Veja – SP 24/04/2025
O chefe da maior siderúrgica nacional afirma temer pelo futuro da indústria brasileira
Gustavo Werneck (Claudio Belli/Valor/AG. O GLOBO/.)
A escalada tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciada com o objetivo de brecar importações, estremeceu o mundo. De acordo com Gustavo Werneck, presidente da Gerdau, a maior siderúrgica do Brasil, a política pode afetar cadeias produtivas globalizadas, mas defende que não há mocinhos e bandidos no jogo do comércio mundial. Para ele, a China, que hoje reclama do protecionismo americano, faz uso de concorrência predatória — e cita como exemplo o que ocorre hoje no mercado brasileiro. Nos últimos anos, a fatia do aço importado do dragão asiático saltou de 10% para 25% do mercado interno nacional. O sistema de cotas e tarifas adotado pelo governo em 2024 não impediu a invasão, e Werneck cobra medidas mais duras. “A concorrência desleal vem do próprio Estado chinês”, afirma ele. Werneck adverte que, se a questão não for resolvida, a Gerdau investirá em outros países, como os próprios Estados Unidos, que sobretaxaram em 25% o aço importado e onde o grupo já tem usinas. O desmonte da reforma trabalhista e o caótico sistema tributário também dificultam novos projetos por aqui. “O futuro da indústria brasileira nos preocupa muito”, diz Werneck.
Quais são os impactos das medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump? Ainda é cedo para dimensionar. Embora a Gerdau possa se beneficiar, pois possui uma operação nos Estados Unidos voltada ao consumo interno sem a necessidade de exportar, fazer qualquer tipo de avaliação neste momento é prematuro.
E como a Gerdau é afetada pela sobretaxa que Trump impôs ao aço? Como operamos lá, não há impacto. Nossa capacidade de produção nos Estados Unidos é quase a mesma que no Brasil, mas temos 30% de capacidade ociosa lá. Então, podemos aumentar rapidamente a produção sem grandes investimentos, à medida que a demanda interna crescer. O impacto para a indústria em geral é mais complexo. A indústria automotiva, por exemplo, se tornou bastante globalizada e vai demorar muitos anos para que volte a ser totalmente americana. Agora, por estarmos dentro dos Estados Unidos, podemos nos beneficiar com esses incentivos à produção local. Um exemplo é a retomada de projetos de infraestrutura.
“A sobretaxa de Trump sobre o aço não nos afeta. Trabalhamos com capacidade ociosa nos Estados Unidos e podemos ampliar rapidamente a nossa produção por lá sem grande investimento”
O que o Brasil pode aprender com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs tarifas à importação de aço, visando sobretudo a China? A Gerdau atua há mais de trinta anos nos Estados Unidos. Um grande aprendizado é que, lá, a defesa comercial envolve toda a cadeia produtiva de um setor. Todas as partes daquela cadeia entendem que a proteção comercial é positiva para a indústria como um todo. No Brasil, temos o grave problema de um setor ficar brigando com o outro. Isso é inaceitável. Alguns setores, como o de máquinas e equipamentos, têm uma visão míope de que aumentar a tarifa de importação do aço vai prejudicá-los. Mas isso vai ajudá-los, porque, do mesmo modo que o governo não defende o aço, não defende também a produção de máquinas, de equipamentos, de tratores. Esses setores jogam contra si mesmos.
Medidas protecionistas não contrariam o livre comércio? Em nenhum momento pedimos protecionismo. Pedimos defesa contra uma concorrência predatória e desleal. Hoje, a indústria brasileira concorre com o Estado chinês, não com empresas chinesas. Não é à toa que o mundo todo está se defendendo. Existe uma grande diferença entre defesa e proteção. Sempre fomos a favor do livre comércio, desde que em condições iguais e corretas. Vivemos uma condição desleal, com Pequim subsidiando de forma artificial suas empresas. Assim, trocamos empregos brasileiros por chineses e condenamos o futuro da nossa indústria.
Por que as cotas e as tarifas impostas pelo governo, em junho passado, não impediram a invasão de aço da China? Durante anos, a geração de emprego e renda na China dependeu do crescimento da indústria. Mas o país vive uma profunda transição e, para evitar uma convulsão social, o governo chinês subsidia setores como o do aço. A China exporta produtos em condições não isonômicas com as do mercado mundial. No ano passado, o Brasil criou um mecanismo de cotas e tarifas que estabelece uma taxa de 25% para o aço importado que exceder a cota. Mas está sobrando tanto aço na China, exportado com tantos subsídios, que, depois de um ano, em vez de a importação cair, está crescendo. Hoje, 25% do aço consumido no Brasil é importado, sobretudo da China. A média histórica era de 10%.
Quanto o excedente chinês de aço ameaça as siderúrgicas brasileiras? O Brasil tem uma demanda anual de 4 milhões de toneladas de vergalhão, que é o tipo de aço mais usado na construção civil. Os Estados Unidos consomem 10 milhões de toneladas por ano. A China tem um excedente hoje de 400 milhões de toneladas de vergalhão. Se ela exportasse apenas 1% disso, atenderia a toda a demanda no Brasil. É chocante. Também sabemos quanto a China paga pelo minério de ferro. Vemos o aço chinês entrar no Brasil a preços menores que os do minério. É evidente a questão do dumping.
Por onde o aço chinês entra no Brasil? Há três grandes entradas. Uma é a Zona Franca de Manaus, que tem um regime tributário especial. Houve um aumento muito grande de aço entrando por Manaus, mas a produção industrial na região não cresceu na mesma proporção. Se esse aço não é consumido na Zona Franca, então está circulando pelo país com isenção de impostos. O segundo problema é um acordo bilateral que permite que o aço importado do Egito pague tarifa reduzida. Essa via cresceu também, e não sabemos se esse aço foi mesmo produzido lá ou se foi fabricado em outro lugar e apenas passou pelo Egito para obter benefício fiscal. O terceiro é a isenção de ICMS que o estado de Santa Catarina concede às importações.
Que medidas brecariam, de fato, a importação de aço? O público em geral acredita que o empresariado brasileiro não é competitivo e fica “mamando nas tetas do governo”. Isso é uma falácia. A Gerdau e muitos de nossos clientes competem de igual para igual com concorrentes estrangeiros no cenário global. Então, o que pedimos é apenas que o governo crie condições isonômicas de competição com os importados. O governo precisa endurecer as regras. Qualquer aço da China deveria pagar uma tarifa maior. O governo também deveria acelerar as investigações de dumping. Não é possível demorar dois ou três anos para concluir uma investigação.
As sobretaxas podem encarecer o aço no Brasil e pressionar a inflação. Como convencer os consumidores de que isso é necessário? O Brasil não é um país que regula preço. Temos livre comércio e os preços do aço seguem o mercado internacional. É possível para o governo e qualquer pessoa acompanhá-los e ver se as siderúrgicas estão se aproveitando indevidamente da sobretaxa. Não queremos, de forma nenhuma, usar isso para reajustar preços e pressionar a inflação. O que queremos é diluir custos. Estou com fábricas paradas. O nosso custo fixo está muito alto. Pagamos IPTU, energia, aluguel e salários de empregados de unidades paralisadas.
“Estamos em um momento de muita preocupação, porque não conseguimos ver nenhum dos setores em que atuamos se desenvolvendo com clareza no Brasil”
O senhor já disse que a Gerdau pode rever o plano de investir 6 bilhões de reais neste ano, se o governo não proteger mais o mercado interno. Quão perto a empresa está de cortar investimentos? Cada investimento em siderurgia demora anos, desde sua concepção até entrar em operação. Há quatro anos, decidimos investir 1,5 bilhão de reais na ampliação do laminador que foi inaugurado em março na usina de Ouro Branco, em Minas Gerais. Quatro anos depois, não temos para quem vender. Se o Brasil continuar criando cada vez mais dificuldades para as empresas, vamos buscar outros lugares para investir. A partir do mês de junho, faremos debates mais profundos, porque não está valendo a pena investir no Brasil. Temos uma história de 124 anos, e, apesar de nossa perseverança, está cada vez mais difícil empreender no Brasil. A Gerdau nunca esteve tão preparada quanto agora. Trabalhamos duro, nos últimos dez anos, para alcançar um nível de competitividade sem igual. Quase não temos dívidas e somos uma referência para a indústria em geral. Vivemos nosso melhor momento e, quando temos tudo para decolar, enfrentamos dificuldades que não são causadas por nós e que nos impedem de colher os frutos de todo esse trabalho. É uma frustração muito grande. O que pedimos não é choro de uma empresa ineficiente.
Com tantos problemas estruturais, ainda dá para ser otimista com o Brasil? Neste momento, não, e dou alguns exemplos. Nossas operações nos Estados Unidos e no Brasil têm quase o mesmo tamanho, mas, lá, temos apenas três pessoas na área tributária. Aqui, temos 123 para lidar com a confusa tributação brasileira. Outro exemplo é o gás natural, que custa quatro vezes mais aqui do que nos Estados Unidos. Se o país não encontrar, no curto prazo, uma forma de oferecer energia elétrica e gás mais baratos, não compensará investir aqui. Vemos também a desconstrução do que conquistamos no passado, como a reforma trabalhista, que veio para trazer mais competitividade à indústria, mas está sendo desmontada. Todo dia, damos um passo para trás no Brasil. Outro exemplo: criamos, na cidade de Pindamonhangaba, em São Paulo, uma empresa para produzir aço para a indústria de energia eólica, chamada Gerdau Summit. O governo vendeu a energia eólica como um dos setores do futuro, mas a produção de equipamentos acabou e não temos para quem vender o aço. Investimos muito e não vendemos 1 quilo de aço da Gerdau Summit. Então, a indústria vive assim: a gente cria coragem, confia nas perspectivas do país, coloca um monte de dinheiro em novos projetos, e as promessas simplesmente não são cumpridas.
A isso se soma a necessidade de manter juros altos e frear a economia? Sim, e aí vem a taxa de juros. Nossos clientes, como as montadoras e a construção, vão continuar demandando aço? Estamos em um momento de muita preocupação, porque não conseguimos ver nenhum dos setores em que atuamos se desenvolvendo com clareza no Brasil. Vemos a indústria automotiva com dificuldade, a indústria de energia com dificuldade, a indústria de máquinas e equipamentos importando muita máquina. Estamos mais preocupados do que nunca com o futuro da indústria brasileira. Junte-se a isso a questão da importação predatória de aço chinês, e a pergunta que fazemos é: até quando conseguiremos resistir?
Portal Fator Brasil - RJ 24/04/2025
Gustavo Werneck integra o top 50 das 100 lideranças com melhor reputação do País, segundo ranking Merco.
O CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, foi reconhecido pelo segundo ano consecutivo como a liderança mais admirada da indústria brasileira do aço e entre as “100 lideranças mais admiradas” do País, de acordo com o Ranking Merco Líderes Brasil 2024. O executivo aparece na 47ª posição da lista, destacando-se como o único representante do setor do aço a estar entre os líderes reconhecidos por sua reputação e protagonismo no cenário empresarial brasileiro.
—Esse reconhecimento é motivo de orgulho. Gosto de dizer que liderar não é estar no topo da hierarquia, mas sim facilitar, integrar e inspirar com o compromisso de criar condições para a empresa prosperar e para as pessoas se desenvolverem e atingirem seu potencial criativo. Somos melhores líderes quando somos capazes de extrair o melhor dos times com quem trabalhamos para entregar os melhores resultados. Por isso, agradeço a cada um dos nossos mais de 30 mil colaboradores e colaboradoras que fortalecem diariamente nossa reputação e nosso propósito de empoderar pessoas que constroem o futuro— afirma Gustavo Werneck, CEO da Gerdau.
Realizado pelo Monitor Empresarial de Reputação Corporativa (Merco), o Merco Líderes Brasil 2024 avaliou atributos como visão estratégica, cumprimento de objetivos, capacidade de comunicação, inovação, responsabilidade social corporativa, ética, talento e projeção internacional. A metodologia é independente e considera a opinião de diferentes públicos, como executivos, analistas financeiros, jornalistas, acadêmicos, representantes de ONGs e influenciadores.
Em fevereiro, a Gerdau foi apontada como a produtora de aço com a melhor reputação do Brasil, segundo a 11ª edição do Ranking Merco 2024. A companhia foi a única representante da indústria do aço a compor o quadro geral entre as organizações brasileiras avaliadas, ocupando o 38º lugar, e seguiu líder da categoria “Mineração, Siderurgia e Metalurgia”.
Gerdau — Com 124 anos de história, a Gerdau é a maior empresa brasileira produtora de aço e uma das principais fornecedoras de aços longos nas Américas e de aços especiais no mundo. No Brasil, também produz aços planos, além de minério de ferro para consumo próprio. Além disso, possui uma divisão de novos negócios, a Gerdau Next, com o objetivo de empreender em segmentos adjacentes ao aço. Com o propósito de empoderar pessoas que constroem o futuro, a companhia está presente em vários países e conta com mais de 30 mil colaboradores em todas as suas operações. Maior recicladora da América Latina, a Gerdau tem na sucata uma importante matéria-prima: mais de 70% do aço que produz é feito a partir desse material. Todo ano, 11 milhões de toneladas de sucata são transformadas em diversos produtos de aço. A companhia também é a maior produtora de carvão vegetal do mundo, com mais de 250 mil hectares de base florestal no estado de Minas Gerais. Como resultado de sua matriz produtiva sustentável, a Gerdau possui, atualmente, uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa (CO2 e), de 0,91 t de CO2 e por tonelada de aço, o que representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,91 t de CO2 e por tonelada de aço (worldsteel). Para 2031, a meta da Gerdau é diminuir as emissões de carbono para 0,82 t de CO2 e por tonelada de aço. As ações da Gerdau estão listadas nas bolsas de valores de São Paulo (B3) e Nova Iorque (Nyse).
Grandes Construções - SP 24/04/2025
A importação crescente de aço, principalmente da China, Índia, Turquia e Egito, que praticam preços mais baixos, está prejudicando a cadeia do setor e reduzindo a produção no país e a demanda por sucata ferrosa. As usinas siderúrgicas e aciarias utilizam cerca de 30% de sucata na produção de aço.
“Com o menor processamento local de aço, há consequentemente uma diminuição na geração de sucata”, afirma Clineu Alvarenga, presidente do Instituto Nacional de Reciclagem (Inesfa), órgão de classe que representa mais de 5,5 mil empresas recicladoras que praticam a economia circular, reinserindo insumos no ciclo da reciclagem para transformação.
Segundo Alvarenga, o consumo aparente de aço se mantém, “o que não acontece com a produção e consumo de sucata local”.
A guerra fiscal entre os Estados, que persiste, também tem desestimulado a produção e criado situações de concorrência desleal.
“A guerra fiscal está atrapalhando o setor siderúrgico como um todo, seja na importação de aço com incentivos de ICMS, como ocorre no estado de Santa Catarina, ou com incentivos na compra de sucata usados de forma irregular pelo Estado do Rio de Janeiro”, diz Alvarenga.
