás. Olhando o PIB per capita, acho que andamos umas dez casas para trás no governo Dilma Rousseff (2011-2016). E isso, quando você soma, dá um prejuízo muito grande. O Brasil continua sendo um país de poupança e investimento baixos, uma economia ainda bastante fechada. Muitas reformas foram aprovadas, atacando vários problemas, mas, ao mesmo tempo, volta e meia a gente retrocede.
Quais foram as casas para a frente?

Eu começaria com o marco relevante que foi o Plano Real, mas já dava para enxergar algumas coisas antes. O governo Collor foi desastrado, a inflação atingiu seu nível máximo, mas houve avanços com as privatizações e a abertura comercial. Com o Plano Real, vários problemas apareceram, que estavam escondidos sob a névoa da inflação. Ficou claro que havia um problema fiscal, que era resolvido na boca do caixa. Havia um sistema financeiro acostumado a ganhar dinheiro como uma espécie de parasita da inflação. Isso ficou claro com as crises bancária e cambial. Com o tripé macroeconômico (meta de inflação, câmbio flutuante e meta de superávit primário), o assunto foi resolvido. Depois, eu daria grande importância à chegada do PT ao poder, que foi uma surpresa, porque havia um receio de que o partido fosse colocar em prática as suas ideias históricas, coisa que o Lula optou por não fazer. Depois, no governo Temer (2016-2019), mais um ciclo de reformas importantes. E, no governo Bolsonaro (2019-2022), algumas também.

E as casas para trás?

Aos poucos, o governo do PT foi saindo dos trilhos, com uma certa nostalgia, inclusive com aspectos econômicos da ditadura. A mão mais pesada do Estado, intervencionismo enorme, presença estatal no mercado de crédito. Isso levou a um desgaste e, com o colapso fiscal do governo Dilma, houve uma segunda grande crise (depois da crise dos anos 80), com queda per capita semelhante à da década perdida, e muito mais rápida. Em três anos, a renda per capita caiu tanto quanto caiu na década perdida. Desde então, tem sido um vai e vem de ideias.

Hoje, o que pesa mais sobre a economia?

O Brasil tem um problema muito sério no seu Orçamento e que precisa ser visto por dois ângulos diferentes: de um lado, o crescimento exponencial da dívida, agora com jogos contábeis. Mas há também um problema sério de prioridade do gasto público. Não me canso de dizer que 80% do gasto vai para Previdência e folhas de pagamentos do Estado, principalmente de Estados e municípios. Os gastos tributários saíram de 2% do PIB, em 2002, para 7% do PIB hoje. Temos uma situação econômica em que o BC precisa de ajuda da área fiscal, mas não tem recebido, a despeito do esforço do ministro (Fernando) Haddad e da sua equipe. O arcabouço fiscal já nasceu insuficiente e a execução está difícil. São dois grandes blocos. Um é a dinâmica da dívida e taxa de juros, e outro é o que diz respeito às prioridades do Estado.
Desde 2016, o Brasil aprovou as reformas da Previdência, trabalhista, concedeu independência ao Banco Central e agora aprovou a reforma tributária. Por que tudo isso é insuficiente?

Não dá para deixar de dar peso à pandemia. Passada a pandemia, houve alguma recuperação e algum crescimento, mas ainda frágil, porque não teve muito investimento. Foi mais uma recuperação, o desemprego estava alto no início, vem caindo, o subemprego também caiu. Mas não acontece de uma forma tal que o País consiga sustentar esses 3% de crescimento do PIB, dos últimos 30 meses, por muito tempo.
A pandemia tirou produtividade?

A pandemia paralisou a economia. Com isso, a taxa de crescimento médio recente ficou muito prejudicada. Os juros, que chegaram a bater em 2%, agora estão acima de 14%. E agora, há um aspecto muito importante: esses juros estão altos não apenas em função de uma questão cíclica, de a inflação estar acima da meta, mas por um problema maior. O Brasil paga IPCA mais 7% ou mais para todos os prazos de vencimento dos títulos públicos, chegando a mais do que 30 anos.
Por que isso acontece?

Lá atrás, quando o teto de gastos foi aprovado, foi possível jogar as taxas de juros a um nível lá para baixo. E as de longo prazo também caíram. Lembra que o Banco Central controla os juros de curto prazo, mas os de longo prazo, não. Na medida em que esse esforço fiscal foi se esfarelando, e o Brasil seguiu com déficit primário, as taxas voltaram a subir. Essas taxas sugerem que é um problema mais sério, da natureza fiscal.

A LDO que o governo enviou em abril demonstra um arcabouço em colapso. Qual será a agenda do governo na economia em 2027?

É a agenda que devia ser discutida hoje. O Brasil não pode esperar o calendário político. Eu defendi uma proposta que não seria a ideal, mas daria um sinal forte na direção de resolver essa questão fiscal. Falei do salário mínimo, um tema altamente polêmico, e é claro que não dá para pensar em reduzir o salário mínimo em termos reais, mas como ele está vinculado a muita coisa, um período sem queda real, mas também sem crescimento, faria sentido. A regra do salário mínimo reza que ele só cresça. Enquanto a produtividade está crescendo, tudo bem, é compartilhar ganhos. Mas em períodos de muita queda e no momento em que essas vinculações todas existem, me parece que é uma ideia que poderia fazer parte de uma resposta. Mas é fundamental também incluir uma discussão sobre o gasto tributário, de cortar pelo menos dois pontos do PIB dessa despesa.
O governo limitou o salário mínimo ao teto de 2,5%, isso é insuficiente? Já cogitaram reajustar pelo PIB per capita.

O PIB per capita seria melhor, e poderia ser também uma média móvel de cinco anos. Seria uma forma de atenuar, caso tivesse queda no PIB no período. Porque hoje o salário mínimo só sobe. E acho que tem de ter um olhar para o lado microeconômico também. O corte dos gastos tributários seria cortar elementos altamente regressivos (que beneficiam os mais ricos).

Passada a pandemia, houve alguma recuperação e algum crescimento, mas ainda frágil, porque não teve muito investimento

As eleições de 2026 estão se aproximando. Como o senhor vê a possibilidade de aparecer um candidato da chamada ‘terceira via’?

Eu achava que tinha (essa condição) nas eleições anteriores. Agora as lideranças parecem estar cansadas, não estão no auge da sua energia.
O sr. quer dizer Lula e Bolsonaro?

Sim. Talvez de fato surja esta janela, e espero que ela seja utilizada para debater o que realmente importa. Hoje, o Brasil está olhando uma estrada de mil quilômetros à frente, toda esburacada, e está sem pneu estepe. Com essa dívida que a gente tem, não é bom. Hoje não daria para fazer, por exemplo, o que foi feito na pandemia. De aumentar gastos em 20 pontos porcentuais do PIB. Em tempos normais, a dívida precisa ficar em níveis confortáveis, e hoje estamos muito fora do confortável. Com juros altos e déficit primário, cria-se um círculo financeiro vicioso, que é como entrar no cheque especial: uma hora vai quebrar.

Como o sr. o enxerga o Brasil daqui a algumas décadas?

Espero que melhor, mas vai dar trabalho. Precisamos aprender com as lições do passado, tanto de erros, quanto de acertos, e levar esse aprendizado em conta na prática. O fato é que não existem atalhos para o desenvolvimento, temos de encarar essa realidade.
O bônus demográfico está passando, se já não passou. Como ampliar a produtividade com menos jovens entrando no mercado de trabalho?

O bônus foi um período em que o peso dos aposentados era relativamente leve, ou seja, onde sobrava mais para investir. Agora, teremos de ampliar a produtividade com esforços em várias frentes: educação, saúde, segurança, tecnologia, inovação, mais investimento.
O sr. enxerga o Brasil como um País desenvolvido em algum momento? Ou ficaremos sempre na promessa de país do futuro?

Nos últimos 44 anos crescemos (por pessoa) menos do que os Estados Unidos. Logo, existe muito espaço para melhorar. Mas temos de melhorar.

Este vai ser o século da China?

Já está sendo. A China saiu da pobreza extrema, gerou muita riqueza e se educou. É uma história sensacional, começou com Deng Xiaoping (1904-1997), que foi o começo da virada, com o abandono do modelo do Mao Tsé-Tung (1893-1976). Então, sim. Tanto a China quanto os EUA se beneficiaram muito dentro dessa ordem global. A China foi incorporada à OMC (Organização Mundial do Comércio), foram momentos dramáticos da história econômica da nossa era. É curioso os EUA, que foram talvez o maior beneficiário, junto com a China, estarem se voltando contra isso.

Teremos de ampliar a produtividade com esforços em várias frentes: educação, saúde, segurança, tecnologia, inovação e mais investimento

O que significa este início de governo Trump? Há uma mudança na principal economia do mundo?

Estamos vendo algo nunca visto. Os americanos foram os pais do sistema de pesos e contrapesos entre os Poderes, e agora há situações de o Executivo não respeitar algumas decisões do Judiciário. Vejo com muita apreensão. No comércio internacional e nas relações internacionais, estamos vendo a volta do Estado-Nação. O protecionismo havia sido mais ou menos superado no século 18 com Adam Smith (1723-1790) e no século 19 com David Ricardo (1772-1823). O pós-guerra foi um período de muita prosperidade para os americanos e tinha como uma de suas âncoras a globalização.
Qual o risco para os americanos e para o mundo?

Hoje há nos EUA problemas muito sérios. Primeiro, a perda do soft power, que é poder do exemplo, das vantagens do modelo democrático, liberal, solidário. Os EUA põem em risco a sua extraordinária produtividade, que é a mola mestra do crescimento, em última instância. E por último estão arriscando perder a condição do dólar de moeda de reserva, que é extremamente vantajosa. Esse caos que estamos vivendo no governo Trump pode custar muito caro para os EUA e para o resto do mundo. Até hoje, os países que se desenvolveram mais plenamente seguiram o modelo ocidental. Se o mundo perder essa estrela-guia, a coisa pode ficar bem complicada.

O Estado de S.Paulo - SP   28/04/2025

O Brasil ficou em último lugar no mais recente ranking de competitividade industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), antecipado pelo Estadão/Broadcast. O levantamento comparou 18 nações das Américas, Europa e Ásia que disputam os mesmos mercados de exportação e importação e têm um conjunto de produção relativamente semelhante. Os cinco países da América do Sul listados ocuparam as posições finais, pela ordem: Chile, Argentina, Colômbia, Peru e Brasil.

No relatório Competitividade Brasil – 2023/2024, a mais recente versão do levantamento realizado desde 2010, houve mudanças metodológicas em relação a rankings anteriores, buscando privilegiar similaridades na comparação entre as economias concorrentes. Mas o fato é que o País, que nunca saiu do terço inferior da classificação, desta vez caiu para a lanterna.

Mais do que apontar fragilidades nacionais em importantes fatores que ditam a concorrência internacional, como qualificação da mão de obra, ambientes macroeconômico e de negócios, educação, tributação, condições de financiamento, infraestrutura e logística, o levantamento da CNI atesta o resultado de décadas de protecionismo da economia brasileira – uma fórmula arcaica ainda em uso no País para proteger uma indústria que, assim, se acomoda e se torna menos competitiva.

Edições anteriores da pesquisa, disponíveis na internet a partir do levantamento de 2016, mostram a competitividade brasileira em 17.º lugar até o período 2021/2022, quando subiu uma posição, beneficiada pela melhora do ambiente de negócios – registrado em mais de uma edição – e ganhos em financiamento e tributação. Na pesquisa atual, o ambiente econômico, aliado ao desenvolvimento humano e trabalho e à educação, foram os três principais fatores, entre os oito analisados, a puxar o Brasil para o fim da fila.

A questão, porém, vai muito além da disputa pelas últimas colocações. É necessário abandonar de vez a “zona de rebaixamento” e ingressar ao menos no grupo intermediário da competição, onde está a Índia, que tem elevado sua competitividade a partir de políticas de abertura da economia. O estudo destaca que a Índia ainda amarga as piores posições em seis dos oito fatores considerados, mas o quarto lugar em “comércio e integração internacional” garantiu ao país no cômputo geral a 12.ª colocação.

Como diz o documento da CNI, mensurar a competitividade do país é um importante passo para direcionar a formulação de políticas públicas e estratégias de desenvolvimento. Mas, para além do diagnóstico, é preciso que o Brasil repense o próprio modelo de desenvolvimento, excessivamente voltado a salvaguardar a produção local, mirando prioritariamente o consumo interno.

Por esse tipo de pensamento, ainda figuramos com frequência em listas das economias mais fechadas do mundo. O Brasil se acostumou a buscar soluções em políticas de subsídios e barreiras alfandegárias que deveriam ser usadas em caráter excepcional, mas se transformaram em regra.

Veja - SP   28/04/2025

Como empresário, Donald Trump não queria ser comparado a um jogador — alguém que faz apostas arriscadas e conta com a sorte. Para ele, o ideal era dar as cartas. “Ser o dono da banca é melhor”, disse certa vez. Como presidente dos Estados Unidos, Trump continua o mesmo e aspira o controle de uma banca muito maior: o comércio mundial. Com isso, pretende reverter o enorme déficit nas trocas do país, que saltou 17% no ano passado e somou 918 bilhões de dólares. Sua primeira aposta foi alta: no início do mês, impôs pesadas tarifas a mais de 150 países, incluindo o Brasil. Dias depois, em meio a protestos, suspendeu a medida por três meses e se dispôs a negociar com quem lhe trouxesse ofertas “fenomenais”. Agora, o mundo tenta saber se ele deseja mesmo negociar e se o tarifaço é apenas um estratagema. Outra possibilidade é que Trump planeja reindustrializar os Estados Unidos, e as sobretaxas são inegociáveis, pois protegem as empresas locais da importação predatória e forçam as multinacionais a investir lá. “Trump parece seguir a segunda opção, mas ninguém sabe de fato”, diz Jason Furman, professor da Universidade Harvard que assessorou por oito anos o então presidente Barack Obama (leia a entrevista). Sem clareza sobre as reais intenções da Casa Branca, governos e empresas estudam o que fazer.

Caso Trump leve a sério as negociações, o poder de barganha de cada país será vital. Um exemplo é o tratamento dado ao Vietnã e à União Europeia, com a qual os Estados Unidos registraram um déficit de 236 bilhões de dólares em 2024. Ambos propõem zerar as tarifas de importação dos artigos americanos se receberem o mesmo em troca. Mas, enquanto os vietnamitas são ignorados, os europeus são recebidos em Washington. Mesmo a China, a suposta vilã da história, que fez 300 bilhões de dólares de superávit no comércio bilateral, pelo que foi taxada em até 245%, possui bons trunfos. O país poderia, por exemplo, comprar mais produtos agrícolas dos Estados Unidos, em troca de tarifas menores sobre suas exportações — e não seria uma surpresa. Em 2019, no primeiro mandato de Trump, os dois lados fecharam um acordo semelhante que não chegou a ser implementado, devido à pandemia de covid-19.

