IstoÉ Dinheiro - SP 13/10/2025
A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) iniciou investigação por dumping em fios de aço – de alto teor de carbono, de alta resistência, de seção circular, encruados a frio por trefilação, com superfície lisa ou entalhada, de relaxação baixa ou normal – provenientes de Egito, Espanha e Malásia.
De acordo com circular publicada no Diário Oficial da União (DOU), a análise dos elementos de prova de dumping considerou o período de outubro de 2023 a setembro de 2024.
Já o período de análise de dano à indústria nacional considerou o período de outubro de 2019 a setembro de 2024.
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
O presidente Donald Trump disse nesta sexta-feira, 10, que imporia uma tarifa de 100% sobre todos os produtos da China em resposta às restrições anunciadas por Pequim nesta semana sobre minerais críticos, especialmente as terras raras — estratégicas para tecnologias de ponta, dos carros elétricos à indústria bélica. As declarações levam a uma nova escalada de tensões entre as maiores economias do mundo.
No Truth Social, o republicano escreveu que as tarifas entrariam em vigor em 1º de novembro e seriam impostas “além” de outras tarifas sobre exportações chinesas, que em muitos casos já estão na casa dos dois dígitos. Os Estados Unidos também imporiam controles de exportação sobre softwares críticos, disse ele.
O anúncio ocorreu após uma publicação na manhã desta sexta-feira na qual o presidente americano ameaçou retaliar e cancelar uma reunião com o líder chinês, Xi Jinping, programada há semanas.
O presidente chamou as restrições impostas pela China esta semana às suas exportações de terras raras de “sinistras e hostis” e disse que elas “tornariam a vida difícil para praticamente todos os países do mundo”. Ele acrescentou que havia planejado se encontrar com Xi em duas semanas em uma conferência econômica internacional na Coreia do Sul, “mas agora parece não haver razão para isso”.
“Uma das políticas que estamos calculando neste momento é um aumento massivo de tarifas sobre produtos chineses que entram nos Estados Unidos”, escreveu ele. “Há muitas outras contramedidas que também estão sendo seriamente consideradas.”
Os mercados estremeceram, com o índice S&P 500 caindo mais de 2%.
Os chamados minerais críticos, especialmente as terras raras, são vitais para a fabricação de uma série de produtos, incluindo motores, freios, semicondutores e caças, têm estado no centro das tensões entre os Estados Unidos e a China este ano. Em abril, o governo chinês respondeu às tarifas pesadas impostas por Trump sobre produtos chineses, restringindo as exportações de minerais destinados a montadoras e fabricantes de defesa dos EUA.
O governo Trump tentou encorajar a China a recuar, impondo suas próprias restrições às exportações de softwares para design de chips, motores de avião e outros produtos. As tarifas americanas sobre produtos chineses subiram para um mínimo de 145%, interrompendo grande parte do comércio entre os países.
Mas as restrições impostas pela China ameaçaram fechar fábricas americanas e forçaram os Estados Unidos, que dependem de suprimentos chineses, a recuar. No fim das contas, autoridades de ambos os países chegaram a uma trégua frágil, o que levou Trump a reduzir suas tarifas e Pequim a aprovar mais exportações de minerais.
Na quinta-feira, 9. Pequim intensificou novamente seus controles, com restrições mais amplas sobre a fabricação global de semicondutores e outras tecnologias.
O governo chinês afirmou que exigirá que empresas estrangeiras obtenham licenças para exportar produtos que contenham, mesmo que seja uma quantidade mínima, terras raras, inclusive para a fabricação de chips. Também impôs novos controles sobre tecnologias e equipamentos utilizados na extração e refino de minerais e na fabricação de baterias para veículos elétricos. Essas regras entrarão em vigor em 1º de dezembro.
A China extrai 70% das terras raras do mundo e realiza o processamento químico de cerca de 90% do fornecimento global desses minerais. Além das terras raras, o governo chinês estabeleceu planos de longo prazo nas últimas décadas para dominar setores-chave, incluindo siderurgia, construção naval, robótica e biomedicina.
Cruzada chinesa a big techs americanas
Nesta sexta-feira, a China também anunciou uma investigação antimonopólio sobre a fabricante americana de chips Qualcomm e novas taxas para navios americanos que atracam em portos chineses.
As novas restrições causaram grande ansiedade entre as empresas americanas. Analistas disseram que os novos limites poderiam complicar as cadeias de suprimentos de algumas das maiores empresas do mundo, incluindo Nvidia e Apple.
As ações de tecnologia foram particularmente afetadas na sexta-feira, com a Nvidia caindo quase 5%, a Advanced Micro Devices caindo quase 8% e o setor de semicondutores mais amplo caindo mais de 5%.
O mercado de ações já estava tenso neste mês, após cinco meses consecutivos de ganhos que elevaram os preços a níveis recordes, levando alguns investidores a alertar sobre o potencial de uma retração.
Analistas especularam que a medida da China poderia ser um esforço de Pequim para acumular influência antes do encontro entre Trump e Xi. Se for o caso, o tiro pode ter saído pela culatra. Além dos apelos do presidente por retaliação, outros críticos da China disseram que as medidas destacaram a necessidade de os Estados Unidos reduzirem sua exposição à economia chinesa.
‘Um tapa na cara do presidente Trump’
John Moolenaar, presidente do Comitê Seleto da Câmara sobre a China, chamou a ação de Pequim de “uma declaração econômica de guerra contra os Estados Unidos e um tapa na cara do presidente Trump em meio aos seus esforços para lutar por igualdade de condições”.
Moolenaar disse que os Estados Unidos deveriam aprovar imediatamente uma legislação para acabar com o tratamento comercial preferencial para a China, aumentar o fornecimento de minerais dos EUA e “estrangular o setor de tecnologia da China com controles de exportação em vez de vender chips avançados”.
Wendy Cutler, vice-presidente sênior do think tank Asia Society Policy Institute, disse que as declarações do presidente mostraram “quão frágil é realmente a distensão emergente entre os dois países”.
“Pequim tem se tornado cada vez mais assertiva, acreditando que tem a vantagem na relação bilateral”, disse ela. Mas as contraameaças de Trump mostraram que “dois podem jogar este jogo”.
Com a cúpula planejada entre os líderes para dentro de pouco mais de duas semanas, não estava claro se os dois lados estariam dispostos a diminuir a tensão para ainda realizar a reunião, acrescentou Cutler.
Em sua publicação nas redes sociais, Trump disse que as mudanças “surgiram do nada”. O relacionamento dos Estados Unidos com a China nos últimos seis meses foi muito bom, disse ele.
Agricultores americanos também pediram ao governo que pressione a China a remover tarifas retaliatórias sobre as exportações de soja dos EUA, que prejudicaram os negócios este ano. Um deles, Caleb Ragland, produtor de soja do Kentucky e presidente da Associação Americana de Soja, afirmou em um comunicado que seu grupo estava “extremamente decepcionado” com o cancelamento da reunião planejada entre Trump e Xi.
“Guerras comerciais são prejudiciais a todos, e esses últimos acontecimentos são profundamente decepcionantes em um momento em que os produtores de soja enfrentam uma crise financeira cada vez maior”, disse Ragland.
Veja - SP 13/10/2025
Em meados dos anos 1980, período que passou para a história como a década perdida devido à grave crise econômica vivida pelo país, a indústria representava 36% do produto interno bruto. Desde então, o avanço do setor de serviços e, sobretudo, a falta de políticas públicas reduziram essa fatia para os atuais 25%. Reconquistar o espaço perdido na economia brasileira é o objetivo de Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para tanto, ele defende que os industriais voltem a participar ativamente dos debates públicos. “Precisamos de novos Antônio Ermírio de Moraes”, afirmou a VEJA, referindo-se a um dos maiores empresários do país. Morto em 2014, Antônio Ermírio transformou a Votorantim em um dos pesos-pesados do capitalismo local, sem deixar o engajamento político em causas que julgava relevantes para o desenvolvimento nacional. A mais urgente neste momento, segundo Alban, é reequilibrar as contas públicas, cujo rombo alimenta uma “cultura de juros altos” que “só favorece o rentismo” e onera o custo-Brasil.
O senhor já disse que nada justifica a taxa Selic em 15% ao ano. Então, o que a mantém nesse nível? Na época da covid-19, quando os juros caíram para 2%, uma autoridade monetária me disse que preferia exagerar na dose do corte a errar por falta de remédio. Agora o Banco Central faz a mesma coisa no sentido inverso com a justificativa do risco fiscal. É um fato? É um fato, mas não apenas para o Brasil. Estima-se que a dívida da China pode subir para algo entre 90% e 150% do PIB nos próximos anos. A falta de recursos levou a mais um shutdown nos Estados Unidos. O Brasil vai precisar de uma nova reforma da previdência? Claro que sim. Vamos ou não enfrentar a realidade da saúde e da educação? Todos sabem que esses e outros problemas precisam de respostas. A grande vantagem hoje é que todos falam que o Brasil vai quebrar em 2027 devido ao orçamento engessado. Que bom que todos falam isso, porque precisamos pensar o país de modo mais holístico. Você só muda quando é cobrado.
Mas o descontrole fiscal que o senhor aponta não é um dos argumentos do Banco Central para elevar os juros? Esse é o grande mote da cultura dos juros altos no Brasil, mas quem ganha com isso? Só o rentismo. E o que o rentismo produz? Ele combate o grande dilema de equilibrar oferta e demanda? Óbvio que não. É verdade que o atual governo gasta muito e o Banco Central deve defender a moeda e combater a inflação, mas a política monetária não se restringe apenas a elevar juros. Por que só usamos essa ferramenta? Temos uma opção que já foi muito usada em outros tempos: o depósito compulsório, que tem efeitos semelhantes aos juros altos, mas sem onerar a dívida pública. Podemos ter políticas públicas que estimulem a aplicação de parte do compulsório em investimentos produtivos. Precisamos de uma combinação de ferramentas. Atualmente, privilegiamos apenas o rentismo.
“É verdade que o atual governo gasta muito e o Banco Central deve combater a inflação, mas a política monetária não se restringe apenas a elevar juros”
Outra justificativa do BC é que as projeções de inflação do mercado não convergem para a meta. Não é uma postura prudente? Certamente, a percepção dos financistas pesa muito para o BC. Nos Estados Unidos, apesar das brigas recentes entre Trump e o Federal Reserve sobre o nível de juros, as decisões de política monetária se baseiam em análises da inflação que expurgam uma série de itens. O preço dos alimentos, por exemplo, depende das mudanças climáticas. Não são os juros que definirão quanto a comida vai custar. Os preços da energia e dos combustíveis dependem muito mais do cenário geopolítico do que da política monetária. Deveríamos aprender um pouquinho com as experiências que fazem sentido.
Na sua opinião, o que falta para enriquecer o atual debate? Quem tem mais sensibilidade sobre o que está acontecendo no mundo real? O sistema financeiro é de suma importância, mas sua função é a intermediação de capital. A economia real é que garante o futuro e sustenta o crescimento do país.
Por que a CNI lançou uma campanha sobre o custo-Brasil há algumas semanas? Cada vez mais, a competitividade da indústria brasileira depende de vantagens comparativas em relação a outros países, porque o mercado internacional se tornou uma variável crítica. A indústria não trabalha mais com limites territoriais. O mundo é a sua fronteira, mas, para isso, o Brasil precisa fazer a lição de casa, como os demais países farão, com certeza. Queríamos tratar do custo-Brasil de uma forma que o cidadão comum entendesse.
O que ainda não está claro a respeito do custo-Brasil para a média da população? Veja como as pessoas percebem o agronegócio hoje: o agro é pop, o agro é tech. As pessoas não sabem que parte da força do agro vem de um grande esforço de inovação e desenvolvimento da indústria que processa o que o campo produz. Queremos sensibilizar o governo e a opinião pública sobre os desafios urgentes que precisam ser enfrentados. As pessoas não têm noção do peso, sobre os preços dos produtos que consomem, dos juros altos, do custo da energia, das deficiências de infraestrutura, dos impostos e de outros problemas. Não dá mais para jogar para debaixo do tapete.
Por que é tão difícil solucionar esse problema? A resposta mais simples é que isso envolve razões culturais e estruturais. A situação fiscal e estrutural do país está se agravando. Não precisamos apenas de uma nova equação fiscal, mas de uma nova equação estrutural. Há trinta anos, as economias da Coreia do Sul e da China eram menores que a nossa. Mas esses países já tinham um sistema educacional melhor que o brasileiro. Nós chegamos ao absurdo de acabarem com o Ministério da Indústria e do Comércio. Veja se alguém acabou com o Ministério da Agricultura. Nenhum país cresce sem focar no desenvolvimento de sua indústria.
Mas por onde é possível começar a desatar esse nó? Primeiro, temos de enxergar mais o copo meio cheio do que o meio vazio. Sempre que nos prendemos às dificuldades, deixamos de acreditar que isso é possível. Aqui na CNI, temos conversado com as indústrias para mudar a percepção que a sociedade tem de que somos uma coisa arcaica. Por que o agro chegou aonde chegou? Porque sempre houve uma política pública para o setor, que perpassou todos os governos. Havia crédito. Havia o que a Receita Federal chama hoje de gastos tributários, mas que eu sigo chamando de estímulos à produção. Alguns gastos tributários podem ser injustos, incoerentes ou obsoletos? É possível, mas é preciso avaliar cada caso. Nós não temos uma política industrial. A última de que me lembro foi a dos militares e era baseada em estatais.
Como o pacto social que o senhor defende ajudaria na elaboração de uma política industrial? O mundo todo, e não só o Brasil, vive uma crise da democracia com o aumento da polarização política. Temos de encontrar mais convergências. Estamos conversando com as outras confederações que representam o empresariado, como as do comércio, de serviços, das instituições financeiras e das cooperativas. Queremos priorizar as pautas que agregam os interesses de todos. Uma delas é a promoção de uma reforma administrativa séria que ajude na sustentabilidade da máquina pública. Outra é buscar um novo modo de elaborar o Orçamento da União. Não faz sentido um arcabouço fiscal que piora o déficit, quando a economia cresce. Essa lógica não funciona. Temos também de resolver o desequilíbrio da previdência social, porque o Brasil está envelhecendo. Tudo isso precisa ser enfrentado.
O pacto depende também do Congresso, que prioriza cada vez mais interesses alheios aos da população. O que fazer? Todos nós, em maior ou menor grau, carecemos de uma visão de nação. Nenhum país se desenvolveu na base do “nós contra eles”. Precisamos de políticas de Estado. É um trabalho difícil, de persistência, mas dizem que todo industrial brasileiro é resiliente, por causa das adversidades que enfrenta. Estamos perdendo competitividade no mundo devido ao custo-Brasil, que tem um forte peso dos juros altos. Temos 10% de juros reais ao ano, fora o spread bancário. Isso é correto? Quando eu atuava no mercado financeiro, o spread girava ao redor de 2% ao ano. Hoje, é de 1% ao mês.