Impostos – O Inesfa continua empenhado na questão tributária, atuando fortemente pela aprovação no Senado do Projeto de Lei 1.800/21, do deputado federal Domingos Sávio, que traz apensada a proposta do deputado federal Vinicius de Carvalho e que isenta recicladores e cooperativas de catadores do pagamento de PIS e Cofins na venda de materiais reciclados p/ a indústria. O PL já foi aprovado por todas as Comissões da Câmara dos Deputados.
A PEC da Reciclagem, de 2019, que altera a Constituição Federal para criar a imunidade de impostos sobre produtos feitos com material reciclado ou reaproveitado, também está avançando.
Conforme Alvarenga, a PEC já tem 72 assinaturas favoráveis entre os parlamentares e deve receber inúmeras novas adesões neste ano. “A aprovação da PEC alinharia o Brasil aos países do Hemisfério Norte, que incentivam o setor há muitos anos.”
Valor - SP 24/04/2025
Produtos siderúrgicos no Japão tornaram-se mais baratos que a água em peso, com queda acentuada de preço devido à intensa competição entre distribuidores. Isso prejudicou os esforços de consolidação das siderúrgicas, que vinham aumentando os preços.
O preço médio de uma garrafa de 1 litro de água mineral da Suntory Beverage & Food era de 156 ienes (US$ 1,09) em março, um aumento de 5% em relação ao ano anterior, de acordo com o “Nikkei Asia” POS, que coleta informações de vendas de supermercados e outras lojas em todo o país.
O preço de distribuição na região de Tóquio para chapas de aço laminadas a frio de 1,6 mm, amplamente utilizadas na indústria manufatureira e em outras indústrias, é de cerca de 141.500 ienes por tonelada. O preço por quilograma — o mesmo peso de um litro de água — é de cerca de 141,5 ienes, quase 15 ienes mais barato que a água.
Da mesma forma, chapas de aço laminadas a quente de 1,6 mm custam cerca de 117,5 ienes por kg. Ambos os tipos de chapa estão de 4% a 6% mais baratos do que no ano passado.
"Ferro é mais barato que água" já foi uma frase comum na indústria siderúrgica. Com enormes instalações de produção, os fabricantes caíram em uma competição acirrada. Vendas de alto volume e baixo lucro tornaram-se a norma.
Um ponto de virada ocorreu em 2020, quando grandes fabricantes embarcaram em reformas. A Nippon Steel suspendeu ou fechou altos-fornos em todo o país, reduzindo seu total de 15 para 10 no mês passado. A JFE Steel fechou um alto-forno em 2023.
A capacidade anual de produção de aço bruto do Japão em fevereiro totalizou 110 milhões de toneladas, uma queda de cerca de 13 milhões de toneladas, ou 10%, em relação a 2019, segundo o Ministério da Economia, Comércio e Indústria.
A suspensão dos altos-fornos aliviou a superprodução, freando as guerras de preços anteriores. O preço do aço ultrapassou o da água por volta de 2021.
Mas os efeitos dessas reformas perderam força e os preços do aço estão caindo novamente. Um dos fatores é a guerra de preços entre os distribuidores.
"Como há poucas consultas, não temos escolha a não ser vender a preços baixos", disse um executivo de uma atacadista de aço na cidade de Urayasu, na província de Chiba, perto de Tóquio. Na indústria da construção civil, o principal mercado para o aço, as obras estão desacelerando devido à escassez de mão de obra. A demanda também está baixa nos setores automobilístico e de manufatura.
"Muitos distribuidores estão competindo por um pequeno número de pedidos", disse o executivo. "Eles desconfiam uns dos outros e querem vender antes que outras empresas baixem os preços novamente e o mercado entre em colapso."
Um representante de vendas de uma siderúrgica disse que "alguns distribuidores aceitam contratos com preços inferiores ao preço de venda do produtor e, posteriormente, pedem que o produtor reduza o preço."
Uma série de alianças ajudou a reduzir o número de siderúrgicas com altos-fornos para três: Nippon Steel, JFE e Kobe Steel.
Mas o sistema de distribuição de aço é complexo, e estima-se que existam cerca de 1.400 revendedores autorizados em todo o país.
Apenas 24 fusões e aquisições ocorreram no ano passado entre empresas nacionais do setor de vendas e atacado de produtos de aço e metais não ferrosos, relata a Recof Data. Esse número se manteve estável nos últimos 20 anos, em comparação com o aumento geral de 20% na atividade de fusões e aquisições em todo o país, em relação ao ano anterior.
"Muitos atacadistas de aço possuem terrenos nos centros das cidades e, como têm renda com imóveis, podem não sentir a crise de se reestruturar ou fechar as portas, mesmo que seu principal negócio seja a baixa lucratividade", disse um pesquisador de um grande banco.
O número de distribuidores tem sido apontado como um problema há muito tempo. Em um discurso em um encontro da associação de distribuidores de aço em junho de 2024, o executivo-chefe (CEO) da Nippon Steel, Eiji Hashimoto, afirmou que "a reestruturação e a racionalização dos distribuidores são inevitáveis".
Com a redução do excesso de concorrência no lado da produção, o bastão da reforma foi passado para as empresas mais abaixo na cadeia do setor.
"Se os distribuidores não se tornarem mais oligopolistas, isso prejudicará o foco do setor na lucratividade", disse Atsushi Yamaguchi, analista sênior da SMBC Nikko Securities.
A indústria siderúrgica também enfrenta ameaças externas, incluindo as tarifas adicionais de 25% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as importações de produtos siderúrgicos e automóveis. O aço japonês não é apenas exportado como está, mas também processado internamente em automóveis e produtos industriais para exportação, permitindo que a indústria sinta o impacto de ambos os lados.
Yamaguchi estima que a produção anual de aço bruto do Japão, de 83 milhões de toneladas, inclui 34,4 milhões de toneladas destinadas à exportação direta e 20 milhões de toneladas destinadas à exportação indireta.
"Se as tarifas de Trump e o protecionismo global continuarem, no pior cenário, a demanda poderá cair em 4 milhões de toneladas por ano, incluindo exportações diretas e indiretas", disse ele. O número equivale à capacidade de produção de um grande alto-forno.
Os fabricantes já estão respondendo. A JFE anunciou em 2 de abril que suspenderia a produção de um alto-forno por volta de meados de maio. Alguns no setor acreditam que, se a crise econômica continuar, novos cortes de capacidade em larga escala poderão ocorrer. Mas, sem mudanças no setor de distribuição, o impacto sobre os preços do aço seria minimizado.
Diário do Aço - MG 24/04/2025
O Brasil subiu duas posições e assumiu o 13º lugar no ranking das maiores potências industriais do mundo, segundo dados divulgados no fim de março pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONU). O avanço representa uma virada de chave após anos de estagnação.
A subida foi comemorada por representantes da indústria nacional e repercutiu também entre especialistas e empresários da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), um dos principais polos industriais de Minas Gerais. A expectativa é que o novo ciclo de crescimento traga impactos diretos na economia regional, marcada historicamente pela força da siderurgia.
Para especialistas da região, o avanço brasileiro no ranking mundial não é apenas simbólico. Ele pode representar uma oportunidade concreta para alavancar a economia do Vale do Aço, cuja base produtiva é altamente dependente da indústria de transformação, em especial da siderurgia e metalurgia.
José Márcio Gomes Pereira, professor do curso de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário do Leste de Minas (Unileste), destaca que a indústria representa mais de 45% do PIB regional e responde por cerca de 58% da arrecadação de ICMS da RMVA, com Usiminas e Aperam figurando como os principais vetores de geração de emprego e renda.
“Apesar da recuperação recente, a concentração da atividade econômica na siderurgia ainda é um risco para a estabilidade econômica da região, já que a produção está atrelada às flutuações do mercado global”, afirmou.
Lucas Figueiredo, administrador e professor na Faculdade Anhanguera de Ipatinga, ressalta que o novo ciclo de industrialização pode gerar milhares de novos empregos diretos e indiretos na região, especialmente se houver “novos investimentos em tecnologia e expansão, estímulo à criação de startups industriais e novos negócios, especialmente em torno das grandes empresas e fortalecimento de setores como logística, manutenção, metalurgia, energia e serviços técnicos”.
Lucas ainda explica que a preparação da indústria local depende de ações conjuntas, como capacitação profissional, por meio de Senai, universidades e programas de qualificação; incentivos à inovação e digitalização dos processos produtivos e políticas públicas para atração de empresas e retenção de talento.
William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e coordenador estatístico e de pesquisa do Observatório das Metropolizações Vale do Aço/IFMG Ipatinga, acrescenta que há um espaço significativo para atração de novos negócios na região. “A dinamização da indústria e da economia do Vale do Aço são muito mais sensíveis ao mercado de aço e de alumínio do que a produção industrial brasileira em si. Nesse momento, a produção, a venda e a exportação do aço e do alumínio brasileiro vêm batendo recordes, fato que torna possível projetar a expansão progressiva dos empregos industriais no Vale do Aço e, por consequência, dos empregos também no setor de Serviços, que sofrem os impactos indiretos da melhoria do emprego na Indústria”, ressaltou.
Enviada ao Diário do Aço
Para o professor José Márcio Gomes Pereira, é necessária a criação de uma zona de amortecimento da Sudene com o Vale do Aço incluso
Crédito do BNDES pode ser divisor de águas
A liberação de crédito por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é apontada como um dos pilares do novo projeto de reindustrialização. Só em 2023, o banco aprovou R$ 77,5 bilhões em projetos, com previsão de R$ 250 bilhões entre 2024 e 2026. Para José Márcio, isso pode impulsionar a modernização de grandes indústrias da região e, ao mesmo tempo, dar protagonismo a pequenas e médias empresas que carecem de financiamento de longo prazo. “A retomada de crédito junto ao BNDES pode ser um divisor de águas para a economia do Vale do Aço, pois permite não apenas a modernização das grandes indústrias, mas democratiza o investimento, possibilitando que médias e pequenas empresas tenham protagonismo no processo de desenvolvimento regional", explicou.
Lucas Figueiredo também defende que os investimentos públicos podem “incentivar a modernização de máquinas e processos, facilitar expansão de produção e inovação tecnológica, estimular a diversificação industrial e a inserção em novos mercados, e ajudar a gerar empregos e desenvolvimento sustentável local”.
Emprego, logística e riscos de concentração
A exclusão da RMVA da área de atuação da Sudene é vista como um entrave, já que municípios vizinhos usufruem de incentivos fiscais e logísticos que a região não possui. “Para evitar que haja a saída de empresas e a fuga de investimentos da região, torna-se necessário a criação de uma área de amortecimento da Sudene”, defende José Márcio.
Outro gargalo apontado é a precariedade da BR-381/MG, que impacta diretamente a logística de escoamento da produção local. A concessão da rodovia à iniciativa privada, com previsão de R$ 10 bilhões em investimentos, é vista com otimismo, mas ainda cercada de incertezas quanto aos prazos e à eficácia das obras. “O aprimoramento da BR-381 é urgente. Sem uma rodovia de qualidade, será difícil ampliar a competitividade da indústria local”, afirmou o professor do Unileste.
Valor - SP 24/04/2025
Produtora do metal investe em inovação para criar demanda em setores estratégicos, como baterias, data centers e até fungicidas para o agronegócio
Lima, da CBMM: Empresa elevou aportes em pesquisa para novas aplicações — Foto: Keiny Andrade/Valor
A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), empresa controlada pela família Moreira Salles e maior produtora de nióbio do mundo, está ampliando suas frentes de atuação em busca de novos mercados para o mineral. Tradicionalmente utilizado na indústria siderúrgica, o nióbio começa a avançar em outras indústrias, como a de sistemas de armazenamento (baterias) e data centers, e caminha para entrar no agronegócio, entre outras aplicações potenciais.
Embora não exista perspectiva de crescimento expressivo na produção global de aço nos próximos anos, a siderurgia continuará sendo o principal destino do nióbio da CBMM. Isso porque há demanda crescente por produtos siderúrgicos de alta performance, nos quais o mineral desempenha papel fundamental ao melhorar propriedades mecânicas, reduzir o peso de componentes e contribuir para a diminuição das emissões de carbono - características valorizadas em setores como construção civil, automotivo e energia.
Em entrevista ao Valor, o presidente da CBMM, Ricardo Lima, conta que a empresa vem elevando os aportes em pesquisa para desenvolver novas aplicações. A estratégia é “criar demanda” para o mineral a partir dos novos usos e, assim, incrementar produção e oferta. Hoje, o mercado global está estimado em 128 mil toneladas - ainda limitado quando comparado a outro mineral da transição energética, o lítio, cuja demanda mundial foi dez vezes maior no ano passado.
Ao apostar em inovação, o objetivo é repetir o sucesso que tivemos com o setor de aço em novas indústrias”
— Ricardo Lima
Em 2024, o investimento da CBMM em P&D foi de R$ 260 milhões. Para este ano, a expectativa é manter o mesmo nível de desembolso. “Temos um grupo de pessoas com conhecimento complementar ao nosso conhecimento tradicional, acumulado ao longo de 70 anos na siderurgia, justamente para repetir esse sucesso em novas indústrias”, explica Lima. “Neste momento, estamos avançando em projetos com óxidos metálicos de nióbio, como os utilizados em equipamentos de ressonância magnética”, acrescenta.
Nos últimos cinco anos, a CBMM registrou um crescimento de 40% em seu quadro de profissionais dedicados a tecnologia e inovação e um aumento de 50% nos investimentos em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento. Em agosto do ano passado, criou uma nova diretoria, de novos materiais e aplicações, que concentrou projetos inovadores, como o ônibus elétrico movido a bateria de nióbio, com carregamento ultrarrápido, desenvolvido em parceria com a Toshiba - o protótipo foi apresentando em 2024.
Hoje, cerca de 96% da produção da CBMM é destinada à exportação, o que reforça o espaço para crescimento no consumo doméstico de nióbio - tanto na siderurgia quanto nos segmentos emergentes, como o de baterias e infraestrutura digital.
Segundo Lima, o potencial estratégico do mercado brasileiro, mesmo com a demanda interna ainda modesta, poderia crescer, especialmente diante da qualidade do aço produzido localmente e das novas aplicações tecnológicas em desenvolvimento.
Diretor de tecnologia da empresa, Rafael Mesquita conta que a empresa busca trabalhos em conjunto com os clientes para desenvolver as aplicações do mercado. A planta de Araxá, em Minas Gerais, é um exemplo de tecnologias desenvolvidas com parceiros.
“À medida que vamos para um mundo mais sustentável com novas soluções energéticas, também precisamos de materiais mais avançados”, diz Mesquita. “Só que essas oportunidades não estão prontas e nós fazemos isso com nossos clientes para alimentar uma demanda maior”, afirma.
Dentro da agenda de migração para uma economia de baixo carbono, a eletrificação é fundamental e o nióbio pode ganhar destaque como componente estratégico em sistemas de armazenamento de energia. Sua aplicação melhora a performance eletroquímica, aumentando a vida útil e a velocidade de recarga das baterias.
Para além do uso de baterias em veículos, o uso de sistemas de armazenamento pode estocar energia renovável em momentos em que a demanda é baixa para usar no pico do consumo, mas o tema esbarra na imaturidade institucional do tema, já que não existe regulamentação que normatize as aplicações. O Ministério de Minas e Energia (MME) prometeu um leilão específico ainda em 2025, mas a demanda deve ser baixa já que o governo quer testar essa tecnologia na rede.