Tal acordo seria péssimo para o Brasil, hoje um dos maiores fornecedores da China. “Competimos com os Estados Unidos na exportação de grãos e carne”, diz Larissa Wachholz, analista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais. A soja é o carro-chefe das nossas exportações e, em 2024, rendeu 43 bilhões de dólares, dos quais, 32 bilhões vieram da China. O país também respondeu por 47% dos 12 bilhões de dólares que exportamos de carne bovina. Como torcer para Trump e Xi Jinping não se entenderem não resolverá nossos problemas, os negociadores brasileiros, liderados pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, e pelo chanceler, Mauro Vieira, buscam uma moeda de troca para oferecer a Washington. Uma opção seria cortar a tarifa do etanol de milho americano, hoje em 18%. Trump já se queixou em público sobre a questão e observou que cobrava apenas 2,5% do nosso etanol de cana — isso, claro, antes de nos impor a tarifa mínima de 10%. Embora essa sobretaxa seja pequena quando comparada às de outros países, seu impacto em algumas áreas será relevante. É o caso do suco de laranja, que tem nos Estados Unidos seu maior mercado. O setor é um bom exemplo de como Trump pode machucar o bolso de seus eleitores. A produção americana de laranja enfrenta problemas com pragas que arruínam os pomares. Por isso, não supre toda a demanda. “As exportações brasileiras ajudam os Estados Unidos a sustentar o consumo”, diz Ibiapaba Netto, diretor da CitrusBR, que representa os produtores nacionais. “A sobretaxa pressionará os preços para os americanos.”

Até aqui, a premissa é que Trump vai negociar, mas os países também se preparam para o caso de isso não acontecer, ou de as conversas não renderem resultados substanciais. Nesse cenário, aqueles onerados com as menores tarifas, como o Brasil, ganhariam competitividade no mercado americano em relação a rivais mais penalizados. Um exemplo é o setor de calçados, que exportou no ano passado 217 milhões de dólares para lá. Antes do tarifaço, os sapatos brasileiros pagavam uma tarifa média de 17% — a mesma de rivais como o Vietnã. Com os novos impostos, o Brasil passará para 27%, enquanto os vietnamitas arcarão com 63%. O problema é que não se sabe se a demanda total por calçados — ou por qualquer outro produto — será a mesma, caso as sobretaxas sejam retomadas em julho. O maior temor é de que a economia americana encolha. “Não há dúvida de que o risco de recessão hoje é maior do que há um mês”, afirma Jeremy Siegel, professor da Wharton School, onde Trump se formou em 1968. “Mas não há dados conclusivos de que ela virá.”

Com ou sem recessão, os exportadores vergastados por Trump buscarão outros mercados. Os vencedores desse jogo serão os países que encontrarem o melhor equilíbrio entre promover seus produtos no exterior e proteger o mercado interno contra uma invasão de mercadorias antes destinadas aos Estados Unidos — um drama que o Brasil já vive. No primeiro trimestre, as importações de produtos chineses aumentaram 35% sobre o mesmo período de 2024, somando 19 bilhões de dólares e cravando um novo recorde. Vários setores clamam por uma solução. As siderúrgicas, por exemplo, defendem medidas mais duras contra o aço importado, que já abocanha 25% do mercado doméstico, ante a média histórica de 11%. O risco de que a indústria brasileira seja uma vítima involuntária da guerra tarifária de Trump é alto. “A invasão chinesa é um alerta de que somos uma válvula de escape comercial para eles”, diz André Matos, executivo-chefe da casa de investimentos MA7 Negócios. Estancar as importações sem melindrar nosso maior comprador de soja e minério de ferro pode requerer outra estratégia: incentivar os chineses a produzir aqui. Não seria difícil, já que seus investimentos diretos no Brasil crescem com força. Os dados mais recentes da Apex, a agência federal responsável por atrair capital estrangeiro, mostram que a China acumulava 45,3 bilhões de dólares investidos no país em 2023, um salto de 22% sobre o ano anterior, destacando-se projetos de energia, infraestrutura e automotivo.

Aproveitar o tarifaço para buscar novos mercados é a estratégia mais promissora no longo prazo. Empresas brasileiras esperam, por exemplo, que o protecionismo de Trump convença os envolvidos a acelerar a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia. “A vigência plena do acordo seria muito favorável ao Brasil”, diz Márcio Ferreira, presidente da Cecafé, que reúne os exportadores de café, segundo item mais vendido para os europeus, atrás do petróleo. Em 2024, a UE importou 5,6 bilhões de dólares de grãos não torrados. Conquistar novos mercados requer mais que negociação. O Brasil precisa enfrentar os graves e conhecidos problemas que corroem sua competitividade há décadas, como a precária infraestrutura logística. Segundo o Banco Mundial, de 2014 a 2018, o país permaneceu empacado nesse quesito, atrás do Brics. Nos cinco anos seguintes, a melhora foi suficiente apenas para o empate com o bloco. “Exportar produtos é fácil”, diz José Augusto de Castro, presidente da AEB, que reúne os exportadores brasileiros. “Difícil é exportar impostos e ineficiências.” Enquanto Trump embaralha o comércio mundial, o Brasil conta com poucas fichas para bancar seu jogo. É melhor apostá-las com sabedoria.
“Trump cravou uma estaca no liberalismo”

Para Jason Furman, professor da Universidade Harvard e ex-assessor de Barack Obama, os Estados Unidos até sobreviveriam isolados do mundo, mas não seria bom para ninguém

Como o senhor vê a divisão no próprio governo americano sobre as tarifas? Há duas visões em jogo. Uma defende que as tarifas são apenas uma ameaça para que todos os países reduzam as taxas de importação, criando um mundo com mais comércio. A outra não quer isso e espera que os Estados Unidos produzam tudo o que precisam. Nesse caso, as sobretaxas não seriam negociáveis. Acho que Trump segue essa linha, mas essa é a grande incerteza: ninguém sabe o que ele fará.

Os outros países se aproveitam dos Estados Unidos? Déficits comerciais não indicam necessariamente um abuso. O erro de Trump é supor que um déficit sempre prova que o outro país quer nos prejudicar. Veja Madagáscar, com quem temos déficit. Eles nos vendem baunilha e compram muito pouco de nós, porque são mesmo pobres. A América não será grande de novo vendendo mais para Madagáscar. Então, impomos uma enorme tarifa de importação. O único resultado é que compraremos menos baunilha.

No futuro, esta época será vista como aquela em que a China virou um parceiro comercial mais confiável para o mundo que os Estados Unidos? Não acho. Sendo uma democracia liberal, partilhamos uma certa visão de mundo com muitos países. O que me preocupa são algumas potências de médio porte, como a Índia, com as quais não temos exatamente um espírito em comum. Talvez, a ideia de que todas as nações se tornariam inexoravelmente democracias liberais lideradas pelos Estados Unidos nunca tenha sido possível. Mas Trump, com certeza, cravou uma estaca enorme no coração desse sonho.

Dizer que o tarifaço representa o fim da hegemonia americana é um exagero, então? Não será o Armagedom. O comércio exterior representa 13% da economia americana. Se fechássemos totalmente nosso mercado a outros países, não morreríamos de fome. Mas não morrer de fome seria se contentar com muito pouco.

Infomoney - SP   28/04/2025

A confiança do consumidor dos Estados Unidos caiu pelo quarto mês consecutivo em abril em meio a preocupações sobre o impacto econômico das tarifas.

A Pesquisa de Consumidores da Universidade de Michigan mostrou nesta sexta-feira que o Índice de Confiança do Consumidor atingiu 52,2 neste mês. Embora tenha sido uma melhora em relação à leitura de 50,8 de duas semanas atrás, o índice caiu acentuadamente em relação aos 57,0 de março.

Economistas consultados pela Reuters previam que a leitura final do índice permaneceria em 50,8.
“Os consumidores perceberam riscos em vários aspectos da economia, em grande parte devido à incerteza contínua em torno da política comercial e ao potencial de uma retomada iminente da inflação”, disse a diretora de Pesquisas de Consumidores, Joanne Hsu.

“As expectativas do mercado de trabalho permaneceram sombrias. Ainda mais preocupante para a trajetória da economia é o fato de os consumidores anteciparem um crescimento de renda mais fraco para si mesmos no próximo ano.”

As expectativas de inflação dos consumidores para os próximos 12 meses ficaram em 6,5%, abaixo dos 6,7% registrados mais cedo neste mês e acima dos 5,0% registrados em março. As expectativas de inflação ainda são as mais elevadas desde 1981, e abril marcou o quarto mês consecutivo de altas anormalmente grandes, de 0,5 ponto percentual ou mais.

O Estado de S.Paulo - SP   28/04/2025

Exibindo mais otimismo do que o mercado, o governo continua apostando em crescimento econômico de 2,5% neste ano, mas sem prometer às famílias um custo de vida muito mais suportável. Fora do governo, têm melhorado a cada semana as projeções de aumento da produção, já elevadas a 2% no final da semana passada. Mas a alta de preços prevista para o ano – aquele terror vivido nas lojas, nos supermercados e nos endereços de serviços – permanece acima do teto da meta, fixado oficialmente em 4,5%. No mercado, a inflação estimada para 2025 ainda estava em 5,57% no final da semana passada, segundo o boletim Focus, publicado pelo Banco Central (BC). Nem o pessoal do Ministério da Fazenda tem mencionado projeções abaixo de 5%, mesmo com a expectativa de uma boa safra de comida.

Puxados pelo aumento da atividade e do emprego, os salários têm crescido, permitindo aos brasileiros algum aumento de consumo, condições de vida um pouco melhores e expectativas um pouco melhores. Mas os preços continuam subindo e nenhum sinal de acomodação apareceu até agora no horizonte da economia brasileira. O encarecimento da cesta básica já afetou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando mais complicado o quadro eleitoral previsto para 2026. Ele se recusou a intervir nos preços e, assim, evitou um erro perigoso e muito comum na história brasileira.

Ao evitar esse caminho, o presidente rejeitou uma solução tão populista quanto enganosa, mas ainda falhou na escolha de uma ação mais eficaz contra a inflação. A importação de alimentos foi uma iniciativa de maior sentido prático, embora de efeito muito limitado naquele momento. Uma ação mais clara e mais convincente na direção do equilíbrio deveria incluir o ajuste das contas públicas por meio de uma firme contenção dos gastos federais, sem aumento de tributos. O mero anúncio de um esforço de contenção já poderia produzir efeitos positivos no setor financeiro e um rearranjo de políticas em outros setores da economia. Mas contenção de gastos é uma solução geralmente incompatível com os padrões políticos do presidente Lula e das tradições dominantes no petismo.

Enquanto o presidente avança de acordo com seus padrões, as tensões inflacionárias permanecem muito visíveis nas estatísticas. Em março, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 0,56%. É um número bem menor que o do mês anterior (1,31%), mas ainda muito alto. O indicador subiu 2,04% ao longo do primeiro trimestre e acumulou alta de 5,48% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A meta central, um objetivo permanente, é uma inflação de 3% a cada período equivalente a um ano. A margem de tolerância é de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Além de continuar muito longe do centro, a taxa acumulada em 12 meses tem superado o teto da meta. No período encerrado em dezembro de 2024, a variação foi de 4,83%.

Enquanto a inflação se mantém acima do limite superior e muito longe da meta central, o governo segue seu dia a dia sem nada fazer de relevante para frear o aumento de preços. Sem a cooperação governamental, a política anti-inflacionária permanece como tarefa exclusiva do Banco Central, isto é, da autoridade monetária mais visível e mais cobrável. Para conter a inflação e tentar conduzi-la à meta, o Banco Central utiliza como principal instrumento a taxa básica de juros. Encarecer o dinheiro, mantendo-o caro pelo tempo julgado necessário, é sua forma de controlar a demanda por bens e serviços e, assim, dificultar a elevação dos preços.

Juros altos são tão impopulares entre consumidores e empresários quanto abominados por autoridades governamentais, porque atrapalham a expansão dos negócios e reduzem os efeitos expansionistas da política econômica. Durante semanas, o presidente americano, Donald Trump, pressionou o presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, para afrouxar a política monetária. Ameaçou trabalhar pela demissão de Jerome Powell, presidente do Fed, mas acabou recuando e tentando uma pacificação.

No Brasil, o presidente Lula diminuiu há tempos as pressões mais ostensivas sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Agora menos pressionado – pelo menos publicamente –, Galípolo reafirma o compromisso de trabalhar para conduzir a inflação à meta e assume com todas as palavras a intenção de ser, se necessário, o chato da festa. Ao traduzir a chatice como a disposição de mandar recolher as bebidas quando todos estão muito animados, Galípolo oferece uma boa descrição do condutor da política monetária.

Dirigentes sérios de bancos centrais poderiam ser mais agradáveis, mais festivos e bem menos incômodos, se as autoridades com poder para gastar e escolher a destinação do dinheiro público fossem mais contidas e mais cautelosas em suas políticas. Se agissem dessa forma, a autoridade responsável, em última instância, pela preservação do valor do dinheiro teria menos motivos para intervir e estragar a festa. Para testar essa afirmação, basta olhar a história do Brasil.

CNN Brasil - SP   28/04/2025

Os ataques do Presidente Donald Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, estão afetando os mercados. Investidores estão soando alarmes com os ativos que estão comprando e principalmente vendendo – e repentinamente fazendo comparações com a Grande Depressão. E todos, desde o Fundo Monetário Internacional até os amigos bilionários de Trump, estão emitindo sérios alertas sobre suas enormes tarifas.

Depois de chamar o presidente do Fed (a quem ele nomeou em 2018) de “um grande perdedor” cuja “demissão não pode demorar” na semana passada, Trump pareceu suavizar o tom na terça-feira. Ele disse que “não tinha intenção” de demitir Powell depois que conselheiros alertaram que demitir o chefe do banco central teria um efeito contrário legal e economicamente, segundo fontes familiarizadas com o assunto informaram à CNN.

“Eu não liguei para ele. Eu posso ligar”, disse Trump durante uma cerimônia de assinatura de ação executiva no Salão Oval na quarta-feira à noite. “Acredito que ele está cometendo um erro ao não reduzir as taxas de juros, e acho que, por mais bem que estejamos indo, poderíamos ir muito melhor.”

Na quarta-feira, Trump disse que poderia reimpor tarifas “recíprocas” em alguns países em apenas duas ou três semanas. O presidente havia estabelecido uma pausa de 90 dias em suas enormes tarifas chamadas de recíprocas, que tecnicamente não são recíprocas, no início deste mês para estimular negociações com outros países.

“No final, acho que o que vai acontecer é que teremos ótimos acordos, e a propósito, se não tivermos um acordo com uma empresa ou um país, vamos estabelecer a tarifa”, disse Trump em uma cerimônia no Salão Oval. “Eu diria nas próximas semanas, você não acha? Acho que sim. Nas próximas duas, três semanas. Estabeleceremos o número.”

Se ele reimpuser as tarifas, seria uma significativa reescalada na guerra comercial global. Os investidores começaram com uma forte queda na segunda-feira após os ataques de Trump a Powell. O dólar despencou para uma mínima de três anos, e quase todas as empresas do Dow e do S&P 500 fecharam em baixa.

As ações se recuperaram modestamente na terça-feira depois que o Secretário do Tesouro Scott Bessent disse aos investidores que a guerra comercial EUA-China é insustentável e que ele espera que a batalha diminua, conforme uma pessoa familiarizada com o assunto confirmou à CNN.