“Queremos priorizar pautas que agreguem toda a sociedade. Nenhum país do mundo se desenvolveu na base do ‘nós contra eles’. Precisamos de políticas de Estado”
O senhor vê condições de o Congresso deixar as pautas próprias e focar em políticas de Estado? Se eu não for otimista, é melhor procurar outra coisa para fazer da vida. Veja o que aconteceu com a PEC da Blindagem. Não houve um movimento dos parlamentares para refletir sobre ela. Por isso, precisamos de novos Antônio Ermírio de Moraes. Onde eles estão? Entre os motivos que levaram o agronegócio a ter tanta força no Brasil, está o de que o agro tem muita voz ativa no mundo político. Principalmente depois da Lava-Jato, os empresários se recolheram. Não participam mais dos debates políticos. A indústria precisa recuperar sua autonomia e apresentar críticas construtivas às políticas públicas.
Qual é, afinal, a vocação da indústria brasileira e como apoiá-la com políticas públicas? Devemos agregar valor às nossas exportações. Não faz sentido exportarmos minério de ferro para a China e, depois, sermos invadidos por aço chinês. Em vez de exportar soja, vamos vender óleo, biodiesel. Vamos investir em nichos de mercado em que podemos absorver tecnologia, como no processamento de terras raras. A China já tem uma política para isso. O Brasil, não. Vamos pensar em como complementar e integrar grandes cadeias globais de produção. O mundo tem oportunidades imensas.
O que o presidente Lula deveria oferecer a Donald Trump para reverter o tarifaço? Ao conversar recentemente com o Departamento de Comércio americano, identificamos três oportunidades: a exploração de terras raras, as nossas fontes de energia limpa para atrair data centers e o mercado de etanol. Precisamos ser, acima de tudo, pragmáticos. Trump é inteligente, com um estilo próprio e intenso. Mas o presidente Lula também é um grande negociador.
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
No dia 2 de abril, o presidente Donald Trump anunciou suas tarifas do “Dia da Libertação”, exibindo um quadro cheio de números que mostravam o quão injustamente o mundo tratava os Estados Unidos. Os números eram absurdos, mas a mensagem era clara: a era do livre-comércio havia acabado.
Os mercados estremeceram, os aliados da América ficaram furiosos e os economistas previram uma catástrofe. Torsten Slok, da Apollo — um gigante dos mercados privados — estimou em 90% as chances de uma recessão provocada por tarifas nos EUA.
Em partes da economia americana, a dor é real. Os preços de bens duráveis — uma categoria que inclui eletrodomésticos e automóveis — subiram mais de 3% em ritmo anual no segundo trimestre de 2025, o aumento mais rápido desde o início dos anos 1990 (excluindo o período da pandemia de covid-19). O preço dos brinquedos, a maioria importada da China, cresce quase 5%, uma alta igualmente incomum.
No total, nossas estimativas indicam que as tarifas estão adicionando cerca de 0,3 ponto porcentual à inflação. O emprego também enfraqueceu nos setores mais expostos às tarifas, como manufatura e varejo; os empresários culpam os custos mais altos e a incerteza. O sentimento do consumidor em setembro estava 20% abaixo do nível de um ano atrás. Em comparação com um mundo sem tarifas, os Estados Unidos estão em pior situação.
Mesmo assim, seis meses depois, o ajuste completo ainda não chegou. Não há uma inflação fora de controle. A economia americana cresceu 3,8% em ritmo anualizado no segundo trimestre; o Federal Reserve de Atlanta prevê algo semelhante para o terceiro. Os consumidores continuam gastando, as empresas investindo e o mercado de ações em alta. As perspectivas também melhoraram em outras partes do mundo. Em setembro, a OCDE elevou sua projeção de crescimento global para 3,2%, contra 2,9% três meses antes.
Por que as boas notícias?
Uma razão é que as tarifas foram mais brandas do que o anunciado. Em abril, estimava-se que a taxa média americana estava próxima de 30%; hoje, os mesmos modelos a colocam em cerca de 18%. Trump ameaçou a China com tarifas de 145%, mas, em setembro, estava aplicando taxas de pouco mais de um terço disso. As da Coreia do Sul caíram de 25% prometidos para 15%.
Até o Lesoto — um pequeno país pobre e sem saída para o mar, que vende principalmente roupas aos EUA — recebeu uma tarifa de 50%, que nunca foi aplicada. Atrasos na implementação amenizaram o impacto. Uma decisão da Suprema Corte pode bloquear boa parte das tarifas de Trump: as empresas estão aguardando mais clareza antes de repassar os custos aos consumidores.
As isenções reduziram ainda mais o impacto. Quase metade das importações americanas foi isenta das tarifas de Trump. Eletrônicos como smartphones e computadores foram totalmente poupados. A tarifa de 50% sobre o Brasil inclui cerca de 700 exceções, reduzindo-a para algo em torno de 30%. A tarifa nominal de 35% do Canadá, segundo o banco Scotiabank, é, na prática, próxima de 6%, em grande parte porque os produtos que se qualificam sob o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) são isentos.
Até tarifas setoriais estão cheias de brechas. As novas tarifas farmacêuticas de Trump, anunciadas em 100% e com início previsto para 1º de outubro, excluíram os medicamentos genéricos (que representam 90% dos remédios vendidos nos EUA) e as empresas de marca com planos de investimento no país. Nesse dia, ele suspendeu as medidas completamente, à medida que começavam as negociações.
O fator mais importante, porém, foi o que não aconteceu: retaliação. Os modelos econômicos previam tarifas de “olho por olho”; em vez disso, os parceiros comerciais dos EUA em grande parte se contiveram. Poucos são grandes o suficiente para causar danos reais sozinhos, e houve pouca coordenação. Isso talvez se deva ao fato de que os EUA importam menos do que no passado.
No início do século, o país representava um quinto das importações globais; hoje, algo em torno de um oitavo. O Brasil envia apenas 13% de suas exportações para os EUA, contra 26% no início dos anos 2000. Mesmo onde a dependência ainda é significativa, como no Sudeste Asiático, os países têm poucos incentivos para retaliar. Muitos enfrentam tarifas de cerca de 20%, o que garante que poucos saiam perdendo em relação aos vizinhos.
Em vez de retaliar, muitos países estão diversificando o comércio. A China, principal alvo das tarifas de Trump, viu suas exportações para os EUA despencarem — mas seu comércio total se manteve. De junho a agosto, o valor de suas exportações cresceu 6% em relação ao ano anterior, com vendas para o Sudeste Asiático subindo um quinto (20%) e para a Europa quase 10%.
Têxteis chineses inundaram os mercados europeus, onde as importações de roupas e tecidos da China aumentaram cerca de 20% na primeira metade de 2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Produtos eletrônicos estão fluindo para o Sudeste Asiático.
As tarifas de Trump também estão aproximando outros países. O Canadá reforçou os laços com o México enquanto ambos se preparam para renegociar o USMCA com os EUA no próximo ano. Em 23 de setembro, a União Europeia assinou um acordo há muito aguardado com a Indonésia, eliminando tarifas altas sobre bens industriais; também está próxima de um pacto com a Índia. Muitos países estão se aproximando mais da China. A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) ampliou seu acordo com a potência asiática. O investimento chinês no Brasil disparou mais de 60% no primeiro semestre do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Tudo isso levanta uma questão: o que os EUA ganharam?
A arrecadação com tarifas aumentou em US$ 19 bilhões por mês em relação ao ano passado. Embora isso compense parcialmente o custo dos recentes cortes de impostos de Trump, o país ainda tem um grande déficit orçamentário. E Trump planeja usar boa parte dessa receita extra para compensar os perdedores — como os fazendeiros — transformando as tarifas em um imposto regressivo.
O déficit comercial está se ampliando, o investimento ainda não se materializou e a prometida revitalização da manufatura continua sendo uma miragem.
Até agora, as empresas americanas têm absorvido a maior parte do custo das tarifas. Margens de lucro gordas e estoques importados antes da entrada em vigor das tarifas ajudaram. Mas, à medida que esses amortecedores diminuem, os preços devem subir. O Budget Lab de Yale estima que as tarifas reduzirão a renda das famílias em cerca de US$ 2,4 mil por ano.
Como a implementação escalonada das medidas de Trump espalha os aumentos por vários trimestres, o que poderia ter sido um choque pontual corre o risco de se transformar em uma inflação persistentemente mais alta. Com as expectativas de inflação de curto prazo já subindo, isso pode levar o Federal Reserve a manter juros mais altos por mais tempo — o que, com o tempo, prejudicará a demanda.
A forma como outros países lidam com as tarifas americanas — e com o excesso industrial da China — moldará a próxima fase do comércio global. Alguns já estão começando a erguer suas próprias barreiras. O México planeja uma tarifa de 50% sobre carros chineses. A União Europeia se prepara para se juntar aos EUA e ao Canadá no combate ao aço chinês barato, cortando cotas de importação e elevando tarifas. No Sudeste Asiático, o fluxo de produtos chineses está levando governos a considerar novas salvaguardas.
Ainda assim, a lógica da abertura continua exercendo força. Pequenas economias estão se unindo para manter o comércio ativo. Nova Zelândia, Cingapura e Emirados Árabes Unidos criaram a Future of Investment and Trade Partnership, uma coalizão de 14 países. O Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP), um amplo pacto asiático que inclui a China, estuda a entrada de novos membros e uma integração mais profunda. A União Europeia e os países do CPTPP — um acordo transpacífico que inclui Austrália, Canadá, Japão e México — podem tentar alinhar seus padrões e expandir a cooperação.
Mesmo governos céticos em relação à globalização, como Índia e Indonésia, falam sobre a necessidade de defender o comércio. A ordem liberal pode estar sem líder, mas ainda não perdeu seus discípulos.
IstoÉ Dinheiro - SP 13/10/2025
No Brasil, a discussão sobre uma eventual mudança na meta de inflação sequer deveria acontecer – ao menos no cenário atual, dado o jeito que estão os indicadores e a conjuntura. A afirmação é de Cassiana Fernandez, economista-chefe do JPMorgan para o Brasil.
Ao Dinheiro Entrevista, a especialista destaca que, dado o contexto atual, uma mudança de meta inflação causaria sérios danos à credibilidade da autoridade monetária brasileira.
“Acho que mudança de meta, sim, prejudica a credibilidade da condução da política monetária, principalmente quando você faz a mudança com expectativas desancoradas. Acho que o debate de mudança de meta, se um dia ele acontecer, ele só pode acontecer quando a sua inflação estiver já rodando alguns anos na meta”, defende.
“Eu não consigo encontrar, tanto na teoria econômica quanto em outra justificativa, por que a inflação no Brasil tem que ser tão mais alta que seus pares. A maioria dos países emergentes tem uma meta, um regime de inflação em que a meta é de 3%. Então, no que a nossa economia é tão diferente das outras que a nossa meta de inflação deveria ser mais alta?”, questiona.
A economista observa que é uma discussão teórica que ‘até vale a pena, mas não agora’.
“No momento, acho que o papel do Banco Central é trazer a inflação de volta pra meta que foi definida pelo Conselho Monetário [CMN] de 3%”.
Em um passado recente, membros do governo e outras vozes do debate público foram críticas ao regime atual em termos de meta de inflação. Em maio de 2024, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que ‘uma meta para um país com as condições do Brasil de 3% é um negócio inimaginável’ e ainda acrescentou que se trata de uma ‘meta exigentíssima’.
Apesar disso, mais recentemente o ministro tem adotado um discurso mais moderado com relação ao tema. Nesta semana, Haddad declarou que a meta será perseguida.
“A inflação deste ano talvez seja menor do que a do ano passado. Igual ou menor do que a do ano passado. Quer dizer, em patamares ainda distantes da meta que nós vamos buscar, mas já dentro, provavelmente, dentro da banda. Talvez este ano já, dentro da banda”, disse.
Este ano, na Câmara dos Deputados, a meta de 3% foi criticada pela presidente do Conselho Federal de Economia, Tania Cristina Teixeira, além de figuras como Mauro Benevides Filho (PDT-CE).
Brasil deve furar meta de inflação neste ano e até 2028
O Banco Central já estima uma probabilidade de 71% para que a inflação de 2025 ultrapasse o teto da meta, atualmente de 4,50%.
Nesta segunda-feira, 6, o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, destacou que a inflação não coincide com a meta em nenhuma projeção do Boletim Focus pelo menos até o ano de 2028 – cenário que considerou ‘incômodo’.
“A gente não vê a inflação na meta em nenhum dos horizontes, nem até 2028, pelas expectativas do Focus. É óbvio que o Banco Central tem suas próprias projeções, há toda uma cultura e uma institucionalidade na forma como a gente incorpora essas projeções, mas esse é um indicativo de bastante incômodo para a gente”, disse o presidente do BC em evento organizado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Conforme o consenso do mercado financeiro, refletido no Boletim Focus, a expectativa é de um IPCA de 4,80% para este ano, de 4,28% para o ano de 2026. Para 2027, a expectativa é de 3,9%, e no ano seguinte de 3,7%.
O JPMorgan projeta inflação de 4,7% para este ano. Para o ano de 2026, a expectativa para o IPCA é de 3,6% – em ambos os casos, o prognóstico está acima da meta de inflação.
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
A China sinalizou neste domingo, 12, que não vai recuar diante da ameaça do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 100% ao país e pediu aos Estados Unidos que resolvam as diferenças por meio de negociações, e não de ameaças.
“A posição da China é consistente”, disse o Ministério do Comércio em comunicado. “Não queremos uma guerra tarifária, mas não temos medo de uma.”
Foi o primeiro comentário oficial da China sobre a ameaça de Trump de elevar o imposto sobre importações chinesas até 1º de novembro, em resposta às novas restrições impostas por Pequim à exportação de terras raras, que são vitais para uma ampla gama de produtos de consumo e militares.
A troca de acusações ameaça atrapalhar um possível encontro entre Trump e o líder chinês Xi Jinping e acabar com a trégua de uma guerra comercial que, em abril, chegou a ter tarifas acima de 100% dos dois lados.
Desde que assumiu o cargo em janeiro, Trump aumentou os impostos sobre as importações de muitos parceiros comerciais dos EUA, buscando obter concessões. A China tem sido um dos poucos países que não recuaram, contando com sua influência econômica.
