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26 de Setembro de 2023

INDA

Valor - SP   26/09/2023

Antecipação de tarifas menores de importação atinge para 12 produtos e, para MDIC, torna Brasil mais competitivo

Alejandro Wagner: “Brasil ficou para trás. Basta olhar o México, que elevou tarifas para 25%” — Foto: Carol Carquejeiro/Valor

Num mundo que cada vez mais se resguarda da invasão do aço chinês, impulsionada por excesso de produção, baixa demanda interna e práticas comerciais questionáveis, o Brasil começou a reagir tardiamente à ameaça e ainda tem feito pouco para proteger sua indústria siderúrgica. Esta é a avaliação de especialistas frente ao salto de 48,6% nas importações vindas da China de janeiro a agosto deste ano (em comparação com o mesmo período de 2022), que levou o governo federal a antecipar o fim da redução da tarifa de importação de 12 produtos, buscando “tornar o aço brasileiro mais competitivo no mercado interno, ajudando os fabricantes nacionais a enfrentar o surto de importações a preços desleais”, segundo nota oficial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

A medida, anunciada na terça-feira (19), atendeu parcialmente à demanda do setor produtivo do aço, que pedia a elevação do imposto de importação de 18 produtos. Entre a dúzia de itens cujo fim da redução foi antecipada de 31 de dezembro deste ano para 1º de outubro estão diferentes tipos de bobinas, chapas revestidas de alumínio-zinco e tubos sem costura. Eles tinham taxas de importação de 9,6% a 12,8%, que foram reduzidas em 10% no ano passado e agora serão restabelecidas. “É um passo na direção correta, mas muito pequeno. É algo no sentido do que as usinas querem, mas muito menos do que o necessário”, diz Carlos Jorge Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), que aponta a prática de dumping por parte dos chineses.

“Para cada tonelada de aço produzida, gasta-se US$ 342 só de custo de minério e carvão, fora o frete. Hoje, o preço de venda da China para laminado a quente está em cerca de US$ 540. Sobram US$ 168 para os demais custos de produção: mão de obra, depreciação, elementos de liga, energia. Definitivamente, as usinas chinesas estão trabalhando com prejuízo. Por isso a China hoje não vende livremente na Europa, nos Estados Unidos, no México, na Índia.”

O governo indiano anunciou, em 11 de setembro, a adoção de medidas antidumping sobre certos produtos siderúrgicos chineses por cinco anos, frente a um aumento de 62% na importação de aço no país entre abril e julho, em relação ao mesmo período do ano anterior. Dias antes, a imprensa americana informou que EUA e União Europeia estudam aplicar novas tarifas sobre a produção excedente de aço da China, visando reduzir a competitividade da produção do país asiático.

“O Brasil ficou para trás. Basta olhar o México, que aumentou suas tarifas de importação de aço de 10% para 25%, apesar de não ter a China como principal ameaça. Na Argentina, estão entre 12% e 20%. No caso do Brasil, onde as importações são majoritariamente chinesas, a política estava na contramão dos demais países”, diz Alejandro Wagner, diretor-executivo da Associação Latino-Americana do Aço (Alacero), referindo-se às sucessivas reduções de impostos de importação de produtos siderúrgicos feitas nos últimos três anos - a mais recente, em março passado, quando a Câmara de Comércio Exterior zerou por um ano o imposto incidente sobre dois tipos de folhas de aço e dois modelos de chapas de alumínio, cujas alíquotas variavam de 12% a 16%.

A Alacero considera positiva a medida em favor das usinas anunciada pelo Brasil na semana passada. “É uma decisão inteligente e que demonstra a importância que tem nossa indústria local. Temos que continuar trabalhando com nossos governos para alertar sobre os prejuízos que trazem as importações chinesas com preços que não são de mercado”, diz Wagner.

Maior produtor e exportador global de produtos siderúrgicos, a China produziu 626,5 milhões de toneladas de aço de janeiro a julho deste ano, e vendeu ao Brasil 1,7 milhão de toneladas até agosto. Em um ano em que a indústria siderúrgica nacional estima que as importações serão recordes (4,61 milhões de toneladas, segundo o Instituto Aço Brasil), o país asiático já responde por 54,2% de todo o aço que chegou ao Brasil nos oito primeiros meses.

“O governo está ciente das assimetrias de condições de comercialização entre o aço brasileiro e o estrangeiro”, afirma Thiago de Aragão, CEO da Arko International e pesquisador sênior do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS). “A China está desacelerando e seu mercado imobiliário está enfraquecendo. Se o Brasil não tornar o aço nacional ainda mais competitivo por meio de alíquotas, a indústria irá sofrer.”

No outro lado da moeda, os compradores nacionais de aço queixam-se do custo elevado do produto brasileiro. “De 2022 para cá, depois da implementação de uma tarifa menor de importação, os preços tiveram uma ligeira queda, a importação tem esse impacto. Mas ele ainda não caiu aos patamares de antes da pandemia”, diz Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “O desafio para o governo é regular adequadamente, porque o aço que vem para nós é altamente essencial, vai para habitação, para infraestrutura. Qualquer aumento no custo de construção acaba sendo repassado para o consumidor.”

SIDERURGIA

Valor - SP   26/09/2023

Volume do mês, com base nas informações de 63 países, somou 152,6 milhões de toneladas

Apesar de uma leve desaceleração da China na oferta de aço de suas siderúrgicas em agosto, frente a julho, a produção mundial de aço bruto no mês passado cresceu 2,2%, informou nesta segunda-feira (25) a World Steel Association (WSA), ao se comparar com agosto de 2022.

Conforme a entidade global da indústria siderúrgica, sediada em Bruxelas, o volume de agosto, com base nas informações de 63 países, somou 152,6 milhões de toneladas.

O montante acumulado de oito meses em 2023 atingiu 1,256 bilhão de toneladas, o que significou ligeira alta de 0,2% comparada com janeiro a agosto do ano passado.

A siderurgia chinesa registrou aumento de 3,2% ante agosto do ano passado, com 86,4 milhões de toneladas. Em julho passado, o volume havia alcançado a casa de 90 milhões de toneladas. O país mantém ritmo forte de produção de aço bruto apesar da economia chinesa desaquecida e do consumo em queda pelos setores imobiliário e de infraestrutura.

Nesse cenário, a China tem ampliado o ritmo de exportações de produtos siderúrgicos acabados, tendo o Brasil como um dos mercados-alvo. Segundo informações de consultorias especializadas, o ritmo de embarques ao exterior está em torno de 100 milhões de toneladas em base anualizada.

De janeiro a agosto, a produção chinesa somou 712,9 milhões de toneladas — aumento de 2,6% frente mesmo período do ano passado.

A Índia, vice-líder global, continua com seu ritmo acelerado — cresceu 17,4% em agosto, atingindo 11,9 milhões de toneladas. Até agosto, produziu 92,2 milhões de toneladas, com alta de 10,5% sobre 2022.

A siderurgia indiana projeta bater recorde em 2023, ficando próximo de 140 milhões de toneladas de aço bruto, dentro de uma estratégia agressiva do governo da Índia para robustecer sua economia. O país — que detém vastas reservas de minério de ferro — tem atraído grupos estrangeiros para investir na indústria do aço local, agregando valor ao minério.

Num caminho inverso ao indiano, a siderurgia brasileira fechou agosto com queda de 5,9%, produzindo 2,72 milhões de toneladas. No acumulado de oito meses, o volume recuou 8,3%, somando 21,3 milhões de toneladas, conforme a WSA, reportando dados do Instituto Aço Brasil.

Os números do setor no país, além da demanda fraca por aço, são afetados pela parada de produção do maior alto-forno da Usiminas desde abril, quando entrou em reforma. Só deverá voltar no final de outubro ou início de novembro, segundo informações publicadas por agências de notícias na semana passada. O retorno estava previsto inicialmente para o final de agosto.

Valor - SP   26/09/2023

Pleito foi levado por representantes do setor ao vice-presidente do país, Geraldo Alckmin, e também ministro do MDIC, em encontro em 30 de agosto; a tarifa atual é 9,6%

Lopes: “O mundo vem sendo bombardeado por práticas predatórias; EUA, UE e México estão protegendo seus mercados” — Foto: Divulgação

Diante da forte entrada de produtos siderúrgicos importados neste ano no país, principalmente de origem chinesa, os fabricantes de aço locais, reunidos no Instituto Aço Brasil, levaram pleito ao governo federal de aumento das alíquotas de importação. O pedido sugere alta para 25%, ante os atuais 9,6%, que vigora desde meados do ano passado.

A lista apresentada abrange 18 categorias de produtos fabricados que são mais afetados por material de fora, apurou o Valor.

“A luz amarela acendeu em julho e em agosto a situação ficou mais crítica. Estamos enfrentando uma verdadeira avalanche de entrada de aço, a maior parte da China”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, após ser procurado pelo Valor para comentar o pleito feito ao governo.

Conforme executivo, o volume de aço importado em agosto atingiu 496 mil toneladas e, desse volume, 302 mil vieram da China. Ou seja, 61% do que entrou. A diferença é de outros países da Ásia, como Coreia do Sul, além de Rússia.

Os produtos considerados mais afetados por concorrentes importados, e que integram a lista do pleito para elevar sobretaxa a 25%, são: bobinas grossas, bobinas a quente (três categorias), bobina a frio (duas), chapas galvanizadas (zincados), chapas revestidas de alumínio-zinco, fio-máquina, vergalhões em barra, laminados a quente de aços inoxidáveis e a frio (três tipos), barra de inox a frio e tubos sem costura (três categorias).

Lopes observou que, em dez anos, até 2022, a média mensal de importações foi de 252 mil toneladas. “Neste ano, vimos a situação em acelerada deterioração a partir de abril. O índice de participação do importado no consumo aparente do mercado brasileiro chegou a 19% em agosto”, disse.

Conforme os números do Aço Brasil, o volume de importação em agosto registrou aumento de 55% frente ao mesmo mês em 2022. No acumulado de oito meses do ano, até agosto, o percentual de alta ficou em 49,5%.

“O mundo vem sendo bombardeado por praticas predatórias de comércio, e não é de hoje”, diz o dirigente. Numa lista de diversos países, a China é a campeã de processos anti-dumping e contra subsídios, além de salvaguarda, diz o Aço Brasil. Lopes destaca que os EUA impuseram 25%, também os 27 países da União Europeia, recentemente o México se igualou aos americanos e o Chile, segundo informações, também estuda adotar a mesma alíquota.

Para a siderurgia brasileira, maior mercado da America Latina, depois do mexicano, observa Lopes, “uma sobretaxa de 9,6% é quase inócua”. “Principalmente para os 40% do aço importado que entra por santa Catarina, que reduziu o ICMS de 12% para 4%”.

Com uma demanda do mercado brasileiro ainda fraca no ano, o consumo aparente - soma de vendas internas das usinas no país mais o volume de importação - registrou queda de 0,9% em agosto e 0,6% no período janeiro a agosto. “Essa retração viemos sentindo desde o início do ano”, afirmou Lopes. Por isso, o setor teve de fazer duas revisões em suas projeções de desempenho do ano. Uma terceira poderá ser realizada entre outubro e novembro, admite o dirigente do Aço Brasil.

Os representantes do setor - formados por presidentes das empresas - tiveram dois encontros com o governo federal, na pessoa do vice-presidente da República e também ministro da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin. Segundo Lopes, desde a primeira reunião com Alckmin, ocorrida no primeiro semestre, e a segunda, em 30 de agosto, a projeção de queda do consumo no país dobrou, para 1,2%; as vendas internas caíram mais, saltando de 3,6% para 7,6%, e importações passaram de alta de 18,5% para 44,7%.

O setor solicitou no Palácio do Planalto uma agenda com o presidente Luís Inácio Lula da Silva para apresentar o que considera de “grave situação” do setor siderúrgico no país. Algumas empresas, diante da retração de demanda, já teriam paralisado algumas linhas de produção nas regiões Nordeste e Sudeste, apurou o Valor.

Desde janeiro, segundo o Aço Brasil, a produção de aço bruto e exportações tiveram desempenho negativo - em relação aos mesmos meses de 2022. As vendas ao mercado interno, desde fevereiro. O consumo aparente foi positivo somente em janeiro e março. Por suas vez, as importações subiram gradativamente desde o primeiro mês de 2023.

Segundo o executivo, questionado sobre os preços praticados no país, se não poderiam subir com barreira elevada a importados, afirmou que “não existe nenhum previsão de aumentar preços no mercado nacional”. “Não há porquê fazer isso quando se vive uma ociosidade de 40% na utilização da capacidade instalada. Outros setores da indústria de transformação, como automotivo, eletroeletrônicos e plásticos, enfrentam a mesma situação que a nossa, o ataque de importados”.

Valor - SP   26/09/2023

Setor espera ligeira recuperação em 2024, mas retomada após isso depende de melhor conjuntura econômica

Jefferson De Paula, da ArcelorMittal: inundação de produtos chineses — Foto: Divulgação

A indústria siderúrgica brasileira deve enfrentar retração em 2023. O Instituto Aço Brasil projeta queda de 5% na produção de aço bruto em relação a 2022, para 32,4 milhões de toneladas. As vendas internas devem recuar em 6%, limitando-se a 19,1 milhões de toneladas. O consumo aparente no mercado interno deverá cair 2,6%, para 22,9 milhões de toneladas. Nos oito primeiros meses do ano, a produção de aço bruto caiu 8,3%, a 21,3 milhões de toneladas, resultando em uma taxa média de ociosidade de quase 40% da capacidade produtiva. Ao mesmo tempo, as importações cresceram em 49,5%, para 3,2 milhões de toneladas.

“Estamos sendo inundados por produtos importados de estatais chinesas, que não se pautam por práticas de concorrência leal”, diz Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal e do conselho do Instituto Aço Brasil. “Queda no consumo interno e invasão de importados é o que podemos chamar de uma tempestade perfeita”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do instituto. “O mundo todo está se protegendo da invasão do aço chinês, apenas o Brasil não impõe restrições”.

Segundo executivos do setor, a China estaria desviando para o mercado externo de forma subsidiada o excedente de sua produção devido à queda das atividades na construção civil naquele país.

O setor espera para 2024 uma ligeira recuperação na produção siderúrgica brasileira, em torno de 3%. “Um crescimento mais robusto só é esperado após 2024”, diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau. O crescimento viria com a confirmação de avanços institucionais como novo arcabouço fiscal e reforma tributária, queda nas taxas de juros e políticas públicas como a retomada do Minha Casa, Minha Vida e o novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC).