As ações dispararam na quarta-feira, mas Trump ainda tem um longo caminho pela frente para aliviar os temores dos investidores. Apesar da recuperação de dois dias, o S&P 500 perdeu US$ 6,5 trilhões em valor de mercado desde sua máxima histórica em fevereiro, segundo Howard Silverblatt, analista sênior de índices da S&P Dow Jones Indices.

Enquanto isso, o petróleo bruto dos EUA despencou à medida que os investidores temem que uma recessão possa reduzir a demanda. E os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, que negociam em direção oposta aos preços, dispararam nas últimas semanas.

O FMI divulgou um severo alerta para a economia global e a prosperidade dos EUA em um relatório na terça-feira. “Estamos entrando em uma nova era, pois o sistema econômico global que operou nos últimos 80 anos está sendo redefinido”, disse o FMI, prevendo um crescimento econômico em rápida desaceleração – particularmente nos Estados Unidos – e inflação americana reacendida.

O Serviço Aduaneiro da Coreia do Sul também relatou que as exportações dos primeiros 20 dias de abril diminuíram 5,2% em comparação com o mesmo período do ano passado – um sinal para onde o comércio global está se dirigindo sob a agenda tarifária de Trump.

China está agindo de forma mais rígida, diz economista sobre guerra tarifária | Morning Call

Os bilionários estão se tornando cada vez mais vocais sobre as consequências econômicas das tarifas de Trump. O CEO do fundo de hedge Citadel, Ken Griffin, um apoiador do presidente, disse na quarta-feira que as tarifas estão prejudicando a posição da América no mundo.

“Os Estados Unidos eram mais do que apenas uma nação. É uma marca. É uma marca universal, seja nossa cultura, nossa força financeira, nossa força militar”, disse Griffin na Cúpula da Economia Mundial da Semafor em Washington. “E estamos erodindo essa marca agora.”

Griffin se junta à lista de líderes empresariais ricos que divergem do presidente. Na semana passada, Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, um dos maiores fundos de hedge do mundo, disse que as tarifas de Trump ajudaram a empurrar a América para perto de uma recessão — ou talvez até “algo pior.”

O Estado de S.Paulo - SP   28/04/2025

O mundo está prestes a viver uma estagflação (combinação de inflação alta e estagnação na atividade econômica) decorrente da política de taxação de importados adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa é a visão da economista-chefe do Banco Mundial entre 2020 e 2022 e professora de Harvard, Carmen Reinhart.

A economista destaca que a taxação vai elevar a inflação americana e, consequentemente, frear o consumo. Como 70% da economia dos EUA está ligada ao consumo, o risco de uma recessão é considerável. Países asiáticos que dependem de exportações e que foram os mais afetados pelas medidas trumpistas também devem enfrentar dificuldades importantes em suas economias.

“Quero fazer uma avaliação muito sólida de que a economia global já estava em uma situação precária e os riscos aumentaram. A possibilidade de queda no crescimento global é muito significativa”, disse Reinhart ao Estadão.

Apesar de ter sido menos afetado pelas taxações que os asiáticos, o Brasil não sairá imune. Em meio à guerra comercial, investidores fugirão de ativos de risco, o que inclui ativos brasileiros. Dado que o País já enfrentava um cenário de instabilidade, com economia em desaceleração e inflação em alta, a situação brasileira é “delicada”, de acordo com a economista.

Para Reinhart, é essencial que o Brasil faça um ajuste fiscal para reduzir sua vulnerabilidade a choques internos e externos e para permitir que a política monetária seja menos restritiva. Esse ajuste, porém, precisa mitigar os impactos sociais.

Confira, a seguir, trechos da entrevista:
Como avalia as medidas econômicas adotadas por Trump até agora?

Causaram riscos enormes na situação global. São riscos diferentes dos da crise de 2008, mas são equivalentes — senão maiores. A incerteza e a aversão ao risco já vinham dominando os mercados financeiros mesmo antes do anúncio das tarifas, porque, ex-ante, todos estavam muito otimistas. Depois, esse otimismo começou a desaparecer, e passou a se impor a realidade de que tarifas mais altas significam, pelo menos no curto prazo, uma maior probabilidade de recessão nos EUA e, com certeza, uma inflação mais alta. Mesmo em um cenário benigno, onde os parceiros comerciais não escalam o conflito comercial, você já piorou os resultados econômicos, piorou o índice de miséria, que é a soma da inflação e do desemprego.

Quais são as implicações globais disso?

Bastante negativas. A região mais impactada é a Ásia. As tarifas são muito altas. É preciso voltar ao início do século 19 para encontrar algo parecido. Sem dramatizar, as consequências negativas não podem ser subestimadas: para o crescimento dos EUA e para o crescimento global. É um momento em que os riscos para a economia global e para a arquitetura financeira global como conhecemos há décadas são extremamente significativos.

Há alguma chance de Trump ter sucesso, conseguir levar indústrias para o país e aumentar o nível de emprego? Ou isso nunca vai acontecer?

Nunca é uma palavra forte, mas isso levará muito tempo. Você não recria uma indústria que perdeu há 50 anos em um curto período. A ideia de que veremos efeitos estimulantes a partir das medidas de Trump está mal colocada. A pessoa comum está tendo grandes perdas de patrimônio. Seremos atingidos por preços mais altos em tudo que comprarmos. Nos EUA, os índices de confiança do consumidor já começaram a cair. A economia dos EUA depende 70% do consumo. O Brasil teve uma tumultuada história com políticas de substituição de importações. Isso não funcionou bem no País. Na prática, essas políticas — que são o que os EUA estão fazendo agora — foram abandonadas há muito tempo justamente por terem sido um fracasso. Sinto muito, mas não tenho muitas coisas positivas a dizer sobre isso com base no histórico das políticas.
Quais serão os impactos em países como o Brasil?

O Brasil não está na faixa de tarifas em que estão os países asiáticos. Portanto, comparativamente, é menos afetado. No entanto, as consequências para o crescimento global são muito significativas. Na crise financeira de 2008, os EUA e a Europa entraram em recessão. Mas a China crescia a dois dígitos. Ela foi um grande motor de crescimento para os mercados emergentes, incluindo o Brasil. Agora não temos isso. A China, mesmo antes desses acontecimentos, já vinha enfrentando problemas significativos. O modelo de crescimento dela era orientado para exportações. Agora, tem a tarifa americana sobre suas exportações. Como isso pode resultar em algo que não seja mais impacto negativo no crescimento, num momento em que já vínhamos observando, ano após ano, problemas se acumulando? Diferentemente de 2008, hoje é difícil enxergar quem será o motor do crescimento global. Isso não pode ser bom para o Brasil. Agora estamos num ambiente em que os mercados financeiros estão evitando ativos de risco. Ativos de risco são os mercados emergentes. O Brasil já estava em situação precária. A confiança do investidor já era instável. O País já vinha enfrentando fraquezas no real, uma economia em desaceleração e, ao mesmo tempo, o Banco Central elevando as taxas de juros — por razões compreensíveis. Então, é um choque negativo que chega em condições iniciais já problemáticas. O Brasil está em uma posição delicada.
A sra. mencionou a crise de 2008 e destacou que não temos a China para compensar um crescimento fraco na Europa e nos EUA. Podemos ver, então, um impacto maior do que da crise financeira?

Estamos lidando com o governo Trump. Não sabemos o que esperar de uma hora para a outra. Até agora, ele fez o que disse que faria e até pior. O que estou apontando é o quão arriscada é a situação global. Mas como as negociações vão se desenrolar está além do meu alcance. Quero fazer uma avaliação muito sólida de que a economia global já estava em uma situação precária e os riscos aumentaram. A possibilidade de queda no crescimento global é muito significativa.
Desde a pandemia, a inflação está em níveis mais altos. A nova realidade da economia global é de uma inflação elevada?

No tempo em que estive no Banco Mundial, no auge da pandemia, muitas vezes afirmavam que a inflação era temporária e causada por fatores como a guerra na Ucrânia. Mas a inflação já estava subindo antes da invasão russa. A inflação atingiu quase 9% nos EUA e foi global, com exceção de poucos países, como a China. Olhe o estímulo monetário que vimos nas economias avançadas. O da crise financeira global nunca foi revertido. Depois veio o da covid. Esses estímulos prepararam o terreno para o aumento da inflação. Isso foi exacerbado pelas interrupções das cadeias produtivas causadas pela pandemia. Agora, para os EUA, a ideia de que importadores vão absorver as tarifas e não repassar ao consumidor é um conto de fadas. Não estamos começando do nível baixo que estávamos antes da covid. O nível de partida da inflação agora é mais alto. Os EUA, ao contrário de países europeus, não conseguiram reduzir a inflação de volta para perto da meta. Globalmente, estamos nos aproximando mais do modelo de estagflação do que estávamos antes.

O Brasil teve uma economia estagnada por anos. Em 2023 e 2024, cresceu um pouco mais. Mas, agora, está desacelerando. O que o País precisa fazer para que o PIB cresça de forma contínua?

O Brasil está em uma situação muito difícil. Tem um nível de endividamento alto para os padrões dos mercados emergentes, certamente não para os padrões das economias avançadas. Essa dívida é cara, porque as taxas de juros são altas. O Brasil, pelo menos, tem a vantagem de que é uma dívida sobretudo interna. Mas você tem uma combinação de dívida alta, crescimento lento e inflação, que voltou a subir. É uma combinação precária. Você me pergunta o que o país pode fazer. Se apertar as contas fiscais, os efeitos de curto prazo são contracionistas. Mas, se não fizer isso, o prêmio de risco, a moeda, tudo vai refletir a queda da confiança dos investidores no País. Você está pedindo uma bala de prata.
Então qual seria o pacote de medidas para tirar o País dessa situação?

Procurar qualquer tipo de economia fiscal que mitigue os impactos sociais é crucial. Mas a situação em que o Brasil se encontra também é difícil, porque uma boa parte dos gastos não é discricionária. O serviço da dívida consome uma parte, e os programas sociais também. Se não estabilizar a dívida, acho que as apreensões vão continuar. A necessidade de uma política monetária restritiva vai continuar, e isso pode se tornar um ciclo vicioso.
A Argentina fez um ajuste fiscal importante no ano passado. Como avalia o resultado argentino? O Brasil deveria fazer algo semelhante?

Houve muitos cortes, uma redução do tamanho do Estado, sem realmente perder tanto apoio público, o que é bastante único – embora as taxas de pobreza tenham subido inicialmente. Em termos fiscais, o presidente Javier Milei fez o que era preciso, porque a Argentina vinha aumentando constantemente o tamanho do setor público. O país não tinha capacidade de sustentar isso. Mas não acredito na ideia de que a Argentina está salva. A Argentina precisava enfrentar de forma séria os excessos fiscais e as ineficiências que foram incorporados após o fracasso do plano de convertibilidade. Outro enorme problema para a Argentina neste momento é a significativa valorização da moeda.

O Brasil deveria fazer um ajuste semelhante ao argentino?

São situações muito diferentes. O Brasil realmente precisa estabilizar sua dívida. Não há dúvida em relação a isso. Quanto mais a dívida cresce, mais o País será afetado por choques domésticos e internacionais, e mais apreensão haverá, o que acaba impactando o real. Mas eu não faria essa comparação.

MINERAÇÃO

Valor Investe - SP   28/04/2025

Com incertezas relacionadas ao crescimento chinês e à guerra comercial entre Estados Unidos e China, os papéis da mineradora caminham para encerrar o mês no negativo, mas ainda acumulam alta em 2025

Uma das principais produtoras globais de minério de ferro e dona da maior fatia da carteira teórica do Ibovespa, índice de referência das ações brasileiras, a Vale (VALE3) costuma agradar a “gregos e troianos” pela sua relevância no mercado e pelo histórico de boa pagadora de dividendos. Mas será que os papéis da mineradora são negociados a um preço que de fato justifique o investimento?

A Vale faz parte da cesta das “blue chips”, que engloba ações de empresas muito procuradas pelos investidores e, portanto, com grande volume de negociações na bolsa. Essas companhias também são conhecidas por proporcionar maior segurança em ambientes de estresse de mercado.

Recentemente, no entanto, a mineradora foi penalizada pela deterioração do cenário global. Em abril, os papéis caem 2,3%, mas ainda avançam 5,35% no acumulado do ano. A CSN Mineração, sua concorrente direta na bolsa do Brasil, sobe 2,4% no mês e ganha nada menos que 24% em 2025.

As mineradoras estrangeiras, por sua vez, apresentam desempenho misto no ano. Enquanto Rio Tinto e BHP sobem 3%, Fortescue desvaloriza 12,5%. Ao lado de Vale, essas são as maiores produtoras de minério de ferro do mundo.

Ação da Vale está barata?

Em termos de preço, existem diversos modelos que podem ser usados para avaliar se uma ação está cara ou barata. Entre os mais usados pelos analistas estão os múltiplos, que relacionam o preço do ativo com indicadores contábeis das empresas, como é o caso do preço sobre lucro (P/L).

O P/L compara o preço da ação com o lucro da companhia e o resultado dessa conta indica quanto tempo o comprador levaria para reaver o dinheiro investido.

Um P/L de cinco, por exemplo, estima que o acionista pode receber por meio de dividendos em um prazo de cinco anos. Um P/L de dez, por sua vez, em dez anos. Em miúdos, um P/L de cinco indica uma ação mais “barata” que um de dez.

Ao comparar o P/L da Vale com o da concorrência, a mineradora aparece no meio do caminho: não é a mais cara, nem a mais barata. Por outro lado, o múltiplo da companhia negocia abaixo da sua média histórica, o que, na visão de especialistas, justifica o investimento nas ações.

"Quando a gente olha os múltiplos em um horizonte maior, o desconto visto nas ações da Vale hoje é muito superior ao que era praticado nos últimos 10 anos", afirma Felipe Paletta, estrategista da EQI Research.

É hora de comprar ações da Vale?

Victor Bueno, sócio e analista da Nord Investimentos, lembra que não é de agora que os papéis da Vale vêm sendo muito punidos pelo mercado por conta da queda do minério de ferro. “As incertezas relacionadas aos incentivos econômicos na China pesam sobre a commodity e, consequentemente, sobre as ações do setor desde os anos de pandemia”, destaca.

Como o país asiático é atualmente o grande mercado consumidor de commodities metálicas do mundo, sendo o mercado imobiliários chinês responsável por mais de 30% da demanda por minério, o enfraquecimento da economia chinesa tem impacto direto nas empresas exportadoras, como é o caso da Vale e das concorrentes australianas.

"A China já era uma grande preocupação do mercado e, inclusive, tem culpa relevante nesses descontos não só das ações da Vale, mas do setor como um todo", avalia Paletta.

"As incertezas relacionadas ao mercado imobiliário chinês, se a indústria vai dar conta de suprir o crescimento que o mercado imobiliário entregou nas últimas décadas, e como isso vai interferir na demanda por minério de ferro, são os pontos principais de discussão para a tese das exportadoras", complementa o especialista da EQI Research.

Há algumas semanas, o governo da China lançou mais um plano, entre outros que já foram anunciados no passado, para promover o aumento da renda familiar e estimular o consumo doméstico, que deve ser o principal motor de crescimento da economia chinesa neste ano.

De imediato, o mercado até reagiu bem ao anúncio, mas a verdade é que essa história já é conhecida entre os investidores. E agora com um agravante a mais.