Outro nicho seria a utilização no segmento de data centers, em que o mineral contribui para sistemas de armazenamento mais seguros, duráveis e com recarga ultrarrápida - características para estruturas que operam 24 horas por dia e não podem sofrer interrupções. Porém, ainda não há aplicações em escala comercial que comprovem a tese.
No cenário de rápida expansão da inteligência artificial, os data centers podem impulsionar o uso de baterias com nióbio como sistema de “backup”, oferecendo suporte em momentos de instabilidade ou pico de demanda.
O balanço financeiro de 2024 mostra que a empresa foi beneficiada principalmente pelo maior volume de vendas. A receita líquida cresceu 17,1%, para R$ 13,4 bilhões, com lucro líquido praticamente estável em R$ 5 bilhões. Com alavancagem financeira, medida pela relação entre dívida líquida e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), abaixo de 1 vez, a companhia se vê em posição confortável para financiar futuras expansões ou assegurar investimentos anuais da ordem de R$ 250 a R$ 270 milhões em pesquisa e desenvolvimento.
É o caso de frentes de estudos em fase de amadurecimento tecnológico, que ainda estão em estágio inicial, para combinação do nióbio a outros materiais ou seu uso na agricultura. Junto a uma startup, a empresa está testando o mineral como fungicida.
A guerra tarifária entre Estados Unidos e China intensificou os temores de uma recessão global e poderia impactar indiretamente a CBMM, cuja principal frente de exportação está concentrada em países asiáticos. Apesar do cenário, seus executivos não preveem retração na demanda, uma vez que mais da metade da produção mundial de aço continua concentrada na China, onde eles veem uma tendência crescente de sofisticação do mix de produtos - fator que favorece o uso do nióbio.
IstoÉ Dinheiro - SP 24/04/2025
O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Nilton David, expressou nesta quarta-feira, 23, preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação, embora os juros estejam no nível mais contracionista dos últimos tempos.
“Embora a inflação no Brasil não seja tão alta quando você a compara com a de outros países, ela é claramente mais persistente”, comentou o diretor do BC.
Na sequência, ele frisou a preocupação com as expectativas de inflação. “Está um pouco mais alta para este ano, e depois diminuindo um pouco em 2026. Isso é meio que um ponto de atenção para nós. O Banco Central tem muitas inquietações em algumas frentes, e esta é certamente uma delas: o comportamento das expectativas”, ressaltou.
Ele reforçou que incomoda ao BC o fato de as expectativas de inflação terem subido no Brasil, descolando-se de pares. De acordo com Nilton David, o BC não espera uma queda da inflação nas próximas semanas ou meses, e provavelmente o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, terá de escrever uma carta novamente por descumprimento da meta de inflação.
Durante palestra em seminário promovido pelo JP Morgan, em Washington, em paralelo às reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), o diretor do BC assinalou ainda que o real só se tornou a moeda com maior carry trade na virada do ano, época em que o estresse no mercado com a política fiscal levou a uma forte depreciação cambial.
Ao abordar as surpresas do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) por quatro anos consecutivos, Nilton David comentou que há convicção de que o Brasil cresce acima do seu potencial há dois anos. Apesar disso, ele entende que a atividade econômica, conforme sugere o IBC-Br, excluindo a agropecuária, parece ter atingido um platô nos últimos seis meses, um sinal, assim, de que o aperto da política monetária está funcionando.
“Há alguns sinais de que a política monetária está, sem dúvidas, funcionando”, comentou o diretor, observando também que o crédito livre parou de crescer e que a inflação implícita caiu bastante desde março.
O BC, afirmou, tem consenso na ideia de que o juro está em nível contracionista. “A Selic estava contracionista no fim do ano; decidimos ir mais longe por incerteza e adversidade”, pontuou. “A política monetária brasileira é hoje a mais contracionista dos últimos tempos”, acrescentou David. Ele pontuou que a elevação da Selic em 300 pontos-base, parcelada em três reuniões do Copom, foi uma espécie de ‘front-loading’ do ciclo de aperto monetário.
Repasse cambial
O diretor de Política Monetária do Banco Central disse também que a magnitude do repasse cambial para os preços no Brasil é da ordem de 10%, ou um pouco menor, nas estimativas da autarquia.
“Vimos alguém dizer que poderia ser de 30%, mas isso definitivamente não está no nosso radar”, afirmou David.
Ele destacou, no entanto, que o repasse cambial para os preços tende a ser mais pronunciado quando não há ociosidade na economia, como é o caso do Brasil.
Exame - SP 24/04/2025
Nas últimas semanas, com a tempestade provocada pelo presidente Donald Trump nas relações internacionais, ressurgiram teorias conspiratórias sobre uma alegada estratégia da China para submeter o Brasil ao seu controle. Na versão mais simplória e fantasiosa, os chineses querem nada menos do que comprar a Amazônia.
Afinal, quem tem medo da China? O governo brasileiro não tem. Pelo contrário, desde 2009, graças aos esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já em seu primeiro mandato, esse gigante asiático é o nosso principal parceiro comercial. Com o estreitamento cada vez maior dos laços bilaterais, crescem as oportunidades tanto para atração de novos investimentos para o Brasil quanto para a exportação de mercadorias aqui produzidas.
Esses dois movimentos, a um só tempo, favorecem a atuação de nossos empresários, mediante abertura de novos mercados aqui e além-mar, e contribuem para a geração de emprego e renda, com mais qualidade de vida para a população. Trazem modernização, avanços tecnológicos, ganhos de produtividade e sustentabilidade para as empresas, tornando-as mais competitivas e capacitadas a disputar a acirrada concorrência além das fronteiras territoriais. Contribuem com a inteligência, a pesquisa e a inovação resultantes dos investimentos feitos por essa potência asiática durante décadas.
Nessa perspectiva, como ministro de Minas e Energia do Brasil, estive nos últimos dias na pujante cidade chinesa de Shenzhen, um dos maiores centros de tecnologia, inovação e manufatura do planeta.
No domingo de Páscoa, participei de reunião de trabalho com executivos da BYD, potência global na fabricação de carros elétricos e baterias. Garantimos o crescimento da sua atuação no Brasil, em especial na exploração de minerais estratégicos voltados para a transição energética, ampliação do parque industrial e revenda de veículos. Um destaque é o lítio, matéria-prima usada em baterias, do qual detemos a sexta posição no ranking global de reservas conhecidas. Nesse segundo semestre, o governo federal vai realizar o seu primeiro leilão de baterias para armazenamento de energia.
No mesmo dia, para tratar de tema semelhante, reuni-me com diretores da Huawei, que nos apresentaram carregadores ultrarrápidos para veículos elétricos e sistemas fotovoltaicos inteligentes, entre outras soluções tecnológicas que poderão contribuir para a modernização da matriz elétrica nacional.
Uma vez que o governo brasileiro trabalha para favorecer o engajamento empresarial na transição energética, vou dar três exemplos específicos de como nossa economia pode se beneficiar das relações com a China.
O primeiro deles consiste no programa Combustível do Futuro, que lançamos no ano passado. Líder global em biocombustíveis, o Brasil está apto a contribuir com a descarbonização da matriz de transportes da China, detentora atualmente de uma frota de 240 milhões de automóveis, volume previsto para dobrar nos próximos 25 anos. É uma perspectiva extraordinária para os produtores brasileiros de etanol, biodiesel, diesel verde e biometano, destinados a mover carros, caminhões, tratores e máquinas agrícolas naquele país. Estima-se que nosso país deva receber mais de R$ 25 bilhões em investimentos até 2030 somente de montadoras chinesas.
Um segundo domínio é o do hidrogênio verde, segmento no qual o Brasil tem vocação para se tornar um exportador global muito relevante. A China lidera a cadeia produtiva de eletrólise, processo que separa o hidrogênio da água usando eletricidade renovável sem emissão de carbono, e pode ser parceira estratégica para investimentos aqui, transferência tecnológica e acordos de venda antecipada. Começa a estudar acordos de compra antecipada de hidrogênio para descarbonizar sua matriz autointensiva de energia, como a siderurgia.
Em terceiro lugar, vale mencionar a emergente tecnologia de Captura, Uso e Armazenamento de Carbono (CCUS), que também apresenta enorme potencial. Projetos estão previstos em acordos de cooperação entre a Petrobras e a China, que possui escala industrial nessa solução aplicável ao setor de óleo e gás brasileiro.
Há muito a fazer. O ano de 2023 esteve orientado para a reconstrução da política externa brasileira. Nesse sentido, em abril, os presidentes Lula e Xi Jinping se encontraram no Palácio do Povo em Pequim. Assinaram 15 acordos em diversas áreas, incluindo a transição energética e as mudanças climáticas.
Numa declaração conjunta naquela ocasião, os dois líderes afirmaram "que a mudança do clima representa um dos maiores desafios de nosso tempo e que o enfrentamento dessa crise contribui para construir um futuro compartilhado de prosperidade com equidade para toda a humanidade".
Daí, o comprometimento mútuo no documento para ampliar e diversificar a cooperação em áreas como transição para uma economia global de baixo carbono, com fortalecimento de indústrias verdes, mobilidade elétrica e financiamento adequado, entre outras iniciativas convergentes.
Em novembro de 2024, à margem do G20 no Rio de Janeiro, foi a vez de Xi Jinping nos visitar, ocasião em que foram assinados 37 atos e acordos bilaterais. E, agora, o presidente Lula se prepara para nova missão na China.
Passando longe das disputas meramente ideológicas, o Brasil deve seguir seu caminho histórico de diálogo permanente com todos os países do mundo, sem exclusão, preservando o direito de nossa gente de manter o domínio sobre nossas terras, riquezas naturais e estratégicas. A interrupção do diálogo pelo governo anterior nos direcionou para o abismo do isolamento, como párias da comunidade internacional – condição revertida a tempo, felizmente, pela atual administração federal.
Do ponto de vista geopolítico, é fundamental fortalecer os órgãos e mecanismos de governança global, o multilateralismo e o Sul Global, amplificando a cooperação entre países e blocos de nações, sem abrir mão da soberania nacional um segundo sequer.
O Estado de S.Paulo - SP 24/04/2025
Em seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump brincou com a possibilidade de demitir Jerome H. Powell por estar irritado com o fato de o presidente do Federal Reserve (o Banco Central americano) estar agindo muito lentamente para reduzir as taxas de juros. Trump se absteve de fazer isso, mas continuou a atacar publicamente Powell e seus colegas por manterem os custos dos empréstimos muito altos.
O Fed acabou cortando as taxas, mas não por causa da pressão de Trump. A guerra comercial do presidente com a China arriscava abalar a economia dos EUA de forma tão significativa que o Fed agiu preventivamente em 2019 para evitar uma desaceleração dolorosa. Havia pouca desvantagem em fazer isso: a inflação não era uma preocupação remota na época, o que deu às autoridades a flexibilidade para reduzir as taxas três vezes.
Agora, de volta ao cargo, Trump começou novamente a repreender Powell e o Fed, pedindo-lhes que reduzam os custos dos empréstimos. Mas as circunstâncias econômicas atuais são drasticamente diferentes das de 2019, preparando o cenário para um confronto mais intenso entre o Banco Central e Trump.
Na terça-feira, 22, Trump disse que não tinha “nenhuma intenção” de demitir Powell, apesar de tê-lo criticado durante vários dias, chamando o presidente do Fed de “grande perdedor” e dizendo que sua “demissão não pode vir rápido o suficiente!”
Mas é provável que o conflito entre Trump e o Fed continue. De um lado está o Fed, agora muito mais hesitante em reduzir os custos dos empréstimos devido ao receio de que as tarifas de base ampla que Trump anunciou para praticamente todos os parceiros comerciais dos EUA reacendam a inflação e desacelerem o crescimento econômico. Do outro lado está uma Casa Branca que deseja alívio imediato e está tomando medidas para infringir a independência política de longa data do Banco Central.
“Este é um momento de ameaça existencial para a instituição”, disse David Wilcox, membro sênior do Peterson Institute for International Economics, diretor de pesquisa econômica dos EUA na Bloomberg Economics e ex-líder da divisão de pesquisa e estatística do Fed. “Podemos estar prestes a jogar fora um ativo que levou décadas para ser acumulado.”
Os mercados financeiros perceberam, oscilando no que provavelmente é uma prévia parcial das consequências caso Trump cumpra suas ameaças anteriores.
A independência do Fed em relação à Casa Branca é vista como sacrossanta em Wall Street. Ela dá ao Banco Central a capacidade de tomar medidas necessárias, mas às vezes politicamente dolorosas, como aumentar os custos dos empréstimos para mitigar a inflação. Os defensores da independência do Fed afirmam que ela ajuda não apenas a promover uma economia mais estável, mas também um sistema financeiro mais robusto.
Essa independência foi crucial para a capacidade do Fed de controlar a inflação após o pior aumento em décadas na esteira da pandemia. Inicialmente, o Banco Central interpretou mal a extensão da ameaça à inflação representada pela paralisação das cadeias de suprimentos globais e foi forçado a ajustar o curso rapidamente quando ficou claro que estava lidando com um problema muito mais persistente. As autoridades rapidamente elevaram as taxas de juros acima de 5% e as mantiveram lá até o ano passado.
Depois de reduzir as taxas de juros em um ponto percentual, o Fed está agora em um padrão de espera, pois aguarda para ver quais serão os efeitos econômicos das políticas do presidente.
Barra alta para cortes
Mesmo antes do retorno de Trump à Casa Branca, a inflação já estava se mostrando teimosamente rígida. Em fevereiro, o indicador preferido do Fed estava preso em 2,8%.
As tarifas de Trump podem aumentar a inflação e, ao mesmo tempo, prejudicar o crescimento. Essa combinação — que traz o cheiro de estagflação — pode colocar em conflito os objetivos do Fed, estabelecidos pelo Congresso, de buscar uma inflação de 2% e um mercado de trabalho saudável, forçando o Banco Central a fazer o que Powell descreveu recentemente como um “julgamento difícil” sobre o que priorizar.
O recente fracasso do Fed em relação à inflação, juntamente com a incerteza em relação às políticas de Trump, é uma “receita para um Fed que começa tarde e vai devagar”, disse Vincent Reinhart, ex-economista do Fed que agora é economista-chefe do BNY Investments.
Até o momento, a maioria das autoridades do Fed endossou tacitamente essa abordagem, dizendo que podem se dar ao luxo de serem pacientes ao tomar qualquer medida em relação às taxas de juros devido à relativa força da economia dos EUA herdada pelo governo Trump. O Banco Central está preparado para esperar por rachaduras perceptíveis no mercado de trabalho antes de reduzir as taxas — algo que pode levar algum tempo para se concretizar.
As autoridades ainda não falaram em aumentar as taxas em resposta às tarifas de Trump, o que provavelmente reflete seu pensamento de que a retração na atividade econômica será tão significativa que, com o tempo, pesará sobre as pressões sobre os preços. Mas Dean Croushore, que atuou como economista no Federal Reserve Bank da Filadélfia por 14 anos e agora está na Universidade de Richmond, alertou o Banco Central para não descartar essa possibilidade.