A indústria do aço programa investimentos de US$ 2,5 bilhões em 2023 e tem em carteira projetos que somam US$ 9,5 bilhões entre 2024 e 2027. Os recursos são destinados a aumento da capacidade produtiva, modernização de processos produtivos e ganhos de eficiência, com impacto direto sobre emissões de gases de efeito estufa. A conjuntura econômica desfavorável, porém, pode comprometer o cronograma de investimentos. “Os projetos programados para 2023 e 2024, por volta de US$ 5 bilhões, estão contratados e vão ocorrer. Os demais dependem de uma conjuntura econômica mais favorável”, afirma Lopes.

O maior programa de investimentos é da ArcelorMittal: R$ 25 bilhões entre 2022 e 2027. Uma parcela importante deste total, R$ 11,4 bilhões, foi empenhada no ano passado para aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará, com capacidade de 3 milhões de toneladas por ano. A empresa tem planos de ampliar a capacidade de produção em 1 milhão de toneladas de aços planos e 1,5 milhão de toneladas de aços longos. “Vamos somar uma capacidade produtiva total de 17,6 milhões de toneladas ao final desta expansão”, diz De Paula.

Os recursos também vão viabilizar a produção de energia eólica em um projeto em parceria com a Casa dos Ventos. O complexo eólico irá produzir 553,5 megawatts (MW) e substituirá 38% da energia consumida pela ArcelorMittal, evitando a emissão anual de 208 mil toneladas de CO2 na atmosfera.

Na Gerdau, o plano de investimentos no Brasil em 2023 soma R$ 5 bilhões, dos quais R$ 3,2 bilhões estão destinados às operações em Minas Gerais. Envolvem o desenvolvimento de uma nova unidade de mineração na mina de Miguel Burnier, em Ouro Preto, com início das atividades programadas para o final de 2025.

Os recursos também vão ser empregados na modernização da usina integrada de Ouro Branco, a maior da Gerdau, que tem capacidade para produzir 4,5 milhões de toneladas de aço líquido por ano em seus altos-fornos e emite 1,6 tonelada de CO2 para cada tonelada de aço produzida. “Vamos reduzir esse índice”, diz Werneck. Entre as ações programadas está a atualização dos equipamentos, o uso de sistemas de inteligência artificial para controlar processos, ampliação do uso de sucatas no processo produtivo e a análise da incorporação do gás natural em substituição ao carvão mineral.

Valor - SP   26/09/2023

Russos praticaram dumping e desestruturaram mercados, afirma professor

Após um 2022 favorável para a balança comercial da siderurgia brasileira, com exportações crescendo 8,8% (11,9 milhões de toneladas) e as importações caindo 32,7% (3,3 milhões), os primeiros oito meses deste ano registraram uma inversão que tem assustado o setor. De janeiro a agosto, as vendas caíram 5% em volume (10,3% em valor), enquanto as compras subiram 49,5% em volume (23,5% em valor) em relação ao mesmo período do ano passado. O saldo até agora foi positivo em relação à América do Norte e ao Mercosul, e negativo em relação à Ásia (principalmente por conta da China, nosso maior vendedor) e à Europa.

“O Brasil é, desde meados da década de 1980, exportador líquido de produtos siderúrgicos, como reflexo de ter um parque diversificado, com grande abrangência do mix de produtos, e relativamente moderno”, diz Germano Mendes de Paula, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia. “Nos últimos dez anos, as exportações brasileiras de aço atingiram o máximo em 2017, com 15,3 milhões de toneladas. Desde então, a trajetória foi predominantemente decrescente, até atingir 11,9 milhões de toneladas no ano passado.”

Em 2022, os Estados Unidos importaram cerca de 5,9 milhões de toneladas do Brasil, respondendo por 48,7% (aproximadamente US$ 5,3 bilhões) do faturamento do setor. Argentina (9,4%), México (7,1%), Peru e Canadá (3,1% cada) completaram os cinco maiores clientes estrangeiros das usinas nacionais. Quadro semelhante se deu em 2021, com liderança ainda maior dos EUA (54,1%), seguidos por Argentina (10%), México (6,4%), Canadá (6,2%) e Chile, Colômbia e Bolívia (2,3% cada). O ponto fora da curva foi o ano pandêmico de 2020, quando a China, normalmente responsável por menos de 1% das compras do aço brasileiro, ficou em segundo lugar, com 1,4 milhão de toneladas (9,2% do faturamento).

“Os números mostram que o Brasil consegue ter preço competitivo de aço lá fora”, diz Luciano Trevisan, professor da ESPM. “As vendas para os Estados Unidos têm um aspecto modernizado. As exportações para os vizinhos são favorecidas pela proximidade e pelos acordos do Mercosul.”

O comércio internacional está afetado pelo excesso de oferta chinesa e pelas sanções aplicadas por União Europeia, EUA e Reino Unido à Rússia após a invasão da Ucrânia, que causaram um redirecionamento das exportações do país para mercados como China, Leste Asiático, Índia e Turquia.

“Para fecharem negócios, as siderúrgicas russas chegaram a conceder de 15% a 40% de desconto frente ao preço internacional. Praticaram dumping, desestruturando os mercados”, diz De Paula. “Para a siderurgia brasileira, no curto prazo, os impactos foram a possibilidade de aumentar as exportações de alguns insumos e produtos siderúrgicos, mas o efeito negativo é que os preços dos produtos russos são predatórios.”

Principal produto da pauta exportadora das usinas brasileiras, as placas (66% do volume em 2022) tinham a Rússia como principal fornecedor para a UE. Num primeiro momento, o bloco não estabeleceu sanções sobre este produto, mas, a partir deste mês, as cotas para importações de placas russas terão volume 20% menor do que a média de 2022. “Mais importante, a partir de abril de 2024, União Europeia proibirá a importação de placas provenientes da Rússia e de laminados que tenham sido produzidos a partir de placas e tarugos de origem russa. Isso pode servir de estímulo às exportações brasileiras”, afirma.

A eventual retomada do crescimento das exportações, porém, não resolverá sozinha a levada capacidade ociosa das siderúrgicas nacionais, na faixa de 40%, segundo o Aço Brasil. “É difícil diminuir a ociosidade por meio de aumento de exportação de laminados quando se compete com siderúrgicas chinesas, que operam baixas margens de lucro, e quando os outros mercados já se protegeram. Num setor intensivo em capital e com alta ociosidade, o custo fixo médio fica muito alto, deprimindo margens, em particular na exportação. O cobertor fica muito curto”, diz De Paula.

Valor - SP   26/09/2023

Apesar do cenário desfavorável na metade do ano, analistas precificam para cima valor futuro das ações das grandes siderúrgicas

Apesar do cenário desfavorável nos primeiros oito meses do ano, analistas precificam para cima o valor futuro das ações das grandes siderúrgicas - o que não necessariamente resulta em recomendação de compra. Prejudicadas por desaceleração chinesa, demanda fraca e custo de transporte, os resultados financeiros dessas empresas decepcionaram, com reflexo em seus papéis.

“As ações de Gerdau, CSN e Vale estão para baixo no ano por conta dos efeitos da desaceleração do setor imobiliário chinês”, diz Lucas Laghi, chefe de mineração e siderurgia, papel e celulose no research da XP. No ano, até 22 de setembro, as ações da Gerdau, CSN e Usiminas caíram 9,52%, 9,05% e 3,51%, respectivamente. Laghi diz que o Brasil sempre vai competir com importados, tanto no aço plano chinês quanto no longo, cuja referência é a Turquia. “O aço plano doméstico está 22% mais caro do que o importado, e no aço longo a paridade está em 8%”, diz.

O aço plano, principal produto de Usiminas e CSN, é demandado pelas indústrias automotiva e de bens de consumo, como eletrodomésticos. O longo, em projetos de infraestrutura e construção civil.

Com mercados e demandas diversos, as empresas têm adotado estratégias diferentes. “Quase metade da receita da Gerdau vem dos Estados Unidos, o que mitiga efeitos de risco de geografia isolada”, diz Laghi, com recomendação de compra para o papel e preço-alvo de R$ 32,80 até o fim do ano. Hoje, a ação vira em torno de R$ 24,20.

“A Gerdau também foi menos afetada pela crise atual do setor porque ela tem dois terços do portfólio em aço longo”, diz Igor Guedes, analista de mineração e siderurgia da Genial Investimentos. Ele mantém o preço-alvo de R$ 31 em 12 meses e diz estar mais otimista com a companhia. “Devemos rever a recomendação para Gerdau no próximo relatório setorial para compra - hoje está neutra”, diz.

A Gerdau vinha com bons resultados até meados de 2022, sobretudo por conta da divisão americana, reformulação de negócios e venda de ativos. “Em meados de 2022 chegou a nível de margem Ebtida de 30% nos EUA. No Brasil, até teve um boom antes da pandemia. Hoje está em processo de consolidação”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, com recomendação neutra em Gerdau preço-alvo de R$ 32 em 12 meses.

A CSN também tem recomendação de compra em casas como a XP, que precifica a ação em R$ 17 no fim do ano (hoje em R$ 12,10), devido a seu portfólio diversificado e por esperar melhora no setor.

Já a recomendação da XP para Usiminas, com situação mais difícil devido a reforma de um alto-forno que deve afetar seu resultado no terceiro trimestre, é neutra, com preço-alvo de R$ 8 (hoje, em R$ 6,59). O Banco Inter, por outro lado, mantém recomendação de compra, com preço-alvo em R$ 10 para o fim do ano. “Com o fim da reforma do novo forno e insumos a preços menores, deve haver recuperação de margens que se refletirá no balanço”, diz Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter.

Valor - SP   26/09/2023

Construção civil, montadoras e bens de capital respondem por quase 85% da demanda de aço no Brasil

A construção civil, as montadoras e o setor de bens de capital, que respondem por quase 85% do consumo de aço no Brasil - 19,8 milhões de toneladas ano passado -, esperam que mudanças no cenário macroeconômico estimulem suas atividades após um período turbulento. Na construção, maior consumidora de produtos siderúrgicos do país, a projeção é de crescimento de 1,5% este ano, contra 6,9% em 2022. Os juros elevados e a queda de 19,1% nos lançamentos imobiliários nos primeiros seis meses do ano - e de 7,5% nas vendas - explicam parte da projeção modesta para 2023.

Em 12 meses, houve queda de 5,3% na comercialização e de 15,8% nos lançamentos, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC).

Por outro lado, o controle da inflação, a aprovação do arcabouço fiscal, a expectativa quanto à reforma tributária e o início de um possível ciclo de queda da Selic lançam certo otimismo para o restante do ano. A recuperação da indústria de máquinas e equipamentos, entretanto, é esperada só a partir de 2024, o que deve se refletir no aumento do consumo de produtos siderúrgicos. O presidente executivo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, projeta incremento de 2,7% na receita e de 1,9% na produção para o ano que vem. Até lá, seguirá a trajetória de encolhimento verificada desde 2022.

Segundo a Abimaq, de janeiro a julho de 2023, a receita oriunda do mercado doméstico caiu 13,8% sobre o mesmo período de 2022, e o consumo aparente de máquinas e equipamentos - soma da aquisição de bens produzidos localmente com os importados, 8,3%. “O ano está perdido”, diz Velloso.

Já o desempenho do setor automotivo neste ano foi influenciado pelo programa de descontos na compra de veículos até R$ 120 mil, encerrado em julho. As vendas (emplacamentos) cresceram 9,4% de janeiro a agosto, para 1,432 milhão de automóveis, frente ao mesmo período de 2022, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Parte das vendas, porém, foi de carros em estoque. A produção caiu 0,4% no período, para 1,542 milhão de unidades, e as exportações recuaram 12,8%. Houve certa retomada em agosto, com 227 mil unidades produzidas, praticamente o mesmo volume de maio (228 mil), mês que antecedeu o anúncio do incentivo.

Para Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, as obras do novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), que prevê R$ 1,7 trilhão em investimentos em infraestrutura, serão fundamentais para alavancar a economia e impulsionar as máquinas rodoviárias, cujas vendas internas recuaram 14,8% no primeiro semestre. “Estamos pedindo ao governo detalhamento do PAC para que as empresas possam se preparar”. Ele considera um risco para o setor as importações de asiáticos, resultado, avalia, da perda de competitividade brasileira na região. A China, por exemplo, desbancou o Brasil como principal exportador de veículos para os países vizinhos.

As máquinas agrícolas, por sua vez, caíram 6,8% e 5,2% em comercialização e exportação, respectivamente, no primeiro semestre.

Valor - SP   26/09/2023

Brasil tem vantagens competitivas para produzir um aço mais sustentável e ser um vetor de descarbonização de produtos globais

Rosana Santos: “Há grande potencial para exportar aço verde” — Foto: Rogerio Vieira/Valor

Descarbonizar a produção de ferro e aço é hoje uma das principais frentes de inovação da indústria siderúrgica. Em um cenário de reinvenção do setor, o Brasil tem vantagens comparativas relevantes para contribuir com a busca da neutralidade climática: minério de ferro de alta qualidade, biomassa abundante e grande oferta de energia renovável. É possível produzir aço mais sustentável no país a partir de recursos como biogás, carvão de florestas plantadas e hidrogênio de baixo carbono. Contudo, as mudanças tecnológicas demandam a superação de desafios regulatórios, de certificação e de mercado.

“Nossa matriz energética é 48% renovável e a matriz elétrica chega a quase 90%, o que nos dá condições não só para descarbonizar nossa indústria, como de ser um vetor de descarbonização de produtos globais”, destaca a diretora executiva do Instituto E+ Transição Energética, Rosana Santos. A organização promove debates sobre políticas de transição energética socialmente justas, economicamente eficientes e comprometidas com as evidências científicas sobre as mudanças do clima. “Há grande potencial para exportar aço verde e também produtos semi-acabados, já que os países europeus perderiam competitividade se importassem em separado o minério de ferro e o hidrogênio.”

Uma das principais rotas de descarbonização da siderurgia brasileira é o reaproveitamento de sucata ferrosa para alimentar fornos a arco elétrico. Atualmente, ela abastece 30% da produção nacional de aço, proporção inferior às dos Estados Unidos, Índia e México, que chegam a 50%. Seus desafios são o custo da eletricidade e a oferta limitada de sucata. Outra rota promissora, com tecnologia madura, é o uso do gás natural para redução direta, um processo siderúrgico considerado mais “limpo” que o do alto-forno. O gás do pré-sal pode servir como insumo de transição, a ser substituído por biogás e biometano provenientes de resíduos sólidos agrícolas e urbanos. Hoje, o Brasil só explora 3% de seu potencial de biogás.

O hidrogênio de baixo carbono ainda é pouco competitivo, mas tende a se tornar uma boa alternativa para diminuir as emissões. No processo de redução direta, a reação ocorre sem que o minério se derreta ou funda, produzindo pelotas sólidas, um produto intermediário da cadeia do aço. A vantagem é a economia de energia. Os desafios são o custo elevado e a necessidade de minério de boa qualidade. Outra rota em estudo é a redução via fundição com carvão que, além de dispensar o uso do alto-forno e do coque, consome 20% menos energia. Se o carvão for originário de reflorestamento, o processo pode resultar em emissões negativas.