Com a guerra comercial entre Estados Unidos e China ainda sem fim, sobram dúvidas se tais medidas vão ser suficientes para sustentar o crescimento chinês, sobretudo diante do potencial impacto das medidas tarifárias nas exportações do país asiático.

“As incertezas com relação ao nível de demanda de minério de ferro são tão grandes, que a principal instituição referência do setor, World Steel Association, postergou a divulgação de suas projeções de demanda global de aço programada para o início de abril para um momento oportuno”, comenta Mary Silva, analista do BB Investimentos, em relatório.

Bueno, da Nord, ressalta que, durante a escalada do embate comercial, os preços do minério de ferro chegaram a tocar o patamar de US$ 95 por tonelada - atualmente, os preços da commodity rondam os US$ 100 por tonelada. “Se houver uma piora adicional no conflito e os preços voltarem a cair, muito provavelmente vai impactar a geração de caixa e os resultados operacionais das companhias do setor”, afirma.

No entanto, mesmo com uma possível piora no cenário global, o especialista avalia que o mercado já atribuiu um pessimismo muito grande nos preços das ações da Vale. “Não dá para afirmar se vai ou não acontecer uma piora de cenário, mas, no patamar de preços praticados atualmente, a gente acredita que faz sentido ter uma parcela pequena da carteira investida nos papéis da mineradora, principalmente se o objetivo final for dividendos”, defende.

Ele destaca que a Vale é uma empresa que ainda cresce, focada em realizar investimentos para aumentar as operações em minério e também em outros metais. “Mesmo crescendo e investindo, a empresa não deixa de pagar dividendos em patamares bastante satisfatórios”, diz.

Além das questões no cenário externo, Ruy Hungria, analista da Empiricus, lembra que, nos últimos anos, a mineradora enfrentou problemas operacionais e de licenciamento que afetaram a produção e os custos da companhia. E, mais recentemente, a Vale também esteve envolvida em um longo embate com o governo a respeito do rompimento da barragem em Mariana e do processo de transição do presidente da empresa.

“Ou seja, as ações da mineradora estão relativamente baratas, mas o desconto não é totalmente injustificado por conta desses fatores”, afirma.

Por outro lado, Hungria vê espaço para uma redução no nível de desconto atual dos papéis da Vale por dois motivos. Primeiro, diz, as questões envolvendo o rompimento da barragem em Mariana e a mudança de presidente já foram resolvidas. E o segundo fator diz respeito à parte operacional, diante da estimativa de que a companhia deve entregar uma melhora não só na produção, como nos custos nos próximos anos.

“Esses motivos, combinados com um bom pagamento de dividendos, garante à Vale uma posição na carteira de dividendos da Empiricus (Vacas Leiteiras)”, destaca.

Luís Otávio, trader de mesa de renda variável do Grupo SWM, pondera que o mercado deve ficar atento às projeções da mineradora para 2025, mas diz estar confortável quanto à capacidade da empresa de cumprir as metas de produção de minério. Em relação às ações da companhia, o especialista avalia que os ativos continuam significativamente descontados.

“Os papéis estão bem convidativos nos preços atuais, então, principalmente para aqueles investidores com um viés de alocação de valor, a gente acredita que faz sentido o investimento, temos bastante conforto em relação aos múltiplos da mineradora”, diz.

Vale X australianas

Quando comparada às concorrentes gringas, a Vale carrega um prêmio de risco adicional de uma empresa brasileira que as australianas não têm. “O investimento no Brasil envolve riscos que devem ser considerados, enquanto a Austrália é vista como um destino mais seguro para investimentos de longo prazo”, argumenta João Abdouni, analista da Levante Inside Corp.

Uma das principais diferenças é a volatilidade cambial. Enquanto o real apresenta oscilações mais intensas, influenciado por questões políticas, fatores externos e flutuações das commodities, o dólar australiano tende a ser mais estável, refletindo a solidez macroeconômica do país.

“Além disso, o Brasil possui um histórico de interferências governamentais em setores estratégicos da economia, mudanças na legislação, burocracia e um ambiente jurídico que pode ser considerado instável por parte dos investidores”, diz Abdouni. A Austrália, por sua vez, oferece um ambiente institucional mais estável, com regras claras e maior previsibilidade, o que favorece a confiança do capital internacional.

Globo Online - RJ   28/04/2025

Apesar da queda dos preços do minério de ferro no primeiro trimestre, na comparação com o início de 2024, o que afetou negativamente os resultados financeiros da Vale, a diretoria da gigante brasileira da mineração avaliou nesta sexta-feira que os negócios da companhia estão passando incólumes, até aqui, pela guerra comercial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, desde que assumiu seu segundo mandato, em janeiro.

– A atual guerra comercial só reforça a importância de construir um negócio competitivo que possa ser bem-sucedido sob diferentes condições de mercado. E é exatamente isso que estamos fazendo na Vale – disse o CEO da mineradora, Gustavo Pimenta, logo na abertura da teleconferência com analistas, para comentar os resultados financeiros do primeiro trimestre.

Segundo o executivo, a diretoria segue otimista com os rumos da empresa:

– Apesar da volatilidade e da incerteza no curto prazo, continuamos altamente otimistas em relação ao futuro e ao nosso papel em liderar a mineração sustentável para ajudar o desenvolvimento econômico global.

A demanda da China, principal cliente do minério de ferro produzido no país, não sofreu alterações recentes, nem mesmo após o tarifaço anunciado por Trump no último dia 2, disseram Pimenta e seus diretores, também numa entrevista coletiva com jornalistas.

– Até agora, o efeito para o nosso mercado foi bastante pequeno, porque no comércio internacional de minério de ferro os EUA não são atores importantes. A China sim, claro, é o maior importador de minério de ferro, mas os EUA não é relevante. O efeito direto não existiu – afirmou, na entrevista, Marcelo Bacci, vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale.

Segundo Bacci, os EUA são importantes compradores do níquel produzido pela Vale no Canadá, mas a matéria-prima acabou isenta das sobretaxas anunciadas por Trump, após as diversas idas e vindas do governo americano.

Além disso, a perspectiva de que a oferta da commodity se manterá também estável, como a demanda, sugere que as cotações do minério de ferro seguirão em torno dos atuais US$ 100 por tonelada, na avaliação do comando da Vale.

Os executivos destacaram que não se trata de ignorar a guerra comercial. O tarifaço segue como um risco no radar. Se as restrições ao comércio se agravarem, resultarem em maior inflação e derrubarem a demanda, aí sim, as vendas de minério de ferro sentiriam mais.

– A grande preocupação que todo mundo tem no mundo inteiro, em todos os mercados, e para nós não é não é diferente, é que a o agravamento dessa questão comercial possa levar a um aumento disseminado de preços, um aumento da inflação global e uma queda de consumo global – completou Bacci.

Custos sob controle

Deixando de lado os efeitos negativos dos preços do minério de ferro sobre os resultados financeiros, os executivos comemoraram o que chamaram de bons resultados operacionais. O principal indicador de custo medido pela Vale ficou em US$ 21 por tonelada no primeiro trimestre, queda de 11% em relação aos três primeiros meses de 2024.

– Todos nós estamos jogando muito na defesa. Todo mundo olhando muito mais para robustez financeira, para liquidez, tentando ficar cada vez mais competitivo nos custos, para se preparar para um cenário possível mais grave lá na frente – completou Bacci.

Na noite de quinta-feira, a Vale informou que registrou lucro líquido de R$ 8,164 bilhões, queda de 2% em relação ao primeiro trimestre de 2024. A receita líquida de vendas ficou em R$ 47,411, 13% abaixo de um ano antes.

Em reais, os resultados foram melhores do que em dólar, por conta de alguma queda na taxa de câmbio no início deste ano. Considerando a divisa americana, o lucro líquido tombou 17% em relação ao primeiro trimestre de 2024, enquanto a receita líquida de vendas recuou 4%.

Segundo a mineradora, o preço médio realizado de “finos de minério de ferro” no primeiro trimestre foi de US$ 90,8 por tonelada, “permanecendo praticamente estável” na comparação com o terceiro trimestre, “enquanto diminuiu 10%” em relação a um ano antes, “resultado dos preços de referência mais baixos”.

O que dizem os analistas

Em relatórios divulgados entre a noite de quinta-feira e esta sexta-feira, analistas de ações classificaram os resultados da Vale de “pouco inspiradores” e “pouco emocionantes”. “Pode-se até considerar positiva essa maior previsibilidade em comparação com alguns trimestres dos últimos anos”, pondera o relatório do banco BTG Pactual.

Nos últimos meses, a Vale avançou na solução de problemas particulares que vinham pesando sobre seu valor de mercado, como a turbulenta sucessão do comando, dificuldades de relação política com os governos e indefinições sobre gastos com a indenização pelo desastre de Mariana (MG) e com a repactuação da renovação antecipada de concessões ferroviárias.

Com esses pesos de lado, analistas têm chamado a atenção, com maior ênfase, para um ponto negativo estrutural nas teses de investimentos nas ações de mineradoras, que está no radar há tempos: a incerteza em relação à demanda chinesa.

E, embora os executivos da Vale digam que ainda não há impactos diretos, a guerra comercial de Trump aprofunda a incerteza sobre as perspectivas de demanda da China, de longe a maior importadora de minério de ferro do mundo.

Os analistas do BTG Pactual ressaltaram, no relatório, que optaram “por aguardar maior clareza quanto ao ambiente macro antes de fazer alterações significativas” nas perspectivas para as cotações das ações da Vale.

“A narrativa macro da China continua vulnerável (especialmente com a escalada da guerra comercial), o que adiciona pressão sobre todo o complexo siderúrgico e gera uma pressão negativa para os preços do minério de ferro”, diz o relatório do BTG.

Já os analistas da corretora Genial Investimentos mantiveram sua avaliação de que, mesmo com o cenário desfavorável, as ações da Vale estão baratas demais e, por isso, haveria espaço para uma valorização.

Segundo relatório divulgado nesta sexta-feira, o desempenho operacional da Vale no primeiro trimestre, como o custo de produção bem controlado, “reforça a tese de ganhos de eficiência em um ritmo mais satisfatório do que havíamos antecipado”.

“Ainda assim, acreditamos que os investidores parecem estar negociando ações quase exclusivamente com base em fatores que não estão relacionados a itens sobre os quais a empresa tem controle real”, escrevem os analistas, referindo-se à guerra comercial e seus efeitos sobre a economia global.

AUTOMOTIVO

IstoÉ Dinheiro - SP   28/04/2025

O governo chinês anunciou nesta sexta-feira, 25, um plano para transformar os veículos elétricos (EVs) no “principal segmento de vendas de carros novos” até 2035, além de expandir a infraestrutura de transporte sustentável e os sistemas de energia renovável. A medida, divulgada pelo ministério dos Transportes, visa reforçar o compromisso do país com a transição verde no setor, diz o texto.

Segundo comunicado, o plano prevê um aumento no suporte financeiro, com a mobilização de “títulos de dívida de governos locais, empréstimos verdes, títulos verdes e linhas de crédito para inovação tecnológica e modernização”. O objetivo, de acordo com o governo, é garantir recursos para projetos sustentáveis, alinhando-se às metas de neutralidade de carbono da China. “Até 2035, os veículos puramente elétricos devem se tornar a principal escolha nas vendas de automóveis novos”, destaca o documento.

Além disso, a China planeja alcançar “a aplicação em larga escala de caminhões pesados movidos a novas energias” e criar “um sistema de abastecimento de combustível verde para o setor de transportes” até o mesmo ano. O texto ainda enfatiza a necessidade de avançar no “desenvolvimento e utilização de energia limpa” em infraestruturas como ferrovias, rodovias e portos.

Para acelerar a descarbonização do setor, o governo chinês incentivará o uso de “veículos de nova energia, embarcações verdes e de baixo carbono, aeronaves de nova energia, além do desenvolvimento ecológico dos serviços postais e de entrega expressa”. O plano também menciona a integração entre fontes renováveis e redes de transporte para chegar a uma maior eficiência energética.

Veja - SP   28/04/2025

Em 2020, apenas 1,6% do mercado brasileiro de automóveis era composto por modelos eletrificados. Quatro anos depois, a fatia aumentou para 7,4%. O crescimento acelerado está ligado principalmente à chegada de montadoras chinesas ao Brasil, com modelos mais acessíveis, e à popularização da motorização híbrida.A projeção é que o mercado de eletrificados alcance a marca de 60% do mercado até 2030 – levando em conta de híbridos leves a elétricos completos.

É justamente nessa mudança que a Stellantis, gigante dona de Fiat, Jeep, Ram, Peugeot e outras marcas, está apostando ao trazer a chinesa Leapmotor ao Brasil. Fundada em 2015, começou a se destacar rapidamente na China por conta da verticalização de sua produção e pelas tecnologias proprietárias. Em 2023, a Stellantis investiu na empresa, e em 2024 criaram uma joint venture. A Stellantis passou a deter os direitos de comercialização dos veículos fora da China, e no mesmo ano a Leapmotor entrou no mercado europeu.

Agora, chega ao Brasil no segundo semestre de 2025. A data exata será anunciada em breve. Até o final deste ano, a marca terá 34 concessionárias no país, sendo algumas exclusivas e outras em um modelo compartilhado com outras marcas do grupo, como Fiat, Jeep e Peugeot. “Será a única chinesa com mais de 50 anos de mercado”, diz Fernando Varella, vice-presidente da marca Leapmotor para a América Latina, referindo-se à experiência do grupo no mercado brasileiro.

Dois modelos estão confirmados, ambos SUVs: o C10 e o B10. O C10 será o topo de gama, com porte maior, voltado para famílias, e acabamento premium. E o B10, de médio porte, será focado no público jovem. Sabe-se que o B10 será exclusivamente elétrico. Na China, é vendido com duas opções de bateria, uma com 380 km e outra com 460 km de autonomia – no ciclo chinês, que é menos rígido que o brasileiro.

O C10 pode vir tanto completamente elétrico quanto elétrico com autonomia estendida. Trata-se da tecnologia REEV, que tem um motor à combustão usado exclusivamente para gerar energia para a bateria. Assim, a autonomia do modelo pode alcançar até 974 km. É uma das tecnologias próprias da Leapmotor que fazem mais sentido em mercados como o brasileiro, em que a infraestrutura de carregamento ainda é menos desenvolvida.

Em ambos os casos, as versões definitivas que serão vendidas no Brasil devem ser anunciadas posteriormente. Os números devem ser ligeiramente diferentes do mercado chinês, já que a Stellantis está fazendo uma calibração dos veículos, ajustando hardware, suspensão, amortecedores, direção e outros elementos.

A estratégia, segundo Varella, é tazer outros dois carros até 2027. No total, o portfólio brasileiro terá quatro veículos no primeiro momento de operação, sendo três SUVs e um outro modelo. Na China, além de uma ampla gama de SUVs, a marca tem o simpático compacto T03, que havia sido cogitado para o país, e os sedãs C01 e o B01 – este último apresentado no Salão de Xangai.

Segundo Zhu Jiangming, fundador da Leapmotor, o posicionamento de preço será mais elevado, focado no consumidor de maior poder aquisitivo, que ele vê como um “early adopter”, ou seja, um dos pioneiros a apostar em um tipo de veículo ainda menos popular no Brasil. Os valores exatos do C10e e do B10, no entanto, serão divulgados futuramente.