“Recorrer frequentemente à ameaça de altas tarifas não é a maneira correta de se relacionar com a China”, disse o Ministério do Comércio em sua publicação, que foi apresentada como uma série de respostas de um porta-voz não identificado a quatro perguntas de veículos de comunicação. A declaração pediu que quaisquer preocupações fossem abordadas por meio do diálogo.
“Se o lado americano insistir obstinadamente em sua prática, a China certamente tomará medidas correspondentes para salvaguardar seus direitos e interesses legítimos”, afirmou a publicação.
Além da tarifa de 100%, Trump ameaçou impor controles de exportação sobre o que chamou de “software crítico”, sem especificar o que isso significa. Ambos os lados acusam o outro de violar o espírito da trégua ao impor novas restrições comerciais. Trump disse em uma postagem nas redes sociais que a China está “se tornando muito hostil” e que estaria mantendo o mundo refém ao restringir o acesso a metais e ímãs de terras raras.
O Ministério do Comércio chinês disse que os EUA introduziram várias novas restrições nas últimas semanas, incluindo a expansão do número de empresas chinesas sujeitas aos controles de exportação dos EUA. Sobre as terras raras, o ministério disse que as licenças de exportação seriam concedidas para usos civis legítimos, destacando que os minerais também têm aplicações militares. As novas regras incluem a exigência de que empresas estrangeiras obtenham aprovação do governo chinês para exportar itens que contenham terras raras originárias da China, independentemente de onde os produtos sejam fabricados.
A China responde por cerca de 70% da mineração mundial de terras raras e controla cerca de 90% de seu processamento global. O acesso ao material é um dos principais pontos de disputa nas negociações comerciais entre Washington e Pequim. Os minerais críticos estão presentes em diversos produtos, desde motores a jato, sistemas de radar e veículos elétricos até eletrônicos de consumo, como laptops e telefones. As restrições chinesas de exportação têm afetado fabricantes europeus, americanos e de outras regiões.
O comunicado do Ministério do Comércio afirmou que os EUA também estão ignorando as preocupações chinesas ao avançar com novas taxas portuárias para navios chineses, que entram em vigor nesta terça-feira. Em resposta, a China anunciou na sexta-feira que iria impor taxas portuárias aos navios americanos./AP
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
Desde a derrubada da Medida Provisória 1303, na semana passada, o governo busca alternativas para obter cerca de R$ 21 bilhões e cumprir as regras do arcabouço fiscal em 2026. Já vimos esse filme da busca por novas fontes de receita. Seria mais saudável para a economia brasileira se o governo fizesse um ajuste fiscal com corte estrutural de despesas, em vez de insistir nessa rotina para cumprir obrigações legais.
A MP 1303 poderia ter pontos meritórios, como o aumento da taxação de apostas de 12% para 18%. A questão principal, no entanto, é que foi editada para substituir a elevação de alíquotas do IOF, a tentativa anterior de obter mais receitas para cumprir o arcabouço fiscal, rejeitada pelo Congresso e levada ao Supremo Tribunal Federal.
Sendo justo, a ampliação dos gastos públicos não tem sido exclusiva do governo, como já falei em outras colunas. Na semana passada, por exemplo, a Câmara aprovou um projeto que torna efetivos agentes de saúde temporários e afrouxa regras para aposentadorias desses profissionais. O custo inicial é estimado em, no mínimo, R$ 20 bilhões. O projeto vai no sentido contrário da reforma da Previdência e do que propõe a reforma administrativa em tramitação na Câmara.
A estratégia de ampliar gastos e correr em busca de novas receitas via tributação ou de fazer bloqueios e contingenciamentos pontuais tem limites. O principal efeito do aumento de gastos é alimentar a inflação. A única forma de mudar isso de forma consistente e saudável é conter gastos.
Vou ficar em apenas um benefício de o governo fazer um ajuste fiscal: proporcionar condições para a queda da taxa de juros. As despesas do governo têm sido um fator determinante tanto na expansão do PIB, quanto na inflação. Dados do relatório Focus mostram que a inflação segue acima da meta.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse na semana passada que não há sinais de inflação dentro da meta antes de 2028. Isso significa que a taxa de juros tende a permanecer onde está — 15% ao ano — por algum tempo.
Reduzir gastos proporcionaria redução da inflação, queda dos juros e pouparia o governo da necessidade de buscar receitas ininterruptamente. Já tratei disso aqui: se a política fiscal é expansionista, a política monetária tem de ser contracionista para manter a inflação sob controle, o que significa juros mais altos.
A situação ideal, que tivemos na maior parte dos dois primeiros governos do presidente Lula, é de política fiscal e monetária na mesma direção. Quando fizemos isso, o Brasil cresceu em média 4% ao ano, criou mais de 10 milhões de empregos e 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza.
Infomoney - SP 13/10/2025
A equipe econômica do Itaú revisou suas projeções e cortou a expectativa para o IPCA de 2025 para 4,7%, dos 5,0% anteriormente projetados. A justificativa da alteração da projeção foi a “surpresa” com a divulgação do dado referente a setembro, que registrou alta de 0,48%, porém abaixo das expectativas de mercado.
Entre os segmentos, o banco destacou a principal contribuição do grupo de alimentação no restante do ano. Para 2026, o ajuste foi leve, de 4,4% para 4,3%.
A taxa de câmbio teve projeção mantida em R$ 5,35 para 2025 e R$ 5,50 para 2026. O banco segue com a visão que o real se beneficia de ambiente da moeda americana mais enfraquecida, mas fatores domésticos ainda impactam o real e tendem a limitar avanços adicionais da moeda.
O crescimento do PIB também foi mantido e segue em 2,2% para 2025, com viés baixista, já que o banco indica que dados recentes apontam para continuidade da desaceleração da economia brasileira. Já para 2026, ficou ainda em 1,5%, com viés de alta.
Para mercado de trabalho, os dados apontam para resiliência, porém apresentam sinais de arrefecimento, o que a equipe econômica do Itaú considera em linha com a expectativa de leve alta na taxa de desemprego. A projeção é de 6,2% para fim de 2025 e 6,5% para 2026.
A estimativa para Selic ficou em 12,75% a.a. para 2026, com início do ciclo de flexibilização no primeiro trimestre de 2026.
“O Copom tem reafirmado o compromisso de manter juros elevados por bastante tempo a fim de garantir a convergência da inflação à meta. Apesar de sinais ambíguos de desaceleração da atividade e queda da inflação, o mercado de trabalho segue resiliente e as expectativas permanecem substancialmente acima da meta”, considera a equipe do economista Mario Mesquita.
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
á se passaram seis décadas desde que Juscelino Kubitschek encerrou seu mandato como presidente do Brasil. Desde então, o país nunca mais experimentou um processo de desenvolvimento socioeconômico tão robusto em um único governo.
Juscelino assumiu em 1956 com o lema “50 anos em 5”, prometendo a modernização e a industrialização do Brasil em ritmo acelerado. A História mostrou que o discurso desenvolvimentista de JK não era mera retórica nem promessa vã, típica das campanhas eleitorais.
Para atingir seu objetivo, JK concebeu o Plano Nacional de Desenvolvimento, um conjunto de 30 metas a serem alcançados em cinco anos, prioridade absoluta de seu governo, anunciadas a todos os brasileiros na primeira reunião ministerial. De tão importante, o presidente não delegou a nenhuma pasta a execução da ideia, mantendo a gestão vinculada diretamente a si.
O governo de Juscelino concentrou-se em consolidar a industrialização pela instalação da indústria pesada – notadamente a automobilística, a multiplicação de siderúrgicas, no desenvolvimento da construção naval, no fortalecimento do potencial energético, e no forte investimento em transportes e na produção agrícola.
A somatória de todas as iniciativas, coordenadas, resultou em extraordinária mudança para o país. A produção industrial subiu 80%; a média de crescimento anual do PIB Brasileiro saltou para inéditos 8,06% ao ano; a produção de equipamentos de transportes cresceu mais de 600% e a política agrícola acusou expressivo crescimento na produção de alimentos e grãos, impulsionada também pela fabricação nacional de de tratores. A potência energética aumentou mais de 60% e o número de rodovias asfaltadas foi quintuplicado.
Das 30 metas de seu Plano, JK cumpriu integralmente 80%, sem se descuidar das metas fiscal e de inflação, cruciais para o equilíbrio da economia. O 31º objetivo acrescido ao plano inicial foi a construção de Brasília, transferindo a capital federal para o planalto central, marco da interiorização do desenvolvimento e essencial para o desenvolvimento daquela região do país. Não foi promoção pessoal, mas sim o cumprimento do quanto estabelecido desde a Constituição de 1891, previsto em seu artigo 3º (que detalhava até a área).
Não há dúvidas de que os cinco anos do governo JK construíram uma ponte indestrutível entre o velho e novo Brasil. Em 1960, as bases do desenvolvimento estavam consolidadas e, com elas, criadas as condições para os avanços nas próximas décadas. A visão de futuro de JK foi um marco para o fantastico agrobusiness brasileiro na região centro-oeste
A verdade é que, 60 anos depois, período no qual o Brasil superou turbulento período político, alcançou a redemocratização e conseguiu estancar a vertiginosa inflação com o Plano Real – que estabilizou a moeda -, a nação não mais voltou a experimentar uma fase tão benéfica.
Os avanços registrados desde então foram incapazes de reduzir as desigualdades sociais e regionais, de sustentar o ritmo de desenvolvimento e, ainda, de oferecer condições de vida digna à maior parte da população.
Eleição após eleição, governo após governo, o país segue patinando apesar de seu enorme potencial econômico. Boa parte disso se explica pela ausência de um plano vintenário, de caráter socioeconômico ambiental, voltado a ações de estado (não de governos) definidas para induzir o desenvolvimento sustentável, de forma planejada, crescente, com segurança jurídica, exploração responsável de suas imensas riquezas naturais, e ampliação e diversificação de seu parque industrial.
É inegável que, há décadas, os governos têm-se dedicado a apresentar soluções espasmódicas para problemas graves, obviamente com resultados meramente paliativos. Não é de se estranhar, portanto, que mesmo se colocando entre as 10 maiores economias do mundo o Brasil continue apresentando indicadores medíocres na mensuração da qualidade de vida da população.
O maior exemplo desse terrível paradoxo está no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no qual o Brasil ocupa apenas a 84ª posição no ranking das Organizações das Nações Unidas (ONU), tendo caído 11 posições nos últimos três anos. Mas não é só. Em 2024, nosso país atingiu o maior nível internacional de desigualdade entre 56 nações analisadas, segundo o coeficiente Gini, utilizado para medir a disparidade na distribuição de renda ou riqueza de uma população, conforme divulgado pelo Relatório Global de Riqueza 2025.
Essas são apenas duas marcas negativas – entre tantas -, de um país que mergulhou em um poço aparentemente sem fundo de privilégios e impunidade, com verdadeiras castas cada vez mais bem remuneradas graças a penduricalhos que furam o teto remuneratório constitucional e muitas vezes são isentos de Imposto de Renda. Enquanto isso, mais de um terço (35,6%) da população sobrevive com renda inferior a 1 salário mínimo/mês, em situação de acentuada pobreza. Não se pode ignorar que o salário mínimo nacional é o 2º menor entre os 9 países da América do Sul, superando apenas o da trágica Venezuela
Para deixar, de uma vez por todas, de ser o “país do futuro” para ser uma nação justa e solidária, o Brasil precisa ser repensado, voltando-se os olhos para a realidade nua e crua dos brasileiros de todas as regiões. É fundamental ter vontade de ver e de ouvir, sensibilidade para captar, humildade para primeiro admitir e depois corrigir os erros, capacidade para gerenciar, firmeza para a tomada de decisões, inteligência para definir um plano de ações a longo e médio prazo, e coragem para executá-lo ainda que os obstáculos sejam muitos.
Há um bom exemplo na história para guiar nossos governantes, o Brasil está ansiosamente aguardando que a eleição que se avizinha agora em 2026 traga um novo Estadista a deixar um legado como Juscelino, alguém que pense além do seu mandato e não em reeleição. Sempre lembro do conselho do imortal Ariano Suassuna “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
Valor - SP 13/10/2025
Guerra tarifária e ameaça dos carros elétricos chineses baratos mudaram o cenário do setor
Apesar de investir bilhões de dólares em veículos elétricos, grande parte da indústria automobilística tradicional está se adaptando rápida e alegremente a uma nova realidade: a de uma vida mais longa para o motor a combustão.
Jim Farley, executivo-chefe da Ford, chamou essa mudança de “oportunidade de múltiplos bilhões de dólares”, enquanto a concorrente General Motors (GM) está apostando US$ 900 milhões no futuro de um motor V8 mais limpo, que pode ser usado em caminhonetes e utilitários esportivos (SUVs) movidos a gasolina ou híbridos.
Entretanto, analistas alertam que essa guinada envolve grandes riscos, dada a rápida ascensão da China no segmento de veículos elétricos.
A retomada do foco nos veículos a gasolina e híbridos - ambos com motores a combustão interna - se dá depois da esperada desaceleração na demanda por veículos elétricos nos Estados Unidos, após o presidente Donald Trump cancelar os créditos fiscais para a compra de veículos elétricos e propor a revogação das regras sobre emissões de gases do efeito estufa.
“É um divisor de águas”, disse Farley no mês passado, quando os créditos para os veículos elétricos expiraram, acrescentando que “não ficaria surpreso” se as vendas dos veículos elétricos no mercado americano caíssem de cerca de 10% para 5% do mercado.
Ford e GM não estão sós. A Stellantis também ressuscitou o motor Hemi V8 nas picapes leves Ram e em uma nova versão do Dodge Charger com motor a gasolina.
A Honda do Japão reduziu seus investimentos futuros em elétricos e adiou por dois anos um projeto de US$ 11 bilhões para uma fábrica de veículos elétricos e baterias no Canadá, enquanto a Hyundai da Coreia do Sul recentemente anunciou planos para uma nova picape de médio porte nos EUA.
Mesmo na Europa e no Reino Unido, onde as vendas de veículos elétricos aumentaram este ano, representando 20% dos novos registros em agosto, segundo a associação setorial Acea, uma reversão ainda é possível. Bruxelas e a indústria automobilística estão no meio de um “diálogo estratégico”, enquanto executivos europeus pedem que a proibição dos motores a gasolina em 2035 seja flexibilizada para permitir outras tecnologias, como os híbridos.
Somente a China avançou rapidamente em sua transição verde com os veículos elétricos, que devem superar as vendas de carros a gasolina em uma base anual pela primeira vez neste ano.
Para um setor pressionado pelos custos mais altos resultantes da guerra de tarifas de Trump e a concorrência acirrada dos veículos elétricos chineses, a maior longevidade dos motores a gasolina em seu mercado mais lucrativo não poderia ter acontecido em melhor momento.