“Tenho a sensação de que a inflação vai subir tanto no curto prazo que qualquer ação do Fed para reduzir as taxas não se justificaria, e eles precisam preparar os mercados para taxas mais altas por causa disso”, disse ele.
O presidente dos EUA pode demitir o presidente do Fed?
A perspectiva de um impasse nas taxas de juros já é bastante preocupante, mas os esforços do governo Trump para desafiar um precedente legal que sustenta a independência política do Fed provocaram uma inquietação muito maior.
A Lei do Federal Reserve diz que os membros do Conselho de Governadores do Banco Central, composto por sete membros, só podem ser removidos “por justa causa”, o que é interpretado como má conduta grave e outras violações. Isso é respaldado por uma decisão da Suprema Corte da década de 1930, comumente chamada de Humphrey’s Executor.
O Departamento de Justiça de Trump está agora tentando derrubar esse padrão como parte de uma luta legal mais ampla em relação à recente decisão do presidente de demitir os chefes de várias agências independentes devido a discordâncias políticas. Powell disse que não espera que os casos a serem julgados pela Suprema Corte se apliquem ao Fed, o que sugere que poderia haver algum tipo de exceção para o Banco Central.
“O tribunal tem um caminho disponível se quiser distinguir o Fed, e há algumas razões poderosas para fazê-lo”, disse Daniel K. Tarullo, um ex-governador do Fed que se concentrou em questões regulatórias. Vários juízes conservadores da Suprema Corte, incluindo Brett M. Kavanaugh, Samuel A. Alito Jr. e o presidente da Suprema Corte, John G. Roberts Jr., já sinalizaram em algum momento que podem considerar o Fed como algo distinto, reforçando as perspectivas de que o Fed seja protegido de alguma forma.
Outros pontos de pressão
Além dos processos judiciais iminentes, Trump também procurou, por meio de ordem executiva, interferir na capacidade do Fed de estabelecer regulamentações. O Banco Central é uma das três principais instituições responsáveis por moldar as regras que Wall Street deve cumprir. Embora a ordem executiva tenha isentado as decisões de política monetária, ela representa um desafio complicado para o Banco Central.
Tarullo disse que, se o presidente puder tomar medidas contra o conselho de governadores do Fed por causa de divergências sobre a regulamentação, “então a suposta independência da política monetária dessas mesmas sete pessoas se torna, no mínimo, extremamente obscura”.
Enquanto o governo mantiver políticas que reduzam a independência do Fed, Graham Steele, advogado de longa data especializado em regulamentação financeira, alertou que o “alicerce do que tornou os EUA uma economia tão forte e o porto seguro global” continuará sob pressão.
“O presidente do Fed não precisa ser removido para que alguns desses danos sejam causados”, disse Steele, que também é ex-funcionário do Departamento do Tesouro. Ele acrescentou que só precisa haver “mais atenção e mais perguntas” sobre a possibilidade de isso acontecer ou se o Fed concordaria de alguma forma. “O que vai acontecer no final das contas?”
O Estado de S.Paulo - SP 24/04/2025
A arma secreta da China na guerra comercial é um exército de robôs de fábrica, movidos por inteligência artificial, que revolucionou a manufatura.
As fábricas estão sendo automatizadas em todo o país em um ritmo alucinante. Com engenheiros e eletricistas cuidando de frotas de robôs, essas operações estão reduzindo o custo de fabricação e melhorando a qualidade.
Como resultado, as fábricas da China poderão manter o preço de muitas de suas exportações mais baixo, dando-lhe uma vantagem na luta contra a guerra comercial e as altas tarifas do presidente Donald Trump. A China também está enfrentando novas barreiras comerciais da União Europeia e de países em desenvolvimento, desde o Brasil e a Índia até a Turquia e a Tailândia.
Atualmente, as fábricas são mais automatizadas na China do que nos Estados Unidos, na Alemanha ou no Japão. A China tem mais robôs de fábrica para cada 10 mil trabalhadores do que qualquer outro país, exceto a Coreia do Sul ou Cingapura, de acordo com a Federação Internacional de Robótica.
A iniciativa de automação da China tem sido orientada por diretrizes governamentais e apoiada por grandes investimentos. E à medida que os robôs substituem os trabalhadores, a automação posiciona a China para continuar a dominar a produção em massa, mesmo quando sua força de trabalho envelhece e se torna menos disposta a aceitar empregos industriais.
He Liang, fundador e executivo-chefe da Yunmu Intelligent Manufacturing, um dos principais produtores chineses de robôs humanoides, disse que a China está se esforçando para transformar a robótica em um setor totalmente novo de negócios.
“A expectativa para os robôs humanoides é criar outro setor de carros elétricos”, disse ele. “Portanto, a partir dessa perspectiva, trata-se de uma estratégia nacional.”
Os robôs estão substituindo os trabalhadores não apenas nas fábricas de automóveis, mas também nas milhares de oficinas clandestinas da China.
A oficina de Elon Li em Guangzhou, o centro comercial do sudeste da China, tem 11 funcionários que cortam e soldam metal para fabricar fornos baratos e equipamentos para churrasco. Agora ele está se preparando para pagar US$ 40 mil a uma empresa chinesa por um braço robótico com uma câmera. O dispositivo usa inteligência artificial para observar como um trabalhador solda as laterais de um forno e, em seguida, duplica a ação com o mínimo de intervenção humana.
Há apenas quatro anos, o mesmo sistema estava disponível somente em empresas estrangeiras de robôs e custava cerca de US$ 140 mil. “Antes, eu nunca teria imaginado investir em automação”, disse Li, acrescentando que um funcionário humano “só pode trabalhar oito horas por dia, mas uma máquina pode trabalhar 24 horas”.
As empresas maiores apostam muito mais na automação.
Em Ningbo, uma enorme fábrica da Zeekr, uma montadora chinesa de carros elétricos, tinha 500 robôs quando foi inaugurada há quatro anos. Agora são 820, e muitos outros estão planejados.
Cantando alegremente músicas de Kenny G para avisar qualquer pessoa de sua aproximação, carrinhos robóticos transportam lingotes de alumínio para um elevador automatizado, que eleva os blocos de metal para um forno no topo de uma máquina chinesa de 12 metros de altura. Depois de derretido, o alumínio é moldado no formato de vários painéis de carroceria e outros componentes. Mais carrinhos de robôs e, ocasionalmente, uma pessoa dirigindo uma empilhadeira levam os componentes para um depósito.
Ainda mais robôs levam os painéis para a linha de montagem, onde centenas de braços robóticos, trabalhando em equipes de até 16 pessoas, fazem uma dança complexa para soldá-los em carrocerias de automóveis. A área de soldagem é a chamada fábrica escura, o que significa que os robôs podem operar sem trabalhadores e com as luzes apagadas.
As fábricas da China ainda empregam legiões de trabalhadores. Mesmo com a automação, eles são necessários para verificar a qualidade e instalar algumas peças que exigem destreza manual, como chicotes elétricos. Há coisas que as câmeras e os computadores não conseguem fazer sozinhos. Antes de os carros serem pintados, os trabalhadores ainda passam as mãos com luvas sobre eles e lixam as pequenas imperfeições.
No entanto, algumas das etapas posteriores do controle de qualidade também estão sendo automatizadas com a ajuda da inteligência artificial.
Perto do final da linha de montagem da Zeekr, uma dúzia de câmeras de alta resolução tira fotos de cada carro. Os computadores comparam as imagens com um extenso banco de dados de carros montados corretamente e alertam a equipe da fábrica caso seja encontrada alguma discrepância. A tarefa leva segundos para ser concluída.
“A maior parte do trabalho de nossos colegas envolve ficar sentado em frente a um monitor de computador”, disse Pinky Wu, funcionário da Zeekr.
A Zeekr e outras montadoras chinesas também estão usando a inteligência artificial para projetar carros e seus recursos com mais eficiência.
Carrie Li, uma designer que trabalha no novo prédio de escritórios da Zeekr em Xangai, usa a IA para analisar como as diferentes superfícies internas se cruzarão em um carro.
“Tenho mais tempo livre para abrir minha mente e explorar por mim mesma os tipos de tendências da moda a serem incluídos no interior dos carros”, disse Li.
As fábricas de automóveis nos Estados Unidos também usam automação, mas grande parte dos equipamentos vem da China. A maioria das fábricas de montagem de carros do mundo construídas nos últimos 20 anos foi na China, e um setor de automação cresceu em torno delas.
As empresas chinesas também compraram fornecedores estrangeiros de robótica avançada, como a Kuka da Alemanha, e transferiram grande parte de suas operações para a China. Quando a Volkswagen abriu uma fábrica de carros elétricos há um ano em Hefei, ela tinha apenas um robô da Alemanha e 1.074 robôs fabricados em Xangai.
O rápido avanço da China na robótica de fábrica foi impulsionado de cima para baixo. A iniciativa “Made in China 2025" de Pequim, que começou há uma década, definiu dez setores nos quais a China buscava ser competitiva globalmente. A robótica era um deles.
Para forçar o setor automobilístico a pensar em como usar robôs humanoides com dois braços e duas pernas, por exemplo, as autoridades governamentais de Pequim disseram às principais montadoras no ano passado que alugassem robôs e enviassem vídeos deles realizando tarefas em suas fábricas de montagem.
Os vídeos exigiam muitas tomadas para serem feitos corretamente. Os robôs realizavam apenas tarefas básicas, como a classificação de peças automotivas em um depósito. Mas a iniciativa ajudou a impulsionar as montadoras.
Em uma demonstração do impulso da automação, o governo municipal de Pequim realizou uma meia maratona no sábado para 12 mil corredores e 20 robôs humanoides. Apenas seis robôs terminaram a corrida, e o mais rápido deles levou quase três vezes mais tempo do que os corredores mais rápidos. Mas o evento ajudou a chamar a atenção para os robôs.
No mês passado, o primeiro-ministro Li Qiang, a segunda maior autoridade da China, disse em seu relatório anual para a legislatura que os planos do país para este ano incluiriam um esforço para “desenvolver vigorosamente” robôs inteligentes. A principal agência de planejamento econômico do país anunciou um fundo nacional de capital de risco de US$ 137 bilhões para robótica, inteligência artificial e outras tecnologias avançadas.
Nos últimos quatro anos, os bancos controlados pelo governo da China aumentaram os empréstimos a tomadores de empréstimos industriais em incríveis US$ 1,9 trilhão. Isso pagou a construção de fábricas, bem como a substituição de equipamentos nas fábricas existentes.
As universidades chinesas produzem cerca de 350 mil graduados em engenharia mecânica por ano, além de eletricistas, soldadores e outros técnicos treinados.
Em comparação, as universidades americanas formam cerca de 45 mil engenheiros mecânicos por ano.
Jonathan Hurst, diretor de robótica e cofundador da Agility Robotics, uma das principais fabricantes americanas de robôs, disse que encontrar funcionários qualificados tem sido um de seus maiores desafios. Como estudante de pós-graduação no Instituto de Robótica da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, disse Hurst, ele era um dos dois engenheiros mecânicos.
A rápida adoção da automação pela China preocupa alguns trabalhadores chineses.
Geng Yuanjie, 27 anos, dirige uma empilhadeira na fábrica da Zeekr, onde trabalhou nos últimos dois anos. Ele disse que havia muito menos robôs na fábrica da Volkswagen onde trabalhava anteriormente. Cercado agora por robôs, ele tem poucos colegas de trabalho com quem conversar durante seus turnos de 12 horas.
“Posso sentir a tendência à automação”, disse Geng enquanto observava um carrinho de robô puxar uma prateleira de peças de carro passando por sua empilhadeira. Ele disse que seu ensino médio pode não ser suficiente para que ele se qualifique para aulas de programação de robôs e que se preocupa com a possibilidade de perder seu emprego para um robô algum dia.
“Não é uma preocupação apenas minha - todos se preocupam com isso”, disse Geng.
A automação tem ameaçado e até eliminado empregos em todo o mundo há mais de um século, muitas vezes desacelerando o crescimento da automação. Na China, há menos obstáculos do que em praticamente qualquer outro lugar. A China não tem sindicatos independentes, e o controle do Partido Comunista quase não deixa espaço para dissidências.
Outro fator por trás do impulso da automação na China é a crise demográfica do país.
O número de bebês nascidos a cada ano caiu em quase dois terços desde 1987. Ao mesmo tempo, dois terços das pessoas que completam 18 anos agora se matriculam em uma universidade ou faculdade, uma trajetória educacional que permitiu que uma nova geração aspirasse a carreiras fora do trabalho fabril.
“O dividendo demográfico da China acabou”, disse Stephen Dyer, chefe da prática industrial asiática da AlixPartners, uma empresa de consultoria. “Eles agora estão em um déficit demográfico, e a única maneira de sair disso é a produtividade.”
IstoÉ Dinheiro - SP 24/04/2025
O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Nilton David, avaliou nesta quarta-feira, 23, que é quase impossível ignorar a possibilidade de uma recessão global em decorrência das tarifas anunciadas pelo governo norte-americano. Segundo o diretor, o esfriamento da atividade econômica global pode, por outro lado, ajudar o Produto Interno Bruto (PIB) a voltar ao seu potencial, tirando assim a pressão sobre a inflação.
“Esperamos que isso seja uma fonte de resfriamento no nível de atividade também. Isso será meio que útil na nossa movimentação para trazer a atividade de volta para o seu potencial ou abaixo dele”, comentou Nilton David, durante palestra em seminário do JP Morgan, realizado em Washington em paralelo às reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O diretor do BC comentou que as tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump no dia 2 de abril, embora fossem uma promessa eleitoral precificada pelo mercado no primeiro trimestre, surpreenderam, levando a realocações de portfólio. “Ainda estamos no meio de uma mudança de portfólios”, pontuou o diretor do BC, acrescentando que vê uma redução da atividade nos EUA e muito provavelmente no mundo. “É quase impossível não contemplar a possibilidade de uma recessão por tarifas”, concluiu.
Preços nos EUA
O diretor de Política Monetária do Banco Central disse também que as incertezas relacionadas às tarifas anunciadas nos Estados Unidos aumentaram e é possível dizer que os preços vão subir na maior economia do mundo, mas os efeitos sobre a inflação como um todo ainda são incertos.
“O tempo passou, e ao invés de ter uma redução da incerteza, como se esperaria, ela na verdade aumentou porque não sabemos o que será feito. Mas sabemos que os preços nos Estados Unidos têm de subir. Se isso vai gerar inflação ou não, ainda está por ver, por causa da renda disponível sendo retirada. E claro, existe alguma elasticidade”, comentou David.
Ao ponderar que a “única certeza que temos é que a incerteza aumentou”, Nilton David observou que os EUA devem aumentar os preços internamente, uma vez que as tarifas parecem ter impacto regressivo.
Ele frisou que as tarifas podem começar a afetar cadeias de suprimentos se as elevações de barreiras comerciais anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos se confirmarem.
O diretor pontuou que China e EUA têm, cada um, 10% do comércio global, ao passo que o comércio global brasileiro é equilibrado, embora tenha grande participação da China. Mas no mercado de capitais, a participação americana é de 70%.