Além do Brasil, os carros da Leapmotors serão comercializados no Chile, mercado estratégico para a expansão da marca na América Latina. Por lá, a frota de veículos eletrificados é bem menor, com apenas 3,3% de participação. Segundo Varella, a meta é ampliar a presença em outros países.

Os carros serão importados da China e a meta da Leapmotor é encerrar o ano com um total global de 600 mil unidades comercializadas. No ano passado, a empresa superou a marca de 300 mil emplacamentos.

IstoÉ Dinheiro - SP   28/04/2025

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, flexibilizará e isentará algumas regras federais de segurança para fins de testes, a fim de ajudar montadoras americanas, como a Tesla, de Elon Musk, a desenvolver carros autônomos para que possam competir com rivais da China, anunciou o Departamento de Transportes na quinta-feira, 24. A pasta também disse que simplificará os requisitos de relatórios de acidentes envolvendo softwares autônomos e que avançará para um único conjunto de regras nacionais para a tecnologia.

“Estamos em uma corrida para inovar mais do que a China, e os riscos não poderiam ser maiores”, disse o secretário de Transportes, Sean Duffy, em comunicado. “Nossa nova estrutura reduzirá a burocracia e nos aproximará de um padrão nacional único.”

O anúncio das mudanças aconteceu um dia após Musk, que classificou as antigas regras como “injustas”, confirmar que a fabricante de veículos elétricos iniciará a implantação de táxis autônomos da montadora em Austin, no Texas, em junho.

Não está claro como as isenções às regras da Administração Nacional de Segurança no Tráfego (NHSA) afetarão a Tesla especificamente.

Valor - SP   28/04/2025

Nos últimos anos, a empresa tem enfrentado pressão crescente de investidores para simplificar sua rede de participações acionárias interligadas, que abrange dezenas de fornecedores e montadoras afiliadas

O presidente da Toyota propôs um acordo de 6 trilhões de ienes (US$ 42 bilhões) para fechar o capital da maior subsidiária da companhia, em uma tentativa de consolidar o controle sobre a maior montadora do mundo e simplificar sua estrutura de governança notoriamente complexa.

Nos últimos anos, a empresa mais poderosa do Japão tem enfrentado uma pressão crescente de investidores para simplificar sua rede de participações acionárias interligadas, que abrange dezenas de fornecedores e montadoras afiliadas.

Akio Toyoda, neto do fundador da Toyota, está considerando investir recursos próprios para liderar a aquisição da Toyota Industries, que fabrica equipamentos industriais e veículos, com financiamento dos três maiores bancos do país, segundo quatro pessoas com conhecimento das negociações.

A proposta avalia a Toyota Industries em cerca de 6 trilhões de ienes, incluindo dívidas. Atualmente, a subsidiária listada tem valor de mercado de 4,3 trilhões de ienes.

As mesmas fontes alertaram que as negociações, inicialmente noticiadas pela Bloomberg, ainda podem fracassar. A Toyota, que juntamente com suas afiliadas detém uma participação de 40% na Toyota Industries, está considerando se vai participar da operação para fechar o capital da empresa, disseram as fontes. Não está claro o quanto essas discussões estão avançadas ou se a montadora levará o plano adiante, acrescentaram.

Grupos de “private equity” também avaliaram participar da aquisição ou comprar partes do negócio que possam ser desmembradas como parte do acordo, segundo uma das fontes.

Nos últimos anos, o governo japonês e os órgãos reguladores vêm pressionando as empresas a melhorar rapidamente sua governança corporativa. A Bolsa de Valores de Tóquio também está tentando reformar as chamadas listagens “pai-filho”, nas quais uma grande empresa controla uma subsidiária pública.

A aprovação dos acionistas para Akio Toyoda caiu para o nível mais baixo da história, 72%, no ano passado, levando a montadora a aumentar o número de diretores não executivos em seu conselho antes da assembleia anual deste ano.

Dentro do vasto império da montadora, a Toyota Industries são consideradas um dos fornecedores mais importantes do grupo, já que detêm uma participação de 9,1% na própria Toyota e estão intimamente ligadas à fundação da empresa.

A Toyota Industries não responderam a pedidos de entrevista. A Toyota se recusou a comentar.

Os fornecedores automotivos japoneses, especialmente os da Toyota, também se tornaram alvo de investidores ativistas que apostam tanto na pressão por reformas na governança corporativa quanto na necessidade de mudanças nas cadeias de suprimento, devido ao aumento da concorrência.

Diversos fornecedores menores da Toyota já foram alvo de fundos ligados a Yoshiaki Murakami, o investidor ativista mais conhecido do país.

A Toyota já transformou outras fornecedoras de carrocerias em subsidiárias de capital fechado, como a Toyota Auto Body e a Kanto Auto Works, em 2012.

Valor - SP   28/04/2025

A oferta é nova e não estava no site da empresa alguns dias atrás

A Tesla espera vender mais no segundo trimestre após começo de ano difícil. Uma nova proposta de leasing que a empresa está oferecendo poderia ajudar. A oferta é boa.

A Tesla está oferecendo um automóvel de longa distância com tração traseira Model 3 por US$ 349 por mês, ao longo de 24 meses, sem entrada. É uma proposta atraente, especialmente levando em conta que a média de pagamento por um carro novo é de US$ 750 por mês, segundo o provedor de dados Edmundus.

A oferta é nova e não estava no site da empresa alguns dias atrás. A empresa não respondeu ao pedido para comentar quando a proposta teria sido oferecida.

Fabricantes de automóveis normalmente fazem ofertas na forma de cashback, leasing subsidiado, ou taxas de juro mais baixas que a do mercado. Os incentivos alcançaram cerca de 7% do valor total das transações em março, segundo o Kelly Blue Book. A média para os carros elétricos foi de 13% do preço total. Aparentemente, custa um pouco mais para fazer os consumidores se sentarem em um carro movido a bateria. (Os números dizem respeito à indústria, não especificamente à Tesla.)

A Tesla vendeu cerca de 337 mil carros no primeiro trimestre, uma queda de 13% em relação ao mesmo período em 2024. Foi a pior queda trimestral da história da empresa. A posição de Elon Musk no governo de Donald Trump decepcionou alguns compradores. A própria companhia mencionou danos à marca na conferência sobre os resultados trimestrais. Um upgrade no Model Y também foi responsável por parte da queda, já que compradores normalmente esperam pelos novos modelos.

Investidores estão procurando sinais de recuperação. Uma desaceleração da queda, paradoxalmente, tem oferecido esperança. As vendas da Tesla na Europa caíram 28% em março em relação a um ano antes. Na verdade, foi uma melhora em relação a janeiro e fevereiro, quando as vendas tinham caído 43%. Em algum momento, os investidores querem ver números positivos.

Quaisquer que sejam as causas, a Tesla está tentando se recuperar. Wall Street está projetando a venda de 410 mil veículos no segundo trimestre, segundo o FactSet. O aumento é esperado a despeito das tarifas e da guerra comercial estarem aumentando os preços para os consumidores.

No Canadá, o Model Y hoje custa cerca de US$ 85 mil. O valor é quase US$ 11 mil mais alto do que em 2024. O site da Tesla no Canadá ainda permite a pesquisa de inventário que estava disponível antes que o país impusesse tarifas retaliatórias sobre carros importados dos EUA, em resposta àquelas impostas por Trump sobre carros importados do Canadá. Novos carros que estão chegando nos EUA têm que pagar uma tarifa de 25%. Peças importadas vão enfrentar tarifa de 25% a partir de maio.

Não vai ser fácil crescer e aumentar os lucros em meio a tarifas, guerras comerciais e uma confiança decrescente do consumidor. A Tesla divulgou lucro de US$ 399 milhões no primeiro trimestre. A venda de créditos regulatórios somou US$ 595 milhões.

A empresa ganha créditos por produzir mais do que o necessário de veículos com zero emissão, e, dessa forma, pode vender esses créditos para outras fabricantes automotivas que estão tentando evitar multas. Ainda assim, esse foi o primeiro trimestre em que a venda de créditos regulatórios superou o faturamento desde o segundo trimestre de 2020. Desde então, a Tesla vendeu US$ 9,2 bilhões em créditos, alcançando quase 25% da sua receita operacional.

Até agora, a ação da Tesla caiu 29% neste ano, cerca de 23 pontos percentuais abaixo do S&P 500.

CONSTRUÇÃO CIVIL

IstoÉ Dinheiro - SP   28/04/2025

O Índice de Confiança da Construção (ICST) caiu 1,4 ponto porcentual na passagem de março para abril, a 93,6 pontos, após ter subido 0,7 ponto em março, informou nesta sexta-feira, 25, a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com o resultado, a média móvel trimestral do índice recuou 0,4 ponto.

“A melhora observada no mês de março não se sustentou: em abril, a confiança diminuiu como resultado de uma percepção mais negativa sobre os negócios correntes, assim como sobre o cenário dos próximos meses. As empresas de Infraestrutura ainda são as mais otimistas, mas vale distinguir a alta da confiança entre as empresas de Edificações Residenciais, segmento favorecido pelas mudanças no Programa Minha Casa Minha Vida”, afirmou, em nota, a coordenadora de Projetos da Construção do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo.

Houve, nesta leitura, recuo de 1,6 ponto do Índice de Situação Atual (ISA-CST), a 92,6 pontos, menor nível desde fevereiro de 2022.

Já no Índice de Expectativas (IE-ICST) o recuo foi de 1,2 ponto, a 94,8 pontos.

O Nível de Utilização da Capacidade (Nuci) da Construção caiu 0,8 ponto porcentual, para 78,7%.

O Nuci de Mão de Obra recuou para 80,1% e o de Máquinas e Equipamentos caiu para 73,2%.

Globo Online - RJ   28/04/2025

O mercado imobiliário carioca de alto padrão registrou aumento de 18% em lançamentos no ano passado, consolidando o Rio como o segundo maior mercado de luxo do país — sua participação passou de 3,5% para 5%. O número de unidades vendidas teve um incremento de 30% na comparação com 2023.

Os números são da Ademi-RJ e ajudam a explicar um fenômeno observado no Rio: há uma safra de novos players no setor. A lista de novas construtoras e/ou incorporadoras inclui Aros, Emma, Origem e RJDI. A primogênita dessa “família” de estreantes é a Aros, criada em 2018 e que ganhou holofotes com o sucesso de vendas do Stay Ludolf, na Rua Rita Ludolf, no Leblon. Restam poucas unidades disponíveis no empreendimento de 58 apartamentos com até 87 metros quadrados, que vai impactar um quarteirão inteiro em um dos bairros mais valorizados da cidade.

— Até hoje, lançamos em torno de R$ 1 bilhão em VGV e, para os próximos dois anos, planejamos lançar mais R$ 1,5 bilhão. Foram três residenciais em 2024 e serão cinco neste ano — afirma o CEO da Aros, Ricardo Affonseca, acrescentando que estão surgindo novas áreas de expansão no Rio, como a Barra Olímpica e o Centro da cidade, o que pode atrair novos players para o mercado.

Henrique Blecher, um dos fundadores da Bait e exCEO da Gafisa, também aposta forte no Rio por meio de sua nova empresa, a Origem. O primeiro empreendimento da marca, lançado no ano passado, foi o Condomínio Amanay, com 20 casas de luxo, na Barra da Tijuca. Na noite de lançamento do projeto, foram vendidas cinco unidades, duas delas compradas à vista, por R$ 7,5 milhões.

Ainda neste ano, a Origem lança o primeiro residencial carioca com a assinatura do celebrado escritório italiano de design Pininfarina, também na Barra da Tijuca. O VGV chega a R$ 650 milhões, e o metro quadrado será o mais caro já praticado no bairro.

— O mercado carioca de altíssimo padrão tem espaço para a chegada de novos players, graças às características da cidade, que não fica tão refém da macroeconomia. O Rio é o playground do Brasil: todo mundo quer morar ou pelo menos ter um refúgio aqui — diz Blecher.

CARREIRA SOLO

É com esse mesmo encantamento pelo Rio que Eduardo Cruz, sócio da Itten, parte para uma carreira solo com a Emma. A nova incorporadora já fechou três projetos no Jardim Oceânico (Merino, Panorama e Júlio), garantindo R$ 120 milhões em vendas. A ideia agora é trazer para o bairro projetos residenciais com área de lazer completo, quebrando o padrão de prédios pequenos sem piscina, sauna e outros equipamentos. Além disso, a Emma terá plataforma e loja física próprias de vendas, a Poemma, para comercializar suas unidades e as de outros players.

— O Rio é muito grande e tem espaço para novos players. O segredo é combinar um público-alvo específico, uma linha de projetos adequada a esse público e um modelo de negócios viável. O caminho do sucesso passa por aí — diz Cruz.

Caçula na lista de estreantes, a RJDI traz Jomar Monnerat, ex-gestor do Opportunity Fundo de Investimentos Imobiliário, ao lado de Raphael Zanola, em uma proposta de incorporar apartamentos voltados para a locação de curta temporada na Zona Sul carioca.

Foi assim que surgiu a coleção Soul Rio, que começou na Rua Cinco de Julho, em Copacabana, chegou à Rua Alberto de Campos, em Ipanema, e, na sequência, terá mais dois lançamentos: mais um em Copacabana e outro no Flamengo. Em seu primeiro ano de vida recém-completado, a RJDI alcançou um VGV em torno de R$ 600 milhões.

— Acreditamos que 2026 será um ano ainda melhor. O mercado está aquecido e com consumidores ávidos por novidades — aposta Monnerat.

Valor - SP   28/04/2025

Resultados operacionais do primeiro trimestre mostram como o setor de baixa renda está aquecido, e novos ajustes devem impulsioná-lo ainda mais

Fanny Oreng: “Está difícil ter visão negativa do setor [de baixa renda]” — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Os resultados operacionais das incorporadoras no primeiro trimestre reforçam a diferença de momento entre o segmento de baixa renda, que atende ao Minha Casa, Minha Vida (MCMV), e o de médio e alto padrão, algo que tende a se intensificar com as mudanças anunciadas no programa neste mês.

Levantamento feito pelo Valor com dados divulgados por 19 companhias mostra alta de 60% nos lançamentos e de 18% nas vendas líquidas do segmento econômico, enquanto nas empresas de média e alta renda o crescimento dos lançamentos foi menor, de 28%, e houve leve queda de 0,7% nas vendas. As variações são em relação ao primeiro trimestre de 2024.

O resultado das empresas de médio e alto padrão, mesmo mais fraco, foi visto como uma surpresa positiva por analistas, diante do financiamento imobiliário mais caro, que diminui a capacidade de compra. Para Ygor Altero, analista-chefe de real estate da XP, é a dinâmica do emprego no país que ajuda a manter o ritmo de compras estável. Ele lembra, ainda, que a moradia pode ser uma compra menos racional do ponto de vista financeiro, comparada a outros investimentos.

“Um dos receios é que em algum momento, com juros mais altos e funding da poupança sangrando, haja uma eventual desaceleração, mas as coisas continuam indo bem”, afirma. Os recursos da caderneta de poupança ainda são a principal fonte do crédito imobiliário para quem não se enquadra no MCMV.

No dia 15, foi aprovada uma nova faixa no MCMV, para rendas entre R$ 8,6 mil e R$ 12 mil, com teto de preço de R$ 500 mil para os imóveis - ante R$ 350 mil na faixa 3. As rendas das três faixas iniciais também foram atualizadas. Essas mudanças devem começar a valer em maio.