Os pesquisadores avaliam ainda a eletrificação direta, que consiste na eletrólise do mineral de ferro, de modo semelhante ao usado na produção de alumínio. Também estudam o método de Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CCUS na sigla em inglês), com processos químicos, que ainda tem custo elevado e baixo nível de maturidade tecnológica. Outra perspectiva de longo prazo é a de compensação das emissões por meio de projetos de captura de carbono, como reflorestamento.

Há tendência de crescimento da demanda internacional por produtos descarbonizados, mas os consumidores exigem certificação. “Para se posicionar como vendedor de produtos verdes, o Brasil tem que provar que são sustentáveis”, ressalta Rosana Santos. “O biocarvão, por exemplo, não pode vir do desmatamento do Cerrado ou do trabalho escravo”. Na sua avaliação, a criação de um mercado regulado de créditos de carbono dá uma sinalização importante ao mercado, mas isso não é o suficiente, pois ainda faltam políticas públicas de incentivo à conversão mais rápida da indústria às novas tecnologias.

Uma das referências no setor é a Aperam South America, spin-off do grupo ArcelorMittal que produz aços inoxidáveis e elétricos no Vale do Aço (MG). Em 2019, a empresa lançou o Endur, aço inoxidável com baixo teor de carbono e alta resistência à corrosão. Em 2022, tornou-se a primeira siderúrgica com balanço neutro entre emissões e remoções de gases da atmosfera. “Temos trabalhado no aumento da eficiência energética e da eficiência das nossas florestas plantadas”, diz o diretor-presidente, Frederico Ayres Lima. As inovações em curso incluem o uso de aprendizado de máquina no controle de qualidade, novas gerações de clones de eucaliptos e a adoção do forno automatizado FAP 2000, o maior do mundo para produção de energia renovável a partir do eucalipto.

Valor - SP   26/09/2023

A crescente escassez de água no planeta, causada pelas mudanças climáticas, traz desafios adicionais às empresas

Frederico Lima: “Ações passam por busca de vazamento e medição de consumo” — Foto: Elvira Nascimento

A água, insumo de vital importância para a siderurgia, é utilizada em todos os processos de produção, do transporte ao resfriamento, incluindo geração de vapor para alimentação de turbinas. A crescente escassez do recurso no planeta, causada pelas mudanças climáticas, entre outros fatores, tem imposto às empresas a busca por uma gestão hídrica mais eficiente.

Entre as maiores do país, a CSN, cuja receita líquida em siderurgia foi de R$ 29,3 bilhões em 2022, chegou ao índice de 94% no reúso e recirculação de água, sendo, portanto, somente 6% do volume provido por captação em rios e lagos, de acordo com Helena Brennand Guerra, diretora de sustentabilidade e meio ambiente da empresa.

Com vendas de 33,3 milhões de toneladas de minério de ferro em 2022, a produção da CSN consome 40 metros cúbicos de água por segundo (m3 /s). “Devolvemos aos corpos hídricos em torno de 2,1 m3 /s de água com qualidade igual ou superior ao captado”, diz Guerra. A principal unidade siderúrgica, a Usina Presidente Vargas (UPV), possui capacidade instalada de 5,6 milhões de toneladas anuais de aço bruto. A usina alcançou a redução de 8,7% no volume de água utilizada nos processos siderúrgicos de 2021 para 2022.

Em 2020 a CSN chegou à redução voluntária de 38% na outorga. “O volume seria suficiente para abastecer 1 milhão de pessoas por ano”, compara Guerra, que afirma que a companhia poupou cerca R$ 40 milhões em dez anos, em custos pelo uso da água.

A aposta da ArcelorMittal é na dessalinização da água do mar. A empresa, que já recicla ou reaproveita 97,7% dos recursos hídricos usados, iniciou em 2021 operações dessa natureza na siderúrgica de Tubarão (ES) - a maior planta na categoria do Brasil. Ao custo de R$ 50 milhões, a fábrica adota o sistema de filtração por osmose reversa.

A ArcelorMittal desenvolveu, em parceria com as universidades federais do Espírito Santo (Ufes) e de Alagoas (Ufal) e o Ministério Público Estadual (MPES), o aplicativo Hidro ES, cuja função é monitorar em tempo real a situação de vazão da bacia hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória, responsável pelo abastecimento da região metropolitana da capital capixaba. Administrada pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), a tecnologia vai reunir informações para prevenir escassez e inundações, e fornecer dados à plataforma alimentada por inteligência artificial que traçará prognósticos hídricos para até 30 anos. Deve entrar em operação em 2024.

Já a Aperam South America chega ao índice de 95% de uso de água reciclada vinda de circuitos fechados, segundo Frederico Ayres Lima, diretor-presidente da companhia. Os demais 5% são compostos por 83% extraídos de rios e 7% de recolhimento de água de chuva. A fábrica de Timóteo (MG) representa 75% do consumo total do grupo. A empresa estabeleceu a ambição de reduzir a extração pela metade e o consumo em 40% até 2030, na comparação com 2015. “As ações passam por busca de vazamentos e medição de consumo em cada processo, desde os gastos nas torneiras dos lavatórios dos banheiros até a produção macro, além da conscientização de cada um dos 3.000 colaboradores”, diz Lima.

De acordo com o CDP Latin America, instituição que estabelece um ranking que atesta boas práticas de gestão hídrica, de 810 empresas brasileiras convidadas em 2022, apenas 403 enviaram respostas. Dessas, 39 são siderúrgicas. As notas, que vão de D a A, são conferidas com base em critérios de governança hídrica. Somente duas empresas no Brasil obtiveram a nota máxima: Suzano e Klabin, ambas do setor de papel e celulose. “Nenhuma siderúrgica entrou na lista A, mas 25% das companhias do setor se situam nos patamares B ou B-, o que significa que têm a consciência da importância do insumo para as operações e vêm adotando boas práticas para gerir seus impactos hídricos”, diz Caio Monaco, gerente operacional do CDP. As empresas ArcelorMittal, CSN e Aperam estão nesse patamar.

Valor - SP   26/09/2023

Companhias pagam menos encargos do setor elétrico com autoprodução

A indústria siderúrgica brasileira está fazendo investimentos bilionários em projetos de energia eólica e solar. Parte da decisão estratégica das empresas em ter esse tipo de energia em seus portfólios está baseada no quesito preço. Hoje, esse é o tipo de energia mais competitiva do mercado. Mas parte da decisão também está calcada em metas de descarbonização. O setor é responsável por 7% das emissões de gás carbônico do mundo e é um dos maiores consumidores de energia elétrica.

Somente a Gerdau, por exemplo, usa cerca de 1% de toda a eletricidade gerada no Brasil. São 500 MW consumidos todos os dias pela siderúrgica. A empresa tem boa parte de seus contratos de energia vinculados à geração hidrelétrica, mas 80% deles não têm certificação de renovável. Com metas de produzir aço verde e vislumbrando o fim de parte de seus contratos de energia a partir de 2026, a empresa decidiu, no fim do ano passado, se tornar sócia de uma empresa que vai gerar energia solar e eólica.

O investimento de R$ 1,5 bilhão está sendo feito pela Gerdau Next, o braço de novos negócios da companhia. A empresa adquiriu 33,33% da Newave Energia, empresa nova que tem o objetivo de desenvolver parques de geração solar ou eólica de 2,5 GW. O primeiro projeto, já em obras, é um parque solar no norte de Minas Gerais. A meta da Gerdau é ter 50% de energia renovável certificada até 2030. “Só não vamos acelerar mais porque nossos contratos são de longo prazo”, aponta a diretora global de suprimentos da companhia, Flávia Dias.

A decisão da Gerdau de comprar uma empresa, e não apenas contratos de energia no mercado livre, passa pelo fato de que a autoprodução tem incentivos financeiros no país. Os autoprodutores de energia pagam menos encargos do setor elétrico, que vão desde custeio para consumidores de baixa renda até pagamento de combustível para gerar energia em sistemas isolados.

A autoprodução também foi uma escolha da ArcelorMittal, que em abril deste ano anunciou uma joint venture com a Casa dos Ventos em um projeto de R$ 4,2 bilhões para a construção do parque eólico Babilônia, no sul da Bahia, com capacidade de gerar 553,5 MW.

Os dados informados pela gerente de energia da ArcelorMittal, Juliana Marreco, mostram que a empresa fechou 2022 com 50% de seu portfólio de energia advindo da autoprodução. Hoje, cerca de 90% dos contratos são de energia proveniente de geração hidrelétrica, solar ou eólica. Na associação feita com a Casa dos Ventos, a companhia ficará com 90% da energia gerada pelo parque.

De acordo com Lucas Araripe, diretor-executivo da Casa dos Ventos, esse é um dos maiores PPA (Power Purchase Agreement, contrato de comercialização de energia de longo prazo) da história do Brasil. “A energia vai ser uma coisa muito importante no projeto de descarbonização de alguns setores e na produção de alguns produtos como o aço”, afirma Araripe. “Para a Arcelor descarbonizar toda a sua operação, precisará usar hidrogênio. Com isso, vai ter que consumir dez vezes mais energia do que consome hoje. Ou seja, a energia será estratégica para eles", afirma.

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, reforça que o hidrogênio é a energia da próxima década, substituindo o óleo e o gás em processos produtivos e significando mais consumo de energia elétrica. “A velocidade da transição energética vai crescer muito e essa velocidade traz impacto de custo”, diz Gannoum. “O mundo vai ter que se acostumar a um patamar de custo mais alto porque toda a indústria está voltada para renováveis. De qualquer forma, continuam mais competitivas do que outras fontes de energia elétrica”.

No último leilão de energia do governo federal, realizado no ano passado, a solar foi a fonte mais barata, com preços de R$ 171 o MWh. A energia eólica ficou em R$ 178/MWh, enquanto a energia hidrelétrica superou os R$ 270/MWh. A energia solar se tornou uma das mais competitivas, o que explica o crescimento exponencial de projetos ligados à indústria siderúrgica. Se todos os projetos forem adiante, serão feitos mais de R$ 500 bilhões em investimentos.

A maior parte dos projetos está localizada em Minas Gerais. O Estado já tem 3.125 MW de energia solar para uso industrial instalada e outros 2.692 MW em construção, o que inclui o parque solar da Gerdau com a Newave. Os parques não precisam estar conectados às plantas industriais, já que a energia é jogada na rede elétrica, como acontece também com os parques eólicos.

Valor - SP   26/09/2023

Indústria investe em produção sem emissão de gases causadores do efeito estufa

Em meio a uma corrida pela redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, a indústria siderúrgica persegue o que batizou de aço verde, produzido com pegada de carbono praticamente nula e que tem o hidrogênio verde como insumo estratégico. Esse gás combustível é produzido com água através de uma reação química iniciada com energia elétrica gerada por fontes renováveis, principalmente solar e eólica. Na siderurgia, ele pode substituir o coque, um tipo de carvão, no processo de transformação do ferro em aço.

Cerca de 70% do aço produzido no mundo usa o coque, cuja queima gera gás carbônico - 3,3 toneladas de CO2 por tonelada produzida -, que contribui com o aquecimento global. A produção com hidrogênio, por sua vez, gera água; o oxigênio da molécula do minério de ferro combina-se com o gás num forno elétrico e vira vapor, com emissão residual de carbono.

Segundo a consultoria britânica Wood Mackenzie, a indústria siderúrgica mundial precisará investir US$ 1,4 trilhão (cerca de R$ 6,8 trilhões) para adequar-se, até 2050, ao Acordo de Paris. Para consultoria, 90% das emissões do setor precisam ser cortadas, e o hidrogênio verde será importante para isso. A Wood Mackenzie estima que 50 toneladas do combustível serão necessárias à siderurgia por ano.

A produção do hidrogênio verde hoje é basicamente experimental, segundo Frederico Freitas, diretor da H2 Verde e pesquisador do combustível. Um complexo para produção em estruturação no Porto de Pecém (CE) deve gerar 2 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano a partir de 2030.

O complexo chamou atenção da ArcelorMittal, maior produtora de aço do mundo, que comprou a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), um negócio de US$ 2,2 bilhões (R$ 10,7 bilhões). “Existe um potencial significativo para descarbonizar o ativo, dada a ambição do Estado do Ceará de desenvolver um hub de hidrogênio verde de baixo custo e o enorme potencial que a região tem para a geração de energia solar e eólica”, declarou o presidente da ArcelorMittal, Aditya Mittal, em julho do ano passado, quando o acordo foi anunciado.

A companhia já conseguiu produzir aço com hidrogênio verde no Canadá e desde 2021 integra um consórcio de empresas dedicado a cortar emissões com o uso de hidrogênio na indústria.

A Gerdau, que já produz aço emitindo menos da metade da média do setor, monitora o avanço da tecnologia, diz seu diretor industrial, Maurício Metz. A empresa fechou acordo com uma universidade americana para analisar o uso do hidrogênio também para substituir o gás natural no processo de fabricação do aço. O nome da universidade é mantido sob sigilo.

A Vale fechou acordo com a sueca H2 Green Steel para produzir aço com hidrogênio verde. A brasileira deve fornecer ferro a futuros complexos industriais no país e América do Norte nos quais a H2 Green Steel pretende atuar. Já a sueca levantou € 1,5 bilhão (R$ 7,8 bilhões) para construir sua primeira fábrica, em Boden, em seu país natal. A empresa tem parceria com o conglomerado de energia Iberdrola, da Espanha, que controla a Neoenergia, que atua no Brasil.

Para o presidente da Neoenergia, Eduardo Capelastegui, o Brasil tem “grande potencial” de desenvolver o aço verde devido à matriz energética majoritariamente renovável e por ser o segundo produtor mundial de minério. Vinicius Botelho, pesquisador do Centro de Estudos de Energia da Fundação Getulio Vargas (FGV Energia), também vê o país bem posicionado, mas diz que há desafios a serem superados. “Precisamos saber se o hidrogênio terá um custo competitivo, resolver questões de armazenagem, gasodutos, etc”, listou.

Há empresas que apostam que o aço verde não será massificado por meio do hidrogênio. Tadeu Carneiro, presidente da Boston Metal, é taxativo sobre isso. “O hidrogênio verde não será a rota predominante”, afirma. A Boston Metal trabalha no desenvolvimento da eletrólise de óxido fundido, pela qual também produz ferro com baixas emissões. A empresa tem uma planta piloto em Woburn, nos Estados Unidos, e pretende produzir em escala industrial a partir de 2026. Ela também tem uma fábrica em Coronel Xavier Chaves (MG) para produção de ferroligas de alto valor. Recebeu US$ 6 milhões (R$ 25,3 milhões) em investimento da Vale em 2021.