“O ciclo dos motores a combustão está agora mais longo e robusto do que qualquer um jamais imaginou”, disse o diretor financeiro da GM, Paul Jacobson, em uma conferência recente, mesmo com a companhia continuando a investir em novos veículos elétricos. “Isso será um motor de fluxo de caixa muito maior.”
A perda significativa de participação das marcas estrangeiras no mercado chinês também deixa o setor com pouca escolha, a não ser buscar mais vendas nos EUA.
“O perigo é que isso se transforme, a longo prazo, no desafio do chicote de carruagem”, diz Mark Wakefield, líder global de mercado automotivo na AlixPartners. “Em dez anos, elas poderão acordar sendo empresas muito regionais, relevantes apenas nos EUA, o que limitaria bastante seu potencial de longo prazo.”
Apesar da queda recente nos preços das baterias, os veículos elétricos são menos lucrativos que seus equivalentes a gasolina, com margens ainda maiores para picapes e SUVs de grande porte. No ano passado, a Ford teve prejuízo operacional de US$ 5 bilhões em sua operação de veículos elétricos, mas obteve US$ 5,3 bilhões com sua divisão de motores a combustão.
A AlixPartners reduziu quase pela metade sua previsão para os veículos elétricos nos Estados Unidos e agora acredita que os veículos totalmente elétricos representarão 7% das vendas em 2026, enquanto os movidos a gasolina deverão ficar com 68% do mercado e os híbridos, com 22%. Mesmo em 2030, os veículos elétricos deverão representar apenas 18% do mercado americano - bem abaixo dos 40% na Europa e 51% na China.
Entre os poucos perdedores com a reversão do ambiente regulatório nos Estados Unidos estão especialistas em veículos elétricos como a Tesla, que na semana passada alertou que as mudanças nas regras de emissões “privarão os consumidores de escolha e de amplos benefícios econômicos” e “terão efeitos negativos na saúde humana”.
Outra prejudicada é a fabricante alemã de veículos esportivos Porsche, que recentemente alertou para um impacto de € 1,8 bilhão em seu lucro operacional anual, devido ao custo de expandir sua linha de veículos a gasolina e híbridos, após sua aposta radical nos veículos elétricos ter fracassado.
“A morte do motor a combustão interna não vai acontecer na nossa geração”, afirmou Joseph McCabe, presidente da AutoForecast Solutions.
O ciclo dos motores a combustão está agora mais longo e robusto”
— Paul Jacobson
Entre os que, segundo analistas, saem mais fortalecidos estão a BMW e a Toyota, com sua abordagem “multicaminhos” para a neutralidade de carbono. O CEO da BMW, Oliver Zipse, disse recentemente que a montadora sempre seguiu uma “estratégia flexível” e que ignorar a demanda contínua por carros a gasolina foi “um erro”.
Apesar de uma estimativa de encargos tarifários anuais de 1,4 trilhão de ienes (US$ 9,3 bilhões), as vendas vigorosas de híbridos nos EUA ajudaram a levar as vendas globais da Toyota a um recorde nos primeiros oito meses do ano, com alta de 6,2% para 7,4 milhões de unidades. Os híbridos responderam por cerca de 40% das vendas e o estoque desses veículos nos EUA era equivalente a apenas cinco dias em maio - muito abaixo da média do setor.
“Para os veículos com motor a combustão interna, continuamos aperfeiçoando nossas tecnologias elementares”, afirmou o presidente da Toyota, Koji Sato, em maio passado.
A perspectiva da China, hoje o maior mercado automotivo do mundo, é completamente diferente e analistas alertam sobre os perigos de fabricantes tradicionais, especialmente os grupos americanos, desacelerarem na eletrificação para se concentrar novamente nos motores a gasolina.
Os grupos chineses estão aumentando os investimentos em carros elétricos e agora dominam a produção desses veículos. A China produziu 18,6 milhões de carros a gasolina no ano passado - dos quais mais de 4 milhões foram exportados -, comparado ao pico de 28,1 milhões registrado em 2017, segundo dados da Automobility.
A China responde por dois terços das vendas globais de veículos elétricos, comparado a apenas 9% dos EUA. A China também detém cerca de 70% do mercado mundial de baterias, além de dominar o processamento de níquel, cobalto e grafite, bem como a produção de cátodos e ânodos.
Embora tarifas de 100% impeçam a BYD e outras montadoras chinesas de entrar no mercado dos Estados Unidos, elas estão fazendo incursões agressivas nos mercados europeus com veículos elétricos e híbridos equipados com tecnologia avançada.
“O mercado de veículos elétricos não está apenas crescendo rapidamente. Sua própria natureza está mudando”, diz Tanya Sinclair, executiva-chefe da Electric Vehicles UK. “É por isso que é decepcionante ver atrasos [nos modelos de veículos elétricos].”
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
Preocupado com a queda nos lucros e os cortes de empregos em toda a indústria automobilística, o chanceler da Alemanha defende que a União Europeia dê às montadoras — e não aos reguladores em Bruxelas — a liberdade de decidir como alcançar a meta do bloco de reduzir de forma significativa as emissões de carbono.
Após se reunir com os chefes das montadoras alemãs e outros representantes do setor automotivo, o chanceler Friedrich Merz prometeu na quinta-feira, 9, pressionar a União Europeia para que recue na política que proíbe a venda de novos veículos que emitam carbono a partir de 2035. A regulamentação tem sido amplamente interpretada como uma proibição dos motores a combustão.
“Vou pressionar para que sejam tomadas decisões na União Europeia que possibilitem um avanço tecnológico abrangente e a neutralidade climática”, disse Merz. “Não com uma data no calendário que não podemos cumprir, que é irrealista, mas com uma perspectiva clara que também abra as oportunidades de futuro necessárias para as empresas na Alemanha.”
Atingidas pela queda na demanda de clientes na China, o maior mercado automotivo do mundo, as montadoras alemãs têm visto as vendas de seus carros diminuírem de forma constante nos últimos anos. As tarifas impostas pelo presidente Trump só pioraram a situação.
A Porsche juntou-se nesta quinta-feira à BMW e à Mercedes-Benz ao registrar vendas mais fracas na China, onde os consumidores têm preferido marcas locais mais baratas, como BYD e Xiaomi. Na quarta-feira, 8, as ações da BMW despencaram 7% após a empresa reduzir sua previsão de lucro e fluxo de caixa, citando as tarifas dos EUA.
A dor é sentida em comunidades por toda a Alemanha, onde a indústria automobilística eliminou cerca de 51,5 mil empregos entre junho de 2024 e 2025, segundo um estudo da EY. Grupos do setor começaram a alertar que novas perdas podem aprofundar a divisão política no país.
Como parte dos esforços da Alemanha para fortalecer a indústria e tornar os veículos elétricos mais atraentes, Merz anunciou um incentivo de € 3 bilhões (cerca de US$ 3,5 bilhões), destinado a ajudar famílias de baixa renda a comprar carros elétricos. O programa começará no próximo ano e terá duração de três anos.
Merz e os líderes do setor reforçaram repetidas vezes seu apoio à meta da União Europeia de avançar rumo à mobilidade totalmente elétrica. Mas as montadoras alemãs argumentam que os consumidores ainda não estão convencidos da tecnologia e que a infraestrutura de recarga nos 27 países do bloco ainda é insuficiente para eliminar o medo de ficar sem energia na estrada.
As fabricantes alemãs defendem que a regra seja flexibilizada para permitir veículos híbridos — que têm motor a combustão e elétrico — e também motores a combustão que funcionem com combustíveis ambientalmente sustentáveis.
Hildegard Müller, presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva, destacou que 70% dos empregos na indústria automobilística alemã estão ligados às exportações. Ao mesmo tempo, ela observou que diferentes países estão apostando em tecnologias diferentes.
“Se quisermos manter nossos números de vendas e, portanto, também nossos níveis de emprego aqui, precisamos estar em posição de oferecer diversos tipos de tecnologias climaticamente neutras, só por essa razão”, afirmou Müller.
A Alemanha terá de convencer outros países da União Europeia a apoiarem sua posição e espera que nações com grandes indústrias automobilísticas, como República Tcheca, França, Hungria, Itália e Espanha, se unam a ela.
Mas, no mês passado, mais de 150 empresas do setor de veículos elétricos — incluindo Samsung, Uber e as montadoras Volvo e Polestar — assinaram uma carta aberta pedindo à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que mantenha o compromisso com a meta de 2035.
“Nossas empresas e setores comprometeram centenas de bilhões de euros em novos investimentos, já criando mais de 150 mil novos empregos, desde gigafábricas de baterias na França e na Alemanha até fábricas de automóveis novas ou reformadas na Eslováquia e na Bélgica”, dizia a carta.
“Adiar a meta de 2035 ou ampliar o foco após essa data para tecnologias de transição menos eficientes travaria esses avanços coletivos, minaria a confiança dos investidores e entregaria permanentemente a vantagem aos concorrentes globais”, acrescentaram as empresas.
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, anunciou nesta sexta-feira, 10, que a instituição voltará a financiar até 80% de imóveis comprados via Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) - que financia imóveis com recursos da caderneta de poupança. Em outubro do ano passado, o banco havia reduzido essa fatia máxima do financiamento para 70%, uma vez que a carteira de crédito habitacional do banco havia superado o orçamento aprovado para o ano.
Vieira também lembrou que o teto de financiamento para imóveis pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH) subirá de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. Segundo ele, ações dessa natureza, e de forma conjunta, estimularão o segmento de construção civil a fazer seu papel no País. Os anúncios foram feitos durante evento em São Paulo, com a presença do presidente Lula, para anunciar mudanças no financiamento habitacional, voltados principalmente para a classe média.
O modelo prevê, principalmente, que 100% dos recursos da caderneta de poupança sejam voltados ao crédito habitacional. Hoje, esse limite é de 65%.
No mesmo evento, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, disse que o lançamento do novo crédito imobiliário faz com que o governo consiga aproximar o comprador do sonho da casa própria. Segundo ele, as entidades parceiras da CBIC vão contribuir com sugestões e experiências de mercado para que a medida funcione.
O presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, por sua vez, disse que o lançamento do novo modelo representa um “passo importante” à expansão dos financiamentos a moradias.
“O Brasil tem um ratio de crédito imobiliário sobre o PIB de 10%. Em países desenvolvidos, presidente, tem 50%. Ou seja, temos muito a crescer ainda no crédito imobiliário do Brasil”, disse. / Eduardo Laguna, Circe Bonatelli, Caroline Aragaki e Geovani Bucci
Exame - SP 13/10/2025
Criada em 2019 em Toledo, no oeste do Paraná, a Prati Empreendimentos tem se destacado por transformar o sonho do imóvel próprio em uma experiência exclusiva. A empresa atua na incorporação de residenciais e loteamentos voltados para o programa Minha Casa, Minha Vida, com o compromisso de elevar continuamente a qualidade dos produtos entregues.
“Para quem compra, é a concretização de um sonho, para nós é responsabilidade de fazer uma entrega que vai além das chaves”, ressalta Gustavo Prati, fundador e presidente da Prati Empreendimentos.
O crescimento da empresa foi rápido: entre 2023 e 2024, a construtora registrou alta de 101%, resultado expressivo que foi reconhecido nacionalmente no ranking Negócios em Expansão 2025, promovido pela revista EXAME em parceria com o BTG Pactual e suporte técnico da PwC Brasil.
Esses números continuam crescendo, só em 2025 a empresa deve alcançar R$ 300 milhões em lançamento de Valor Geral de Vendas (VGV), incluindo incorporações e loteamentos. Esse desempenho consolida a Prati Empreendimentos como um dos novos players importantes no segmento de habitação acessível.
Raízes empreendedoras
“Trouxemos para a construção civil a mentalidade de longo prazo e um padrão de gestão de excelência que aprendemos no setor industrial”, afirma Gustavo Prati. “Queremos crescer apoiados por uma cultura organizacional forte e com resultados consistentes.”
Antes de ingressarem no setor da construção civil, os irmãos e sócios Gustavo, Alexandre e Ricardo Prati atuaram no segmento de cosméticos. Eles também trazem na bagagem para gestão da empresa a tradição empreendedora do grupo empresarial farmacêutico da família, que atualmente tem mais de três décadas de atuação em todo o Brasil.
Com déficit habitacional estimado em 6 milhões de moradias, segundo a Fundação João Pinheiro em parceria com o Ministério das Cidades, o Brasil oferecia uma oportunidade clara. A Prati focou no programa Minha Casa, Minha Vida, com imóveis entre R$ 200 mil e R$ 500 mil — mas com um diferencial: elevar o padrão do que é entregue.
“Nosso time atua com a visão de estar entre os melhores do programa Minha Casa, Minha Vida, sem abrir mão de resultados econômico-financeiros sólidos. Mais do que entregar chaves, buscamos oferecer qualidade de vida, urbanismo bem planejado e empreendimentos que transformam o dia a dia das pessoas”, afirma o presidente.
O novo padrão de qualidade no Minha Casa, Minha Vida
A Prati Empreendimentos se destaca por ir além do tradicional no programa Minha Casa, Minha Vida, a empresa entrega projetos pensados para proporcionar uma experiência completa aos futuros moradores. “Cada detalhe é planejado para valorizar o bem-estar: piscina, espaço pet, academia, salão gourmet, playground, áreas verdes Alguns empreendimentos chegam a oferecer mais de 30 opções de lazer e convivência”, destaca o gestor.
O conceito de home club, normalmente presente em empreendimentos de médio e alto padrão, é aplicado pela Prati em projetos voltados para a habitação acessível. Um exemplo emblemático é o Residencial Carmel, concebido com infraestrutura de alto nível, e que pretende situar-se como um dos melhores do programa Minha Casa, Minha Vida no país. “Nosso compromisso é entregar um projeto que realmente se destaque entre os melhores do Brasil”, reforça Gustavo Prati.
Gestão e diferenciais
“Trabalhar na Prati é inspirador. Minha trajetória dentro da empresa, passando por diferentes áreas até chegar à posição atual de gerente de Planejamento e Governança, me permitiu vivenciar quanto a convivência com profissionais experientes fortalece nosso crescimento. Cada conquista reflete a soma desse aprendizado coletivo e a dedicação do time”, destaca Gustavo Sordi, que em três anos de atuação na Prati acompanhou a evolução da empresa e viu sua carreira crescer rapidamente.
Um dos principais pilares da empresa é o investimento em pessoas. Na Prati Empreendimentos a cultura organizacional é tratada com seriedade, isso inclui desde um processo preocupado com a comunicação, por meio de um ritmo de reuniões ajustado, até programas de desenvolvimento individual.