Fanny Oreng, head de pesquisa de real estate do Santander para a América Latina, ressalta que as análises sobre as empresas já estão sendo feitas olhando para os prováveis resultados dessas mudanças. “Está difícil ter uma visão muito negativa do setor [de baixa renda]”, afirma. Para ela, há um “céu azul” para as companhias, que ainda enfrentam baixa concorrência.

Incorporadoras do médio e alto padrão podem se interessar pela nova faixa 4, mas a adequação de projetos leva tempo e, enquanto isso, as empresas de baixa renda já têm projetos do tipo na rua. Rodrigo Luna, vice-presidente da Plano&Plano, por exemplo, afirmou que a incorporadora tem 21% de seu estoque na faixa 4, conforme relatório divulgado pela equipe de Oreng.

A Trisul já anunciou interesse em atuar no segmento, lembra Altero, citando também a pernambucana Moura Dubeux como exemplo de empresa de média e alta renda que tem marca que atua no teto da faixa 4, a Mood, e pode se beneficiar da mudança.

Novamente destaque entre os resultados do trimestre, a Cyrela é outra que pode se dar bem com as novidades no MCMV, para Altero. A incorporadora tem participação em empresas de baixa renda apontadas pelos analistas como grandes beneficiadas - Cury e Plano&Plano -, além de ter sua própria linha do segmento, a Vivaz.

A Cury já fez um primeiro trimestre agressivo, com crescimento de 78% nos lançamentos e de 45% nas vendas. As novidades no programa são um incentivo para que ela continue nesse ritmo, afirma Altero. Também podem ajudar a empresa a melhorar sua margem. A carteira de venda direta para clientes que antes não se encaixavam no MCMV pode ser reduzida, lembra Oreng.

A Direcional, que vinha ressaltando seu foco em aumentar a velocidade de venda, em vez de crescer em volume de projetos, deve receber o impulso que precisava. Para Oreng, a companhia pode até mesmo rever sua visão sobre o volume de produção. “Ela pode, eventualmente, aumentar os lançamentos”, afirma. Essas mudanças são esperadas para o segundo semestre.

Marca da Direcional que atua no topo e fora do MCMV, a Riva vai conseguir encaixar mais produtos dentro do programa. A Direcional anunciou em dezembro a venda de pelo menos 7,5% da marca para a gestora Riza. O acordo prevê que a compra possa chegar a 15%. Para Oreng, as mudanças no MCMV podem tornar o negócio ainda mais atrativo.

Já a MRV, que aumentou seus lançamentos em 81% na incorporação nacional, teve resultados considerados mistos, mas viu sua ação avançar 23% desde a divulgação dos resultados, feita no dia 15.

Segundo Oreng, a operação nacional da empresa tem mostrado sinais de recuperação, e o mercado já entendeu isso, mas ainda há dúvidas sobre a operação americana, Resia, que queimou US$ 59 milhões de caixa no trimestre. A MRV está vendendo prédios e terrenos da empresa. “Nossa maior preocupação com eles é que tipo de perda podem ter em função da venda dos ativos da Resia, em um cenário um pouco conturbado nos EUA”, diz.

Não são só as ações da MRV que têm reagido bem. Do início do ano até sexta-feira (25), nomes do setor acumulam altas acima de 50% nos papéis, como Trisul (62,1%), Cury (55,8%), Moura Dubeux (54,9%) e Cyrela (54,1%). O Ibovespa sobe 12,2% no período.

IstoÉ Dinheiro - SP   28/04/2025

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) acelerou de 0,38% para 0,59% na passagem de março para abril, informou nesta sexta-feira, 25, a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com o resultado, o índice acumula alta em 12 meses de 7,52%.

Entre março e abril, houve aceleração em Mão de Obra (0,35% para 0,91%), enquanto houve desaceleração em Materiais, Equipamentos e Serviços (0,40% para 0,37%).

As principais influências para cima no INCC-M partiram de pedreiro (0,57% para 1,07%), elevador (1,19% para 0,95%), bombeiro (0,51% para 1,06%), blocos de concreto (0,96% para 0,71%) e pintor (0,50% para 1,19%).

Na outra ponta, puxaram o índice para baixo vergalhões e arames de aço ao carbono (-0,17% para -1,27%), tela alambrado/gradil metálico (0,07% para -0,41%), tela de aço soldada para concreto (-1,57% para -0,88%), uniforme e EPI (-1,45% para -0,53%) e impermeabilizante (-0,10% para -0,05%).

Valor - SP   28/04/2025

Faixa 4 do programa vai atender famílias com renda de R$ 8,6 mil a R$ 12 mil mensais para compra de imóveis de até R$ 500 mil

A preocupação do Banco Central e do governo com a saúde dos recursos que sustentam o financiamento imobiliário ficou clara nos últimos dias, com falas de representantes da instituição e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a necessidade de se buscar alternativas para o crédito.

Esse temor vai ao encontro da decisão do conselho curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) de aprovar uma nova faixa de renda para o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), tomada neste mês.

A nova “faixa 4” do programa vai atender famílias com renda de R$ 8,6 mil a R$ 12 mil mensais e permitir a compra de imóveis de até R$ 500 mil, ante o teto de R$ 350 mil na faixa anterior.

É uma forma de atender a classe média, que teve seu poder de compra espremido pelo aumento da taxa de juros, que chegou também ao financiamento imobiliário.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que será preciso “migrar para um novo modelo de funding”, de forma gradual. O que preocupa é a dependência de recursos da caderneta de poupança, que deixou de ser atrativa para o brasileiro como uma forma de investimento.

Ainda assim, o saldo da poupança tem se mantido estável, mas não se sabe até quando, e a necessidade de dinheiro para custear as moradias só cresce.

O volume financiado com recursos dessa origem cresceu 31% em janeiro e fevereiro, na comparação com os dois primeiros meses de 2024, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), para R$ 26,2 bilhões.

Maior alcance

Uma forma de contornar o problema, enquanto um novo modelo de "funding" não é criado, é ampliar o alcance do MCMV, que usa recursos de outras fontes.

O programa é mantido principalmente pelo saldo do FGTS, mas há novidades. Só houve espaço para a criação da faixa 4 porque o governo decidiu direcionar R$ 15 bilhões do Fundo Social do Pré-Sal para a faixa 3 do MCMV, o que libera recursos do FGTS para a nova faixa. A Caixa também se comprometeu a estruturar títulos em mais R$ 15 bilhões para bancar as mudanças.

O setor imobiliário foi surpreendido positivamente. “A criação da faixa 4, esses R$ 15 bilhões do fundo social, estavam totalmente fora da conta”, afirma Ygor Altero, analista-chefe de real estate da XP. Para Fanny Oreng, head de pesquisa de real estate do Santander para a América Latina, o uso do fundo foi “uma sacada muito boa”.

Antes dessa solução, executivos de incorporadoras haviam se posicionado contra uma nova faixa, por receio de que ela prejudicasse os recursos do FGTS para a base do programa, onde está a maior demanda.

Oreng compara a nova faixa à categoria de financiamento “pró-cotista”, também destinada a famílias com renda de até R$ 12 mil, mas que precisam ter contribuição ativa com o FGTS, que é a origem dos seus recursos. Essa linha, no entanto, teve seu orçamento reduzido, em prol do crescimento do MCMV. “Está havendo um recurso para uma família que precisa dessa ajuda para conseguir comprar sua casa própria”, diz.

A taxa de juros da nova faixa será de 10% ao ano, ante valores próximos a 12%, ou logo acima disso, fora do programa. A analista do Santander lembra, ainda, que o MCMV usa a tabela Price, cujas parcelas iniciais são cerca de 20% menores do que na tabela SAC, mais usada no financiamento fora do programa, o que também melhora a capacidade de compra dos interessados.

Foram aprovadas, ainda, revisões das faixas de renda 1, 2 e 3 do MCMV, com aumento do valor máximo de cada grupo.

Mais recursos

O setor imobiliário entende que haverá perenidade dos recursos do pré-sal ao menos por dois anos, até a próxima eleição presidencial, o que dá tempo suficiente para que as incorporadoras aproveitem as boas condições de mercado. É esperada uma aceleração de lançamentos e de vendas, que já vinham crescendo desde 2023. Empresas que atuam no médio e alto padrão também podem ser atraídas para a nova faixa 4.

A continuidade dos aportes, depois disso, vai depender da vontade do novo governo de fomentar o segmento residencial.

Rodoviário

Globo Online - RJ   28/04/2025

No intervalo de uma semana, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), anunciaram programas de obras de infraestrutura bilionários, que envolvem sobretudo melhorias viárias e investimentos em mobilidade.

Os anúncios foram feitos de forma independente, mas têm em comum a retomada de promessas antigas e a inclusão de obras que são verdadeiros "pepinos”: já foram suspensas e retomadas várias vezes, estiveram envolvidas em escândalos de corrupção e geraram custos milionários sem que tivessem saído do papel. Nos dois casos, os pacotes foram lançados mais como "guarda-chuvas" de obras já em andamento ou anunciadas do que como propostas inéditas.

De olho na reeleição em 2026 — e quiçá na disputa federal, a depender do destino do padrinho Jair Bolsonaro —, Tarcísio lançou o SP Pra Toda Obra, com R$ 30 bilhões de investimentos. Boa parte dos investimentos incluídos neste “pacotão” já eram conhecidos, e a maioria das ações se refere a melhorias em rodovias e estradas no interior do estado.

Tarcísio quer ter como marca de sua gestão os grandes projetos de infraestrutura e as concessões, e entregar à população o trecho Norte do Rodoanel é um dos maiores desafios. Essa obra foi incluída no anúncio feito no início do mês, ainda que ela já esteja em andamento.

A história do Rodoanel, que ligaria as cidades da Região Metropolitana de São Paulo e aliviaria o pesado trânsito da Marginal Tietê, é longa e cheia de idas e vindas. O histórico de problemas começou em 1998 e perpassou diversas gestões nas últimas três décadas, sem a conclusão do seu trecho final. No meio do caminho, rescisões contratuais, denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato — houve suspeitas de superfaturamento e propinas na construção do trecho Sul, em um esquema que envolveria as gestões José Serra e Geraldo Alckmin e as empresas OAS e Odebrecht. Já o trecho Norte passou quase seis anos parado. As obras foram retomadas em 2024, e Tarcísio garante que a via será entregue no ano que vem.

Outra entrega prevista no programa estadual é a duplicação da rodovia SP-129, entre as cidades de Tatuí e Porto Feliz. Não é a primeira vez que os moradores da região ouvem essa promessa. Em 2015, o governo Alckmin já havia anunciado essa duplicação, que nunca se concretizou de fato. Agora, Tarcísio promete investir R$ 200,6 milhões no trecho. O governador também garante que vai construir um viaduto na SP-322 na altura de Bebedouro, que foi anunciado pela primeira vez em 2013, e jamais foi entregue.

A turbinada nos investimentos é concentrada, entretanto, nas vicinais, pequenas rodovias que ligam cidades menores de difícil acesso, uma estratégia que já foi usada por governos anteriores em épocas pré-eleitorais. Essas medidas visam sobretudo beneficiar as cidades pequenas do interior, um esforço que Tarcísio tem feito em busca da reeleição.

— Quando a gente faz um investimento gigantesco no Vale do Ribeira, o pessoal pensa “por que vocês vão fazer uma pavimentação de quase R$ 100 milhões no Vale do Ribeira, em cidades pequenas?” Porque o paulista que está no Vale do Ribeira precisa da nossa atenção — disse o governador ao lançar o programa.

Na capital, obra do Maluf retomada

Já o prefeito de São Paulo aproveitou os cem dias da nova gestão para anunciar o Melhoramentos de São Paulo, programa que prevê investir R$ 19 bilhões em 55 obras viárias, de drenagem e mobilidade urbana. Houve pouca novidade no comunicado, porque boa parte dos projetos já estava previsto no Programa de Metas da gestão anterior, como é o caso de BRTs na Zona Leste, terminais de ônibus e canalização de córregos.

Entre os projetos novos, o principal deles é a ligação da Avenida Roberto Marinho com a Rodovia dos Imigrantes, por meio de um túnel. Mas o morador mais antigo da Zona Sul já ouve falar disso há décadas. Essa conexão entre as duas vias é prevista desde a gestão Paulo Maluf, em 1996, e estava incluído na construção da Avenida Águas Espraiadas — antigo nome da Roberto Marinho. Maluf foi condenado por corrupção por causa de superfaturamento e desvios de verba nesta obra, mas o túnel em si nunca foi para frente. A ideia do túnel foi tentada novamente pelos prefeitos Gilberto Kassab (PSD) e Fernando Haddad (PT), mas acabou não saindo. Agora, Nunes promete que vai fazer essa empreitada acontecer.

O projeto prevê a implantação de dois túneis sob a Avenida Eng. Armando de Arruda Pereira, com 460 metros de extensão, e a construção está prevista para começar em dezembro deste ano e terminar em 2030. O custo calculado é de R$ 2,6 bilhões, mas na realidade deve custar muito mais, porque o valor não considera as desapropriações que terão de ser feitas na região. Na mesma via, Nunes também promete o tão esperado Parque Linear, previsto desde 2001 quando foi criada a Operação Água Espraiada.

Nunes tem tentado ganhar mais protagonismo político com grandes projetos. No primeiro mandato, que assumiu após a morte de Bruno Covas, em 2021, seu enfoque foram as entregas nas periferias, sobretudo equipamentos de saúde e obras de drenagem, que ajudaram em sua reeleição, mas são menos chamativas. Agora, relatam aliados, a ideia é apostar em medidas de maior projeção, obras maiores que possam aumentar seu capital político, já que ele não descarta concorrer ao governo caso Tarcísio saia para disputar o Planalto no ano que vem.

As demais obras previstas no pacote de Nunes são o túnel Sena Madureira, que teve o edital refeito após imbróglios na Justiça, os BRTs Aricanduva e Radial Leste, que já estava previstos desde a gestão anterior, a continuidade da revitalização da Avenida Santo Amaro, a construção de terminais e corredores de ônibus também já anunciados anteriormente, além de várias obras de drenagem que já estão em andamento há alguns anos.

Por fim, há o prolongamento da Avenida Marquês de São Vicente, na Zona Oeste, até a Av. Salim Farah Maluf, na Zona Leste, o que abre caminho para a desativação do Minhocão. A previsão é que a obra inicie em 2026 e termine em 2028, sob o custo de R$ 1,1 bilhão.

Valor - SP   28/04/2025

Apenas 18,5% da carga ferroviária é de grãos e rios carecem de condições para escoamento

Investimentos insuficientes em infraestrutura e logística ainda acarretam problemas de competitividade que se arrastam há décadas. “Precisamos reconhecer avanços pontuais. Mas, no geral, a logística de escoamento não acompanha o dinamismo do setor agropecuário”, diz Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O modal rodoviário concentra a maior parte dos fluxos, resultando em altos custos operacionais, desgaste de estradas e maior emissão de poluentes. “A malha ferroviária, embora mais eficiente e menos poluente, permanece subutilizada para o transporte de grãos”, diz Lopes. Em 2024, 18,5% da carga ferroviária foi de produtos agropecuários, enquanto o minério de ferro respondeu por 71,3%. “No modo aquaviário, muitos rios carecem de condições mínimas para permitir a navegação regular, seja por falta de dragagem ou sinalização e infraestrutura portuária interiorana inadequadas”, afirma a assessora.