“Se os EUA saírem do comércio global seria complicado; saírem dos investimentos seria mais complicado”, comentou Nilton David, acrescentando que a magnitude de ajuste de preços de mercado nos EUA foi muito alto. “É difícil não imaginar que mudanças de portfólio estejam afetando expectativas no mercado”, assinalou.
Infomoney - SP 24/04/2025
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, afirmou nesta quarta-feira que a recente desaceleração da atividade econômica no Brasil, que, segundo ele, tem caminhado para um “platô”, é um sinal de que a política monetária está funcionando.
Falando em seminário do JP Morgan, às margens das reuniões de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, David ressaltou, por outro lado, que a inflação continua sendo um fator de preocupação para a autarquia, uma vez que não deve recuar nos próximos meses.
“A atividade econômica atingindo um platô ou desacelerando um pouco é um sinal de que a política monetária está funcionando. Estamos vendo isso há sinais de que a política monetária está definitivamente funcionando”, disse David.
“(Mas) acredito que já foi dito antes, e eu já disse duas vezes, que não esperamos que a inflação caia nas próximas semanas ou meses.”
A atividade econômica brasileira, medida pelo Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC, teve em fevereiro alta de 0,4%, em dado dessazonalizado, desacelerando em relação à alta de 0,9% registrada em janeiro.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no entanto, acelerou na base anual em março, chegando a 5,48%, de 5,06% no mês anterior. A meta oficial é de 3,0% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O diretor ainda apontou que existe um consenso entre os membros do BC de que o atual patamar da taxa básica de juros, a 14,25% ao ano, é de fato contracionista.
“Temos um super consenso de que estamos em território contracionista”, disse.
Em sua mais recente reunião de política monetária, o BC elevou a Selic em 1 ponto percentual pelo terceiro encontro consecutivo, como havia sinalizado anteriormente, e orientou apenas que seu próximo movimento deve ser um aumento de menor magnitude.
Segundo David, o atual nível de incerteza no cenário internacional, em decorrência das tensões comerciais geradas pelas tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não permite que a autoridade monetária forneça uma orientação sobre os próximos movimentos da Selic.
“Para fazer um ‘guidance’, você precisa ter muita certeza de onde você quer estar e porque. Estamos longe disso, é muito pelo contrário”, afirmou o diretor, acrescentando que o cenário incerto torna mais difícil o trabalho do Banco Central em controlar a inflação.
Ele disse que o objetivo do BC é trazer a inflação para a meta ao menor custo possível para a sociedade, mas que uma demora na convergência dos preços para a meta pode gerar uma deformação permanente e custosa no longo prazo.
INTERVENÇÕES CAMBIAIS
No seminário, David defendeu que a autarquia precisa de várias ferramentas para reagir a cenário em que o mercado de câmbio se torna disfuncional, ressaltando que o câmbio é flutuante no país e que as reservas internacionais servem como proteção em momentos com esses.
“Nós temos que ter diferentes ferramentas para reagir quando os mercados ficam em condições disfuncionais”, apontou.
Em dezembro do ano passado, a autoridade monetária vendeu um total de 32,6 bilhões de dólares ao mercado, considerando operações de linha e operações de venda de moeda sem compromisso de recompra, em meio também a uma disparada do dólar.
A desvalorização da moeda brasileira veio na esteira da reação negativa do mercado ao duplo anúncio pelo governo no fim de novembro de um pacote de medidas de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda, o que elevou as preocupações com o controle das contas públicas.
Globo Online - RJ 24/04/2025
A América Latina será a região com o menor crescimento a nível global este ano, com 2,1%, e o Brasil deve crescer menos do que se esperava no início do ano, alertou o Banco Mundial nesta quarta-feira. Em uma prévia de seu relatório sobre a América Latina e o Caribe, a organização financeira internacional destacou o baixo investimento, a alta dívida e a volatilidade global como obstáculos ao seu desenvolvimento.
As estimativas para 2024 indicam que a pobreza monetária caiu para 24,4% da população na América Latina e no Caribe, ante 25% em 2023. Mas o Banco Mundial espera que a desigualdade permaneça alta.
"O cenário econômico global mudou drasticamente, marcado por níveis crescentes de incerteza", disse Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, citado em um comunicado.
"Os países devem recalibrar suas estratégias e pressionar por reformas ousadas e práticas que aumentem a produtividade e a competitividade", acrescentou.
Inteligência artificial
O desenvolvimento da inteligência artificial, que é motivo de preocupação para alguns setores das economias avançadas, "se espalha mais lentamente" na região, onde entre 26% e 38% do emprego está exposto a essa tecnologia, observa o Banco Mundial.
Entre 7% e 14% dos empregos na América Latina poderiam ser mais produtivos por meio de melhorias na inteligência artificial, especialmente em setores como educação, saúde e serviços pessoais, argumenta. A transição energética também tem consequências para a demanda de mão de obra.
"O emprego em setores com emissões relativamente baixas de gases de efeito estufa ainda é baixo, em torno de 10%", enquanto naqueles com altas emissões, como a agricultura, "é mais generalizado".
As políticas de Trump terão um impacto que vai além da guerra comercial se ele conseguir cumprir sua promessa de realizar a maior deportação de imigrantes em situação irregular da história dos Estados Unidos.
Por enquanto, as regulamentações de imigração mais rígidas nos EUA redirecionaram os fluxos migratórios.
"Aproximadamente 20% dos novos migrantes vão para os Estados Unidos", que continua concentrando a maior quantidade, "61% para outros países da América Latina e do Caribe, e o restante para partes da Europa", calcula o relatório.
Os fluxos de remessas continuam altos em alguns países: representam mais de 15% do PIB na Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, Haiti e Jamaica.
O Estado de S.Paulo - SP 24/04/2025
Não bastasse alienar parceiros históricos, intimidar servidores públicos e cinicamente ignorar determinações da Suprema Corte, o presidente dos EUA, Donald Trump, tem se dedicado com especial afinco, nos últimos dias, a fazer exigências descabidas a Jerome Powell, que preside o Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
Para Trump, as taxas de juros nos EUA deveriam cair imediatamente porque o país “está ficando rico com as tarifas” e a inflação é “virtualmente” inexistente. Na visão trumpista, os juros não caem porque Powell é um “grande perdedor”, que está sempre atrasado quando se trata de reduzir taxas, e que age politicamente em benefício dos democratas.
Foi o próprio Trump, durante sua primeira passagem pela Casa Branca, quem indicou Powell para presidir o Fed. Não tardou, porém, para que, descontente com o aumento dos juros promovido por um banco central independente e que tem por obrigação, determinada em mandato, manter a estabilidade de preços, o republicano passasse a tratar Powell como um inimigo mortal.
Já àquela época, Trump flertou publicamente com a ideia de demitir Powell, simplesmente porque na cabeça do republicano quem entende de política monetária é ele mesmo, e não um banco central cuja função é manter o maior nível de emprego possível com taxa de inflação estável.
Mas Powell não apenas seguiu no comando do Fed, o que só comprova a importância de bancos centrais serem independentes, como foi mantido no cargo quando o democrata Joe Biden substituiu Trump na presidência. Durante o governo de Biden, o Fed elevou os juros mais de uma dezena de vezes. Não se tem notícia de que Biden tenha politizado as decisões do Fed como faz Trump descaradamente.
De volta à Casa Branca, Trump não só voltou a pressionar Powell – que já disse que seguirá à frente do Fed até o fim de seu mandato, em maio de 2026 –, como faz parecer que estuda meios de interromper o mandato do presidente do Fed.
Logo, não surpreende que os ativos norte-americanos, historicamente um porto seguro para os investidores, estejam atravessando uma tempestade poucas vezes vista. Desde a posse do republicano até 21 de abril, o S&P 500, principal índice das bolsas dos EUA, já caiu 14%. Ou seja, nesse período Trump conseguiu uma façanha nada invejável: o pior desempenho do S&P 500 para qualquer presidente desde 1928, época da Grande Depressão, quando teve início a série histórica.
Além disso, o dólar está no nível mais fraco em relação ao euro em quase três anos, enquanto o ouro superou pela primeira vez a cotação de US$ 3.500 por onça troy.
Diante da insanidade das tarifas de Trump e dos ataques ao Fed, os investidores buscam ativos mais seguros, um movimento muito conhecido em mercados emergentes, que agora é a realidade do maior mercado de capitais do mundo, como alertou o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers.
Outra radiografia de que a voluntariosa política econômica de Trump está semeando caos e destruição veio do Fundo Monetário Internacional (FMI), que em versão atualizada de seu relatório de perspectivas econômicas reduziu de 2,7% para 1,8% a previsão de crescimento do PIB dos EUA em 2025 por conta das incertezas provocadas pelas tarifas de Trump. Já a economia global deve crescer apenas 2,8% neste ano – em janeiro, o FMI estimava expansão global de 3,3% em 2025.
À medida que a realidade se impõe, Trump tenta jogar no colo de Powell uma responsabilidade que é inteiramente sua. O tresloucado plano econômico do republicano deve levar os EUA a uma recessão mais para a frente, provavelmente arrastando o mundo consigo.
Assim funciona o populismo, de direita ou de esquerda. No Brasil de Lula da Silva, por exemplo, o presidente do Banco Central foi acusado de ter “lado político” e de trabalhar para “prejudicar o País” por manter uma política de juros conservadora – que servia justamente para conter a inflação atiçada pela gastança do governo. Nem Lula nem Trump gostam da independência do BC, e a razão disso é clara como o dia: instituições sólidas freiam a demagogia.
Valor - SP 24/04/2025
China é o principal país comprador do produto brasileiro, que possui alto teor de ferro e contribui para processo de descarbonização de siderúrgicas
Pedro Dias Leite (à esq.), da CBN; o ministro Alexandre Silveira; Daniel Abdo, da Sigma Lithium; Liu Jianfeng, da CMOC; Liu Qiang, da CIFF; Tracy Xie, da Vale China; e Joe Zhao, do Yongfeng Group — Foto: Heka Producciones/Valor
O interesse chinês pela indústria mineral brasileira é crescente. “Estamos buscando mais oportunidades de investimentos no Brasil e na América Latina”, afirmou Liu Jianfeng, diretor de investimentos da CMOC Group, durante o “Summit Valor Econômico Brazil-China 2025”, em Xangai.
A China Molybdenum Company (CMOC) é uma das maiores mineradoras mundiais. No Brasil, tem ativos de minério de fosfato, insumo de fertilizantes, em Ouvidor (GO). E explora nióbio em Catalão, também em Goiás.
Em 2024, a CMOC produziu 10 mil toneladas de nióbio no Brasil, o que representou 11% da produção global. O nióbio é capaz de aumentar a resistência de ligas metálicas, por isso é muito utilizado na indústria automobilística, naval, petroquímica e de infraestrutura.
“Estamos muito otimistas com o potencial brasileiro e temos no momento uma equipe dedicada à busca de novos projetos no país”, afirmou Jianfeng, no painel sobre o setor de mineração e aço, mediado pelo diretor-executivo de jornalismo da CBN, Pedro Dias Leite.
Os planos da CMOC se somam a outros investimentos dos asiáticos no país. Em fevereiro, a MMG Singapore Resources adquiriu os negócios de níquel da Anglo American, uma transação de US$ 500 milhões. Em novembro de 2024, a China Nonferrous Metal Mining (CNMC) comprou por US$ 340 milhões a mineradora Taboca, que explora estanho no Amapá. Outro negócio recente foi o investimento de US$ 186 milhões da Huaxin Cement na aquisição dos ativos da pedreira Embu S.A..
O ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, informou que o Brasil contará ainda neste ano com uma política nacional de minerais críticos para a transição energética, com objetivo de atrair mais investimentos (ver ao lado).
O país é detentor de importantes reservas de minérios e a China é o principal cliente do produto brasileiro. De acordo com o Instituo Brasileiro de Mineração (Ibram), em 2024 o país asiático foi o destino de 71,2% das exportações de minério de ferro do país, 70,8% do manganês, 45% do nióbio, 25,7% do cobre e 21,2% do alumínio.
Daniel Abdo, diretor de relações internacionais e novos negócios da Sigma Lithium, empresa que processa lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), diz que a procura chinesa é crescente. “Temos uma cadeia produtiva sustentável que gera um grande apelo comercial”, disse. A capacidade anual de 270 mil toneladas de lítio concentrado da companhia está prevista para dobrar até o fim de 2025.
Segundo Tracy Xie, CEO da Vale China, a mineradora destinou ao país asiático 187 milhões de toneladas de minério de ferro em 2024, o que representou mais de 60% de suas exportações do minério.
Para Liu Qiang, diretor-geral da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF) na China, a qualidade do minério de ferro brasileiro, que permite uma produção de aço mais sustentável (por seu alto teor de ferro), é valorizada pelas siderúrgicas chinesas, que estão empenhada na descarbonização de seus processos. A indústria do aço é responsável por 15% das emissões de carbono na China.
A Vale, acredita Xie, pode colaborar no processo com a oferta de briquete de minério de ferro, desenvolvido pela companhia, capaz de reduzir em até 10% as emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos altos-fornos siderúrgicos.
“Antes as siderúrgicas chinesas só se preocupavam com volume na aquisição do minério de ferro. Hoje estão empenhadas em insumos de melhor qualidade para aumentar a sustentabilidade dos produtos”, diz Joe Zhao, diretor de estratégia da siderúrgica Yongfeng Group.
Segundo ele, a indústria do aço chinesa passa por uma transformação. Hoje mais de 50% do aço do país é voltado à construção civil. Mas a redução do ritmo de crescimento da população indica uma menor demanda por imóveis. Por outro lado, o consumo de aço pela indústria automotiva cresce, assim como da indústria de equipamentos para gerar energia renovável, o que deve manter o interesse chinês pelo minério de ferro brasileiro.
O summit é uma realização da Editora Globo e do Valor Econômico, em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e a Caixin Global; com patrocínio máster de BRF Marfrig; patrocínio de Cedae, ApexBrasil, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Prefeitura do Rio de Janeiro, CNA/Senar, BYD e Huawei; e com apoio de Eletromidia, Vale, CNI, governo do Estado de São Paulo, Portos do Paraná, Suzano, Prefeitura de São Paulo e Fiesp.
Money Times - SP 24/04/2025
A Vale (VALE3), que divulga o balanço do primeiro trimestre nesta quinta-feira (24), após o fechamento do mercado, deve entregar um resultado pouco empolgante, segundo analistas.
O período que compreende o balanço foi marcado por preocupações persistentes com a China e a ausência de catalisadores no curto prazo, além da expectativa sobre os impactos da guerra comercial na economia global.
A mineradora já indicou o que pode entregar no período ao reportar os dados de produção e vendas, com uma queda sazonal na produção de minério de ferro, impactada por um volume de chuvas acima do normal e questões como licenciamento e manutenção. A Vale, no entanto, conseguiu aumentar as vendas anuais de minério de ferro utilizando sua estratégia de estoques
De acordo com o BTG Pactual, a companhia deve ter um lucro líquido US$ 2,2 bilhões, revertendo o prejuízo de US$ 694 milhões registrado no trimestre imediatamente anterior e acima dos US$ 1,7 bilhão observados no mesmo período do ano passado.