A estrutura de gestão promove um ambiente colaborativo, favorecendo a inovação, a retenção de talentos e o crescimento acelerado, refletindo o princípio norteador do presidente Gustavo Prati de que o sucesso da empresa depende diretamente da força e do engajamento do time. “Eu acredito que você não constrói uma empresa, você constrói um time. E o time constrói a empresa”, resume Gustavo, citando um dos lemas que guiam a gestão.
Esse olhar também chega ao produto. O Residencial Carmel, lançado recentemente, oferece 280 unidades e uma infraestrutura que foge ao padrão do segmento popular, perfazendo: quadra de beach tennis, piscina, pista de caminhada, academia, salão de festas e 3.500 m² de área social.
“Queremos que a pessoa compre seu primeiro imóvel e se surpreenda com o padrão de entrega. Cada empreendimento é planejado para gerar valor real e segurança ao comprador, reforçando nossa reputação de qualidade e confiabilidade no mercado”, explica o presidente.
Planos para o futuro
O projeto de expansão já tem destino certo: em 2026, a Prati avança para outras cidades do oeste do Paraná e, até 2027, planeja marcar presença em pelo menos quatro cidades brasileiras. “Nosso desafio agora é atrair as melhores pessoas para sustentar essa trajetória. Queremos ser referência em moradias de qualidade no curto prazo e, no longo prazo, nos consolidar também como player de grande porte com presença nacional”, diz Gustavo.
Veja - SP 13/10/2025
Cada vez mais à vontade no papel de candidato à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou recentemente o anúncio de medidas destinadas a aliviar o bolso dos brasileiros em troca de votos em 2026. Muitas têm um claro viés populista e forte impacto fiscal, como a ampliação do programa de distribuição gratuita de gás de cozinha, que beneficiará 15,5 milhões de famílias ao custo de 5,1 bilhões de reais no próximo ano, e o aumento do número de contemplados por isenções ou reduções na conta de energia elétrica, que demandará quase 4 bilhões de reais. A maioria das benesses mira a população de baixa renda, tradicional reduto eleitoral de Lula. Para garantir o quarto mandato presidencial, porém, ele sabe que precisa reduzir sua rejeição entre os eleitores de renda mais elevada. A isenção do imposto de renda para quem ganha até 5000 reais mensais e a revisão da tabela para salários até 7350 reais, aprovadas pela Câmara e em tramitação no Senado, são parte dessa estratégia. Outra frente é garantir o acesso da classe média a crédito imobiliário mais barato por meio do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Em maio, o governo surpreendeu o mercado ao anunciar a criação da faixa 4, destinada a famílias com renda de 8600 a 12000 reais por mês e imóveis avaliados entre 350000 e 500000 reais. A medida deve beneficiar cerca de 1,4 milhão de famílias, número comemorado pelo setor imobiliário. “São iniciativas muito bem-vindas”, afirma Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP, que representa as construtoras paulistas. “Elas mostram que o governo está atento ao setor.”
O apoio à classe média chega em boa hora, já que esse é o estrato social que enfrenta mais dificuldades para comprar a casa própria. De um lado, a população de menor renda é beneficiada pelo MCMV desde 2009, quando foi criado. De outro, é comum que os mais abonados comprem imóveis à vista ou financiem apenas uma pequena parcela do valor. Já o crédito para o miolo da pirâmide é bancado sobretudo com recursos da poupança, cujo saldo vem caindo à medida que os correntistas sacam o dinheiro para investir em aplicações financeiras com maior rentabilidade, impulsionadas pela taxa Selic que se encontra acima dos 10% ao ano desde fevereiro de 2022. No primeiro semestre, ressalte-se, o saldo da poupança recuou 38 bilhões de reais, para 762 bilhões.
A retração do crédito imobiliário foi parcialmente compensada pelos bancos por meio da emissão de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). Para atrair investidores, esses títulos precisam oferecer juros compatíveis com os do mercado, o que eleva o custo de captação e, consequentemente, as taxas cobradas dos compradores da classe média. Enquanto a poupança remunera os depósitos com juros anuais de 6% mais a taxa referencial, o financiamento imobiliário já chega a cobrar até 13% ao ano. Até junho, foram financiados 211500 imóveis com recursos da poupança, somando 73,6 bilhões de reais — uma queda de 15% no número de unidades e de 10% no valor em relação ao mesmo período do ano passado. “Os negócios imobiliários sustentados pela poupança caem há muito tempo”, afirma Clausens Duarte, vice-presidente de Habitação Social da CBIC, entidade que reúne as construtoras brasileiras. “É um setor muito sensível aos juros.”
As dificuldades apenas aumentam o peso do MCMV, que já representa cerca de metade do mercado imobiliário brasileiro. No primeiro semestre, por exemplo, o programa popular bancou 93535 das 186547 unidades lançadas no país. Enquanto as vendas do setor, no geral, subiram 9,6% no período, as do MCMV saltaram 26%, para pouco mais de 95000 unidades. A faixa 4 deve turbinar ainda mais os números. Desde que foi criada, em maio, o ritmo de unidades financiadas cresce 20% ao mês e as empresas creem que ela alcançará sua velocidade de cruzeiro dentro de oito meses, financiando 10000 unidades mensais.
Como era de esperar, o enorme potencial do mercado despertou o apetite das incorporadoras. A MRV, maior construtora do país e com ampla experiência no Minha Casa, Minha Vida, está entre as mais beneficiadas. “A criação da faixa 4 foi muito boa para nós, porque alcança um nicho que sofria com o crédito caro”, afirma Eduardo Fischer, presidente da companhia. “Antes dela, trabalhávamos com poucos imóveis nesse segmento.” Outra empresa que deve sentir impacto imediato é a BRZ, de forte presença nas grandes cidades do Sudeste. Com cerca de 40% dos empreendimentos enquadrados nos critérios da nova faixa do MCMV, a incorporadora planeja ampliar sua atuação para além das regiões metropolitanas. “O teto de 500000 reais para o valor das unidades viabiliza projetos em muitas cidades do interior”, afirma Anderson Morais, diretor comercial da BRZ.
No acumulado do ano até agosto, o Índice Nacional de Custo da Construção, apurado pela Fundação Getulio Vargas, alcançou 5,13%, acima dos 3,15% registrados pelo IPCA do período. O aumento de custos desafia os incorporadores que atuam com o MCMV, mas também estimula a busca de soluções para produzir mais unidades com o mínimo de materiais e horas trabalhadas. Para o empresário Roberto Justus, a resposta está nas casas pré-moldadas. Em setembro, a Steel Group, empresa que ele fundou em 2023 com o sócio Daniel Gispert, inaugurou uma fábrica de 16000 metros quadrados em Cajamar, na Grande São Paulo, com capacidade para fornecer 10000 casas por ano, o que deve elevar o faturamento da companhia para 1 bilhão de reais. “Temos modelos com uma pegada popular para atender parceiros que atuem em projetos como o Minha Casa, Minha Vida”, afirma Justus. “O déficit habitacional só será atendido com a industrialização da construção para ganharmos escala.” A referência é à estimativa de que faltam 7 milhões de moradias no país.
Outro desafio é assegurar a continuidade da faixa 4. Ao contrário das outras faixas do MCMV, que são bancadas com recursos do FGTS, a nova classificação é sustentada pelo Fundo Social do Pré-Sal. A aplicação desse dinheiro em habitação foi sancionada por Lula neste ano. O governo destinou 15 bilhões de reais ao programa até dezembro e as construtoras esperam mais 20 bilhões no ano que vem. O receio é que, passada a eleição presidencial, em outubro de 2026, a faixa 4 seja de alguma forma desidratada.
O setor também está otimista com o novo modelo de crédito imobiliário que acaba de sair do forno. Fruto de uma articulação entre a equipe econômica e o Banco Central, o sistema é baseado na flexibilização do depósito compulsório. Hoje, de cada 100 reais depositados na poupança, os bancos são obrigados a manter 20 reais numa conta do BC como margem de segurança. Outros 65 reais devem ser destinados ao crédito imobiliário com juros regulados, enquanto os 15 reais restantes podem ser emprestados a taxas de mercado. Pela nova regra, os bancos poderão aplicar parte do compulsório no mercado financeiro e usar o rendimento obtido para reduzir os juros cobrados dos mutuários. Na fase inicial, as instituições poderão liberar até 5% do valor retido, o que representa 35 bilhões de reais. Posteriormente, a liberação poderá chegar a 100% dos recursos. “Diante da queda do saldo da poupança, isso será um fator multiplicador de crédito”, afirma Luiz França, presidente da Abrainc, entidade que representa as maiores incorporadoras do país. Já o presidente Lula aposta que a medida também ajudará a impulsionar outro ativo: sua popularidade ao longo de 2026.
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que desde o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), a participação do crédito imobiliário no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro praticamente dobrou. Ainda assim, afirmou que o crédito imobiliário do Brasil está abaixo de países pares por questões estruturais, com o Chile tendo crédito quase três vezes maior, por exemplo.
Entre as questões estruturais, o presidente do BC citou que a limitação da fonte de recursos (funding) restringe o crescimento do crédito imobiliário, gerando uma tendência de queda.
Galípolo, então, agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter solicitado uma mudança estrutural, e não paliativa, para o crédito imobiliário. “Eu preciso aqui agradecer ao presidente Lula, que desde o primeiro momento disse: ‘Eu não quero uma solução paliativa, eu não quero uma solução que a vida das pessoas vai melhorar em um momento para, em seguida, darmos passos para trás. Eu quero uma mudança estrutural, eu quero uma solução estrutural’”, afirmou.
As declarações foram feitas em discurso durante cerimônia de lançamento do novo modelo de crédito imobiliário.
O presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, afirmou que o lançamento, nesta sexta-feira, 10, do novo modelo de crédito imobiliário representa um “passo importante” à expansão dos financiamentos a moradias.
“O Brasil tem um ratio de crédito imobiliário sobre o PIB de 10%. Em países desenvolvidos, presidente, tem 50%. Ou seja, temos muito a crescer ainda no crédito imobiliário do Brasil”, comentou França, dirigindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de apresentação do novo crédito imobiliário, em São Paulo.
O novo modelo, ressaltou o presidente da Abrainc, tem como objetivo alavancar a oferta de crédito, o que vai ser importante para a classe média brasileira, permitindo que centenas de milhares de famílias possam realizar “o sonho da casa própria”.
Exame - SP 13/10/2025
A história empreendedora do paulista Caio Santomo começou bem longe do mercado imobiliário, onde hoje fatura alto.
Na verdade, foi nas ruas de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, vendendo saquinhos de pinhão para turistas que ele aprendeu as primeiras lições de negociação.
“Comprava três por 10 reais e vendia cada um por cinco. O lucro estava na conversa e no jeito de oferecer”, lembra.
De noite, voltava para a porta dos bares, onde vendia CDs com gravações da mãe, cantora.
Hoje, aos 35 anos, Caio é CEO da CSX Holding, grupo com atuação em construção civil, multipropriedade e centros comerciais, e que projeta 2,3 bilhões de reais em Valor Geral de Vendas Bruto (VGVB) até o fim de 2025.
Com crescimento acelerado desde 2018, a empresa já atua em cidades como São José dos Campos, Campos do Jordão e Aparecida do Norte, com foco em turismo e projetos de baixa sazonalidade.
Nos próximos cinco anos, planeja chegar a 100.000 frações habitacionais comercializadas, além de iniciar a expansão internacional pela América do Sul.
A estratégia da CSX passa por controle total da operação — do terreno à venda — e por uma estrutura que busca entregar não só hospedagem, mas também entretenimento e serviços nas regiões onde atua.
Qual é a história de Caio
Nascido em Campinas, Caio Santomo viveu a infância entre mudanças de cidade.
Depois da separação dos pais, a mãe, cantora, passou a sustentar sozinha os filhos. Foi só na adolescência, já em Campos do Jordão, que Caio começou a ganhar o próprio dinheiro.
Primeiro com uma barraca de pinhão: comprava os saquinhos por atacado e revendia com margem.
Depois, com os CDs da mãe, que ele mesmo vendia ao final dos shows.
“Tinha concorrente dos dois lados, era disputa de rua. O atendimento fazia a diferença. Se o cliente ria, eu vendia”, afirma.
Ele estudava de manhã, vendia à tarde e ajudava a mãe com o equipamento de som à noite.
“Era puxado, mas eu aprendi a gostar de vender. Até hoje, me considero mais vendedor do que empresário. Vender é o que me trouxe até aqui.”
A primeira chance com carteira assinada veio em uma loja de roupas, onde começou como estoquista.
“Ali eu aprendi processo, organização, estoque. E mais tarde fui pra outra loja, como vendedor mesmo. Atendi um cliente que era gerente de uma rede de móveis planejados e ele me puxou pro time. Foi minha entrada real no mundo comercial.”
Na rede Sidlar, chegou rápido a gerente e depois supervisor.
Passou a cuidar de unidades em cidades como São José dos Campos, Ribeirão Preto e Campinas. “Em dois anos, saí de mil reais por mês pra 20 mil só de comissão. Era muito pra quem começou vendendo pinhão”, diz.
O crescimento foi rápido, mas a virada viria logo em seguida.
O fundador da rede descobriu uma doença terminal e decidiu fechar as lojas do interior. Caio ficou responsável pelo processo de encerramento e, com a rescisão em mãos, decidiu abrir o primeiro negócio, de móveis planejados.
“Comprei uma loja, depois mais outra, e assim foi. Em dois anos, tínhamos 10 unidades. Era um foguete, mas mal estruturado. Tive uma sociedade com meu irmão que acabou em conflito. Foi minha primeira grande quebra.”
Da publicidade à construção civil
Depois do rompimento com o irmão e o fim da rede de lojas de móveis planejados, Caio decidiu repensar tudo.
O que sobrou do negócio foi uma agência de publicidade criada para atender a própria operação.
“Era pra ser algo interno, mas começou a atrair cliente grande. Atendemos a 99 Pop, várias construtoras. A agência virou negócio”, diz.
Foi nesse meio tempo, entre campanhas e eventos, que Caio começou a se aproximar do setor imobiliário.
O contato com construtoras e o interesse por dados de mercado levaram à descoberta do modelo de multipropriedade, recém-regulamentado no Brasil com a lei de 2018, sancionada por Michel Temer.
“Na época, ninguém sabia direito o que era. Fui estudar, entender. Vi que resolvia um problema real: a sazonalidade das cidades turísticas.”
A aposta veio durante a pandemia. Enquanto o mercado travava, Caio enxergou uma oportunidade. “A pandemia alongou. Os preços de terreno caíram. Comecei a comprar onde dava, com o pouco caixa que tinha. Sabia que aquilo era passageiro. E me preparei para sair na frente quando reabrisse”, afirma.