No sistema portuário, os desafios envolvem modernização e ampliação da capacidade de atracação de grandes embarcações e investimentos que incentivem a cabotagem, alternativa para integrar regiões produtoras e centros consumidores. Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), investimentos em transporte e logística no ano passado somaram R$ 63 bilhões (0,54% do PIB), quase um quarto do que a entidade considera o mínimo necessário (R$ 264,4 bilhões) para solucionar gargalos.

Esses recursos foram até mesmo insuficientes para assegurar a manutenção dos ativos. A Confederação Nacional do Transporte (CNT) estima que o Brasil deveria investir cerca de R$ 1 trilhão até 2035 apenas para modernizar e expandir sua infraestrutura de transportes. “Ainda que os investimentos privados tenham ocorrido em maior proporção do que os públicos, temos um déficit estrutural que acarreta dificuldades e custos para setores produtivos, inclusive o encarecimento do produto final e a perda de competitividade”, avalia Rafael Vanzella, sócio da área de infraestrutura e energia do Machado Meyer Advogados.

A Abdib mapeou 229 projetos de origem federal, estadual e municipal nas áreas de transporte e logística (aeroportos, ferrovias, mobilidade urbana, portos e rodovias) que precisariam pelo menos R$ 605,4 bilhões de investimentos. “Aí está o maior gargalo da infraestrutura”, dizem Roberto Guimarães e Frederico Barreto, diretor de planejamento e economia e coordenador de economia, respectivamente, da Abdib.

No ano passado, o Ministério de Agricultura chegou a apresentar um plano (“Abrindo caminhos para o Brasil avançar”) que detalhava investimentos públicos de R$ 4,7 bilhões para obras nos corredores logísticos do agro (ferrovias e rodovias) sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). Esses recursos, porém, já faziam parte do orçamento total de R$ 13,5 bilhões previstos em 2024, segundo o diretor da Abdib.

Parte desse orçamento está sendo investido em corredores logísticos, como trechos das BRs 163, 155, 158 e 316, no Pará, da BR-364, em Rondônia, e, no Tocantins, da BR-153, que integram o corredor do Arco Norte, explica Guimarães. Ferrovias, entretanto, receberam apenas R$ 267 milhões de dinheiro público em 2024. “Podemos afirmar que houve algum avanço em rodovias. Porém, insuficiente em função do tamanho das necessidades”, acrescenta o executivo.

O edital da Rota Agro (trechos da BR-060 e da BR-364, em Goiás e Mato Grosso) foi publicado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em março, com leilão previsto para agosto. Há ainda o projeto de duplicação de 444 quilômetros da BR-163, no Mato Grosso, para o qual o BNDES aprovou financiamento de R$ 5 bilhões.

Valor - SP   28/04/2025

Trata-se de um corredor de 218,9 km da BR-040, no qual estão previstos R$ 5 bilhões de investimentos em obras, além de R$ 3 bilhões de custos operacionais estimados para os 30 anos do contrato

O leilão da concessão rodoviária entre Juiz de Fora (MG) e Rio de Janeiro (RJ) deverá ser disputado por três grupos. A concorrência deverá ser realizada na próxima quarta-feira (30), e a entrega das ofertas foi realizada nesta sexta (25).

Estiveram presentes representantes da EPR (Equipav e Perfin), da espanhola Sacyr e de um consórcio formado pela também espanhola OHLA e pela Construcap, segundo fontes.

Trata-se de um corredor de 218,9 km da BR-040, no qual estão previstos R$ 5 bilhões de investimentos em obras, além de R$ 3 bilhões de custos operacionais estimados para os 30 anos do contrato.

A EPR já opera a concessão federal da BR-040 entre Belo Horizonte e Juiz de Fora, portanto, o novo trecho seria uma continuação. O grupo também já tem concessões estaduais em Minas Gerais, além de outros lotes rodoviários federais no Paraná.

A espanhola Sacyr também já atua em concessões rodoviárias no Brasil, com um contrato no Rio Grande do Sul.

Já a OHLA (ex OHL) vem ensaiando seu retorno ao mercado brasileiro. O grupo espanhol já foi acionista da Arteris no passado, mas vendeu sua plataforma rodoviária, em 2012, para a Abertis e para a Brookfield.

Há cerca de um ano, no leilão do lote Litoral Paulista, do governo de São Paulo, fontes disseram que a empresa quase fechou uma parceria com o consórcio da CBI e Consladel, que acabou vencendo a disputa, mas o grupo espanhol acabou ficando de fora. Neste projeto federal, a empresa está em parceria com a Construcap, disseram fontes.

Na concessão, a principal intervenção prevista deverá ser a nova subida da Serra de Petrópolis (RJ), que está parada desde 2016.

O trecho que será leiloado já é administrado pela Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio de Janeiro (Concer), da Triunfo. O contrato teria vencido em 2021, mas a empresa conseguiu prolongar a extensão por meio de decisões judiciais. A companhia chegou a tentar uma repactuação da concessão com o governo para manter o ativo, mas a negociação foi negada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que determinou a realização do novo leilão.

No novo contrato, foi incluída uma cláusula de compartilhamento de riscos para a construção do túnel da Nova Subida da Serra de Petrópolis, para mitigar variações de custos da obra.

Na disputa, vencerá o grupo que oferecer o maior desconto sobre a tarifa básica de pedágio, cujo valor máximo foi fixado em R$ 0,35513 por km. Caso o deságio oferecido supere os 18%, a empresa terá que pagar um aporte adicional, cujo montante aumenta conforme o desconto proposto.

NAVAL

Portos e Navios - SP   28/04/2025

A movimentação de contêineres no Porto de Santos (SP) atingiu 460 mil TEUs em março de 2025, alta de 1,2% em relação a março de 2024, registrando o maior volume já movimentado no mês. No acumulado do primeiro trimestre, o porto somou 1,3 milhão de TEUs, um crescimento de 6,9% em comparação ao mesmo período do ano anterior, estabelecendo novo recorde trimestral.

A soja liderou entre as commodities agrícolas, com 6,1 milhões de toneladas movimentadas e aumento de 14,7%. A celulose registrou alta de 18,9% com 730 mil toneladas, o farelo de soja cresceu 9,5% com 898,8 mil toneladas, e o milho avançou 36,7%. No setor de combustíveis, a gasolina se destacou, com alta de 235,6% e 106,8 mil toneladas embarcadas.

O total de cargas movimentadas em março somou 16,1 milhões de toneladas, avanço de 0,1% sobre 2024. As exportações cresceram 0,8% e alcançaram 12,5 milhões de toneladas, enquanto as importações recuaram 2,1%, com 3,6 milhões de toneladas. O fluxo de navios também subiu, com 521 atracações, crescimento de 7%.

Os granéis sólidos totalizaram 8,9 milhões de toneladas (+5,1%), impulsionados principalmente pela soja e pelo farelo. O açúcar caiu 40,2% mas se manteve como segunda carga de maior volume. Já os granéis líquidos somaram 1,6 milhão de toneladas (-6,1%), impactados pela queda nos embarques de suco cítrico. A carga geral solta movimentou 899 mil toneladas (+12,2%), com a celulose registrando recordes para o mês e para o trimestre.

No comércio exterior, o Porto de Santos respondeu por 29,4% da corrente comercial brasileira em março, tendo a China como principal parceiro comercial (28,4% das transações) e o Estado de São Paulo liderando as operações via Santos com 51,2% de participação.

PETROLÍFERO

Valor Investe - SP   28/04/2025

Na última sessão da semana, contudo, o barril de óleo subiu, em meio à volatilidade gerada por embate entre EUA e China

Em meio ao vai e vem causado pelas incertezas na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, os preços do petróleo fecharam em alta nesta sexta-feira (25) após terem começado o dia no negativo. Mesmo sem as conversas terem iniciado de fato, a diminuição na tensão entre os países no decorrer dos últimos dias foi suficiente, por enquanto, para compensar as preocupações sobre um eventual aumento de produção da commodity pela Opep+.

No fechamento, os contratos futuros de petróleo Brent (referência mundial) para junho subiram 0,48%, a US$ 66,87 por barril, na Intercontinental Exchange (ICE). O WTI (referência dos Estados Unidos) com vencimento para o mesmo mês avançou 0,37%, a US$ 63,02 por barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex). Na semana, a queda foi de 1,56% e 1,47%, respectivamente.

“Sinais conflitantes estão mantendo o petróleo preso em uma faixa de negociação. Definitivamente, parece haver muitas preocupações de que, se o preço ultrapassar US$ 65 o barril, isso será um problema para a economia e, claro, com rumores de um potencial aumento na produção da Opep+, isso dará ao mercado um teto entre US$ 65 e US$ 70”, disse Phil Flynn, do Price Futures Group.

As incertezas com relação à guerra comercial entre China e EUA pautaram os mercados hoje. Donald Trump disse à revista Time, ontem, que o presidente chinês Xi Jinping ligou para ele para discutir tarifas. Pequim, no entanto, contestou a informação e reiterou na manhã de hoje que não está em negociações com o país. Os ruídos de comunicação sobre o patamar das negociações se somam a uma reportagem da Bloomberg, que noticiou que a China pode suspender sua tarifa de 125% sobre certos produtos americanos.

AGRÍCOLA

Valor - SP   28/04/2025

Alta esperada é de 10%, com parcimônia por juro alto e commodities ainda baratas

Público durante a edição 2024 da Agrishow: feira, com 800 expositores, irá aumentar no ano que vem para receber empresas que atuam no Leste Europeu — Foto: Divulgação

A Agrishow, maior feira agrícola da América Latina, inicia sua 30ª edição nesta segunda-feira (28) em Ribeirão Preto (SP) com a expectativa de fechar R$ 15 bilhões em negócios, um aumento de quase 10% em relação a 2024. O número considera apenas as intenções de vendas de máquinas agrícolas, equipamentos de irrigação e armazenamento. “Mas os outros setores também fecham muitos negócios", afirma João Carlos Marchesan, presidente da feira.

O executivo, dono da Tatu Marchesan, de Matão (SP), avalia que o agricultor vai investir “com parcimônia” neste ano porque, embora a produtividade das lavouras esteja maior, muitos estão segurando as compras diante dos juros altos e do preço baixo das commodities.

Os 520 mil m2 da feira deverão crescer para 800 mil m2 no ano que vem, para atender, além dos 800 expositores, novas empresas estrangeiras, especialmente as chinesas e as que diminuíram as vendas para o leste europeu em função da guerra na Ucrânia.

A Agrishow chega à sua 30ª edição bem diferente de quando começou, quando o foco estava na demonstração das máquinas agrícolas. Segundo Marchesan, a feira se tornou estática por uma decisão dos expositores, que argumentaram que dava muito trabalho manter as dinâmicas na feira.

Neste ano, não haverá sequer o movimento de aeronaves e helicópteros - os voos foram proibidos depois que a tentativa de aterrissagem de um helicóptero no ano passado provocou a morte de um prestador de serviços.

Executivos das grandes multinacionais de máquinas agrícolas, que mantêm os maiores estandes, concordam que os negócios devem ser positivos, mas não haverá compras por euforia. “O produtor só vai comprar máquinas em caso de aumento de área ou se realmente precisa atualizar seus equipamentos”, resume Wanderson Tosta, diretor de marketing da Jacto.

Duas ferramentas de crédito estão em alta para atrair o comprador: os consórcios, que chegam a representar até 30% das vendas, com tendência de alta, e a comercialização de máquinas em dólar ou euro.

A Valtra, do grupo AGCO, espera vendas superiores a 10% na comparação com 2024. O diretor comercial da marca no Brasil, Cláudio Esteves, diz que as feiras representam 20% das vendas anuais da marca. “Neste ano, com café e cana-de-açúcar em alta e o agricultor de grãos colhendo bem, os resultados devem ser ainda mais positivos”, afirma.

Na Yanmar, que aumentou seu estande de 1.200 m2 para 1.800 m2, a expectativa é de um crescimento de 11% nas vendas na Agrishow, que representa 20% das vendas anuais da marca. A fábrica foca na agricultura familiar como vetor de crescimento e na mecanização como ferramenta de produtividade no campo.

Uma empresa que está muito otimista é a Netafim, líder global de irrigação por gotejo. Neste ano, segundo a diretora de marketing, Michele Silva, a empresa israelense investiu R$ 1,5 milhão no estande visando elevar em pelo menos 30% os negócios fechados no ano passado, quando a meta foi superada em 50%. “Os produtores de café e citros, principalmente, aproveitaram o preço dos produtos para investir em irrigação”, afirma.

A CNH, dona das marcas Case Industrial e New Holland, inicia a venda dos quatro drones que apresentou no ano passado, lança uma família de pulverizadores autopropelidos e traz do exterior as duas maiores colheitadeiras do mundo: a AF10 Case, de rotor único e o mais alto nível de automação, e a CR11 da New Holland, a maior da categoria.

“Investimos pesado com o objetivo de obter a liderança na pulverização junto com os drones”, diz Rafael Miotto, presidente da CNH Industrial para a América Latina, destacando que a empresa traz também um software inédito para coordenar a aplicação do drone e do pulverizador terrestre.

Quem também aposta na venda de drones é a Jacto. A marca vai trabalhar na consolidação dos drones lançados em 2024, assim como a última adubadora Uniport 8030 NPK. Uma novidade que estará na feira mas ainda sem comercialização é a Hover 500, primeiro equipamento da fábrica para a colheita de cana.

A Massey Ferguson vai oferecer máquinas com financiamento de quase 100% em moeda estrangeira. Os lançamentos são uma enfardadora importada dos EUA para uso no recolhimento de palha de cana em usinas e a renovação dos pulverizadores da linha 530.

Rafael Antonio Costa, diretor comercial Fendt, também do grupo AGCO, diz que a novidade será a colheitadeira Ideal 25, fabricada no Brasil, com grande capacidade de limpeza, qualidade de grãos e alta eficiência energética. A empresa também vai destacar o combo Suplantar, que reúne a série de tratores Fendt 700 Vario e as plantadeiras Momentum.

A John Deere vai apresentar duas novas plantadeiras, uma delas compacta, voltada aos produtores do Sul, a nova colheitadeira S7, equipada com tecnologia preditiva, e o trator 9RX, o maior fabricado em série no mundo, com até 830 cv e sistema de esteiras.

Na Yanmar, o destaque será o lançamento de uma plataforma exclusiva para colheita de milho, com quatro linhas, e a enxada rotativa fixa encanteiradora, projetada para produtores de hortifrutis.

A Agrishow vai até sexta (2), no Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro- Leste, na rod. Prefeito Antônio Duarte Nogueira, km 321, em Ribeirão Preto (SP). Os ingressos custam de R$ 40 a R$ 80 pelo site agrishow.com.br e de R$ 70 a R$ 140 diretamente na bilheteria.

O Estado de S.Paulo - SP   28/04/2025

A Agrishow, maior feira agropecuária do País, começa hoje com perspectiva positiva para o setor industrial. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), obtidos pela Coluna do Estadão, mostram alta de 24% na receita líquida total de vendas de máquinas e implementos agrícolas em março na comparação com o ano anterior. A soma no trimestre foi de R$15 bilhões.