Já a Aço Verde do Brasil (AVB) faz aço com biocarbono, carvão oriundo de florestas plantadas, descreve Sandro Marques Raposo, diretor de ESG e novos negócios da companhia, certificada como carbono neutra pela Société Générale de Surveillance (SGS), da Suíça. “O uso de biocarbono na siderurgia é a tecnologia de descarbonização mais consolidada e testada disponível no mercado”, diz Raposo.

Valor - SP   26/09/2023

Material versátil, compacto e menos poluente poderia ser mais bem aproveitado se a cadeia fosse mais organizada, diz pesquisadora

Ian Corrêa: “Muitas vezes temos que financiar os sucateiros” — Foto: Divulgação

A sucata ferrosa, um dos insumos mais reciclados do mundo, é matéria-prima na produção de aço de qualidade desde que os primeiros fornos elétricos a arco (FEA) chegaram ao país, na década de 1940. Espécie de reator metalúrgico, o equipamento derrete o insumo, não depende do minério de ferro para manufatura, emite menos gases e é versátil e compacto. Porém, apesar de mais limpa, a tecnologia responde por só 25% da produção nacional do aço bruto.

Para a pesquisadora Sandra Lucia de Moraes, conselheira da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), uma cadeia reversa mais organizada poderia elevar essa porcentagem. “Temos a política nacional de resíduos sólidos, mas falta a aplicação da lei. A sucata precisa ser tratada como um negócio, competindo no mercado de igual para igual com outros insumos. Infelizmente, porém, existem elos na cadeia que não se conectam”, lamenta.

“As cooperativas estão avançando em mecanização mas, se a seleção da coleta não for bem feita na origem, na ponta do consumidor, não dará certo. Além disso, o preço dos rejeitos precisa ser competitivo no mercado. Economia circular tem que ser pensada como um modelo de negócio”, afirma.

No ano passado, enquanto a produção nacional de aço bruto atingiu 34 milhões de toneladas, o setor incorporou 8,9 milhões de toneladas de sucata como matéria-prima. O Brasil é o nono maior produtor de aço, mas não figura no ranking dos países que mais usam o resíduo nas fábricas - a China lidera, de longe, ambos os rankings.

“A integração na cadeia reversa dos eletroeletrônicos, setor conectado ao mineral, tem acontecido até por força de acordos setoriais. Vemos que muitas indústrias estão praticando a economia circular e não sabem. No entanto, faltam incentivos econômicos, como mecanismos de crédito, para integrar a cadeia de valor, de verdade”, diz Lucia Helena Xavier, pesquisadora do Centro de Tecnologia Mineral, unidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

A Gerdau, maior recicladora de sucata da América Latina, produz 6 milhões de toneladas anuais de aço no país; 2,5 milhões de toneladas advêm da fabricação via “rota secundária”, por meio dos fornos elétricos. A companhia inaugurou sua primeira usina do tipo nos anos 1950. “Nascemos inspirados nas operações na Europa, focadas na proximidade com o cliente. Nossos primeiros fornos foram elétricos. Crescemos com esse conceito”, conta Maurício Metz, diretor industrial da companhia.

A empresa recicla, principalmente, sucata obsoleta proveniente de carros velhos e linha branca (eletrodomésticos). Para garantir o suprimento, treina sucateiros pelos Estados onde opera e localidades que considera estratégicas, como Manaus. Apesar de gerar alta quantidade de resíduos, uma característica da siderurgia, o executivo calcula que a Gerdau recicla 78% dos seus subprodutos. O agregado siderúrgico, escória do alto forno, é aproveitado na pavimentação de estradas. Já o pó de aciaria, um material perigoso, é vendido para parceiros que recuperam o zinco. “O material que não tem os teores desejados de ferro e carbono é rejeitado. Então, temos vários programas para máximo reaproveitamento desses volumes internamente e nos clientes”, diz Metz.

Já a Sinobras, do Grupo Aço Cearense, é referência em circularidade no Norte e no Nordeste. A empresa fabrica um tipo de aço composto por 80% de sucata e 20% de ferro-gusa. Os maiores volumes do insumo vêm de pequenos sucateiros pulverizados pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Para contornar o desafio logístico de coletar o material em uma área tão vasta, a companhia mantém 18 prensas em circulação e trabalha para fidelizar fornecedores.

“A flutuação no preço desorganiza a cadeia porque, se a economia vai bem e a geração é maior, o catador perde o interesse no trabalho, já que o valor da tonelada cai quando a oferta aumenta. Muitas vezes temos que financiar os sucateiros que são, na maioria, trabalhadores de baixa renda”, conta Ian Corrêa, vice-presidente de operações do grupo.

O executivo defende políticas públicas que organizem a cadeia e levem em conta o aspecto social da reciclagem, além do ambiental. “A indução do Estado é fundamental para aproveitarmos melhor o rejeito ferroso disponível, que não é suficiente. O país gera pouco e não recicla tudo que gera”, pontua o executivo, lembrando que ferro e aço podem ser reciclados infinitas vezes, sem perdas na qualidade.

Instalada em Marabá (PA), a siderúrgica produz 380 mil toneladas anuais de laminados que transforma em produtos da construção civil, como barras, bobinas e chapas. A unidade está em expansão e prevê chegar a 850 milhões de toneladas ao ano em breve. Operando a plena capacidade, o grupo planeja continuar direcionando as vendas ao mercado doméstico.

Valor - SP   26/09/2023

Falta desenvolver coleta seletiva e conscientização para o descarte adequado, diz associação

Thaís Fagury: “O desafio é o descarte e a captação adequados” — Foto: Divulgação

Enquanto o alumínio atingiu um índice de reciclagem equivalente a quase 100% das latinhas produzidas nos últimos anos, embalagens de aço têm taxa de 47%, segundo a associação do setor (Abeaço). Isso representa cerca de 200 mil toneladas do produto retornando para as aciarias das siderúrgicas, onde a sucata é derretida e transformada em chapas de aço, que viram novas embalagens, eletrodomésticos, partes de automóveis e até navios.

De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Embalagens (Abre), 8% das embalagens são feitas de metal - 5% de alumínio e 3% de aço. O restante é composto por plásticos (53,7%), papéis (28,8%), madeira (6,4%) e vidro (3,1%). Estima-se que 30% dos resíduos domésticos produzidos no Brasil sejam compostos por embalagens.

Para Thaís Fagury, presidente da Prolata, associação que promove a reciclagem do aço, a maior dificuldade para a reciclagem desse metal é o desenvolvimento da coleta seletiva pelos municípios e a conscientização para o descarte adequado. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), 24,9% das cidades brasileiras não tinham coleta seletiva em 2021. E quando existe, muitas vezes não abrange todo p território municipal.

“O desafio da reciclagem do aço é o descarte e a captação adequados. Existe conscientização por parte do consumidor em relação à lata de alumínio, mas não sobre o aço. Como em muitas cidades não há coleta, ou a coleta é insuficiente, muito material descartado é aterrado”, diz Fagury.

Enquanto o alumínio predomina nas bebidas, o aço está em latas de alimentos, achocolatados, tintas, massas corridas, vernizes, entre outros. De acordo com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos vendidos em embalagens metálicas e plásticas têm obrigação de implementar um sistema de logística reversa. As empresas contratam entidades gestoras para executarem o gerenciamento dos resíduos. A Prolata é um exemplo desse tipo de associação. Grande parte do mercado, no entanto, atua na informalidade.

“A reciclagem é bastante fragmentada e não há exigência de reporte de dados a nenhuma instituição federal. Os números não são totalmente auditados”, diz Fernando Bernardes, diretor de operações da Central de Custódia da Logística Reversa, órgão independente que verifica as operações das entidades gestoras.

Segundo o Instituto Nacional de Reciclagem (Inesfa), como boa parte do aço acaba sendo recolhida por catadores informais, o índice de retorno desse metal, na realidade, seria de 98%. Nesse número estão incluídos, além das embalagens, outros tipos de sucata de obsolescência, como eletrodomésticos, bicicletas, carros e até navios e trens.

Tradicionalmente, cerca de 30% da produção de aço no Brasil é feita a partir da sucata. O restante, do minério de ferro”, afirma o presidente do Inesfa, Clineu Nunes Alvarenga. Em 2022, de acordo com o Instituto Aço Brasil, a produção do metal no país foi de 33,977 milhões de toneladas - o que significaria cerca de 10 milhões de toneladas provenientes da reciclagem.

O aço pode ser reaproveitado infinitas vezes. Os maiores compradores no país são Gerdau e ArcelorMittal. Além da sucata de obsolescência - coletada por catadores, cooperativas e, em sua maior parte, grandes atacadistas - existe a sucata interna, gerada pelas próprias siderúrgicas e sobras da atividade industrial.

O valor médio do alumínio é de R$ 6 o kg, e, do aço, R$ 1. Outros produtos recicláveis, como papel e vidro, são mais baratos, enquanto o plástico varia muito de preço. Isso aumenta a disputa pelos metais, que circulam em uma cadeia de informalidade. O cobre, por sua vez, pode chegar a R$ 30, o que explica o alto índice de roubos de cabos. Muitas cooperativas não trabalham com o metal para evitar produtos com origem criminosa. Há, porém, um mercado ilegal, que inclui pequenas fundições.

Segundo a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), existem no Brasil cerca de 3.000 cooperativas, que têm entre 90 mil e 100 mil trabalhadores. O número de informais é de aproximadamente 800 mil. Na Coopercaps, cooperativa da cidade de São Paulo, o alumínio e o aço representam entre 5% e 10% do volume coletado. O maior volume é de papelão (cerca de 60%), seguido por plásticos (20%) e vidro (até 15%). Anualmente, são mais de 25 mil toneladas de recicláveis devolvidos à indústria.

“A informalidade interfere no lado social da reciclagem, que é proteger os catadores, e gera uma sombra em cima dos números. Um ferro-velho não legalizado vai sumir com informações, gerando perda de rastreabilidade. Em alguns casos, pode até haver exploração da mão de obra”, diz o diretor comercial da Coopercaps, Marcos Nascimento.

Valor - SP   26/09/2023

Investimento em moradia, transporte e saneamento básico deve aumentar demanda por aço

Gustavo Werneck: “É importante que haja ações que visem à melhoria da competitividade” — Foto: Julio Bittencourt/Valor

O novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), com previsão de R$ 1,7 trilhão em investimentos, está animando o setor siderúrgico. Espera-se maior participação do setor privado nos aportes, que deve responder por R$ 612 bilhões (36%), reduzindo a dependência do orçamento público. Porém, há receio de que as metas fiscais imponham limites aos investimentos públicos, responsáveis por dois terços dos recursos, e de que não seja viável terminar as obras paradas - que são 8,6 mil, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o equivalente a 41% do total da carteira de obras iniciadas.

“O Novo PAC pode contribuir para destravar investimentos importantes, públicos e privados, com impulsionamento de projetos de infraestrutura, como logística e energia, que terão impacto direto na demanda por aço no Brasil”, diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau. Ele observa que os investimentos no Minha Casa, Minha Vida são parte do eixo que contará com os maiores aportes. Os dois programas, junto com outros de renovação de frota e o avanço das agendas de reformas estruturais, devem impulsionar o negócio da empresa, que atua desde o varejo, nas lojas de materiais de construção, até a indústria e agropecuária.

A possibilidade de investimentos em ferrovias, bem como em estrutura viária, portos, aeroportos, hidrovias, moradias e saneamento básico, é recebida com bons olhos pela companhia, já que deve haver demanda por aço para as obras.

Porém, para o CEO, as incertezas atreladas ao acesso a linhas de crédito e à queda da taxa Selic ainda são desafios. “Vale lembrar que o consumo de aço é indicador antecedente do PIB e, nesse sentido, é importante que haja evolução em ações que visem à melhoria da competitividade da indústria brasileira, para que o setor possa atender integralmente à demanda futura de aço proveniente dos projetos do Novo PAC”, diz Werneck.

Para Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, um dos desafios é garantir o financiamento adequado para os projetos. Existe ainda preocupação com a competitividade das siderúrgicas brasileiras. “Há um elevado excesso de capacidade de aço no mundo [564 milhões toneladas]. A retração do mercado global e a manutenção das capacidades produtivas elevam o risco do aumento significativo da entrada do material importado no país. Além disso, os produtos siderúrgicos são alvo de inúmeras medidas de defesa comercial em diversos países, deixando o Brasil ainda mais exposto”, diz.

Em 2022, a construção civil respondeu por 38,9% da demanda de aço. De Paula destaca que os lançamentos do PAC e do Minha Casa, Minha Vida, em 2007 e 2009, respectivamente, contribuíram para um crescimento médio anual de consumo aparente de aço no setor da construção civil de cerca de 8% entre 2007 e 2013. Historicamente, o Brasil investe menos de 1% do PIB em infraestrutura, o que mostra o grande potencial de crescimento. “O aço está diretamente associado ao crescimento do PIB e vemos muita oportunidade de avançar nesse indicador. O novo marco do saneamento, por exemplo, representa um avanço e vai alavancar o consumo de aço”, prevê De Paula.

Os eixos cidades sustentáveis e resilientes (R$ 610 bilhões), transporte eficiente (R$ 349 bilhões) e transição e segurança energética (R$ 540 bilhões) são os maiores em termos de recursos e envolvem diretamente a siderurgia, com destaque para parcerias público-privadas (PPPs). “Os dois primeiros movimentam o setor automobilístico, bens de capital e construção civil, representando 82,5% da demanda de aço em 2022. Além disso, as PPPs contribuem, historicamente, para impulsionar a infraestrutura no país. Já os investimentos em transição e segurança energética mostram um compromisso com a transição para fontes de energia sustentáveis “, diz De Paula.

Para Adriano Correia, sócio-líder de energia e serviços de utilidades públicas da PwC Brasil, se o país quiser exportar nas mesmas condições que as demais nações, tem de acelerar os investimentos em transição energética para reduzir as emissões e pegadas de carbono dos produtos brasileiros. “Isso requer investimentos em linhas de transmissão, transporte, portos e construção. Pela urgência do tema, temos visto o governo se aproximando mais do setor privado num modelo de PPPs”, analisa.

Patrícia Seoane, sócia da PwC Brasil responsável pela vertical de siderurgia, diz que, em no ano passado, 23% da demanda de aço vieram do setor automotivo, e 21,6%, de bens de capital, máquinas e equipamentos. “Há uma demanda maior por máquinas e equipamentos quando se fortalecem os investimentos em infraestrutura e, por consequência, cresce a demanda por aço. A transição energética gera o aumento do consumo do aço devido aos investimentos em parques eólicos e fotovoltaicos.”