O banco projeta receita líquida de US$ 8,4 bilhões, o que representa uma queda de 17% em relação ao trimestre anterior e de 1% na comparação anual. O Ebitda, excluindo os efeitos relacionados a Brumadinho, está estimado em US$ 3,2 bilhões, com retração de 23% na base trimestral e de 9% em relação ao mesmo período do ano passado.
“Apesar de continuarmos a ver avanços na tese micro da companhia — tanto operacionalmente quanto em relação à mitigação de riscos importantes nos últimos meses —, nossa visão cautelosa sobre o cenário de minério de ferro ainda sustenta nossa recomendação neutra”, disse o banco.
Segundo a Genial, a receita líquida da Vale deve chegar a US$ 8,1 bilhões, queda de 4% na base anual, enquanto o lucro líquido projetado é de US$ 777 milhões, uma queda de 54% em relação ao 1T24, mas revertendo o prejuízo do trimestre anterior.
Para o Bradesco BBI, o Ebitda ajustado da Vale deve cair 24% na comparação trimestral e 10% na base anual, atingindo US$ 3,1 bilhões. A receita líquida projetada é de US$ 8,13 bilhões, queda de 19,7% em relação ao quarto trimestre de 2024 e de 3,8% na comparação anual. O lucro líquido esperado pelo banco é de US$ 1,62 bilhão, revertendo o prejuízo de US$ 694 milhões registrado no 4T24, mas ainda 3,8% menor que o lucro do 1T24.
Produção da Vale
A Vale teve queda na produção no 1T25 tanto em relação ao 4T24 quanto ao 1T24, impactada por chuvas acima da média e entraves com licenciamento e manutenção. Ainda assim, aproveitando sua estratégia de gestão de estoques, a companhia conseguiu elevar os embarques em 3,6% na comparação anual, para 66,1 milhões de toneladas, apesar da queda de 18,5% no trimestre.
Os preços realizados foram pressionados por prêmios mais fracos para finos e pelotas, reflexo da menor oferta do Sistema Norte e da baixa disposição da China em pagar por qualidade. A estratégia da Vale de priorizar mix e precificação foi vista como prudente, embora o mercado ainda demande mais clareza.
Nos metais básicos, os embarques de cobre e níquel vieram 2% acima das estimativas, mas sem impacto relevante nos resultados.
Revista Mineração - SP 24/04/2025
Com a reativação do Concentrador 2 e a implementação de mais uma planta de filtragem de rejeitos no Complexo de Germano (MG) no fim de 2024, a produção de pelotas e finos de minério de ferro da Samarco alcançou um novo recorde, desde a retomada operacional em 2020.
No primeiro trimestre de 2025 (1T25), foram produzidas mais de 3,2 milhões de toneladas (Mt), representando um aumento de 39% na comparação anual e o maior volume trimestral desde a retomada.
No 1T25, a Samarco comercializou 2,8 Mt de minério de ferro, um crescimento de 15% nas vendas em relação ao primeiro trimestre de 2024 (1T24). Em comparação ao trimestre anterior, houve uma leve queda de 4%, refletindo o adiamento de embarques para abril, no curso normal das operações. Estes estoques serão convertidos em vendas ao longo dos trimestres seguintes.
A mineradora informou ainda que o preço médio de venda das pelotas de minério de ferro foi de US$ 141,90/t no 1T25, uma redução de 20% na comparação anual e aumento de 2% em relação ao trimestre anterior, em linha com as tendências atuais de preços no mercado global de minério de ferro.
Samarco dobrou a capacidade produtiva instalada
Em dezembro de 2024 a Samarco anunciou a duplicação da capacidade produtiva instalada, após a reativação do Concentrador 2 e a implementação de mais uma planta de filtragem de rejeitos no Complexo de Germano (MG).
Para essa nova etapa do plano de retomada operacional gradual, a Samarco também reativou mais uma usina de pelotização, no Complexo de Ubu (ES), em agosto do ano passado.
Segundo a empresa, foram investidos R$ 1,6 bilhão em novas tecnologias, seguindo o planejamento pautado pela segurança e sustentabilidade.
Globo Online - RJ 24/04/2025
O governo dos Estados Unidos estuda isentar autopeças das tarifas sobre importações chinesas, em uma tentativa de aliviar pressões sobre a indústria automobilística global antes do prazo de 3 de maio, segundo o Financial Times.
A proposta isentaria as autopeças das tarifas impostas pelo presidente do país, Donald Trump, sobre importações da China como parte de uma medida para conter a produção de fentanil, disseram ao jornal fontes familiarizadas com o plano. A proposta também permitiria que os fabricantes de peças evitassem tarifas sobre aço e alumínio, prática conhecida como “destacking”, segundo o FT.
Uma tarifa de 25% sobre todas as importações de carros produzidos no exterior permaneceria em vigor, e a tarifa de 25% sobre autopeças ainda seria imposta em 3 de maio, segundo a reportagem. A Casa Branca não respondeu a pedidos de comentário.
As ações da General Motors chegaram a subir 6,1% nas negociações após o fechamento do mercado, enquanto as da Ford avançaram 3% e os papéis da Stellantis nos EUA tiveram alta de 6,8%.
Automotive Business - SP 24/04/2025
O mercado de ônibus tem tudo para ser motivo de alegrias para a Mercedes-Benz em 2025. A montadora alemã aposta em mais um ano de alta do setor para se manter na liderança em segmentos estratégicos e buscar crescimento em outros.
Em 2024, o setor como um todo vendeu 22.300 chassis, 10% a mais que 2023 e o melhor desempenho nos últimos 10 anos. No primeiro trimestre de 2025, foram mais de 5.500 ônibus licenciados no país, 35% de alta em relação ao mesmo período do ano passado.
Apesar do começo forte do ano, a Mercedes-Benz aposta que o mercado de ônibus pode concluir 2025 com até 25 mil unidades, o que configuraria alta também na casa dos 10%.
A gente vive um ciclo de crescimento sustentável para o setor de transporte, acredita Walter Barbosa, vice-presidente de vendas, marketing e peças e serviços dos ônibus Mercedes.
Mercedes é líder do mercado de ônibus
Entre os segmentos do mercado de ônibus, o executivo ressaltou o domínio da Mercedes entre os principais. Nos urbanos, que anotou alta de 15% no trimestre (mais de 2 mil unidades), a fabricante alemã confirma mais de 70% de participação.
Na mercado de fretamento, ainda que sobre uma base fraca e alta de 70% (647 ônibus), a Mercedes tem mais da metade de market share. E mesmo os números ruins da categoria de rodoviários não desanimam a empresa.
Nesse segmento, foram apenas 471 unidades, queda de 20% em relação ao primeiro trimestre de 2024. Para a Mercedes, porém, o ano tem tudo para ser promissor para o mercado de ônibus rodoviários.
Ano passado o setor de rodoviário foi muito fora da curva. Apesar dessa queda, vai ser um ano muito bom, aposta Walter.
Segmento de micros é desafio
O desafio da Mercedes para o mercado será o de micro ônibus. O segmento como um todo teve mais mil unidades nos primeiros três meses do ano, e a montadora alemã é a terceira, com 25% de participação sem contar os chassis do Caminho da Escola.
É um mercado bastante desafiador, voltado para o varejo e normalmente orientado pelo menor preço, explica Walter Barbosa.
Mas foi no segmento de fretamento que a empresa concentrou esforços recentes. A categoria teve 657 unidades e, mesmo com a base fraca de 2024, a alta de 70% sinaliza potencial.
A Mercedes respondeu por metade desse mercado de ônibus para fretamentos e lançou o chassi LO 916R. Com versões de entre-eixos de 4,25 metros e 4,80 metros, os modelos são voltados para aplicações rurais.
Os ônibus têm suspensão elevada em 4 cm, pneus de uso misto, bloqueio automático do diferencial, peito de aço para proteção do cárter, entre outros.
Os modelos vão atuar em um subsegmento. Dos 2 mil ônibus de fretamentos do mercado geral previstos para 2025, 10% serão de veículos preparados para uso rural. Volume baixo, mas que pode ser estratégico para as montadoras.
O fretamento rural é um segmento novo, não é um mercado muito grande, mas com demanda que vem crescendo, especialmente no Centro-oeste e no Sudeste, aponta o VP da Mercedes Ônibus.
Eletrificação e descarbonização esbarram na infraestrutura
Elétrico articulado eO500UA já tem encomendas para 2026
A Mercedes também está de olho bem aberto no mercado de ônibus elétricos. Segundo a empresa, a frota de transporte coletivo movido a bateria no Brasil é de 664 unidades (de 2019 para cá). Destes, 449 operam na cidade de São Paulo.
Neste bolo da eletrificação, a Mercedes tem 111 veículos, além de outros 111 chassis fornecidos para a Eletra. Também há ônibus elétricos que rodam em testes em Vitória, Belo Horizonte, Curitiba, além da capital paulista.
A fabricante alemã tem dois modelos urbanos elétricos. O eo500U, para 80 passageiros e 250 km de autonomia. E o recém-lançado articulado eO500UA, para 120 pessoas e com até 300 km de alcance, que já tem encomendas para 2026.
Indiretamente a Mercedes também atua no mercado de ônibus elétricos com os chassis para a linha e-Bus, da Eletra.
Além da concorrência diferente, o segmento de elétricos também implica em um desafio maior para a expansão, que é justamente a infraestrutura. Walter Barbosa pega o exemplo de São Paulo, onde a maioria das garagens dos operadores de transporte estão nas periferia.
Nestas regiões, a rede de energia elétrica trabalha com linhas de baixas tensões, o que inviabiliza o carregamento de muitos ônibus elétricos simultaneamente.
Seriam necessários linhas de média e alta extensão para recarga de uma frota de 100 veículos, por exemplo. O que demandaria criação de subestações e investimentos altos de R$ 150 milhõe a R$ 170 milhões.
Esse é o grande gargalo nesse setor hoje no nosso país, diz o executivo da Mercedes.
Exportações e ônibus andino
Mercedes O500 foi desenvolvido para trafegar em altitudes elevadas
Fora do Brasil, a Mercedes tem veículos elétricos em testes na Argentina, Chile e México. Países importantes no mapa de exportações da fabricante.
Considerada um centro de desenvolvimento de chassis da empresa para o mundo, a Mercedes do Brasil exporta para América Latina e países como África do Sul e Egito.
Depois da Argentina, o segundo maior mercado para as exportações de ônibus da Mercedes é o México. Lá, a marca alemã tem 40% de participação.
Além disso, a empresa celebra o marco de mil unidades vendidas do novo O500, o ônibus andino, preparado para operar em altitudes acima dos 5 mil metros. O modelo usa motor OM460 de 12,9 litros, 480 cv e transmissão de 12 marchas, e foi exportado principalmente para Chile, Peru e Guatemala.
O Estado de S.Paulo - SP 24/04/2025
Após quatro anos seguidos de crescimento abaixo de um dígito, a frota brasileira de veículos aumentou 2% no ano passado em relação a 2023, o melhor desempenho desde o período pré-pandemia. Circulam pelo País atualmente 48 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Descontado o porcentual que deixou de rodar por perda total em acidentes ou desmanches, as cidades brasileiras receberam mais 5,1 milhões de veículos em uma década.
Entre os automóveis, que representam 82% desse total, destaca-se a alta da participação dos modelos híbridos e elétricos, de menos de 0,1% em 2019, quando apareceram pela primeira vez nas estatísticas, para quase 1% em 2024. Embora seja uma fatia ainda pequena, a evolução desses modelos tem sido constante. Em uma década, os eletrificados em circulação pelo País passaram de 2,9 mil para 388,2 mil, um crescimento médio anual de 71,3%.
Em razão dessa demanda, sobretudo por modelos elétricos que ainda não são produzidos no País, houve significativa aceleração nas importações, especialmente da China, maior fabricante mundial de veículos eletrificados. Da frota brasileira, 7 milhões de veículos são importados, o equivalente a 14,7% do total. É a maior participação desde 2018, segundo relatório anual feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), antecipado pelo Estadão.
Sustentável e econômico
Na conta está o , que o diretor de produtos Bruno Calais Christian, de 34 anos, passou a usar no início de março, em sua primeira experiência com um carro elétrico.
Nesse pouco tempo, ele relata as vantagens do novo veículo. “É confortável, gostoso de dirigir, silencioso e sustentável”, diz Christian. Ele também calcula uma economia de cerca de R$ 1 mil por mês com uso de energia em relação ao consumo de gasolina do outro carro da família, uma picape Toro.
Christian instalou uma tomada específica na garagem da casa, na zona Oeste da capital paulista, onde carrega a bateria à noite. Como o carro tem 400 km de autonomia e é usado principalmente para ir ao trabalho e em viagens não muito longas com a família aos finais de semana, o carregamento ocorre em média uma vez a cada dez dias. “E ainda tem a vantagem de não precisar parar várias vezes no posto para abastecer.”
Mais velha
Atribuído à expansão da atividade econômica, à queda do desemprego e ao aumento da renda da população, o crescimento da frota não significa, contudo, uma renovação dos veículos que circulam pelo País nem uma melhora importante, por enquanto, no processo de descarbonização com a chegada mais forte dos eletrificados.
A frota atual tem idade média de 10 anos e 11 meses, a maior desde 1992. Separada, a de automóveis é ainda mais velha, com idade média recorde de 11 anos e 2 meses. “A introdução de novos veículos ainda não é suficiente para promover uma renovação e, por isso, a frota continua envelhecendo”, diz George Rugitsky, diretor de Economia e Mercado do Sindipeças.
Automóveis com até cinco anos de uso, chamados de seminovos, tiveram sua participação reduzida de 37,6% em 2015 para 20,6% no ano passado. Em contraponto, a de modelos com 11 a 15 anos passaram de 15,2% para 31%. Nos últimos três anos, é nessa faixa que está a maioria dos carros de passeio que rodam pelo Brasil. O estudo sobre a frota circulante tem como foco justamente a avaliação potencial de mercado para fabricantes de peças de reposição para os modelos mais antigos.
Segundo o Sindipeças, a participação maior na frota de veículos com idade superior a dez anos pode ser explicada pelos preços mais altos dos automóveis, em parte justificados pela introdução de novas tecnologias e mais itens de segurança. A classe média com poder de compra migrou para os utilitários esportivos (SUVs), que responderam por 48% das vendas de carros novos em 2024. Já o consumidor de baixa renda, antes comprador de carro popular em várias prestações, buscou as motocicletas como alternativa.
A frota dos veículos de duas rodas, que registrou quedas consecutivas por seis anos a partir de 2016, iniciou movimento de alta em 2022, quando cresceu 1,3%. Manteve a trajetória no ano seguinte, com alta de 1,7%, e em 2024 teve um salto de 5,7%, chegando a 14 milhões de unidades. A idade média é de 8 anos. Antes do ciclo de queda, em 2015, era de 6 anos e 5 meses.
Além da questão econômica e das condições não muito propícias para o financiamento - que dificultam para muitas pessoas a troca por um carro mais novo -, o Brasil não tem estruturado um programa de reciclagem dos veículos velhos, ressalta Carolina Godoy, sócia e líder do setor automotivo da PWC Brasil. “Não adianta, por exemplo, trocar um veículo de 15 anos por um mais novo se ele não for para a reciclagem, pois não se estimula a renovação da frota.”