O balanço será apresentado no evento na próxima quarta-feira. O setor ainda está longe de recuperar o ritmo de vendas de 2022, mas já considera revisar a atual projeção de crescimento de 8%. “A Agrishow será um termômetro para expectativas mais otimistas, que permitirão uma revisão dos números para cima”, diz José Velloso, presidente-executivo da Abimaq.
Base de comparação é fraca

O porcentual foi grande mas não impressiona tanto o setor porque o ano passado foi muito ruim. Na mesma época, em 2024, o faturamento caía na faixa de 36%. O cenário refletia o período de seca muito grande que afetou as principais lavouras do mercado de máquinas agrícolas - soja, milho e cana.

Entretanto, os sinais de retomada e a perspectiva da supersafra em 2025 animam a indústria. Segundo a Abimaq, a agropecuária representa 22% das vendas da indústria nacional de máquinas e equipamentos. “O principal motivador das compras é a rentabilidade da lavoura este ano. Não tivemos seca e houve boa colheita”, observa Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos agrícolas da Abimaq

“As máquinas aumentam a produtividade no campo e favorecem o crescimento da agricultura. Isso impulsiona o setor como um todo e a economia em geral, sustentando novos investimento”, emenda com otimismo o presidente executivo.

Juros ainda são problema

“O que está pegando este ano é a taxa de juros. A faixa de 18% a 20% ao ano devem enterrar muito negócio”, ressalta Pedro Estevão. “Quando sair o Plano Safra a questão de juros deve ficar amenizada, mas o governo tem posto pouco dinheiro por restrições orçamentárias”, emenda Pedro Estevão.

Valor - SP   28/04/2025

Maquinário também é afetado pelos eventos extremos provocados pelas mudanças climáticas

Débora Schalch: indenizações mais rápidas com o seguro paramétrico — Foto: Divulgação

O cenário para a safra 2025/2026 apresenta um desafio crescente para o seguro rural: a ocorrência de eventos climáticos extremos. “Cerca de 60% das indenizações pagas pelo seguro no Brasil decorrem de secas”, diz Esteves Colnago, diretor de relações institucionais da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

Máquinas e instalações agrícolas também são afetadas; distúrbios do clima comprometem a eficácia e a durabilidade dos equipamentos. As indenizações do seguro benfeitoria mais que dobraram de 2020 para 2024, saltando de R$ 332,3 milhões para R$ 842,3 milhões. Nos últimos cinco anos, os desembolsos totais atingiram R$ 2,8 bilhões, crescendo pouco mais de 25% a cada ano, segundo a confederação.

Mesmo nesse cenário difícil, as seguradoras buscam se firmar nos investimentos de proteção a máquinas e implementos. A Brasilseg, líder no segmento do agronegócio, possui um portfólio de produtos para equipamentos agrícolas com ampla gama de coberturas. Vice-líder no ranking, a Mapfre alcançou 14,2% de participação no mercado de seguros de penhor e patrimonial rural em 2024. “A carteira de seguros patrimoniais representou 64,75% do faturamento da empresa no período”, afirma Fabio Damasceno, diretor técnico de seguro rural da Mapfre. Seguros agrícolas, florestais e pecuários responderam por 35,25%.

“Produtos voltados a máquinas e implementos são uma frente que tem ganhado relevância no setor”, diz Mauricio Masferrer, diretor-executivo de negócios corporativos da Allianz. A companhia fechou 2024 com faturamento de R$ 124,4 milhões nas modalidades equipamentos agrícolas e propriedades rurais, 18,8% acima do ano anterior. Foram R$ 94,3 milhões em prêmios no seguro de equipamentos agrícolas (alta de 13,31%), desempenho superior ao do mercado como um todo, que avançou 10% em 2024.

Uma novidade que começa a aparecer para mitigar os riscos sobre a lavoura é o seguro paramétrico, com indenizações automáticas sempre que eventos climáticos fugirem do histórico para a região. “A indenização ocorre de forma muito mais rápida porque a seguradora não precisa enviar um perito para avaliar os prejuízos, isso é automático”, explica Débora Schalch, advogada especialista em direito securitário e sócia-fundadora do Schalch Sociedade de Advogados.

A seguradora estabelece um gatilho para acionar o sinistro, por exemplo, caso ocorra uma chuva acima de um volume preestabelecido. As companhias utilizam dados estatísticos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para a construção desses índices. “Vamos imaginar que um produtor, com cobertura de R$ 100 mil, foi atingido por um determinado índice de chuvas. Poderá receber 20% ou até 70% do valor do prêmio. Mas se o índice atingiu o pico fixado na apólice, ele receberá 100% da indenização”, explica Schalch.

Essa apólice ainda é pouco disseminada, mas há iniciativas já em uso para cobertura do plantio de soja no Mato Grosso e experiências com milho e feijão no Nordeste.

Valor - SP   28/04/2025

Depois de acumular perdas de mais de 35% nos últimos dois anos, fabricantes de esperam alta de 8,2% em 2025, mas cenário continua nebuloso

A indústria de máquinas agrícolas espera neste ano deixar para trás uma fase muito negativa em sua trajetória recente, depois de acumular retrocesso de praticamente 37% entre 2022 e 2024. A receita líquida total do setor cresceu 17% no primeiro bimestre, atingindo quase R$ 9,420 bilhões, com elevação de 15,1% quando consideradas apenas as vendas para o mercado doméstico.

Na prática, os negócios pararam de cair em novembro de 2024 e, desde lá até fevereiro deste ano, observa Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), acumularam alta de 12% em relação aos números registrados entre novembro de 2023 e fevereiro do ano seguinte.

O avanço no primeiro bimestre deste ano, prossegue Bastos, foi favorecido também pela base de comparação muita achatada em 2024. A colheita de uma safra recorde para a soja e a recuperação da produção de milho, refletindo certa normalização para o clima, chegou a estimular a Abimaq a antecipar uma previsão de crescimento de 8,2% para a receita líquida do setor neste ano, “antes do trarifaço promovido pelos Estados Unidos”, pondera Bastos. Depois disso, o cenário tornou-se mais nebuloso, com maiores incertezas em relação ao comportamento das taxas de juros e ao câmbio, em função das medidas adotadas pelo governo de Donald Trump.

“De toda forma, da porteira para dentro a indústria antecipa um ano normal nos setores de soja, milho, algodão, café, cana, citros e na pecuária”, comenta Bastos. A seu ver, a demanda tende a ser reforçada pela perspectiva de alta real de 11% no valor bruto da produção agropecuária, que para este ano é estimado em R$ 1,431 trilhão pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “São quase R$ 142 bilhões a mais do que em 2024”, reforça o executivo da Abimaq.

A AGCO, dona das marcas Fendt, Massey Ferguson, PTx e Valtra, e a John Deere, fabricante de tratores, colheitadeiras, colhedoras de cana e pulverizadores, igualmente apostam na recuperação em 2025. Os produtores têm demonstrado maior intenção de compra nas feiras agropecuárias já realizadas até o momento, registra Rodrigo Junqueira, diretor geral da AGCO e vice-presidente da Massey Ferguson para a América do Sul.

Na visão de Antonio Carrere, vice-presidente de vendas e marketing da John Deere para a América Latina, o mercado tende a avançar até 5% frente ao ano passado. As taxas de juros, entretanto, continuam sendo um fator de impacto importante para o setor, exigindo atenção constante do produtor, avalia Carrere.

O desafio será acelerar soluções voltadas à realidade do produtor brasileiro”

— A. Carrere

Produtores têm buscado opções de financiamento em condições mais atrativas, a exemplo dos consórcios, ou mesmo recorrendo a compras à vista, como tem ocorrido nos segmentos de frutas e cana-de-açúcar, segundo Junqueira. Sócio de mercados de capitais do BMA Advogados, Felipe Prado identifica a busca dos produtores de opções no mercado de capitais por meio de fundos estruturados voltados para o agronegócio, que têm crescido recentemente. O estoque de recursos estacionados em Cédulas de Produto Rural (CPR), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), direitos creditórios e recebíveis do setor, além do Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagro), aproximaram-se de R$ 1,27 trilhão em março deste ano, saltando 511% desde 2021.

Criada no final de 2023 para levar adiante uma modelagem inédita de compra de maquinário, a Cooperativa dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Cooprosoja) só decidiu ir ao mercado quando atingiu uma massa crítica de mil produtores associados, relata Fernando Cadore, presidente da entidade. O salto nos custos das máquinas após a pandemia, acrescenta ele, estimulou um grupo de produtores a formatar a operação de compra de dezenas de colheitadeiras a um custo de “alguns milhões de reais”, conforme Cadore, que prefere não anunciar valores por exigências contratuais.

Esse primeiro pacote, numa combinação de recursos dos próprios produtores, financiamento do fabricante e crédito bancário, foi fechado com a New Holland em 2024 e teve a participação de quase 70 produtores de mais de 20 municípios do Mato Grosso. Os descontos variaram entre 15% e 20%. “Posso dizer que foi a maior transferência de market share de um fabricante para outro em Mato Grosso”, diz Cadore.

A próxima operação envolverá a importação de 50 a 100 unidades de escavadeiras e pás-carregadeiras da China. O presidente da Cooprosoja espera que o primeiro carregamento chegue ao Estado nos próximos 100 dias.

A indústria espera um ano normal nos setores de soja, milho, algodão, café, cana, citros e pecuária

Com 3,3 mil hectares plantados com soja e milho em três propriedades na região de Nova Canãa do Norte (MT), onde também cria 7,5 mil cabeças de gado nelore, Mário Wolf Filho investiu perto de R$ 5,26 milhões no ano passado na compra de uma colheitadeira John Deere e um descompactador, financiados pelo Sicredi. O produtor colocou parte da produção de milho, um trator usado e uma camionete na compra ainda três tratores novos, dois dos quais para uso na pecuária. “O maquinário supriu a incorporação à área de lavoura no ano passado de 700 hectares de pastagens degradadas”, acrescenta Wolf Filho.

No ano passado, retoma Carrere, a John Deere concentrou esforços em ajustes estratégicos na rede de concessionários e distribuidores para garantir um início de 2025 mais saudável. A montadora está investindo R$ 700 milhões para ampliar sua unidade em Catalão (GO) com o objetivo principal de nacionalizar a produção da tecnologia See & Spray, baseada em visão computacional, inteligência artificial e machine learning, que permite que permite identificar e aplicar herbicidas com precisão, apenas onde há necessidade do uso do defensivo, detalha o executivo.

A companhia investirá ainda R$ 230 milhões até 2026 na planta de Montenegro (RS), onde fabrica tratores, na implantação de novas linhas, em nacionalização de componentes e na expansão da armazenagem, de áreas operacionais e da infraestrutura de apoio. Inaugurado em dezembro do ano passado, num investimento de R$ 180 milhões, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Indaiatuba (CPD-I) tornou-se o primeiro da John Deere no mundo voltado exclusivamente para a agricultura tropical, afirma Carrere. “O desafio será acelerar o desenvolvimento de soluções voltadas à realidade do produtor brasileiro, concebendo e testando pela primeira vez tecnologias localmente, considerando variáveis de solo, clima, conectividade e sistemas de produção regionais”, completa o executivo.

A AGCO, diz Junqueira, mantém inalterado o plano de investimentos no país, antecipando um cenário positivo entre 2026 e 2030, frente à expectativa de expansão da área plantada e de aumento da produtividade nas lavouras, o que demandará mais máquinas agrícolas. Em fevereiro passado, a companhia anunciou investimento de R$ 19 milhões na expansão de suas operações em Jundiaí (SP), com a instalação do Centro de Excelência de Transmissões Reman, para remanufatura de transmissões continuamente variáveis e de transmissões mecânicas, e da nova sede da AGCO Academy. A unidade terá capacidade para treinar em torno de 600 profissionais por ano, oferecendo treinamentos técnicos e comerciais, de peças e de gestão. “Teremos capacidade para treinar melhor nossa rede e também nossos clientes”, afirma Junqueira.

Valor - SP   28/04/2025

Indústria desenvolve equipamentos movidos a combustíveis renováveis

Fabricantes de tratores e implementos agrícolas estão investindo em maquinários movidos a combustíveis sustentáveis. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) até encomendou um estudo sobre o impacto do abastecimento de tratores e máquinas com biocombustíveis. “Queremos saber sobre economia, redução de emissões, custo por quilômetro rodado, entre outros fatores”, afirma o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da entidade, Pedro Estevão Bastos.

Caso o desempenho seja similar ao do etanol, as perspectivas são boas. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o uso de etanol desde o lançamento do Proálcool, há 50 anos, e de biodiesel entre de 2008 a 2024 fez o país economizar 3,3 bilhões de barris de petróleo e US$ 251 bilhões em importação de combustível, além de evitar a emissão de 1,64 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente.

O Grupo CNH lançou, em 2022, o primeiro trator do mundo movido a biometano, o T6.180 Methane Power, da New Holland. Com preço até 20% acima do similar a diesel, o veículo tem custo operacional 30% menor e emite 80% menos gases de efeito estufa (GEE). A Case IH, outra marca da empresa, tem uma colhedora de cana-de-açúcar equipada com um motor de 400 cavalos a etanol. Apresentada na Agrishow de 2024, em Ribeirão Preto (SP), a máquina voltará à feira neste ano ainda como protótipo, porém agora com os resultados dos testes realizados na Usina São Martinho, em Pradópolis (SP).

“Os dados indicaram que estamos no caminho certo”, afirma o diretor de marketing e produtos da CNH América Latina, Flávio Mazetto. A Case IH também levará para a Agrishow a linha de tratores Puma movidos a etanol, também protótipos.

A AGCO, dona das marcas Valtra, Massey Ferguson e Fendt, que investe globalmente cerca de US$ 500 milhões por ano em pesquisa e inovação, equipou suas máquinas com motores eletrônicos compatíveis com o padrão MAR1, trabalhando com biodiesel, e avança para o padrão MAR2. “Temos vários combustíveis alternativos disponíveis, como o biodiesel e o etanol, e haverá mais espaço para biomassa e biometano”, afirma o diretor de engenharia da companhia, Paulo Vilela.

Na Agrishow, a Fendt vai reforçar seu posicionamento com motores compatíveis com biodiesel e diesel verde, e adaptáveis a outros biocombustíveis, diz o gerente de marketing e produtos para América Latina, Elizeu dos Santos.

A John Deere avalia a transição energética em parceria com o Grupo Amaggi. Há um ano 16 equipamentos - tratores, carregadeiras, motoniveladoras e pás-carregadeiras - movidos a biodiesel B100 são testados erm uma fazenda de Diamantino (MT). O combustível é produzido em outra unidade da Amaggi, em Lucas do Rio Verde (MT).

Com um conceito de motores a etanol ainda em testes no Brasil, a John Deere tem entre suas metas de transição energética a criação de uma solução com baixa ou zero emissão e o lançamento de um trator 100% elétrico e autônomo.

“As crises internacionais do petróleo reverberam no Brasil de maneira muito negativa. Quando o produtor de soja, milho ou cana pode optar pela matéria-prima que está ali, ao lado dele, há maior segurança energética”, defende o diretor de economia e assuntos regulatórios da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Amaral.

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