Valor - SP   26/09/2023

Aproximação entre setor siderúrgico e startups mira desde produtividade até descarbonização e novos negócios

Marcelo Greco: “Quase todas têm relação comercial ou operacional com a CSN” — Foto: Divulgação

A relação do setor siderúrgico com startups para enriquecimento de suas estratégias de inovação ganhou ainda mais maturidade com a criação de fundos corporativos de capital de risco (CVCs). A aproximação mira desde produtividade até a descarbonização e novos negócios.

A CSN Inova, área corporativa de inovação da CSN, nasceu em 2018 para centralizar e potencializar questões relacionadas a inovação, tecnologia e ESG para o grupo. A maturação da iniciativa levou à complementação da estratégia de inovação com investimentos em startups, de forma a atingir soluções que a empresa não conseguiria desenvolver internamente ou que necessitavam de capital para acelerar o seu desenvolvimento.

Em 2020, a companhia anunciou o lançamento do fundo CSN Inova Ventures, com R$ 30 milhões a serem investidos em três anos. Mas no ano seguinte o valor já era multiplicado por três. As teses de investimento foram elaboradas com base nos desafios internos: indústria do futuro, tecnologias para as diferentes etapas da cadeia industrial, com adoção de novos materiais e rotas de processo; aumento de eficiência e digitalização de operações; transição ESG, focada em sustentabilidade e metas socioambientais; e corporativo e novos negócios, para áreas de suporte, novas fontes de receitas e canais de venda e negócios adjacentes.

Hoje, o portfólio inclui a 2DM, voltada a grafeno; para a cadeia de hidrogênio, a 1s1 Energy, de componentes, e a H2Pro, de hidrogênio verde; os marketplaces Oico, B2B para construção civil, e Clarke, de energia; sistemas de inteligência Alinea, para atendimento da saúde, i.Systems, inteligência artificial (IA) para cadeias de suprimento industrial, e Traive, IA para crédito agrícola; e Gauss Fleet, gestão e monitoramento de ativos logísticos. “Quase todas têm relação comercial ou operacional com a CSN”, diz Marcelo Greco, head da CSN Inova Venture.

A ArcelorMittal e a Gerdau seguiram a mesma rota. A primeira criou o hub de inovação aberta Açolab em 2018, que já reúne mais de 120 projetos. Além de manter o fundo global XCarb, com U$ 100 milhões anuais, em 2021 apresentou o fundo Açolab Ventures, para a América Latina, com R$ 110 milhões. Já colocou R$ 26 milhões em quatro investidas: Agilean, solução para auxiliar planejamento e gestão de canteiros de obras; Sirros IoT, para digitalização de grandes operações industriais; Modularis Offsite Building, de construção modular 3D com estruturas de aço; e Beenx, plataforma online para transação de energia no mercado livre.

Outras iniciativas são a startup criada em parceria com a Impacto InovaçãoCom, para soluções customizadas para clientes; o programa de transformação digital INO.VC; e a AcerlorMittal Soluções, sediada no Brasil para desenvolver soluções de TI para diversos países, diz o gerente de inovação e Açolab Rodrigo Carazolli.

A Gerdau criou a divisão Next em 2020, com fundo de CVC com US$ 80 milhões, para diversificar seu portfólio com criação e incorporação de novas empresas para ir além do aço, concentrando-se nas verticais de construtechs, mobilidade, sustentabilidade e tecnologia. A estratégia agregou 11 empresas, três integralmente da Gerdau e oito joint-ventures com grandes empresas.

Entre elas, Brasil ao Cubo, especializada em construções modulares de aço, a operadora logística multimodal da Gerdau, G2L, a locadora de veículos pesados e equipamentos Addiante (parceria com Randoncorp), além da Newave Energia, para geração de energia renovável. No Next Ventures, os destaques incluem as norte-americanas Plant Prefab, especializada em casas pré-fabricadas sustentáveis, AlFleet, de logtística, e 3DEO, de impressão 3D com ligas metálicas; a colombiana Tul, plataforma de e-commerce para empresas; a plataforma de abastecimento para e-commerce Cubbo e a Docket, especializada em gestão de documentos jurídicos, detalha o vice-presidente da Gerdau e líder da Gerday Next, Juliano Prado.

No ano passado, a gestora de investimento de impacto Good Karma (GK) Ventures anunciou seu primeiro fundo, com R$ 400 milhões sob gestão, e um aporte de R$ 30 milhões na Negócios Verdes, hoje Vertuos, plataforma de gestão de resíduos que reunia a Rolth, especializada em escória de aciaria, e Sulminas, que produz areia de sílica a partir de sobras da indústria de pedras ornamentais.

A tecnologia da Rolth transforma o resíduo em subprodutos metálicos, vendidos para siderúrgicas e sucateiros, agregados siderúrgicos, empregados em artefatos como concreto e blocos de pavimentação, e óxido de cálcio e magnésio, para produção de fertilizantes. O uso de um passivo ambiental acumulado em siderúrgicas de todo o mundo ajudou a fechar parceria com a ArcelorMittal para tratamento da planta de Resende (RJ).

Valor - SP   26/09/2023

Com soluções diversas, companhias apostam na produção de aço mais sustentável

Uma pioneira na adoção do conceito de economia circular é a Aço Verde do Brasil (AVB), empresa do grupo Ferroeste em operação desde 2015 em Açailândia (MA). Este ano, a siderúrgica conquistou o menor indicador mundial para emissões de CO2 por tonelada de aço bruto produzido entre 2018 e 2022, conforme a World Steel Association. Seu inventário anual de gases de efeito estufa de 2022 foi de 0,02 tonelada de CO2 equivalente emitida por tonelada de aço (tCO2 e/t), bem inferior à média mundial (1,89).

Maior recicladora de sucata ferrosa do Maranhão, a AVB patenteou uma tecnologia inovadora de pré-aquecimento do material, que usa gás dos altos-fornos para elevar a temperatura do material a cerca de 600 graus centígrados. Dessa forma, é possível aumentar de 15% para 33% a proporção de sucata sólida aproveitada dentro do convertedor, o que reduz as emissões de carbono e aumenta a capacidade de produção.

A siderúrgica consegue reaproveitar 100% dos gases e coprodutos gerados na fabricação do aço, utilizando somente energia renovável certificada - um terço dela, proveniente de geração própria. Sua meta é tornar-se autossuficiente em energia renovável no prazo de cinco anos, adicionando 26 megawatts aos atuais 11 MW disponíveis da usina termoelétrica.

“Somos uma empresa que já nasceu verde, com todos os processos pensados para ter o mínimo impacto ambiental possível”, resume o diretor de sustentabilidade e novos negócios, Sandro Raposo. “A AVB é a única indústria integrada de aços longos do mundo que usa 100% de biocarbono”. Toda a madeira do processo produtivo vem de florestas próprias de eucalipto reflorestado. Ele destaca uma informação sobre diversidade na liderança: a AVB é a única siderúrgica do Brasil a ter uma presidente mulher, Silvia Carvalho Nascimento.

Outra empresa que tem contribuído para a produção de aço mais sustentável é a thyssenkrupp. Em dezembro de 2022, a corporação de origem alemã assinou contrato com a ArcelorMittal para fornecer uma nova planta de dessulfuração de gás de coqueria no município de Serra (ES), prevista para entrar em operação em 2024. O projeto prevê a instalação de um sistema avançado que permitirá ao conglomerado industrial luxemburguês reduzir as emissões da usina.

O gás de coqueria que pode ser produzido pela ArcellorMittal é equivalente a 480 megawatts de energia elétrica, ou ao consumo de 2 milhões de residências. No pico das obras, a previsão é que o projeto gere 400 vagas de trabalho. “Precisamos acelerar a transição para uma economia com neutralidade nas emissões de gases de efeito estufa”, afirma o presidente da thyssenkupp para a América do Sul, Paulo Alvarenga.

Precisamos acelerar a transição com neutralidade nas emissões”

— Paulo Alvarenga

Investir em inovação também tem sido a prioridade de empresas do ramo metalúrgico, que abrange a manipulação de metais em geral. É o caso da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que nos últimos quatro anos alocou R$ 32 milhões em projetos ligados à indústria 4.0. As iniciativas incluem o desenvolvimento de uma Inteligência Artificial (IA) exclusiva e de uma sala de controle de processos.

Outras inovações que vêm sendo exploradas na empresa são aprendizado de máquina, robôs autônomos, computação em nuvem, gêmeos digitais, realidade virtual e internet das coisas. “A inovação e a transformação digital ocupam um papel muito importante no desempenho sustentável e na competitividade do nosso negócio”, afirma o diretor de inovação, Fernando Varella.

A estratégia de transformação digital da Tupy, multinacional brasileira de metalurgia com sede em Joinville (SC), coloca grande ênfase na descarbonização e na formação contínua de seus colaboradores para lidar com as novas tecnologias. Ao mesmo tempo em que a companhia investe em equipamentos de ponta, como sensores de internet das coisas para monitoramento ambiental, também aposta no retrofit.

“Temos mais de 200 robôs industriais de grande porte somente na planta principal, mas como o nosso parque fabril existe desde os anos 1950, precisamos adaptar as máquinas mais antigas para se tornarem digitais”, explica o diretor de inovação e TI, Daniel Marques de Moraes. Uma inovação tecnológica recente é a adoção de robôs colaborativos, que podem trabalhar junto aos humanos sem oferecer riscos à segurança.

Em 2022, a Tupy lançou a liga metálica Ultra Light Iron, que viabiliza a fabricação de blocos de motor de veículos extremamente resistentes e bastante leves, com o mesmo peso do alumínio e baixa pegada de carbono. Em 2022 a metalúrgica reduziu suas emissões em 17% na comparação com o ano anterior.

Valor - SP   26/09/2023

Indústria adota ações capazes de reduzir em 20% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, mas impacto maior na atividade depende de mudanças estruturais do parque industrial e de novas rotas produtivas

A descarbonização chegou ao topo da agenda da indústria siderúrgica. As produtoras de aço brasileiras desenvolvem projetos para reduzir suas emissões de dióxido de carbono (CO2). As ações envolvem ampliar o uso de sucata metálica nos processos produtivos, emprego de gás natural, carvão vegetal e de energia de origem renovável. Os resultados projetados apontam 20% de redução nas emissões atmosféricas. A meta das principais siderúrgicas é alcançar essa marca até 2030.

A descarbonização completa da atividade, compromisso assumido pelo setor para 2050, depende de mudanças estruturais do parque industrial e a adoção de rotas produtivas que ainda estão em fase de amadurecimento tecnológico, como o uso de hidrogênio verde na alimentação energética dos altos-fornos.

A indústria siderúrgica global responde anualmente por algo entre 7% a 9% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) de origem antropogênica. No Brasil, devido ao impacto das queimadas florestais, a produção de aço contribui com cerca de 4% do total de emissões, segundo a 4ª Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC).

“É um índice alto e o setor está consciente e empenhado em sua redução”, diz Jefferson de Paula, presidente da ArcelorMittal e do conselho do Instituto Aço Brasil. “É também uma necessidade mercadológica”, afirma Titus Schaar, presidente da Ternium. “Cada vez mais, grandes consumidores de aço, como a indústria automobilística, definem suas compras levando em consideração o inventário de carbono dos insumos.”

De acordo com a World Steel Association, a emissão atmosférica de GEE da indústria do aço vem aumentando no mundo. Em 2021, chegou a 1,91 tonelada de CO2 por tonelada de aço bruto fundido. Analistas internacionais avaliam que é resultado de uma maior participação de aço chinês no mercado, país que responde por mais de 50% da produção global e apresenta altos índices de emissões de poluentes.

No Brasil, a média de emissões é de 1,7 tonelada de CO2 por tonelada de aço produzido. A performance nacional é resultado de uma participação de 11% de carvão vegetal, com origem em florestas plantadas, em substituição ao carvão mineral nos altos-fornos. E também de participação de 22% na produção total proveniente de mini-mills, pequenas usinas que usam fornos elétricos para a transformação de sucatas.

As mini-mills emitem em média 0,67 tonelada de CO2 por tonelada de aço produzido, informa a World Steel, enquanto a tonelada de aço em altos-fornos emite 2,32 toneladas de CO2.

A maior produtora brasileira em mini-mills é a Gerdau, que tem 71% de sua produção originada no processamento anual de 11 milhões de toneladas de sucata metálica. A empresa também possui 250 mil hectares de florestas plantadas que geram carvão vegetal para a produção em altos-fornos.

Transição não ocorre devido ao alto custo do gás natural”

— Marco Polo Lopes

As duas estratégias permitem à companhia apresentar um índice geral de 0,89 tonelada de CO2 por tonelada de aço. “Nossa meta é reduzir para 0,83 tonelada de CO2 por tonelada de aço até 2031”, diz o CEO, Gustavo Werneck.

As mini-mills são eletrointensivas. Em 2022, a divisão de novos negócios Gerdau Next assinou uma parceria com a Newave Energia com o objetivo de investir em projetos greenfield de geração eólica e solar com capacidade de 2,5 gigawatts (GW) até 2026.

Nas grandes usinas integradas, que usam minério de ferro em seus processos produtivos, o gás natural pode substituir parcialmente o uso de coque e do carvão mineral como combustível dos altos-fornos. O gás natural emite 50% menos GEE do que o carvão mineral.

A siderurgia brasileira consome 3,4 milhões de m³ de gás natural em seus processos produtivos e poderia elevar esse consumo para 25 milhões de m³. “Essa transição não ocorre devido ao alto custo do gás natural no Brasil”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil.

O gás natural no Brasil é comercializado na casa de US$ 16,8 por milhão de BTU (unidade de medida do gás). Nos Estados Unidos e no México, o valor é de US$ 6,9 por milhão de BTU.

A ArcelorMittal, maior produtora de aço no Brasil, com capacidade total de produção de 12,5 milhões de toneladas anuais, tem planos para o uso de gás natural em suas unidades de Tubarão (ES) e Monlevade (MG). A companhia, porém, ainda não decidiu levar adiante o projeto, devido aos preços do gás natural. “É impraticável”, diz De Paula. “Nosso aço não teria competitividade no mercado”, afirma.

Vamos atingir o carbono neutro em 2050”

— Frederico Ayres Lima

Em média, as emissões da ArcelorMittal são de 1,6 tonelada de CO2 por tonelada de aço bruto produzido. A produção em altos-fornos soma 11 milhões de toneladas e emite, em média, 1,6 tonelada de CO2 por tonelada de aço. “Vamos reduzir esse índice em 10% até 2030”, afirma De Paula.

A sucata já é misturada ao ferro-gusa em uma média de 27% nos altos-fornos da companhia. Cada tonelada de sucata utilizada evita a emissão de 1,5 tonelada de CO2. A empresa agora elabora um cronograma para incorporar progressivamente o carvão vegetal nas unidades de Tubarão e Monlevade.