O projeto nasceu em Campos do Jordão, onde ele conhecia a dinâmica do turismo desde os tempos de pinhão. E virou negócio de verdade com a fundação da Monte Carlo Empreendimentos, o braço imobiliário da holding CSX.
“O produto era fração. Mas o que a gente realmente vendia era tempo, memória, experiência. Sempre pensei assim.”
A operação cresceu rápido, ancorada numa ideia simples: oferecer projetos diferentes para públicos diferentes — sem tentar empurrar um produto único para todo mundo.
“Campos do Jordão, por exemplo, tem pelo menos três perfis de turista. Criamos um empreendimento pra cada um deles. Um mais acessível, outro intermediário e um topo de linha.”
Hoje, a CSX vende mais de 20 mil frações por ano e já soma 1,3 bilhão de reais em VGVB só em Campos.
A verticalização veio como resposta a problemas operacionais: todas as etapas passaram a ser feitas dentro de casa — da venda ao pós-atendimento. “Era muito problema com terceirizado. A gente comprou uma das maiores empresas do setor só pra resolver isso”, afirma.
Modelo verticalizado
O modelo adotado pela CSX se apoia em uma lógica de verticalização total.
A empresa compra os terrenos, desenvolve os projetos, constrói, comercializa, opera os pontos de venda, gerencia os contratos e cuida do atendimento ao cliente no pós-venda. Tudo dentro do grupo.
Segundo Caio, a decisão de internalizar tudo veio de uma frustração com práticas do setor.
“Era comum ver venda forçada, abordagem na rua, cliente se sentindo enganado. Isso só afasta o público. A gente comprou uma das maiores operadoras do Brasil só pra garantir que ninguém fosse abordado de forma errada”, afirma.
Hoje, a CSX exige que o cliente assine 12 cláusulas específicas, além do contrato principal. Se houver dúvida ou arrependimento, o distrato é aceito — mesmo após o prazo legal.
Mas o modelo ainda enfrenta resistência em parte do mercado, especialmente pelo histórico controverso de outras empresas no setor e pela dificuldade de explicar o produto ao consumidor.
Multipropriedade não é simples de entender — e muita gente ainda associa a promessas exageradas ou problemas com o uso do imóvel.
Caio reconhece que o desafio é estrutural: É diferente de vender um apartamento. É uma fração, com regras, calendário, intercâmbio, tudo isso. Por isso que a venda tem que ser impecável.”
100 mil frações e uma meta de cinco anos
A CSX já atua em cidades como Campos do Jordão, São José dos Campos e Aparecida do Norte, mas os planos para os próximos anos são mais ambiciosos.
A meta é comercializar 100 mil frações imobiliárias até 2030, com entrada em novos destinos turísticos no litoral paulista, interior de SP, sul de Minas e até em cidades da América do Sul.
“Estamos com várias regiões mapeadas. Ubatuba, Ilhabela, litoral sul, Rio de Janeiro. Mas não vamos lançar nada sem estudo. Crescer é importante, mas manter a experiência no centro do negócio é o que vai sustentar a marca no longo prazo”, afirma Caio.
Com mais de 20 mil frações já vendidas, a holding se prepara para entregar o Colina Fontana, seu primeiro projeto 100% desenvolvido sob o novo modelo. A obra já está em andamento e deve ser concluída em dois anos. Segundo Caio, o empreendimento está com vendas 35% acima da expectativa inicial e índice de distratos 20% abaixo da média do mercado.
Revista Ferroviaria - RJ 13/10/2025
A VLI, companhia de soluções logísticas que opera ferrovias, portos e terminais, firmou um contrato de prestação de serviços de manutenção (MSA) com a Progress Rail, empresa do grupo Caterpillar e fornecedora global de produtos, serviços e tecnologias ferroviárias. O acordo, com duração de 10 anos, tem como foco as operações ferroviárias da VLI no Corredor Norte — estrutura que conecta o estado do Tocantins ao sistema portuário de São Luís e capta cargas de toda a região do Matopiba, além dos estados do Pará, Mato Grosso e Goiás. Este é o primeiro contrato do tipo firmado pela Progress Rail na América do Sul.
Segundo a VLI, o MSA reforça o compromisso da companhia com a sustentabilidade operacional e a excelência na gestão de performance dos ativos ferroviários, com uma visão de longo prazo. “O acordo permitirá que a VLI foque ainda mais em sua estratégia de atendimento ao cliente e planejamento, sempre visando a excelência operacional. Contaremos com a expertise da Progress Rail para manter o material rodante do Corredor Norte em condições que garantam eficiência e segurança no transporte de cargas. Caso a parceria entregue os resultados esperados, poderemos considerar aplicar o mesmo modelo à FCA”, afirmou Fábio Marchiori, CEO da VLI.
A parceria foi estruturada para aumentar a disponibilidade e a confiabilidade da frota de locomotivas da VLI, atendendo à crescente demanda por transporte de cargas na região.
Jack Zhang, vice-presidente executivo da Progress Rail, destacou a importância estratégica da colaboração. “É um verdadeiro privilégio trabalhar com a VLI nessa jornada de transformação. A Progress Rail tem orgulho de trazer nossa cadeia de suprimentos global, expertise em produtos OEM e soluções avançadas de monitoramento digital para apoiar o desenvolvimento de uma operação ferroviária de classe mundial na região norte do Brasil. Agradecemos ao Fábio e sua equipe de liderança pela visão, alinhamento cultural e confiança contínua na Progress Rail. Esperamos construir uma relação forte e duradoura que continue crescendo e gerando valor sustentável”, declarou.
Valor - SP 13/10/2025
A aposta do governo é no engajamento de investidores estrangeiros, mas até aqui a sua participação neste segmento tem sido tímida
O programa federal de concessões de rodovias vem crescendo a toque de caixa. O ano de 2025 será provavelmente o período com o maior número de projetos leiloados da história. A expectativa do governo federal é que até o final de 2026 sejam realizadas 35 licitações de concessões apenas no programa federal. Somados os projetos que estão no planejamento de Estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, o Brasil poderá ostentar a maior carteira de concessões rodoviárias do mundo, rivalizando apenas com a Índia.
A boa fase dos leilões não se explica apenas pela quantidade de projetos, mas pela diversificação do mercado ocorrida nos últimos anos. Para um mercado que há poucos anos era excessivamente concentrado, diversos novos grupos estrearam nas últimas licitações, com uma sinalização do ingresso de um número cada vez maior de grupos financeiros. Isso vem aumentando o grau de competitividade nos leilões.
Além disso, 2025 também é o ano em que colhemos os primeiros frutos da agenda de repactuação das quatorze concessões estressadas iniciada ainda em 2023, com a participação do Ministério dos Transportes, ANTT e TCU. Com a repactuação já concluída dos contratos da MSVia (BR-163/MS) e da Eco101 (BR-101 ES-BA), aguardam-se ainda para esse ano a conclusão das repactuações da Fernão Dias (BR-381 MG-SP) e da Autopista Fluminense (BR-101 RJ). Estas repactuações poderão sanear as concessões em crise e acelerar a implantação de investimentos na recuperação e expansão destas rodovias.
O pano de fundo do desenvolvimento do setor tem sido os aprimoramentos regulatórios implementados pela ANTT. A agência vem conduzindo já há alguns anos aquilo que foi apelidado de a “revolução regulatória, com a criação de cinco blocos de normas regulatórias (os RCRs), que buscam endereçar os principais temas jurídicos e regulatórios desses contratos. No início deste ano, concluiu-se o último deles, abrindo a porta para que os operadores atuais optem por aderir a esses regulamentos em substituição à regulação contratual. Isso poderá provocar paulatinamente a uniformização regulatória no setor.
Um aprimoramento crucial para a melhoria da atratividade desses projetos nesta quinta etapa do programa esteve na atualização de sua matriz de riscos. O poder concedente passou a se responsabilizar pelos riscos não listados expressamente no contrato, chamados de residuais, que antes eram alocados à responsabilidade do operador privado. Já o risco de demanda e o risco de variação no custo de insumos da construção das obras, que tradicionalmente eram suportados pelo concessionário, passaram a ser compartilhados com o poder concedente. Esse compartilhamento reflete a compreensão de que os operadores privados não detêm o controle sobre todos os fatores que interferem nestes riscos. Precisamente por isso, não devem se responsabilizar pelas consequências da materialização destes eventos.
Ainda remanesce no setor um espólio de litígios e discussões sobre reequilíbrios contratuais relacionados à ocorrência de eventos desta natureza, como a crise macroeconômica de 2014 e a crise da pandemia. Os aperfeiçoamentos nas matrizes de riscos que vêm sendo implementados pela ANTT contribuirão para reduzir o grau de litigiosidade na execução de concessões e ampliar a sua eficiência.
Mas a boa fase das concessões de rodovias também evoca desafios. Um deles diz respeito aos limites de estrutura da agência reguladora para cuidar das muitas operações que surgirão neste e nos próximos anos. Esta limitação se relaciona com a ausência de autonomia financeira das agências federais, cujo orçamento está sujeito a contingenciamentos pela União.
A ANTT, assim como diversas outras agências federais, são superavitárias, na acepção de que as suas receitas patrimoniais e tributárias são maiores do que as suas despesas. O problema é que essas receitas não ficam nas agências, mas são atraídas para o caixa único da União e estão sujeitas a cortes e contingenciamentos. Isso tem retirado das agências a sua autossuficiência financeira. Historicamente, estes contingenciamentos têm imposto às agências a necessidade de redução de sua estrutura, pondo em risco a sua capacidade para fazer frente à expansão do programa de concessões. A solução desse problema passa pela alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal, com vistas a tornar as receitas das agências federais insuscetíveis de contingenciamentos.
Outro desafio diz respeito à limitação de capacidade do mercado nacional de absorção desse grande número de projetos. A aposta do governo é no engajamento de investidores estrangeiros, mas até aqui a sua participação neste segmento tem sido tímida. Embora a atratividade dos projetos tenha melhorado nos últimos anos, é necessário evoluir mais.
A competitividade em leilões de grandes concessões do setor de saneamento básico, por exemplo, tem sido nitidamente maior do que se passa com os projetos de concessão rodoviária. Isso é curioso, pois o setor de saneamento ainda oferece um ambiente jurídico e regulatório menos seguro e estável do que o setor de rodovias, além de projetos mais complexos e desafiadores. A explicação talvez esteja em taxas de retorno mais atrativas.
A ANTT revisou recentemente as taxas praticadas nas concessões rodoviárias (com a revisão do chamado “WACC regulatório”), o que contribuiu para melhorar a atratividade dos projetos. Mas regulador e governo precisam estar atentos às sinalizações do mercado, mantendo uma permanente agenda de atualização das modelagens com vistas a tornar os projetos sempre atrativos face às conjunturas da época. Afinal, com a grande oferta de novos projetos e um mercado cada vez mais seletivo, calibrar bem a sua atratividade será crucial para o sucesso dessa agenda.
Fernando Vernalha é doutor em Direito do Estado (UFPR), foi pesquisador visitante na Universidade de Columbia, em Nova York (EUA, 2017), professor de Direito Administrativo, advogado especializado em infraestrutura e sócio fundador do Vernalha Pereira.
A Tribuna - SP 13/10/2025
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) decidiu manter a medida cautelar dada em fevereiro que impede a Autoridade Portuária de Santos (APS) de assinar novos contratos de transição para áreas no cais do Saboó. A decisão que mantém os acordos suspensos, publicada no final do mês passado, foi motivada pelo risco de que ocupações transitórias comprometam o leilão do Terminal de Contêineres (Tecon) Santos 10, previsto para dezembro.
A agência reguladora pediu a análise do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) sobre o tema e só depois deve deliberar novamente sobre o caso. A questão em discussão tem relação com dois procedimentos seletivos simplificados (PSS) que a APS fez no início do ano para que duas empresas ocupassem as áreas SSZ 35.2, com 28,7 mil metros quadrados (m2), e SSZ 39, com 24,4 mil m2, ambas ao lado do terminal Ecoporto, no Saboó.
O relator do processo na Antaq, diretor Wilson Lima Filho, entendeu que havia condições técnicas e jurídicas para derrubar a suspensão e liberar os contratos. Ele ressaltou que não foram identificadas irregularidades nos editais e que os procedimentos seletivos não afrontam os princípios da legalidade, da ampla concorrência ou da isonomia. Ainda assim, pediu a manifestação do MPor antes da liberação.
A diretora Flávia Takafashi concordou em ouvir o MPor, mas divergiu da revogação da cautelar. Afirmou que a Antaq precisaria analisar com mais cautela após a resposta do Ministério. Para ela, “o interesse público principal a ser protegido no momento é a viabilização do Tecon Santos 10”. A diretora disse que é preciso “o máximo esforço para evitar qualquer problema com arrendamentos transitórios na área pretendida, que possa vir a prejudicar a instalação do futuro terminal”.
Flávia destacou que aquelas áreas têm histórico de problemas relacionadas à ocupação transitória, tanto pela baixa produtividade, como pela dificuldade de desocupação após o término dos contratos. Mencionou ainda a necessidade de avaliação adequada da capacidade econômico-financeira das empresas interessadas e destacou que há operações portuárias no local, ou seja, não está ocioso. Os demais diretores, Alber Vasconcelos, Caio Farias e Frederico Dias, acompanharam o voto dela.
Histórico
A medida cautelar suspendendo os contratos foi concedida em fevereiro, após pedido da Set Port Logística Ltda., representada pelo escritório Ruy de Mello Miller Advogados. A empresa alegou ter sido excluída dos certames por exigências que considerou restritivas e sem base técnica. Criticou, ainda, exigências “desproporcionais”, como garantias e comprovações de experiência típicas de arrendamentos de longo prazo, aplicadas a contratos de apenas 180 dias.
Para a Set Port, o conjunto de exigências e limitações reduziu artificialmente a concorrência, levando a certames praticamente sem disputa. A empresa ainda apontou que os editais não previam remuneração variável atrelada à Movimentação Mínima Exigida (MME), o que poderia estimular a subutilização das áreas.
Nos documentos encaminhados à Antaq, a APS defendeu os contratos para assegurar “plena ocupação e efetiva utilização operacional” das áreas do Saboó, que vinham sendo subaproveitadas. A estatal afirmou ainda que os contratos de transição poderiam utilizar, de forma parcial e eventual, o berço CS-04, no mesmo trecho do cais e usado pelo Ecoporto. Segundo a APS, o compartilhamento ocorreria seguindo critérios técnicos e operacionais, visando permitir atracações simultâneas no cais do Saboó sem prejuízo à dinâmica vigente.