Segundo Carolina, só os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul estão começando a discutir legislações para reciclagem de veículos. Para ela, se o País não tiver uma evolução nesse tema, os próximos relatórios do Sindipeças devem continuar mostrando um envelhecimento da frota. “Será mais fácil observar uma mudança no mix entre veículos a combustão e elétricos, que devem aumentar sua participação, do que a renovação da frota.”
Pessoas x carros
A relação entre o número de habitantes por veículo, que vem apresentando decréscimo há uma década, fechou 2024 em 4,4 pessoas por carro, número que envolve toda a população. Se for levada em conta somente as pessoas economicamente ativas, a relação cai para 2,3.
O comparativo é sempre decrescente porque a taxa de crescimento da frota é maior do que a da população, explica Rugitsky. “Desde que o crescimento populacional começou a estagnar e a população está envelhecendo, a tendência é que essa curva continue decrescendo.”
Em relação a outros países, que só fazem o comparativo pela população total, o Brasil está bem próximo da China, que tem 4,3 habitantes por veículo, atrás de países como Argentina (2,6) e França (1,4) e bem à frente da Índia (15,5).
De acordo com Rugitsky, para que as condições do Brasil sigam melhorando, é preciso avançar em desafios como os da infraestrutura para, por exemplo, evitar frequentes congestionamentos, e melhorar as condições da mobilidade urbana.
“A indústria não enfia veículo goela abaixo da população”, diz o executivo. “Ela demanda e a indústria se ajusta ao tamanho dessa demanda.” Para ele, se o País tivesse transporte coletivo superior ao que tem hoje, a demanda por carros em cidades como São Paulo seria menor.
Tarifaço do Trump
Sobre eventuais impactos no setor automotivo do tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump (no momento suspenso para todos os países exceto a China), Rugitsky avalia que um dos principais riscos é o Brasil começar a receber mais produtos de países como China e México que devem tentar desviar suas produções excedentes para o mercado brasileiro.
Empresas chinesas já estão fazendo isso, ressalta o diretor do Sindipeças. “Elas estão inundando os mercados que ainda têm uma determinada abertura comercial, como o Brasil”. Segundo ele, com o aumento de importados, a produção local cai, afetando as montadoras, as autopeças e os empregos.
O Sindipeças está ao lado da Anfavea (associação das montadoras) no pleito para o governo antecipar a cobrança de 35% de Imposto de Importação para carros elétricos e híbridos (prevista para julho de 2026). “Nosso pleito é voltar imediatamente para 35%, e eventualmente até aumentar, pois se não for assim provavelmente a China vai dominar esse mercado como tem dominado outros continentes.”
Valor - SP 24/04/2025
“O carro elétrico será dominante no Brasil, sim”, afirma Liu Xiaoshi, vice-secretário-geral da plataforma think tank China EV 100
O painel “Reinventando a Indústria Automotiva: A Aceleração dos Veículos Elétricos” encerrou a programação de hoje do “Summit Valor Econômico Brasil-China 2025”, em Xangai. Em 2024, o segmento de carros elétricos e híbridos bateu novo recorde no Brasil, com 177.358 veículos eletrificados emplacados entre janeiro e dezembro, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Desses, exclusivamente elétricos a bateria foram 61.615, representando perto de 35% participação no mercado, entre as outras categorias.
“O carro elétrico será dominante no Brasil, sim”, afirma Liu Xiaoshi, vice-secretário-geral da plataforma think tank China EV 100, que promove o desenvolvimento da indústria dos carros elétricos no país. “O país esteve na vanguarda dos biocombustíveis com o etanol, que ainda continua um caminho avançado na indústria automotiva. A próxima fase é a eletrificação e sem dúvida haverá um aumento na venda dos carros elétricos.”
Para Rodrigo Zeidan, professor da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral, a questão é simples: as empresas chinesas estão indo para o mundo e já estão tomando a Europa. “Elas são supercompetitivas e estão partindo para uma guerra de preços. Enquanto isso, no Brasil, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores [Anfavea] está entrando com um pedido de dumping contra empresas como a BYD, afirmando que estão vendendo muito barato, que não há como competir. As chinesas estão pagando imposto de importação, que gradativamente chegará a 35% em julho de 2026, e as empresas brasileiras, ineficientes, continuam vendendo carros com a cabeça na década de 80.”
A BYD passou a americana Tesla em vendas de elétrico em 2024 - no Brasil, reina líder e só no primeiro trimestre deste ano vendeu mais de 21 mil veículos, segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). Na somatória de 2024, emplacou mais de 75 mil carros. A empresa está construindo em Camaçari, Bahia, a maior fábrica da companhia fora da Asia, em um investimento de R$ 5,5 bilhões.
Outra chinesa que está prestes a iniciar a fabricação de carros no país, em instalações da antiga Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), é a GWM, que investirá R$ 10 bilhões até 2032. No cenário da indústria automotiva no Brasil, em 2024 pela primeira vez uma montadora de elétricos ficou entre as dez primeiras.
“As chinesas estão entrando no Brasil para produzir carros híbridos, mas com planos para os elétricos”, disse Marli Olmos, jornalista do Valor especializada na indústria automotiva e que abriu o painel com dados sobre o cenário brasileiro no setor. Segundo ela, um dos grandes desafios do Brasil é chegar à produção de baterias – atualmente existe a montagem com componentes importados da China. “Precisamos de escala para produção em massa e para baratear esses custos. Enquanto não tivermos um preço acessível, não vamos vender uma quantidade adequada ao tamanho de nosso mercado, que hoje é o sexto do mundo e o oitavo maior produtor de veículos globalmente.”
Fang Li, diretora-executiva para a China no World Resources Institute (WRI) e uma das convidadas do summit, acredita que o carro elétrico é também uma conexão de economias e cita projetos chineses para resolver problemas como os da poluição no Chile e na Colômbia, em que fundos foram usados para a compra de ônibus elétricos. “São mais de 20 mil em uso em Bogotá e 4.000 em Santiago, diminuindo a emissão de carbono. Além disso, a iniciativa também estimula a melhoria na infraestrutura de energia da cidade. A produção de cada carro elétrico também, por exemplo, demanda de 1,5 a 2 toneladas de aço, o que favorece a produção do metal no país.”
A indústria tradicional brasileira, no entanto, pede um freio nesse avanço da importação dos elétricos e reivindica uma alíquota de importação de 35% já. “Ela não está aceitando esse tipo de concorrência e ainda não está preparada para os carros híbridos e elétricos”, afirma Olmos. O grande salto dos elétricos ainda estaria limitado pela questão do preço para o consumidor final, segundo Zeidan. “O carro elétrico já é completamente viável, já tem escala no mundo inteiro. Estamos presos no paradigma da substituição da importação e o Brasil poderia rever esse modelo, estar na economia do século XXI, buscando investimentos de empresas chinesas para transferência de tecnologia. Estamos num momento muito importante do cenário geopolítico mundial, em que temos oportunidades de saltos tecnológicos, e estamos criando barreiras tarifárias. Vamos deixar o futuro passar pela nossa frente. O futuro vai se sobrepor a qualquer coisa que a gente queira.”
O summit é uma realização da Editora Globo e do Valor Econômico, em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e a Caixin Global; com patrocínio master de BRF Marfrig; patrocínio de Cedae, ApexBrasil, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Prefeitura do Rio de Janeiro, CNA/Senar, BYD e Huawei; e com apoio de Eletromidia, Vale, CNI, governo do Estado de São Paulo, Portos Do Paraná, Suzano, Prefeitura de São Paulo e Fiesp.
— Foto: Heka Producciones/Divulgação Valor
Globo Online - RJ 24/04/2025
O retorno do programa Minha Casa, Minha Vida no Rio foi marcado pelo anúncio da construção de 328 apartamentos na comunidade da Mangueira, na Zona Norte da cidade. O lançamento dos dois empreendimentos habitacionais na região foi feito pela Prefeitura do Rio na última terça-feira. A iniciativa, parte do programa do governo federal voltado para famílias de baixa renda, receberá um investimento superior a R$ 50 milhões, com recursos municipais e federais.
Os conjuntos Visconde II e III beneficiarão cerca de mil pessoas de famílias com renda mensal de até R$ 2.850. Cada apartamento terá 44 m² e contará com sala, dois quartos, cozinha, banheiro, área de serviço e varanda. As novas moradias serão erguidas em terrenos que pertenciam ao Ministério da Fazenda, localizados na Rua Visconde de Niterói. As construções serão feitas após cinco anos de atrasado, no local em que ficava o antigo prédio do IBGE — implodido em 2018.
Serão construídos 21 blocos, com quatro andares cada, divididos entre os dois condomínios. O espaço contará ainda com área de lazer equipada com parque infantil, quadra poliesportiva, salão de festas, academias, biblioteca, churrasqueiras e horta comunitária. De acordo com a Prefeitura, os imóveis serão entregues com infraestrutura completa, incluindo redes de água e esgoto, drenagem e energia elétrica.
"A Mangueira é um território simbólico do Rio e enfrenta muitos desafios. Esta obra representa dignidade para quem mais precisa e estava em situação de vulnerabilidade", afirmou o prefeito Eduardo Paes.
O secretário municipal de Habitação, Diego Zeidan, também destacou a importância do projeto:
"Vamos reduzir o déficit habitacional, garantir o direito à moradia para muitas pessoas e levar dignidade aos moradores da Mangueira", disse Zeidan.
Investimentos em urbanização e saúde nas zonas Norte e Oeste
Durante o mesmo evento, a Prefeitura lançou a segunda etapa do programa Morar Carioca nas comunidades Bairro Proletário do Dique e Parque Furquim Mendes, em Vigário Geral. A intervenção prevê obras de infraestrutura como saneamento básico, drenagem, pavimentação e implantação de áreas de lazer.
Na Zona Oeste, em Jacarepaguá, tiveram início as obras de duas novas clínicas da família, nos bairros de Camorim e Taquara. Com recursos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), do governo federal, o investimento total nas unidades é de R$ 14,4 milhões.
As clínicas terão capacidade para atender até 62 mil pessoas com serviços de atenção primária à saúde. A previsão de entrega é abril de 2026.
Cada unidade contará com consultórios médicos e odontológicos, salas de vacinação, exames, curativos, atendimento pré-natal e equipes multidisciplinares formadas por médicos, enfermeiros e agentes comunitários.
A clínica do Camorim será construída na Estrada de Camorim, nº 205, com oito consultórios e investimento de R$ 7,1 milhões. Já a unidade da Taquara será erguida na Praça Waldir Vieira, na Estrada do Engenho Velho, nº 1.359, e contará com dez consultórios, ao custo de R$ 7,3 milhões. Ambas terão nove equipes de saúde da família e três de saúde bucal.
"São duas áreas com as menores coberturas de saúde da família no município do Rio. Elas vão fazer muita diferença na melhoria da cobertura de pré-natal, vacinação, hipertensão e diabetes", destacou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
Infomoney - SP 24/04/2025
As vendas de novas moradias unifamiliares nos Estados Unidos aumentaram mais do que o esperado em março uma vez que os compradores correram para aproveitar a queda nas taxas de hipoteca, mas uma perspectiva econômica sombria representa um desafio para a recuperação do mercado imobiliário.
As vendas de casas novas aumentaram 7,4%, atingindo uma taxa anual ajustada sazonalmente de 724.000 unidades no mês passado, o nível mais alto desde setembro de 2024, informou o Departamento de Comércio nesta quarta-feira. O ritmo de vendas de fevereiro foi revisado para baixo, para uma taxa de 674.000 unidades, em comparação com as 676.000 unidades informadas anteriormente.
Economistas ouvidos pela Reuters previam que as vendas de casas novas, que representam cerca de 14% das vendas de habitações nos EUA, subiram para uma taxa de 680.000 unidades. As vendas de casas novas são contadas na assinatura de um contrato. Elas aumentaram 6,0% em março na comparação anual.
A taxa média da popular hipoteca fixa de 30 anos caiu para 6,65% em março, de 6,76% no final de fevereiro, segundo dados da agência de financiamento hipotecário Freddie Mac.
Mas a taxa vem subindo desde então, atingindo uma máxima de dois meses de 6,83% na semana passada, uma vez que a política tarifária em constante mudança do presidente Donald Trump alimentou temores de crescimento econômico lento e inflação alta, o que levou alguns economistas a duvidar que o Federal Reserve retomará o corte das taxas de juros em junho.
A Tribuna - SP 24/04/2025
O Litoral Sul de São Paulo é atravessado por uma linha férrea de via única, que no passado ligava Santos à cidade de Cajati, localizada no Vale do Ribeira. O eixo de transporte ferroviário, construído em bitola métrica e que operou com serviços ferroviários de passageiros até 2002, passa por municípios como São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Pedro de Toledo. Trechos dessa ferrovia foram reaproveitados para a implantação do VLT na Baixada Santista, mas boa parte do percurso a partir de São Vicente permanece desativada. No entanto, há propostas em andamento para a retomada do transporte ferroviário de passageiros, segundo informações do veículo de comunicação ViaTrolebus.
A responsabilidade pelos estudos será da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que incluiu em seu plano de negócios a meta de ‘desenvolver o projeto da conexão regional entre a Baixada Santista e Cajati até 2028’. Entre as etapas previstas está a realização de um levantamento aerofotogramétrico da área — método de mapeamento da superfície terrestre por meio de fotografias aéreas. A linha férrea, em sua totalidade, possui 161,5 km de extensão.
Apesar de a operadora mencionar uma conexão regional, ainda não está claro se o serviço futuro será operado por trens convencionais, semelhantes aos que já circularam entre São Paulo e Campinas, ou se a demanda estimada indicará o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
A análise de trens leves pela CPTM não é novidade. A empresa já considerou esse tipo de modal na antiga proposta da Linha 14, além da planejada Linha 24 – Quartzo, que deve interligar as regiões do Campo Limpo e Alphaville, na Capital.
Trem Intercidades
O Trem Intercidades (TIC), que conectará São Paulo (SP) à Baixada Santista, terá um investimento estimado de até R$ 15 bilhões e fará o trajeto em até 1h30. As informações foram compartilhadas pela Secretaria de Parcerias e Investimentos (SPI), que revelou três possíveis trajetos para o litoral de São Paulo.
Segundo a Secretaria Estadual de Parcerias e Investimentos (SPI), o projeto foi aprovado em junho de 2024 pela secretaria, mas ainda precisa passar por diversas fases de análise, audiência pública, elaboração de edital, leilão e assinatura de contrato, antes de ser realmente colocado em prática.
O trajeto pode variar entre 80 e 130 quilômetros de extensão, e ter duração de 90 minutos, beneficiando nove municípios e 1,8 milhão de pessoas. Além de impactar diretamente no ‘alívio’ do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI).
Três trajetos
O primeiro trajeto utilizaria a Linha 10 – Turquesa da CPTM até Rio Grande da Serra, seguindo pela ferrovia já existente até Paranapiacaba. A descida da Serra do Mar aconteceria pelo sistema cremalheira, originalmente projetado para transporte de carga e passageiros, aproveitando a infraestrutura ferroviária existente para ligar o planalto ao litoral.