A Ternium, em sua unidade em Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, tem capacidade de produção de 5 milhões de toneladas de aço por ano. As emissões são de 2,2 toneladas de CO2 por tonelada de aço produzido em seus altos-fornos. A meta é reduzir as emissões para 1,8 tonelada de CO2 até 2030 por meio de investimentos estimados em R$ 500 milhões. Em 2019 a empresa foi pioneira no mundo ao adotar o biometano como fonte energética de seu alto-forno e o uso de gás natural é uma possibilidade que aguarda viabilidade econômica. “A próxima ação é um investimento de R$ 150 milhões em equipamentos que irão permitir à empresa utilizar até 60 mil toneladas de sucata por mês em seu processo produtivo” diz Titus Schaar.

Em março, a Ternium assumiu o controle da Usiminas e uma das primeiras missões do novo CEO, Marcelo Chara, é desenvolver um plano de descarbonização da companhia. “Os principais pilares vão ser eficiência energética, o uso de gás natural, se conseguirmos preços competitivos, e maior uso de sucata”, afirma Chara.

A descarbonização é uma ação que ganhou caráter de urgência na companhia, após a Justiça de Minas Gerais bloquear recursos da empresa em setembro por conta da poluição atmosférica na unidade de Ipatinga, na região do Vale do Aço.

Na Aperam, produtora de aço inox, os dois altos-fornos da usina de Timóteo (MG), que tem capacidade instalada para 900 mil toneladas de aço líquido, já operam exclusivamente com carvão vegetal de origem em florestas plantadas Em 2022, a unidade registrou emissão de 0,32 tonelada de CO2 por tonelada de aço. “Vamos reduzir em 30% as emissões até 2030 e atingir o carbono neutro em 2050”, diz Frederico Ayres Lima, diretor-presidente da companhia na América do Sul.

Valor - SP   26/09/2023

Cenário de juros altos, pressão vinda da China e queda dos preços também afetaram ações de empresas menores do setor

O cenário de juros altos, a pressão vinda da China e a queda dos preços também têm afetado as empresas menores de siderurgia e mineração. Até antes da pandemia, Ferbasa e Riosulense vinham se destacando pela velocidade com que cresciam e pela atuação em nichos específicos. Mas do ano passado para cá, mudanças no cenário macro afetaram o desempenho financeiro dessas empresas e a negociação de seus papéis na B3.

Tanto que Ferbasa e Riosulense acumulavam no ano, até 20 de setembro, quedas de 6,52% e 0,43, respectivamente. Analistas consideram, no entanto, que vencidos os fatores atuais, as duas empresas têm potencial para valorização de seus papéis, não só pela particularidade de seus mercados como pela robustez das empresas.

“A Ferbasa tem um fator específico para melhorar os resultados. Está se voltando para verticalização, buscando eficiência e acordos com empresas de matérias-primas”, observa Felipe Ruppenthal, analista de mineração e siderurgia da Eleven Research.

A Ferbasa atua na fundição de metais ferrosos e não ferrosos para a fabricação de peças para a indústria automotiva. Por isso depende dos preços do mercado externo. A empresa, que tem seu papel negociado hoje na B3 por volta de R$ 48,80, pode chegar a preço-alvo de R$ 50 até o fim do ano, na avaliação da Eleven.

“Além disso, a Ferbasa assinou um contrato de energia com a AES Tietê, com início em 2024, que deve torná-la menos suscetível a oscilações no mercado livre de energia”, conta Ruppenthal. O analista aponta que o risco que o mercado enxerga neste tipo de investimento é a oscilação de preços do ferrocromo e do ferrosilício, que dependem da dinâmica de players como a China.

Só no segundo trimestre deste ano, o preço médio das ferroligas da empresa caiu 8% comparado ao trimestre anterior. O volume vendido também foi afetado negativamente, com recuo de 7%, impactado pelas exportações, que ficaram 23% inferiores ao primeiro trimestre. O resultado foi compensado em parte pela maior venda no mercado interno, que cresceu 13%.

Já a metalúrgica Riosulense, apesar de ter registrado queda de cerca de 10% no valor da sucata nos últimos 12 meses, é aposta futura das gestoras de small caps. Isso porque dois terços de suas vendas são de componentes e peças para caminhões, tratores, máquinas e motores, que deve voltar a crescer. “Tem supersafra de grãos que precisará ser transportada. O mercado está retomando e o volume deve melhorar. A empresa deu R$ 27 milhões em lucro até junho e tem possibilidade de chegar a R$ 60 milhões até o fim do ano”, afirma Werner Roger, sócio-fundador e gestor da Trígono Capital.

Nas suas contas, a Riosulense tem valor de mercado hoje de R$ 400 milhões e, se atingir R$ 60 milhões de lucro, valerá R$ 540 milhões ao final de 2023.

Valor - SP   26/09/2023

Setor emprega 126,8 mil trabalhadores, em 31 usinas

Valquíria Ferreira: benefícios devem olhar as demandas familiares também — Foto: Divulgação

Identificar engenheiros com experiência e convencê-los a trabalhar longe de casa são alguns dos desafios que tiram o sono das chefias da indústria do aço. “No preenchimento de posições técnicas, é preciso ter ‘expertise’ em algumas áreas e, dependendo do empregador, disponibilidade de mudança para locais remotos”, afirma Isis Borge Sangiovani, sócia do Talenses Group, de recrutamento de executivos. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, que representa produtoras de aço, o setor tinha 126,8 mil trabalhadores em 2022, entre efetivo próprio e terceirizado, em 31 usinas administradas por onze grupos empresariais.

Para atrair e reter talentos, diz Sangiovani, as empresas deveriam divulgar mais os projetos das frentes de ESG (práticas ambientais, sociais e de governança). Alguns candidatos têm restrições ao setor por conta de possíveis danos ambientais, explica. “Também é importante enfatizar práticas de mercado como a oferta de um bom pacote de remuneração e a possibilidade de ascensão na carreira. A Talenses viu crescer em 65% o número de vagas no setor em 2022. Para 2023, há expectativa de demanda para lideranças com expansões de grupos nacionais para o exterior e multinacionais que investem em projetos locais. “Estamos trabalhando algumas posições de diretoria”, diz, sem dar detalhes.

A ArcelorMittal tem 310 vagas abertas, 79 delas para nível superior. As formações mais procuradas são em engenharia e áreas técnicas da metalurgia, afirma Sofia Trombetta, diretora de pessoas, saúde e bem-estar na ArcelorMittal Aços Longos e Mineração para a América Latina. Segundo ela, houve 742 contratações no primeiro semestre, sendo 1,2% para gerentes ou superior. O tempo médio de casa dos funcionários na empresa é de oito anos. “Estamos vivendo a menor média de permanência na organização, comparada aos últimos cinco anos”, aponta. “Isso ocorre em função da entrada das novas gerações no mercado, com maior foco em experiências e não mais em empregos ‘vitalícios’.”

Trombetta diz que o processo para contratar um candidato para liderança pode levar até 90 dias, se o posto exigir especialização. Para dinamizar as admissões, uma das estratégias é realizar parcerias com comunidades do entorno, inclusive universidades e sistema Sesi-Senai, para mapear e qualificar profissionais. Ações no campo da diversidade também estão no radar.

No Grupo Aço Cearense, o plano é adequar as vantagens de admissão. “Precisamos ficar atentos a benefícios flexíveis que atendam às necessidades da família do candidato, como adaptação às cidades onde temos operações”, afirma Valquíria Ferreira, gerente de desenvolvimento e performance.

Houve 581 contratações no primeiro semestre, sete delas para cadeiras de decisão - há projetos de expansão de capacidade produtiva e de desenvolvimento de uma aciaria no Pará. Ferreira diz ter 110 posições disponíveis, sendo 14% para nível superior e 24% para cursos técnicos. “O maior desafio é achar profissionais técnicos e de engenharia para a região Norte.”

Para Allyson Rocha, diretor geral do Grupo Tecno, um dos gargalos é encontrar talentos com experiência e habilidades digitais. A empresa adotou busca nas redes sociais e programas de desenvolvimento para as equipes.

Valor - SP   26/09/2023

Companhias implementam programas para ter mais pessoas de grupos subrepresentados

Ivani Silveira: “Aumentamos para 25% o número de mulheres nas diretorias” — Foto: Divulgação

O aumento de empresas empenhadas em estratégias de diversidade e inclusão (D&I) reflete o esforço do setor siderúrgico por equilíbrio entre a representatividade das equipes e da sociedade. O movimento inclui desde a criação de áreas dedicadas ao tema até mentorias para assegurar avanços nas carreiras dos grupos subrepresentados e processos de recrutamento e seleção mais inclusivos. O setor, majoritariamente masculino, está presente em regiões remotas, em municípios pequenos, que em geral são mais conservadores.

Uma das mais adiantadas nessa agenda é a Novelis, onde 44% dos executivos que se reportam ao presidente são mulheres. Entre os anos fiscais de 2021 e 2023, a participação de líderes que se autodeclaram negros passou de 4% para 9%. A empresa mantém o programa Igual desde 2017, com compromissos e grupos de afinidade voltados a gênero, raça e pessoas LGBT+, e prevê ações como mentorias diversa, para diferentes grupos, e reversa, com aconselhamentos de executivos por profissionais abaixo de seu grau hierárquico.

A Novelis ainda tem programas de educação continuada - com custeio total de especialização exclusiva para negros - e estágios com metas de contratação entre os grupos. No programa global de desenvolvimento de engenheiros, a Novelis América do Sul atingiu 40% de participação de mulheres.

A Usiminas criou um programa em 2019 com base nos pilares gênero, raça e etnia, pessoas com deficiência (PCDs), gerações e LGBT+. De dezembro de 2019 a agosto de 2023, o número de mulheres na companhia passou de 909 para 1.253 (de 8% para 11% do total de funcionários). Elas compõem 18% (105 mulheres) das posições de liderança e, em cargos de gestão, o percentual dobrou para 19%, segundo o diretor corporativo de gestão de pessoas, Cesar Bueno.

Mentorias ajudam a planejar carreiras dos grupos minorizados; 44% dos trainees são mulheres, índice semelhante se reflete no estágio e, entre aprendizes, elas já são 54%. O pilar gerações mira transferência de conhecimento entre profissionais técnicos experientes e jovens digitais. O programa Habitar prepara ambientes para mulheres e PCDs. O mais sensível é o voltado a pessoas LGBT+, medido por pesquisas de clima organizacional.

A Belgo Arames, parceria entre ArcelorMittal e Bekaert no Brasil, criou a gerência de D&I e responsabilidade social, que tem apoio do Instituto Mais Diversidade e com foco em gênero, PCDs, migrantes em vulnerabilidade, equidade racial, LGBT+ e gerações. Dos 3.170 empregados, 48,6% se declaram pretos e pardos, 17% mulheres, 6% LGBT+, 5,6% PCDs e 0,7% em situação de refúgio ou migrantes vulneráveis. Entre os líderes, 20,7% são negros, 16%, mulheres (contra 7% em 2020), e 1%, PCDs. A diretora de gente, cultura e engajamento, Clarisse Drummond, destaca programas como Elas 360 e Elas na Fábrica, para impulsionar carreiras de mulheres. A meta é ter 30% de participação feminina até 2030.

A ArcelorMittal lançou programa de D&I em 2019 e mira 25% de mulheres na liderança até 2030 - hoje são 21%, contra 9% dois anos atrás. As iniciativas focam diversidade racial, equidade de gênero, LGBT+ e PCDs, este com programa de aprendizes exclusivo. Em 2022, o programa PertenSER discutiu o tema do machismo estrutural.

Já a Ternium implantou política de D&I em 2018, com os eixos gênero, geração, multiculturalidade, LGBT+, raça e etnia e PCDs, com iniciativas como mentoria de carreira para jovens negros e grupos de discussão de temas como identidade, vieses inconscientes e liderança intercultural. Segundo a diretora sênior de recursos humanos, Ivani Silveira, no último ano fiscal foram mais de 250 contratações de grupos sub-representados na sociedade. “Aumentamos para 25% o número de mulheres nas diretorias nos últimos anos”, diz.

Petro Notícias - SP   25/09/2023

O presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO Aços Longos e Mineração LATAM, Jefferson De Paula, abre amanhã (26) o Congresso Aço Brasil 2023. O evento, que é organizado pelo Instituto Aço Brasil, vai reunir em dois dias , no Hotel Unique, em São Paulo, as principais lideranças da indústria do aço no país. Na programação do evento está prevista a participação on-line do CEO global do Grupo ArcelorMittal, Aditya Mittal, que será o palestrante da Conferência Magna com o tema a Geopolítica do Aço. No segundo painel, também sobre a Geopolítica do Aço, Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal Aços Planos LATAM e Vice-Presidente da ArcelorMittal Brasil, será o moderador do debate sobre o cenário atual e as perspectivas do setor de aço. No fechamento do congresso, no dia seguinte, De Paula – que também preside o Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil – será um dos debatedores do painel “Tendências e desafios da indústria do aço – a visão dos CEOs”.

Neste ano, o Instituto Aço Brasil completa 60 anos de atividades. Ele foi fundado em 1963, quando o antigo Instituto Brasileiro de Siderurgia era a entidade representativa das empresas brasileiras produtoras de aço. Atualmente, a entidade congrega e representa 11 grupos empresariais, que administram 31 plantas industriais, distribuídas por 10 estados brasileiros. Em 2022, o setor foi responsável pela produção de 34,1 milhões de toneladas de aço bruto, levando o país a ocupar a 9ª posição no ranking da produção mundial.

Para lembrar, A Arcelor Mittal é uma das maiores produtoras de aço do Brasil e também uma das líderes no mercado global. O Grupo ArcelorMittal tem cerca de 160 mil empregados, sendo 18 mil no Brasil, e atende a clientes em 155 países. A empresa tem unidades industriais em sete estados, além de unidades de distribuição e serviços em todo o país, sendo a única do setor no Brasil a contar com a certificação ResponsibleSteel. As plantas brasileiras têm capacidade de produção anual de 7 milhões de toneladas de minério de ferro e de 15,5 milhões de toneladas de aço bruto, com aplicação nas indústrias automobilística, de eletrodomésticos, construção civil e naval, dentre outras.

ECONOMIA

Agência Brasil - DF   26/09/2023

Pela quinta semana seguida, a previsão do mercado financeiro para o crescimento da economia brasileira este ano subiu, passando de 2,89% para 2,92%. A estimativa está no boletim Focus de hoje (25), pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC) com a projeção para os principais indicadores econômicos.

Para o próximo ano, a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB - a soma dos bens e serviços produzidos no país) é de crescimento de 1,5%. Para 2025 e 2026, o mercado financeiro projeta expansão do PIB em 1,9% e 2%, respectivamente.