Autoridade portuária e Ministério se manifestam
Questionada por A Tribuna, a APS disse que o objetivo, ao promover contratos transitórios, é garantir a plena utilização das áreas portuárias, “evitando prejuízos econômicos, financeiros e sociais decorrentes da ociosidade”. A gestora do Porto afirma que essas áreas são estratégicas para cadeias produtivas relevantes, e sua utilização temporária “preserva empregos, mantém o giro da atividade econômica regional e assegura receita para o Porto até que sejam realizados os leilões de longo prazo”.
A Autoridade Portuária acrescenta que respeita a decisão da Antaq que manteve a medida cautelar de suspensão dos contratos. Contudo, entende que essa decisão “poderia estar no âmbito de competência da Autoridade Portuária”, responsável pela gestão direta do cais e pela garantia da movimentação de cargas. “Esse é, inclusive, um ponto relevante a ser debatido no processo de atualização da Lei dos Portos”, ressaltou o presidente da APS, Anderson Pomini. Quanto ao Tecon Santos 10, a APS diz que a realização de contratos transitórios em áreas adjacentes não prejudica o projeto do novo terminal de contêineres.
“Pelo contrário, a movimentação de curto prazo evita gargalos logísticos e assegura um ambiente de maior eficiência até a implantação definitiva do terminal”.
Sobre as alegações apresentadas pela empresa Set Port, a APS afirma que o desenho dos contratos transitórios segue rigorosamente critérios técnicos, legais e regulatórios, visando a preservação da isonomia, a competitividade e o interesse público. “As condições estabelecidas não são restritivas, mas sim necessárias para garantir a adequada execução contratual, a sustentabilidade da operação e a proteção do patrimônio público”. A APS ressalta que aguarda a decisão da Antaq com urgência para que o cais seja utilizado, mesmo que transitoriamente. Já o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) disse para a Reportagem que tem acompanhado com atenção os desdobramentos referentes aos processos PSS 01/2025 e 02/2025 e que tem o papel de assegurar que eventuais encaminhamentos “estejam em consonância com o interesse público e com a política setorial, sobretudo no que diz respeito à segurança jurídica e ao andamento de projetos estruturantes como o Tecon Santos 10”.
IstoÉ Dinheiro - SP 13/10/2025
O Estaleiro Enseada, em Maragogipe, na Bahia entregou na quinta-feira, 9, a primeira barcaça de uma encomenda de 80 unidades para a LHG Logística, braço da mineradora LHG Mining, do grupo J&F, durante a visita do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também na quinta, informou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O projeto da LHG abrange 400 balsas e 15 empurradores, que serão construídos em estaleiros do Norte e Nordeste, e totalizam um financiamento de R$ 3,7 bilhões do Fundo da Marinha Mercante (FMM), realizado via BNDES. O projeto viabiliza o transporte hidroviário de minério de ferro e manganês extraído em Corumbá (MS) até o terminal marítimo de Nova Palmira, no Uruguai. Somente no Enseada, o investimento será de R$ 611 milhões.
Do total financiado, 87% serão aplicados em estaleiros das regiões Norte e Nordeste – além do Enseada, os amazonenses Juruá e Rio Amazonas e o paraense Rio Maguari, informou o banco. No estaleiro baiano (Enseada), está prevista a criação de 940 postos de trabalho diretos e indiretos durante o período de construção, ressaltou o BNDES um dia depois do presidente Lula ter visitado o estaleiro na Bahia para anunciar encomendas da Petrobras.
“Esta operação é estratégica para o Brasil, pois fortalece a Hidrovia Paraguai-Paraná, amplia a competitividade da produção local, estimula exportações e aproxima o País de seus vizinhos”, afirmou em nota o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. “Além disso, o modal hidroviário também reduz em até 95% as emissões de gases de efeito estufa em relação ao transporte rodoviário, contribuindo para a descarbonização da logística nacional”, completou.
Exportação
Depois de percorrer 2,5 mil quilômetros de hidrovias, o minério chega a Nova Palmira, onde é feito o transbordo de carga para navios de longo curso voltados à exportação. Lá são carregados navios graneleiros de até 45 mil toneladas. No Uruguai, também são realizadas operações de transbordo em alto mar, em que graneleiros de maior porte são carregados com até 180 mil toneladas de minério.
O projeto já teve nove unidades entregues pelo Estaleiro Juruá, de Iranduba, Região Metropolitana de Manaus, no Amazonas, que aguardam transporte de Belém, no Pará, até Nova Palmira. Atualmente, 59 barcaças mineraleiras estão em fase final de construção, informou o banco.
A LHG Mining é fruto da aquisição de ativos da Vale em 2022 e possui duas minas em Corumbá. O principal produto de exportação é o minério granulado (lump ore) com teor de ferro de 64,5%, que originou o nome da empresa: LHG, de lump high grade.
Portal Fator Brasil - RJ 13/10/2025
Até 2026 são previstos investimentos de R$ 30 bilhões, uma aposta no transporte hidroviário como alternativa sustentável e eficiente para o escoamento de cargas.
Em dois anos, o Brasil ampliou em 279 quilômetros a extensão total de suas vias hidroviárias economicamente navegáveis. O número passou de 20,1 mil quilômetros, em 2022, para 20,4 mil quilômetros, em 2024, um crescimento de 1,39%. Os dados fazem parte do Estudo de Vias Aquaviárias Interiores Economicamente Navegáveis (VEN), produzido pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) a cada dois anos, e aprovado no dia 09 de outubro (quinta-feira) durante Reunião Ordinária de Diretoria (ROD).
Entre 2023 e 2026, o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) prevê R$ 30 bilhões em investimentos em concessões no setor portuário e hidroviário, fortalecendo a infraestrutura logística nacional e ampliando a participação do transporte aquaviário na economia brasileira. —Os investimentos em infraestrutura hidroviária são fundamentais para tornar o transporte mais eficiente, reduzir custos logísticos e ampliar a competitividade, fortalecendo toda a cadeia econômica e produtiva do país— destacou o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.
O levantamento da Antaq sobre a matriz de transporte hidroviário de cargas e passageiros, com base em dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), traz um panorama detalhado por região hidrográfica, confirmando o protagonismo do Norte, que apresentou o maior crescimento da malha, com 3,56% de acréscimo.
Com a atualização a proporção entre a malha hidroviária economicamente navegável (20,4 mil quilômetros) e a prevista no Plano Nacional de Viação (PNV), de 41,7 mil km, passou para quase 49%, revelando o grande potencial ainda a ser explorado. Estudos apontam que o Brasil possui mais de 42 mil quilômetros de rios navegáveis, enquanto apenas cerca de 20 mil quilômetros estão em uso.
O modal é considerado um dos mais sustentáveis, pois emite até cinco vezes menos poluentes que o transporte rodoviário e 1,5 vez menos carbono que o ferroviário. Além de reduzir custos de operação e implementação, as hidrovias também aumentam a segurança logística, com menor índice de acidentes e roubos de carga.
A expectativa é de que, com a expansão das concessões, a movimentação de cargas alcance entre 25 e 30 milhões de toneladas por ano até 2030. O transporte hidroviário tem se mostrado uma alternativa competitiva e ambientalmente vantajosa para o escoamento de grãos, minérios e outros produtos destinados à exportação.
Hidrovia do Paraguai — O Plano Geral de Outorgas (PGO 2023), elaborado pela Antaq e aprovado pelo MPor, definiu seis hidrovias como prioritárias para concessão: rios Madeira, Tapajós, Tocantins e Paraguai, além de Barra Norte (Hidrovia Verde) e Lagoa Mirim (RS).
A Hidrovia do Paraguai será a primeira a ter edital publicado, previsto para o primeiro semestre de 2026. Com cerca de 600 quilômetros de extensão em território brasileiro, a hidrovia é estratégica para o escoamento de cargas no Centro-Oeste. A concessão compreende o Tramo Sul, o Canal do Tamengo e as infraestruturas associadas, abrangendo o trecho entre Corumbá (MS) e a foz do Rio Apa.
Com a futura concessão, o espaço contará com calado operacional de 3 metros em períodos de cheia e de 2 metros na estiagem, garantindo trafegabilidade durante a maior parte do ano. A próxima etapa será a consolidação dos estudos finais, que serão submetidos ao Tribunal de Contas da União (TCU). Após a aprovação do órgão de controle, o edital será publicado e o leilão poderá ser realizado.
Valor - SP 13/10/2025
O escritório do Representante Comercial dos EUA informou que modificaria certas taxas marítimas para navios transportadores de veículos e navios de gás natural liquefeito (GNL)
O escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) informou nesta sexta-feira (10) que modificaria certas taxas marítimas para navios transportadores de veículos e navios de gás natural liquefeito (GNL) fabricados no exterior, antes das taxas portuárias para navios ligados à China, que entrarão em vigor na próxima semana.
O USTR informou em comunicado que a taxa para operadores de navios transportadores de veículos fabricados no exterior seria de US$ 46 por tonelada líquida, a partir de 14 de outubro. Esse valor está abaixo da taxa de US$ 150 por tonelada líquida proposta originalmente em abril, considerada proibitiva pelo setor, mas bem acima da taxa ajustada de US$ 14 por tonelada líquida proposta em 12 de junho.
O USTR também está eliminando, retroativamente a 17 de abril, uma disposição que permite a suspensão de licenças de exportação de gás natural liquefeito (GNL) caso certas restrições ao uso de navios fabricados no exterior não sejam atendidas. E acrescentou uma isenção nas taxas para certos navios transportadores de etano e gás liquefeito de petróleo (GLP) sob contratos de fretamento de longo prazo.
Em fevereiro, o USTR propôs as medidas para combater o crescente domínio marítimo da China e restaurar a construção naval americana. Mas suas propostas originais foram amplamente diluídas em meio à pressão da indústria, que as considerou excessivamente punitivas e afirmou que teriam sufocado a retomada da construção naval americana.
A medida ocorreu no mesmo dia em que Pequim retaliou contra as taxas portuárias americanas que entraram em vigor na quarta-feira (8) para embarcações construídas, de propriedade ou operadas pela China. A China afirmou que imporia taxas sobre atracações de navios construídos ou com bandeira americana, ou de propriedade de empresas com pelo menos 25% de suas ações ou assentos no conselho de administração detidos por fundos de investimento americanos.
O USTR também afirmou que imporia tarifas de 100% sobre certos guindastes de transporte de carga da China e alguns equipamentos de movimentação de carga, incluindo chassis intermodais para caminhões que transportam contêineres. A agência reafirmou que não imporá tarifas sobre guindastes de transporte marítimo encomendados antes de 17 de abril.
O USTR informou ainda que decidiu não impor tarifas sobre contêineres intermodais devido ao potencial impacto sobre as transportadoras nacionais.
O USTR também propôs novas modificações à sua ação tomada em abril, impondo tarifas adicionais de até 150% sobre certos equipamentos de movimentação de carga, incluindo guindastes de pórtico com pneus de borracha e componentes desses equipamentos.
O Estado de S.Paulo - SP 13/10/2025
A licitação do Tecon 10, novo terminal de contêineres no Porto de Santos, vai além de uma simples obra de infraestrutura. Trata-se de um projeto com potencial para redefinir padrões de eficiência, investimento e competitividade logística do Brasil. Num cenário em que a infraestrutura é crucial para o crescimento da economia e a inserção do Brasil nas cadeias globais, ampliar a eficiência portuária é fundamental para destravar gargalos e potencializar exportações.
O terminal agregará mais de um terço à capacidade de movimentação do maior porto da América Latina, com reflexos diretos em custos logísticos, produtividade e novos negócios. Ainda assim, há dúvidas sobre como garantir competição e eficiência na escolha do operador.
Um ponto central do debate é a tese de excluir empresas já atuantes no porto, sob o argumento de que beneficiaria novos entrantes e aumentaria a concorrência. Entretanto, a análise econômica indica que restringir grupos experientes pode causar efeitos contrários ao esperado.
Experiências mostram que impedir a participação de operadores qualificados pode reduzir o valor das propostas, afastar capital e criar entraves jurídicos para a concessão, colocando em risco o sucesso do projeto e a estabilidade do contrato.
Incumbentes concentram conhecimento e capacidade financeira, essenciais para operações eficientes e sustentáveis. O ambiente portuário, beneficiado por economias de escala e demandas de inovação, exige operadores capazes de mobilizar investimentos e impulsionar a produtividade.
Limitar a competição afasta esses players, tornando o processo menos atrativo, o que abre espaço para operadores menos preparados num projeto estratégico, justamente quando a expansão portuária é essencial para acompanhar o crescimento brasileiro.
A teoria econômica sobre leilões destaca a importância de um ambiente informacional qualificado, com agentes experientes. Ao privilegiar apenas novos entrantes, sacrifica-se esse capital de conhecimento e aumenta-se o risco de propostas pouco realistas, pedidos futuros de reequilíbrio econômico-financeiro, disputas judiciais e atrasos na entrega do ativo.
O setor portuário brasileiro já dispõe de instrumentos para coibir abusos de poder de mercado, como a atuação da Antaq e do Cade, além de remédios regulatórios, como desinvestimentos obrigatórios em caso de vitória de um incumbente, conforme propõe a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (SEAE). O equilíbrio entre competição e regulação é bem-visto internacionalmente. A OCDE recomenda intervenções pós-leilão, o que mantém a atratividade dos ativos e incentiva investimentos de longo prazo.
A própria SEAE reforça que o desinvestimento obrigatório, tradicional no direito concorrencial, é reconhecido internacionalmente como medida eficaz para garantir um ambiente portuário aberto e seguro. O modelo mais produtivo do leilão é aquele que permite a participação de todos os competidores que cumpram critérios objetivos – inclusive empresas integradas – sob regulação e monitoramento pós-leilão, evitando barreiras desnecessárias.
A realização do certame em etapa única, com a obrigação de desinvestimento apenas se um incumbente vencer, é uma solução que fortalece a concorrência e incentiva investidores qualificados, preservando modelos de negócio eficientes.
O Cade, em recente Nota Técnica, alerta que regras de exclusão não devem ser automáticas. Intervenções regulatórias devem ser calibradas e fundamentadas, priorizando a eficiência e restringindo a concorrência apenas quando necessário. Soluções feitas sob medida são fundamentais para que o leilão do Tecon 10 promova inovação, produtividade e crescimento econômico.
Para investidores atentos, o modelo escolhido para o Tecon 10 será um importante termômetro do ambiente de negócios nacional. Restrições mal calibradas podem aumentar riscos regulatórios e afastar investimentos de futuros leilões de infraestrutura.
Eficiência nasce da competição qualificada, não da exclusão precipitada. O interesse público exige um leilão aberto e transparente, permitindo disputa justa entre grandes operadores e novos players, supervisionado por órgãos reguladores.