Esse trajeto segue uma rota ferroviária clássica, oferecendo um caminho já estabelecido, embora com desafios técnicos na adaptação para novos serviços.
O segundo percurso partiria da Zona Sul de São Paulo, com duas opções iniciais: seguir pela Rodovia dos Imigrantes ou utilizar a Linha 9 - Esmeralda, ligando-se a uma ferrovia antiga até Parelheiros. A descida da serra seria feita por uma área planejada para a construção de uma rodovia, cruzando os vales dos rios Capivari, Branquinho, Aguapeú e Branco, até se conectar com a ferrovia Santos-Cajati.
O trajeto demandaria obras de infraestrutura, como túneis ou escavações na montanha, mas poderia proporcionar uma conexão direta entre a capital e o litoral.
Conforme informações divulgadas no site da SPI, o projeto prevê a realização da consulta e audiências públicas no terceiro trimestre de 2026, seguida da publicação do edital no quarto trimestre do mesmo ano. Além disso, o leilão está previsto para o segundo trimestre de 2027, com assinatura de contrato terceiro trimestre.
Valor - SP 24/04/2025
Empresa francesa fechou com a Allseas para fornecer tubos para o campo de Búzios, da Petrobras
Philippe Guillemot: “Temos aumentado a produção no Brasil para atender à demanda da Petrobras” — Foto: Divulgação
A francesa Vallourec anunciou nesta quarta-feira (23) a assinatura de um contrato com a empresa de tecnologia submarina Allseas para fornecer tubos para a Petrobras no campo de Búzios. O contrato prevê a venda de 18 mil toneladas dos chamados tubos “sem costura”, que conduzem o petróleo do poço à plataforma. O valor do negócio não foi revelado e os tubos serão 100% brasileiros.
O produto “sem costura” não tem soldas, para evitar vazamentos. O contrato é para o projeto de Búzios 10, na Bacia de Santos. A licitação da Petrobras foi vencida pela Allseas, que contratou a Vallourec para fornecer o material.
A Allseas será responsável por projetar, comprar, construir e instalar a infraestrutura submarina da área. Baseada na Suíça, a Allseas foi fundada em 1985 e tem especialidade em instalação de dutos offshore e outros tipos de serviços em alto-mar. Segundo a empresa, a campanha de instalação deve começar no terceiro trimestre de 2026. A expectativa é de que a produção de petróleo comece em 2028, conforme a Vallourec.
Em nota, a Petrobras disse que para viabilizar a operação foi celebrado, em 22 de dezembro de 2024, um contrato de engenharia, compra, construção e instalação (EPCI, na sigla em inglês) com a Allseas. O contrato envolve, segundo a Petrobras, o fornecimento e a instalação de até 145 quilômetros de dutos rígidos submarinos, com componentes e acessórios. A Allseas, por sua vez, contratou a Vallourec para o fornecimento dos tubos de aço-carbono, que serão fabricados no município de Jeceaba, em Minas Gerais.
O campo de Búzios é o segundo maior produtor do país, atrás apenas de Tupi, também na Bacia de Santos. Com produção desde 2018, o campo atingiu o recorde de 1 bilhão de barris de óleo produzidos em março de 2024. Em fevereiro de 2025, Búzios chegou a um recorde de 800 mil barris de óleo produzidos por dia. O campo é operado pela Petrobras em consórcio com as empresas chinesas CNOOC e CNPC e em parceria com a Pré-Sal Petróleo (PPSA).
De acordo com a Petrobras, o décimo módulo de produção do campo de Búzios tem expectativa de produção diária de 225 mil barris de óleo pela plataforma P-82. Essa será 29ª unidade do pré-sal, que ainda está em construção.
O sistema a ser implementado pela Allseas irá conectar 16 poços à plataforma do tipo FPSO, unidade flutuante que produz, armazena e transfere petróleo. A Allseas será responsável também pelas embarcações que farão a instalação dos tubos produzidos pela Vallourec.
A Vallourec está entre as principais produtoras de tubos desse tipo no Brasil, segundo André Lacerda, vice-presidente da empresa na América do Sul. Conforme o executivo, a companhia busca atender a demandas específicas do setor de petróleo e gás a depender da necessidade. No desenvolvimento de campos do pré-sal, a Vallourec chegou a desenvolver um produto específico para a área, capaz de suportar a maior pressão dos poços em comparação ao pós-sal.
No Brasil há 70 anos, a Vallourec produz e fornece tubos de condução e tubos de completação de poços para a indústria petroleira, além de outros tipos do material para setores automotivos e de infraestrutura. Os tubos de completação fazem parte dos poços. Os tubos de condução são conectados aos poços e se estendem até as plataformas produtoras.
A companhia tem contratos diretamente com a Petrobras, a maioria para casos de tubos de completação de poços, e contratos com terceiros que atendem a estatal. A Vallourec também já fez trabalhos com outras petroleiras que atuam no Brasil, como Shell, Equinor e Total.
Os tubos da Vallourec serão fabricados em Minas Gerais e, conforme Lacerda, terão 100% de conteúdo nacional. “Desde a extração do minério de ferro até a formação do aço e o produto final são etapas feitas no Brasil”, afirmou. A companhia concentra a maior parte das operações brasileiras em Minas Gerais, com uma mina de minério de ferro em Brumadinho (MG), altos-fornos para produção de aço e fábrica de tubos, ambos no município mineiro de Jeceaba.
A empresa francesa tem também uma unidade no Espírito Santo para finalizar os produtos e uma base de operação em Rio das Ostras, no norte fluminense, região conhecida pela atividade petrolífera. Segundo Lacerda, o Brasil é o único país em que a companhia atua de forma integrada em todas as etapas da produção.
Philippe Guillemot, presidente do conselho e CEO da Vallourec, disse que o Brasil é responsável por 40% a 50% da capacidade de produção do grupo. Do volume produzido nas unidades brasileiras, metade é exportado, especialmente para o Oriente Médio. “Investimos € 120 milhões [cerca de R$ 785,6 milhões] entre 2022 e 2024 para levar as unidades brasileiras a produzirem produtos de alto valor agregado”, disse. “Temos aumentado a produção no Brasil para atender à demanda. Nosso principal cliente é a Petrobras.”
A Vallourec não divulga dados de faturamento no país. Para os próximos anos, segundo Guillemot, o plano da empresa é de investir o quanto for necessário para atender à demanda. Responsável pela operação brasileira, Lacerda diz que vê com entusiasmo os planos da Petrobras de revitalizar a Bacia de Campos, além dos projetos de exploração de novas áreas.
Valor - SP 24/04/2025
Segundo o PDE 2034, a Foz do Amazonas é apontada por especialistas como promissora; a Margem Equatorial é alvo de atenções em razão da expectativa com o licenciamento ambiental do Ibama
O pico de produção de petróleo no Brasil deve ser atingido em 2030, quando serão extraídos 5,3 milhões de barris por dia (barris/dia), começando a declinar nos anos seguintes, chegando a 4,4 milhões de barris/dia em 2034, de acordo com o novo Plano Decenal de Expansão da Energia 2034 (PDE 2034), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
O PDE 2034 apresenta as perspectivas da expansão do setor de energia para os próximos dez anos — neste caso, considera o cenário entre 2025 e 2034. O Ministério de Minas e Energia (MME), a quem a EPE está vinculada, publicou no dia 9 de abril uma portaria com a aprovação da versão final do PDE 2034.
Os dados do PDE consideram que a produção de petróleo fechará 2025 com um volume diário de 4,2 milhões de barris, passando para 4,7 milhões de barris/dia em 2026, seguindo de forma crescente até chegar ao pico de 5,3 milhões de barris/dia em 2030.
A partir dali, segundo a EPE, as projeções indicam queda na produção, considerando as reservas provadas: em 2031, estima-se uma extração de 5,1 milhões de barris/dia, seguindo em decréscimo até 2034, quando seria registrado um processamento de 4,4 milhões de barris/dia.
Segundo a EPE, as maiores contribuições para a produção total no decênio são provenientes de unidades que operam em águas ultraprofundas — como é o caso do pré-sal, por exemplo, com jazidas a mais de 3 mil metros de profundidade.
“Atualmente, a contribuição do pré-sal representa cerca de 76% da produção brasileira total de petróleo e 75% da produção de gás natural”, afirma a EPE no PDE 2034. A estatal estima que a região produtora tende a aumentar a participação nos próximos anos com a prioridade da exploração e produção.
Produção no pré-sal
“O pré-sal responderá por parcela significativa (cerca de 76%) da produção nacional de petróleo no fim do decênio, com forte participação da Bacia de Santos”, segundo o PDE 2034.
A EPE utilizou, entre outros dados, o Plano de Negócios 2024-2028 da Petrobras (a estatal divulgou no fim do ano passado a edição 2025-2029), segundo o qual de 14 plataformas com previsão de início de produção até 2028, dez estão localizados no pré-sal.
No documento, a EPE salienta que a continuidade da campanha exploratória no Brasil é “imprescindível” para a segurança energética e ressalta que o tempo entre o início da fase de exploração e o começo da fase de produção pode variar entre sete e dez anos para as áreas marinhas (“offshore”).
“O sucesso exploratório em novas fronteiras pode fazer a produção voltar a alcançar o patamar de 5 milhões de barris por dia, após o decênio”, acrescenta a EPE.
Margem Equatorial
O PDE 2034 cita nominalmente a Margem Equatorial, extensa região petrolífera que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, especialmente a Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá.
A área é alvo de atenções em razão da expectativa do desfecho do processo de licenciamento ambiental em curso no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no qual a Petrobras pede autorização para perfurar um poço na área.
O PDE 2034 ressalta que a Foz do Amazonas é apontada por especialistas como promissora. “Espera-se que a Bacia da Foz do Amazonas apresente volumes de petróleo de magnitude similar aos das bacias vizinhas na Guiana e no Suriname, cujas reservas provadas são da ordem de 11 bilhões de barris”.
Jota - DF 24/04/2025
A visita do presidente do Chile, Gabriel Boric, ao Brasil nesta semana colocou o Corredor Rodoviário Bioceânico no centro das conversas bilaterais com o governo Lula. Ainda que o noticiário político tenha destacado a retomada da relação entre os dois presidentes após desentendimentos diplomáticos, o principal avanço prático da visita foi na agenda de integração física e energética entre os dois países.
A prioridade comum é consolidar o chamado Corredor Bioceânico, uma ligação rodoviária de mais de 4.000 km entre os portos do Sudeste brasileiro como Santos e Paranaguá e os portos chilenos de Iquique, Antofagasta e Mejillones, no Pacífico. O trajeto passará por Mato Grosso do Sul, cruzará o Paraguai pelo Chaco, atravessará o norte da Argentina e chegará ao Chile por meio do deserto do Atacama. A obra é considerada estratégica para encurtar em até 12 dias e 5.500 km em comparação à rota do Canal do Panamá o transporte de cargas brasileiras até a Ásia, além de reduzir custos logísticos e ampliar a inserção regional dos países envolvidos. Mas para isso, será preciso uma transformação logística, que envolve temas aduaneiros e infraestrutura portuária para que os portos chilenos estejam aptos para receber os produtos brasileiros, argentinos e paraguaios, como grãos e carnes, em larga escala.
Mas uma proposta paralela começa a ganhar tração: a construção de um oleoduto que acompanhe o traçado do corredor rodoviário. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Gabriel Boric receberam nesta terça-feira (22/4) em mãos o estudo elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que apresenta essa proposta. A ideia foi apresentada em estudos elaborados por técnicos e especialistas brasileiros e chilenos, e já é mencionada nos diálogos entre os dois governos. O projeto prevê a construção de um oleoduto de aproximadamente 2.330 km, ligando Campo Grande (MS) a Antofagasta (Chile), passando pelo Chaco Paraguaio e pelo noroeste argentino. O traçado seguiria majoritariamente a faixa de domínio do corredor rodoviário, reduzindo custos de desapropriação e impactos ambientais.
O duto, em um primeiro momento, seria utilizado exclusivamente para o transporte de petróleo cru exportado pelo Brasil. Em 2023, essas exportações somaram US$ 3,1 bilhões mais de 6,5 milhões de metros cúbicos ou 41 milhões de barris. Segundo os estudos, mantido esse volume, a infraestrutura poderia recuperar seus custos em pouco mais de um ano de operação a plena carga.
Os documentos utilizados como base de análise não mencionam prazos estimados para a construção, mas indicam que os custos seriam similares aos dos oleodutos OLAC (AraucáriaCuiabá) e OLUC (UberabaCuiabá), conforme metodologia da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O OLAC tem custo estimado em R$ 12,2 bilhões e 1.567 km de extensão; o OLUC, R$ 10,4 bilhões e 1.338 km. Ambos se encontram atualmente em fase de estudos de viabilidade técnico-econômica. Esses projetos serviriam como ramais complementares, levando petróleo das regiões produtoras do Sudeste e Centro-Oeste até Campo Grande.
Há, no entanto, projeções de que o oleoduto possa futuramente ser adaptado para transportar biocombustíveis, como etanol e biodiesel, ampliando sua utilidade e alinhando-se à transição energética em curso na região. O crescimento da frota elétrica no Chile e a queda esperada na produção de petróleo do pré-sal tornam essa possibilidade cada vez mais estratégica.
O projeto integra uma visão mais ampla de integração energética regional, inspirada em redes de dutos já existentes na Europa, América do Norte e Ásia. Essa malha sul-americana, caso venha a se concretizar, poderia futuramente incluir ramais de gás natural e combustíveis renováveis, fortalecendo a segurança energética e a resiliência logística do Cone Sul.
Com a visita de Boric, o oleoduto bioceânico entra na pauta bilateral Brasil-Chile. Sua viabilidade técnica e econômica ainda dependerá de estudos adicionais. Mas a simples colocação da proposta sobre a mesa já sinaliza um novo patamar de ambição na integração entre os dois países.
Infomoney - SP 24/04/2025
Vários membros da Opep+ sugerirão que o grupo acelere o aumento da produção de petróleo pelo segundo mês consecutivo em junho, disseram à Reuters três fontes familiarizadas com as negociações do grupo de países exportadores.
Os preços do petróleo caíram para a mínima em quatro anos em abril, enfraquecidos pela guerra comercial entre EUA e China e pela decisão inesperada da Opep+, que reúne a Opep e outros grandes produtores, como a Rússia, de aumentar a produção em 411.000 barris por dia de petróleo em maio.
O número foi três vezes maior do que o planejado originalmente pelo grupo.
Oito países da Opep+ vão se reunir em 5 de maio para decidir o plano de produção para junho.
As três fontes, falando sob condição de anonimato, disseram que alguns membros queriam aumentar a produção em um volume semelhante ao acordado para maio, o que já gerou tensões entre os membros que estão cumprindo as metas e aqueles que estão excedendo os compromissos.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e as autoridades da Arábia Saudita não responderam imediatamente aos pedidos de comentários da Reuters.
Os preços do petróleo operavam em queda, com o Brent LCOc1 perdendo 1,5%, para cerca de US$66,44 o barril, por volta das 11h50 (horário de Brasília).
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