Superando as projeções, no segundo trimestre do ano a economia brasileira cresceu 0,9%, na comparação com os primeiros três meses de 2023, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao segundo trimestre do ano passado, a economia brasileira avançou 3,4%.

O PIB acumula alta de 3,2% no período de 12 meses. No semestre, a alta acumulada foi de 3,7%.

Inflação

A previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - considerada a inflação oficial do país – permaneceu em 4,86% nesta edição do Focus. Para 2024, a estimativa de inflação ficou em 3,86%. Para 2025 e 2026, as previsões são de 3,5% para os dois anos.

A estimativa para este ano está acima do teto da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é de 3,25% para 2023, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,75% e o superior 4,75%.

Segundo o BC, no último Relatório de Inflação, a chance de o índice oficial superar o teto da meta em 2023 é de 61%.

A projeção do mercado para a inflação de 2024 também está acima do centro da meta prevista, fixada em 3%, mas ainda dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Em agosto, influenciado pelo aumento do custo da energia elétrica, o IPCA foi de 0,23%, segundo o IBGE. O índice é superior ao registrado em agosto do ano passado, quando havia sido observada deflação (queda de preços) de 0,36%.

O IPCA acumula taxa de 3,23% no ano. Em 12 meses, a inflação acumulada é de 4,61%.

Taxa de juros

Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros - a Selic - definida em 12,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O comportamento dos preços fez o BC cortar os juros pela segunda vez no semestre.

De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

Para o mercado financeiro, a Selic deve encerrar 2023 em 11,75% ao ano. Para o fim de 2024, a estimativa é que a taxa básica caia para 9% ao ano. Para o fim de 2025 e de 2026, a previsão é de Selic em 8,5% ao ano para os dois anos.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.

Quando o Copom diminui a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.

Por fim, a previsão do mercado financeiro para a cotação do dólar está em R$ 4,95 para o fim deste ano. Para o fim de 2024, a previsão é de que a moeda americana fique em R$ 5.

Exame - SP   26/09/2023

Os últimos resultados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado como referência pelo Banco Central para medir a inflação, reafirmaram a perspectiva favorável para os preços de alimentos e de bens industriais em 2023, influenciados, sobretudo, pela combinação de preços de commodities menos pressionados e certa apreciação do real. No entanto, o destaque positivo dos últimos meses foi o comportamento da inflação de serviços. Após incorporar ao nosso cenário a perspectiva mais benigna para a inflação de serviços no curto prazo, revisamos a projeção para o IPCA de 2023, de 5,1% para 5,0%. Para 2024, a nossa projeção para o IPCA passou de 4,0% para 3,8%.

Os preços de alimentos e de bens duráveis devem sustentar seu papel importante como fatores de contenção da inflação, observados ao longo de todo o ano. Aumento da oferta e redução de custos, no contexto de produção agropecuária melhor que o esperado para o ano, levaram a sucessivas surpresas baixistas para a inflação de alimentos, que deve encerrar o ano com alta acumulada de apenas 0,1%. A trajetória de arrefecimento de bens industrializados foi fundamental para o processo desinflacionário até então e foi reforçada por uma combinação de fatores favoráveis para os preços industriais: (1) normalização das cadeias de produção, observada desde meados do ano passado; (2) redução dos preços internacionais de commodities, especialmente do petróleo e (3) apreciação do real, sobretudos nos últimos meses.

Destaca-se a queda dos preços de bens duráveis, que incluem aparelhos eletroeletrônicos e veículos e que contribuíram significativamente para a desaceleração de industrializados. Ainda assim, cabe destacar movimentos no sentido contrário, como alguma desvalorização do real, a retomada de níveis mais elevados dos preços do petróleo e a reversão da deflação dos preços industriais ao produtor, combinação que deve levar a uma perda de ritmo do arrefecimento nos próximos meses. Ainda assim, os bens industriais devem encerrar o ano com variação de 2,6%.

A despeito da perspectiva mais favorável para o IPCA no curto prazo, a inflação de combustíveis representa um risco altista ao nosso cenário para 2023. O último reajuste da Petrobras, em meados de agosto, não foi suficiente para eliminar a defasagem dos preços domésticos da gasolina e do diesel em relação à paridade internacional.

Diante da perspectiva de que os preços do petróleo não caiam no curto prazo, no contexto de um mercado sazonalmente mais apertado diante de cortes de oferta por parte de importantes produtores, o preço da gasolina deve se sustentar em patamar mais elevado. Ademais, a alta de preços de combustíveis, em especial do diesel, pode levar a uma maior difusão das pressões inflacionárias, uma vez que um aumento de preços de fretes e transporte tende a ser repassado ao custo de demais serviços e bens. Logo, a possibilidade de que haja mais um reajuste altista por parte da Petrobras neste ano demanda cautela.

No ano que vem, a inflação deve se beneficiar de menores altas para os preços da gasolina, que tiveram um forte impacto sobre a inflação de administrados neste ano, pressionados pelo retorno da cobrança de tributos que haviam sido suspensos no governo anterior. No entanto, o IPCA deve permanecer acima da meta. Não obstante a revisão baixista, o núcleo de serviços deve ser a principal fonte de pressão inflacionária em 2024, influenciado pelos impactos das políticas expansionistas do governo e do mercado de trabalho resiliente. O cenário agropecuário deve ser novamente favorecido pela redução nos custos de produção, com base na expectativa de recuo nas cotações do petróleo Brent, e pela ampliação do abate de animais e da produção de commodities relevantes, como o milho e soja.

Neste sentido, o cenário mais favorável aos produtores deve ser repassado para os preços de alimentos ao consumidor. No entanto, destaca-se a presença de riscos altistas associados ao El Niño, dado que a nossa projeção para 2024 não incorpora um impacto relevante de eventos climáticos adversos ligados ao fenômeno. A perspectiva para bens industriais é de manutenção de um contexto favorável, influenciado pelo recuo estimado para o preço internacional do petróleo, em linha com a hipótese de relaxamento dos cortes voluntários da Opep+. No entanto, a expectativa é de aceleração marginal dos preços de bens duráveis em relação a 2023, impactados pela expectativa de um câmbio médio mais depreciado em 2024.

Juros

Sem surpresas, o Copom reduziu novamente a Selic em 50 bps na reunião de setembro, levando a taxa para 12,75% ao ano. Desta vez, a decisão ocorreu de forma unânime, diferentemente da divisão verificada em agosto. O comunicado do Comitê reiterou pontos que recomendam a manutenção do gradualismo na condução da política monetária. Assim, salvo alguma surpresa conjunta em aspectos sensíveis à política monetária, como uma reancoragem plena das expectativas de inflação, uma piora mais abrupta da atividade econômica ou a intensificação consistente da desinflação nos serviços, o atual ritmo de corte deverá ser mantido nos encontros seguintes. Com isso, mantemos a expectativa de nova redução de 50 bps na reunião de novembro e a expectativa de Selic de 11,75% ao final de 2023 e de 9,25% ao término de 2024.

CNN Brasil - SP   26/09/2023

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou nesta segunda-feira (25) que aparentemente os juros nos Estados Unidos seguirão em nível elevado por mais tempo do que o atualmente estimado pelos mercados.

Em entrevista à emissora CNBC, o dirigente considerou que um pouso suave na economia do país “é possível”, mas também admitiu que há “vários riscos” no horizonte.

Com direito a voto nas decisões de política monetária deste ano, Goolsbee também foi questionado sobre o quadro fiscal.

Agora como dirigente do BC, ele reforça não cabe lhe opinar sobre a postura fiscal do governo, mas apenas trabalhar com esse quadro.

De qualquer modo, o dirigente lembrou que houve um avanço recente em relação aos gastos fiscais, sem querer se alongar no tema e em suas consequências.

IstoÉ Dinheiro - SP   26/09/2023

Com alta no superávit comercial, as contas externas do país tiveram saldo negativo menor em agosto, chegando a US$ 778 milhões, informou nesta segunda-feira (25) o Banco Central (BC). No mesmo mês de 2022, o déficit foi de US$ 7,016 bilhões nas transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda com outros países.

A diferença na comparação interanual é resultado do superávit comercial, que aumentou R$ 5,1 bilhões. Colaborando para o resultado, o déficit em serviços recuou US$ 869 milhões, assim como o déficit em renda primária (pagamento de juros e lucros e dividendos de empresas) em US$ 504 milhões.

Em 12 meses encerrados em agosto, o déficit em transações correntes foi de US$ 45,223 bilhões, 2,21% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e serviços produzidos no país), ante o saldo negativo de US$ 51,573 bilhões (2,54% do PIB) em julho deste ano e déficit de US$ 53,635 bilhões (2,94% do PIB) no período equivalente terminado em agosto de 2022.

Já no acumulado do ano, o déficit é de US$ 19,459 bilhões, contra saldo negativo de US$ 27,742 bilhões nos primeiros oito meses de 2022.

Balança comercial e serviços

As exportações de bens totalizaram US$ 31,432 bilhões em agosto, aumento de 0,8% em relação a igual mês de 2022. As importações somaram US$ 23,814 bilhões, queda de 16,8% na comparação com agosto do ano passado. Com esses resultados, a balança comercial fechou com o superávit de US$ 7,618 bilhões no mês passado, ante saldo positivo de US$ 2,552 bilhões em agosto de 2022.

O déficit na conta de serviços – viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, entre outros – somou US$ 2,878 bilhões em agosto, diminuição de 23,2% ante os US$ 3,748 bilhões em igual mês de 2022. Houve redução no déficit em transporte e viagens e aumento em aluguel de equipamentos.

O déficit na rubrica de transportes passou US$ 1,985 bilhão em agosto de 2022 para US$ 1,023 bilhão no mês passado, recuo de 48,5%. A melhora foi influenciada por menores gastos em fretes, que tiveram redução devido à queda nos preços internacionais.

No caso das viagens internacionais, há trajetória de recuperação, mas o crescimento do déficit segue em patamares inferiores do período antes da pandemia da covid-19. Seguindo a tendência dos meses recentes, as receitas de estrangeiros em viagem ao Brasil cresceram 52,5% na comparação interanual e chegaram a US$ 657 milhões em agosto, contra US$ 431 milhões no mesmo mês de 2022.

As despesas de brasileiros no exterior passaram de US$ 1,051 bilhão em agosto do ano passado para em US$ 1,272 bilhão no mesmo mês de 2023, aumento de 21,1%. Com isso, a conta de viagens fechou o mês em patamar próximo ao observado em agosto de 2022, chegando a US$ 615 milhões, ante déficit de US$ 620 milhões no mesmo mês do ano passado.

Já em aluguel de equipamentos, as despesas líquidas somaram US$ 794 milhões, aumento de 12,9% em comparação a agosto de 2022, que ficou em US$ 704 milhões.
Rendas

Em agosto, o déficit em renda primária – lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários – chegou a US$ 5,642 bilhões, redução de 8,2% ante os US$ 6,146 bilhões no mesmo mês de 2022. Normalmente, essa conta é deficitária, já que há mais investimentos de estrangeiros no Brasil – e eles remetem os lucros para fora do país – do que de brasileiros no exterior.

As despesas líquidas com juros passaram de US$ 1,259 bilhão em agosto de 2022 para US$ 1,781 bilhão no mês passado. No caso dos lucros e dividendos associados aos investimentos direto e em carteira, houve déficit de US$ 3,891 bilhões no mês de agosto deste ano, frente ao observado em agosto de 2022, de US$ 4,897 bilhões.

A conta de renda secundária – gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens – teve resultado positivo de US$ 124 milhões no mês passado, contra superávit US$ 326 milhões em agosto de 2022.
Financiamento

Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) foram menores na comparação interanual. Eles somaram US$ 4,270 bilhões em agosto último, ante US$ 10,014 bilhões em agosto de 2022.

O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$ 65,918 bilhões (3,21% do PIB) em agosto de 2023, ante US$ 71,663 bilhões (3,53% do PIB) no mês anterior e US$ 64,851 bilhões (3,55% do PIB) no período encerrado em agosto de 2022.

Quando o país registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo prazo.

No caso dos investimentos em carteira no mercado doméstico, houve saídas líquidas de US$ 807 milhões em agosto de 2023, compostas por saídas líquidas de US$ 2,335 bilhões em ações e fundos de investimento e por ingressos líquidos de US$ 1,528 bilhão em títulos de dívida. Nos 12 meses encerrados em agosto, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$ 11,3 bilhões.

O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 344,177 bilhões em agosto, redução de US$ 1,298 bilhão em comparação ao mês anterior.

IstoÉ Dinheiro - SP   26/09/2023

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) acelerou a 0,27% na terceira quadrissemana de setembro, após ter subido 0,16% na segunda leitura do mês, informou nesta segunda-feira, 25, a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com o resultado, o indicador acumula alta de 4,16% em 12 meses, ante 4,05% na segunda quadrissemana.

Nesta leitura, quatro das oito classes de despesa registraram acréscimo em suas taxas de variação, com destaque para o grupo Educação, Leitura e Recreação (-0,70% para 0,14%), puxado por passagem aérea (-5,40% para 0,29%%).

Também aceleraram Transportes (1,55% para 1,68%), Despesas Diversas (-0,28% para -0,04%) e Comunicação (0,07% para 0,08%) puxados, respectivamente, por etanol (-1,88% para -0,09%), serviços bancários (-0,42% para 0,00%) e combo de telefonia, internet e TV por assinatura (0,07% para 0,13%).

Houve, por outro lado, arrefecimento em Alimentação (-0,60% para -0,63%) e Saúde e Cuidados Pessoais (-0,10% para -0,13%), com destaque para os itens frutas (0,38% para -0,60%) e artigos de higiene e cuidado pessoal (-1,30% para -1,41%).

Os grupos Habitação e Vestuário, por sua vez, repetiram as taxas de variação da quadrissemana anterior, de 0,42% e -0,33%, respectivamente, com destaque para os itens gás de bujão (-0,66% para -0,28%) e roupas femininas (-0,91% para -1,04%).
Influências

As maiores influências positivas para o IPC-S da terceira quadrissemana partiram de gasolina (4,40% para 4,63%); tarifa de eletricidade residencial (1,64% para 1,24%), aluguel residencial (0,86% para 1,16%), óleo diesel (15,47% para 16,81%) e plano e seguro de saúde (0,61% para 0,62%).

No sentido oposto, puxaram o índice para baixo mamão papaia (-21,28% para -18,86%), perfume (-2,66% para -3,05%), batata-inglesa (-14,14% para -12,88%), leite tipo longa vida (-2,67% para -3,64%) e xampu condicionador e creme (-2,37% para -2,50%).