A condução desse leilão servirá de referência para futuras concessões logísticas e influenciará a agenda nacional de infraestrutura. Ao unir monitoramento eficiente, ampla participação e incentivos adequados, o Brasil transforma o Tecon 10 em um divisor de águas para sua logística e competitividade.
O futuro do Porto de Santos dependerá de escolhas que priorizem a eficiência, fomentem a competição e utilizem a regulação de modo inteligente para garantir pluralidade e dinamismo. O leilão do Tecon 10 é uma chance de consolidar um modelo de concessão moderno e competitivo — essencial para o País avançar em logística e crescimento sustentável.
Valor - SP 13/10/2025
Analistas apontam que os preços do petróleo devem continuar em queda
Os preços do petróleo aprofundaram as perdas e recuam mais de 1% após Israel concordar com um plano de cessar-fogo com Gaza, mediado pelos Estados Unidos, aliviando os temores de interrupções no fornecimento da commodity, em especial sobre os navios petroleiros que passam pelo Canal de Suez e pelo Mar Vermelho. Analistas apontam que os preços do petróleo devem continuar em queda.
Pouco depois das 9h, o Brent para dezembro recuava 1,36%, para US$ 64,33, eo WTI para novembro diminuía 1,38%, saindo US$ 60,67.
Os estrategistas de energia do Citi escrevem, em relatório, que ao reunir clientes na América do Norte e na Europa, “o consenso prevê que os fundamentos se tornem cada vez mais pessimistas para o petróleo”, mas as convicções divergem quanto à profundidade da queda. Alguns duvidam que um piso de preço de US$ 60 por barril para o Brent seja suficiente para induzir uma reação de oferta e demanda capaz de equilibrar o mercado global de petróleo, que tende a um excedente superior a 3 milhões de barris por dia nos próximos seis meses e de mais de 2 milhões de barris por dia, em média, em 2026.
Por outro lado, outros clientes esperam uma correção de preços mais moderada e gradual, argumentando que o aumento projetado dos estoques pode continuar a se acumular fora dos principais centros de precificação, como Cushing. “O cenário atual de crescimento mais lento fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) e maior capacidade de ajuste do grupo, somado a riscos geopolíticos elevados envolvendo grandes produtores como Rússia e Irã, pode conter o ritmo de ajuste dos preços do petróleo”, avalia o Citi.
Valor - SP 13/10/2025
Em setembro, as duas petroleiras independentes foram afetadas por questões operacionais; Brava vai na contramão e cresce
Duas das três principais petroleiras independentes do mercado brasileiro - Prio e Petroreconcavo - reduziram a produção de óleo e gás em setembro na comparação com agosto. No caso da Prio, o volume caiu 22,4%, enquanto na Petroreconcavo a queda foi de 1,8%. Entre as razões para o recuo estão a interdição de uma plataforma, no caso da Prio, e a menor extração em um dos campos da Petroreconcavo. Como essas empresas, também conhecidas como “junior oils”, têm poucas áreas em relação às grandes do setor, as intercorrências causam impactos negativos maiores na operação.
Especialistas ouvidos pelo Valor dizem que as quedas na produção de Prio e Petroreconcavo não podem ser vistas como tendência, mas como eventos pontuais. O cenário para as petroleiras independentes, afirmam analistas, é de crescimento. Essas companhias contribuem para o setor de óleo e gás brasileiro sobretudo porque aproveitam campos que não interessam mais às grandes companhias, como Petrobras. Os dados sinalizam reflexos nos resultados financeiros das empresas, que serão divulgados nos próximos dias.
A Prio atribuiu a queda de produção a uma falha no compressor da plataforma do campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos (RJ). A previsão é normalizar a operação este mês. A empresa também atribuiu o desempenho à interdição, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), da plataforma do campo de Peregrino, após auditoria, em agosto. A XP estima uma perda semanal de US$ 30 milhões para a Prio com a paralisação de Peregrino. Por outro lado, outros dois campos da Prio, Polvo e Tubarão Martelo, apresentaram dados que “superaram expectativas”, segundo o J.P. Morgan.
Em julho, a Prio já havia registrado redução de 8,5%, para 100 mil barris de óleo equivalente por dia (Boe/dia), em relação a junho. A queda se repetiu em agosto, recuando 8,2% sobre o mês anterior. Em setembro, a empresa registrou retração de 22,4%, para 71,3 mil boe/dia frente a agosto.
No caso da Petroreconcavo, a produção em setembro caiu 1,8% sobre agosto, para 26 mil boe/dia em função da menor extração no campo de Tiê (BA). Em agosto, a empresa havia verificado redução de 1,6% ante julho, para 26,4 mil boe/dia, devido a volumes menores na bacia Potiguar (RN), que reúne os campos terrestres na região.
Em relatório, a XP destaca o fato de que a produção da Petroreconcavo caiu 1,9 mil barris por dia desde abril, o que significa queda por cinco meses consecutivos. O desempenho, diz a corretora, indica que os ativos da empresa atingiram o pico de produção.
Se forem analisados os dados consolidados de julho a setembro, a Prio teve queda na produção de 25,5% em relação a igual período do ano passado. No caso da Petroreconcavo, houve alta de 0,19% nos volumes produzidos no terceiro trimestre.
Para Gabriel Barra, analista do Citi, as quedas de produção de Petroreconcavo e Prio se devem a razões pontuais, que não formam uma tendência. No caso da Prio, o analista espera a retomada do campo de Peregrino em breve, após a interdição pela ANP. Diferentemente de petroleiras maiores, que têm mais ativos em produção, as independentes costumam apresentar dados mais variáveis. “A principal explicação para isso é a diferença de produção entre as companhias. Como as ‘juniors’ têm uma produção menor que a Petrobras, a parada de um poço costuma ser muito mais relevante para o valor total do que a parada de um poço para Petrobras”, afirmou o analista do Citi.
Cenário é de crescimento de produção para as ‘junior oils’ nos próximos anos”
— Gabriel Barra
Há ainda o caso da Brava Energia, outra petroleira independente brasileira, mas que vai na contramão dos pares. Em julho, a produção da companhia subiu 4,3% ante junho, para 90,9 mil boe/dia. Segundo a empresa, a produção em julho foi recorde, refletindo a evolução dos campos de Papa-Terra, na Bacia de Campos, e Atlanta, na bacia de Santos.
Em agosto, a Brava teve nova alta de produção na comparação mensal, de 1,57%, para 92,3 mil boe/dia, outro recorde, puxado pelo maior nível de extração do campo de Atlanta. Em setembro, porém, a empresa teve queda de 0,9% frente a agosto, com “ajustes operacionais e de comissionamento de equipamentos” na plataforma Atlanta. A Brava prevê a conclusão dos ajustes em outubro. Para o Santander, a Brava deve alcançar o pico de produção no segundo semestre. “Acreditamos que Atlanta e Papa-Terra ainda sejam os motores de crescimento de curto prazo da Brava, com a produção da empresa atingindo pico de 90 mil a 95 mil boe/dia no segundo semestre de 2025, versus 78 mil boe/dia no primeiro semestre de 2025, de acordo com nossas estimativas”, disse o Santander em relatório.
Décio Oddone, presidente da Brava, afirma que a “evolução da produção da Brava reflete a entrada de poços em Atlanta e a estabilização das operações em Papa-Terra, que vêm ocorrendo ao longo do ano.” No terceiro trimestre, a produção da Brava cresceu 68% sobre igual período do ano passado.
Para Gabriel Barra, do Citi, as “junior oils” contribuem para o desenvolvimento de campos maduros. Na visão do analista, o cenário atual é de trajetória ascendente dessas companhias. “Vislumbramos um cenário de crescimento de produção para as ‘junior oils’ da bolsa brasileira para os próximos anos, devido principalmente ao plano de crescimento de produção orgânica das companhias com perfuração de novos poços”, disse.
“No caso da Prio, há expectativa de um aumento mais acelerado, pois esperamos o início de produção do campo de Wahoo e a conclusão da aquisição da participação de 60% do campo de Peregrino, que deve levar a companhia a atingir 200 mil barris por dia ao longo do ano que vem. Petroreconcavo e Brava estão focadas em crescer a produção de forma orgânica para os próximos anos, mas de forma menos acentuada do que a Prio”, completou o analista.
Procurada, a Prio não quis comentar. Petroreconcavo não retornou até o fechamento desta edição. A Prio divulga o balanço do terceiro trimestre em 4 de novembro. A Brava apresenta no dia 5 de novembro e a Petroreconcavo, em 6 de novembro.
Money Times - SP 13/10/2025
A estabilização do preço do petróleo Brent na casa dos U$ 60 o barril, com possibilidade de uma queda maior, trouxe um dilema para Petrobras (PETR4) na elaboração do seu Plano de Negócios 2026-2030.
O último orçamento foi formulado para os próximos anos tomando como base um petróleo bem mais elevado, em torno de US$ 80 o barril. Diante desse cenário, especialistas acreditam que a estatal terá que optar entre se endividar ou reduzir investimentos em pleno ano eleitoral.
Se não quiser se endividar ou cortar projetos, a companhia teria que, no mínimo, adiar alguns investimentos diante de uma drástica queda de receita.
Na cúpula da empresa, apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a disposição é manter o portfólio, mas, ao mesmo tempo, reduzir um pouco o valor de US$ 111 bilhões previstos no plano anterior, para um patamar mais próximo dos US$ 100 bilhões. O martelo, porém, ainda não foi batido pela petroleira.
Em ano eleitoral, a percepção do mercado é de que dificilmente projetos sejam totalmente abandonados, mas sim adiados, com aumento de projetos em avaliação — hoje da ordem de US$ 16 bilhões — assim como é esperada a otimização de custos, como tem propagado a própria presidente da companhia, Magda Chambriard.
Aumentar o endividamento, o que poderia reduzir dividendos, não é uma opção, na avaliação de alguns analistas, já que o patamar da dívida é um dos pilares do Plano da estatal.
“O primeiro pilar é que o Plano é autofinanciado, ou seja, você não precisa tomar a dívida para financiar o Plano. O segundo é não mexer no teto da dívida (US$ 75 bilhões). E o terceiro é não mexer na política de dividendos. Você vai ter que compensar essa geração de caixa menor por conta de um preço de petróleo mais baixo com outros fatores. Um fator positivo, que compensa parcialmente isso, é a produção que está crescendo”, avalia um analista pedindo anonimato.
Petróleo a US$ 50
De alguma maneira, será necessário ajustar o novo plano, de acordo com o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) Adriano Pires, que por pouco não foi presidente da estatal.
Ele afirma que os mais otimistas preveem a commodity operando no ano que vem abaixo dos US$ 60 o barril — entre US$ 55 e US$ 58 —, enquanto os mais pessimistas já projetam barril de US$ 50.
Apesar do plano da estatal ser quinquenal, por conta das eleições os olhos do mercado estarão voltados mais para 2026 do que para o fim da década.
“Está tendo uma oferta de petróleo maior que a demanda. A Rússia continua vendendo petróleo por causa da guerra, o Brasil está com a produção crescente, a Guiana está produzindo, o shale americano (petróleo não convencional) está produzindo, e o mundo não está crescendo”, avalia Pires. “É preciso reduzir o preço (do petróleo) para voltar a ter o equilíbrio entre a oferta e a demanda”, explica.
Ele prevê que no próximo ano, as petroleiras, de maneira geral, terão que ter muita disciplina de capital, e é possível ver novamente um movimento de fusões e aquisições, onde as empresas mais endividadas serão compradas.
No caso da Petrobras, os acionistas podem ser prejudicados pela queda de receita, que pode reduzir dividendos, e devem ficar atentos por se tratar de um ano eleitoral.
“Não interessa quem está sentado na cadeira, mas a Petrobras é um instrumento importante para ajudar a ganhar a eleição. Mas usar a empresa em um momento de petróleo baixo, pode prejudicar os resultados”, alerta.
Por outro lado, destaca Pires, o preço baixo do petróleo pode ajudar o governo, à medida em que será possível reduzir o preço dos combustíveis em um ano eleitoral.
Perdas para a Petrobras?
Nas contas do analista de energia da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a diferença de US$ 15 do barril do Brent de um plano para outro pesa na receita da companhia, e as perdas podem chegar à casa dos bilhões de reais.
Ele espera que a empresa combine no próximo plano o crescimento da produção, gestão de custos e disciplina na aprovação de projetos.
“Um ponto crítico sempre é a sensibilidade da receita ao preço do petróleo: uma redução de US$ 15 por barril ao longo de 2025-2029 (US$ 80 para US$ 65 barril) poderia gerar uma diferença de aproximadamente R$ 362 bilhões em receitas em cinco anos, considerando produção diária crescente de 2,3 a 2,5 milhões de barris e câmbio médio de R$/US$ 5,5”, calcula.
Outro ponto relevante, destaca Arbetman, poderá ser a revisão do teto de endividamento bruto, atualmente em R$ 75 bilhões, com dívida líquida de cerca de R$ 68 bilhões.
“É possível que esse limite seja estendido, aumentando a flexibilidade financeira para investimentos estratégicos sem comprometer a solidez da companhia. Com essas medidas, o Plano Estratégico da Petrobras deve reforçar sua resiliência operacional e financeira, permitindo enfrentar volatilidade no preço do petróleo e mantendo geração de valor para acionistas”, diz.
Já para o professor e pesquisador no Instituto de Energia da PUC-RJ Edmar Almeida, desde o início do governo Trump foi dado o sinal para preços menores do petróleo, com um certo alinhamento entre a Casa Branca e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+).
Do lado do governo norte-americano, a preocupação é com a inflação. Da parte da Opep, um preço menor da commodity dá um freio na produção de petróleo não convencional (shale) nos Estados Unidos.
Almeida destaca que a retração da economia global tem ajudado a manter a demanda por petróleo em baixa, ao mesmo tempo em que conflitos geopolíticos não deixam o preço ceder demais. No caso do fim de conflitos, como da guerra entre Israel e o Hamas, a tendência é de que o preço caia ainda mais.
“Você mira US$ 60, US$ 70 e isso escorrega para US$ 40, US$ 50”, explica, lembrando que no choque do petróleo em 2014, os preços saíram de US$ 100 para US$ 30 o barril.
“A Petrobras dispõe de caminhos diversos para se ajustar. A escolha dependerá das prioridades da companhia em meio a um 2026 eleitoral e de elevada incerteza econômica. Nós estamos num momento de mudança do cenário macroeconômico, não é um bom momento para o setor de petróleo, o céu está bem nublado”, diz Almeida.
Associe-se!
Junte-se a nós e faça parte dos executivos que ajudam a traçar os rumos da distribuição de aço no Brasil.
© 2019 INDA | Todos os direitos reservados. desenvolvido por agência the bag.