Jornal de Brasília - DF   26/09/2023

A confiança caiu em 21 setores da indústria, de um total de 29, e cresceu em outros oito em setembro. É o que mostra a pesquisa do Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) por setor, divulgada nesta segunda-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O levantamento mostra que os setores Veículos automotores, Serviços especializados para a construção, Produtos de material plástico, Móveis e Produtos de metal passaram de um patamar de confiança em agosto para falta de confiança em setembro.

Por outro lado, a confiança aumentou nos setores de manutenção e reparação, máquinas e materiais elétricos, madeira, impressão e reprodução, máquinas e equipamentos, celulose e papel, couros e artefatos de couro e calçados e suas partes.

Segundo o economista da CNI, Marcelo Azevedo, em agosto, a confiança da indústria reagiu de forma positiva ao início da queda de juros, mas, destaca, os juros continuam elevados com efeitos negativos sobre a atividade econômica e o crédito. “A queda da confiança foi disseminada e intensa não só pela piora da percepção em relação ao momento da economia como pela expectativa pelos próximos seis meses”, explica.

A pesquisa revela que a confiança da indústria recuou em todas as regiões do Brasil em setembro. A queda foi mais acentuada nas regiões Centro-Oeste (-2,9 pontos), Norte (-2,5 pontos) e Nordeste (-2,2 pontos). Nas regiões Sudeste e Sul os recuos foram de 1,3 e 1,2 ponto, respectivamente. Mesmo com a queda no índice de confiança, com exceção da região Sul, todas as demais seguem confiantes.

O índice de confiança por porte de empresa mostra que a confiança da pequena indústria caiu 2,3 pontos em setembro e passou de 52,2 pontos para 49,9 pontos. O indicador varia de zero a 100, sendo números abaixo de 50 indicam falta de confiança. O índice também recuou para 1,8 ponto para médias indústrias e 1,5 ponto para as grandes. Apesar desse movimento, o Icei segue acima de 50 pontos nesses segmentos, o que indica que elas seguem confiantes.

A pesquisa foi feita entre os dias 1º e 13 de setembro e foram consultadas 1.988 empresas, sendo 778 de pequeno porte, 719 de médio porte e 491 de grande porte.

O Estado de S.Paulo - SP   26/09/2023

Frustração de receita e descumprimento da meta de déficit zero, prometida pela equipe econômica para 2024. Este é o cenário desenhado pelos economistas que se debruçam sobre o rumo das contas públicas. Na série de entrevistas publicada pelo Estadão, nos últimos dias, eles afirmam que é evidente o quadro de dificuldade para o governo na área fiscal.

O desafio das contas públicas passa por uma revisão das despesas, não apenas para melhorar os números no curto prazo, mas também para avançar no debate sobre a qualidade do gasto e endereçar um ajuste estrutural que possa, de fato, tirar a preocupação fiscal da pauta econômica.

“Eu volto ao argumento de que o País deveria fazer (o ajuste) pelo lado da despesa, colocar esse processo de reforma do Estado em larga medida e trazer um elemento central, que eu chamo de gestão eficiente dos recursos, para poder fechar finalmente essa equação do ajuste fiscal”, diz Ana Paula Vescovi, economista-chefe do banco Santander e ex-secretária do Tesouro.

Em 2024, para zerar o rombo das contas públicas, o governo prevê ampliar a arrecadação em R$ 168,5 bilhões, mas nas contas da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal, o governo deve conseguir R$ 51,9 bilhões.

“Boa parte das frustrações está relacionada à questão do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Pode ter resistência também para a aprovação (do aumento da tributação) dos fundos fechados nos moldes do que o governo está anunciando”, diz Vilma Pinto, diretora da IFI.

Para tentar turbinar a arrecadação, o Ministério da Fazenda enviou uma série de projetos ao Congresso Nacional. O governo já conseguiu aprovar a lei do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que retoma o voto de qualidade a favor da Fazenda. Mas há medidas que não têm amplo apoio dos parlamentares, como as que tributam os investidores de fundos offshore, fora do País, e exclusivos, também chamados de fundos dos “super-ricos”.

“Quando a gente percorre a lista do que o governo ofereceu, por exemplo, o negócio das offshores ou o negócio dos fundos fechados, qualquer um deles, você não consegue encontrar os R$ 168 bilhões”, afirma Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central. “O governo tem de ter juízo e fazer reformas que permitam cortar gastos.”

De fato, a meta do governo de zerar o déficit primário – com limite de tolerância de 0,25 ponto porcentual para mais ou para menos - é classificada como bastante ambiciosa pelos economistas. A conta fica ainda mais difícil de fechar porque o governo tem bancado gastos bilionários: concedeu reajuste real (acima da inflação) para o mínimo, aumentou o salário de servidores e ampliou os recursos para os programas de transferência de renda.

“Eu acho que o desafio do governo é gigantesco para o ano que vem. Ele anunciou uma meta zero, não precisaria ter anunciado essa meta, que era muito ousada desde o início”, afirma Felipe Salto, economista-chefe e sócio da Warren Rena.

E mudar a meta pode trazer risco reputacional para o governo Lula, afirma Manoel Pires, coordenador do Observatório Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas. Ele pondera, no entanto, que o sucesso da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, depende de entregar um Orçamento de 2024 “exequível” e, ao mesmo tempo, que melhore o resultado fiscal.

“Isso tem custo, mas acho que a perspectiva mais correta é trabalhar dentro do arcabouço com um cenário de melhora gradual do resultado fiscal nos próximos anos”, diz Pires.

A avaliação do economista Samuel Pessôa, também pesquisador do Ibre, é a de que não será um grande problema descumprir a meta de resultado primário zero em 2024. Se esse cenário se confirmar, ele diz que o ideal é deixar o arcabouço fiscal funcionar. As despesas, então, poderão crescer apenas 50% do avanço da receita - e não mais os 70% como prevê a regra original. O pior, diz ele, seria mudar o número a ser perseguido da meta ou o marco fiscal.

“Não tem motivo para mudar (meta). A primeira informação importante é que ele não deve mexer em nada, não deve mexer na regra que criou, não deve mexer na meta que criou”, afirma Pessôa.

Até 2026, quando se encerrar o terceiro mandato de Lula, Pessôa avalia que a economia brasileira deve enfrentar momentos de estresse por causa da política fiscal. Ele enxerga uma lógica na qual o presidente é o árbitro de um cabo de guerra entre o grupo político, que deseja ampliar os gastos, e a Fazenda, “que quer colocar um pé no freio”.

“Quando a situação - via resposta do mercado - começa a ficar ruim, o presidente dá mais poder para a Fazenda. Quando nós estamos num período de bonança no mercado, o núcleo político vai ficando mais forte. É essa a economia política que vai vigorar até o final do mandato.”

MINERAÇÃO

Infomoney - SP   26/09/2023

Os contratos futuros de minério de ferro caíram nesta segunda-feira, com os investidores preocupados com o consumo de aço mais fraco do que o esperado na temporada de pico de construção e com possíveis restrições à produção de aço durante o inverno na China, principal consumidor mundial, em meio ao fim do movimento de reposição de estoques antes do feriado.

O minério de ferro mais negociado em janeiro na Dalian Commodity Exchange (DCE) encerrou o dia com uma queda de 2,03%, a 844,5 iuanes (US$ 115,55) a tonelada, o valor mais baixo desde 11 de setembro.

O minério de ferro de referência para outubro na Bolsa de Cingapura caiu 4,23%, a US$ 116,05 a tonelada, também o valor mais baixo desde 11 de setembro.

“Torna-se cada vez mais claro que a demanda atingiu o teto em meio às vendas de aço mais fracas do que o esperado para setembro e outubro, e após o fim do reabastecimento de matérias-primas para atender às necessidades de produção durante o feriado de uma semana que se aproxima”, disse Pei Hao, analista da corretora internacional FIS, com sede em Xangai.
Em 29 de setembro, China iniciará um feriado de uma semana para celebrar o festival do meio do outono e o Dia Nacional.

Os analistas do ANZ Bank disseram em uma nota que os preços do principal ingrediente da fabricação de aço também foram influenciados por “preocupações com uma política monetária mais rígida”.

Na sexta-feira, as autoridades do Federal Reserve dos EUA sinalizaram novos aumentos nas taxas de juros, mesmo depois de votarem para manter a taxa de referência dos fundos federais estável em uma reunião na semana passada.

A chinesa Evergrande, incorporadora imobiliária que enfrenta dificuldades, disse que não podia emitir novas dívidas devido a uma investigação sobre uma de suas subsidiárias.

Outros ingredientes de fabricação de aço também recuaram, com o carvão metalúrgico DJMcv1 e o coque em Dalian caindo 0,84% e 0,74%, respectivamente.

Máquinas e Equipamentos

Brasil 61 - DF   26/09/2023

Uma pesquisa da Abimaq revela que as indústrias do setor continuam sem apoio do mercado financeiro nas operações de venda.

Em 2023, 79,3% das vendas de máquinas e equipamentos no mercado doméstico ocorreram com recursos próprios, ou seja com dinheiro de quem comprou a máquina ou com capital de giro de quem a vendeu. Além disso, 20 pontos percentuais das vendas são feitas com pagamento à vista. A pesquisa “Radiografia de comercialização de máquinas e equipamentos” foi realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), no período de 1º a 20 de julho de 2023, com fabricantes de máquinas e equipamentos de todo o território nacional.

A diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq, Cristina Zanella, diz que a pesquisa revelou que as indústrias do setor continuam sem apoio do mercado financeiro nas operações de venda. “Isso é um problema que a gente já observa há alguns anos por conta do elevado custo das taxas de juros e consequentemente do financiamento de máquinas e equipamentos”, aponta.

Para a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni, o setor de máquinas e equipamentos é o principal responsável pela transmissão tecnológica para toda a cadeia produtiva. Ela diz que a falta de investimento e de um cenário que fortaleça o negócio reflete na piora do setor.

“A indústria tem perdido participação na composição do PIB. Em 1996, a indústria respondia com 25% da composição do PIB e hoje ela representa 20%, perdendo espaço para serviços e para agropecuária”, analisa.

Conforme o levantamento, entre os maiores entraves aos investimentos em máquinas e equipamentos no país está o elevado custo de financiamento, além do quadro de incertezas e da limitação do acesso ao crédito. “E essa é uma construção muito problemática porque a produtividade do país fica defasada e com uma qualidade muito inferior do que ela poderia”, avalia Carla Beni.

O economista Hugo Garbe ainda reforça: “Grande parte das máquinas são de alto valor agregado, são caras, e também as empresas partem para um financiamento dessas máquinas mais difícil, mais caro pra comprar as máquinas. É por isso que passam por um período de dificuldade”, explica.
Piora na qualidade

Carla Beni entende que as altas taxas de juros e a dificuldade em obter apoio financeiro são prejudiciais ao desenvolvimento. “Isso traz para o Brasil uma queda de produtividade, uma pior eficiência energética, porque quanto mais moderna a máquina, menos energia ela usa, mais precisa ela é, mais capacidade produtiva ela tem e melhores recursos tecnológicos”. Ela acrescenta que a consequência é o atraso na modernização do próprio parque industrial.

O especialista Hugo Garbe vai além: “A consequência para o setor é que você tem menos demanda, você vende menos e, de forma geral, você gera menos renda, menos emprego, ou seja, você vai abrir menos postos de trabalho e o setor fica estagnado”, observa.

A diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq, Cristina Zanella, conta que o BNDES, que no passado era o principal financiador de investimentos ou de máquinas e equipamentos, segundo a última pesquisa, representou apenas 10% das vendas. “As taxas de juros praticadas pelo banco ficaram muito elevadas e muito instáveis. Então isso tem inviabilizado o uso desses recursos para investimento”, salienta.

De acordo com a pesquisa, dentre as empresas que realizaram exportação em 2023, 76% a fizeram sem o seguro de crédito. No mercado internacional, a indústria brasileira de máquinas, que se destaca com exportações da ordem de US$ 12 bilhões ao ano, por ser um dos setores da indústria de transformação que mais exporta, também se identificou a predominância das vendas com recursos próprios em mais de 85%.
Solução para o setor

Na opinião da economista da FGV Carla Beni, o problema pode ser resolvido, mas é preciso mais esforço por parte do governo. “A questão central seria uma política econômica robusta para o setor da indústria que desse condições de aquisição de equipamentos num custo financeiro mais condizente com a realidade — e não com as taxas de juros que nós possuímos hoje”, revela.

Para o economista Hugo Garbe, o setor de máquinas tem uma participação no PIB de 3%. Apesar de percentualmente ser pequeno, o especialista diz que ele é significativo e, por isso, precisa de mais apoio e incentivo. “A taxa de juros tem que ficar mais atrativa, mais baixa, abaixo de 10% pelo menos, e ter mais pujança, mais demanda para o setor industrial, aí naturalmente o setor de máquinas vai crescendo no Brasil”, destaca.

Segundo Carla Benin, também é importante lembrar que a taxa de juros precisa cair para a economia como um todo, mas especificamente para o setor de máquinas e equipamentos. “O governo precisaria montar um plano robusto justamente para desenvolver esse setor. Historicamente, os países que mais se desenvolveram na produtividade foram países que fizeram planejamento estratégico de longo prazo para o seu setor industrial”, observa.

A diretora-executiva Cristina Zanella também acrescenta: “Nossa necessidade é que se adotem taxas que sejam em padrão internacional e, além disso, elas têm que ser estáveis. Nós estamos falando de investimentos de longo prazo, tem que dar previsibilidade para quem está investindo patamares mais baixos, menos instáveis e portanto previsíveis. Isso tende a elevar o uso desses tipos de recursos para investimento”, informa.

Segundo o deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos-PE), que compõe a Frente Parlamentar Mista da Indústria de Máquinas e Equipamentos, estima-se que o Brasil tem em torno de 6,5 milhões de empresas que estão negativadas, ou seja, elas não têm acesso a crédito para melhorar sua produtividade e gerar empregos.

“Acho que é uma ação importante para o segmento econômico brasileiro que a gente possa efetivamente dar condições para que as empresas gerem emprego e consigam gerar naturalmente, minimizando essa dificuldade e a pobreza que a gente tem no Brasil atualmente”, avalia.

AUTOMOTIVO

Infomoney - SP   26/09/2023

O sindicato United Auto Workers (UAW), que representa os funcionários das principais montadoras de veículos dos Estados Unidos, está em greve desde o dia 15 de setembro, em paralisação que deverá prejudicar um setor que ainda não se recuperou da crise instaurada na pandemia e, na visão de especialistas, agravar a situação econômica americana.

Analistas veem prejuízo para os lucros das principais montadoras envolvidas, como General Motors, Ford e Stellantis (fabricante de marcas como Fiat, Jeep e Peugeot), e avaliam que, a depender do tempo de duração da greve – que já está no seu 10º dia – as paralisações devem repercutir de forma negativa na produção industrial dos Estados Unidos. Também projetam impacto no preço de carros usados, dada a indisponibilidade de novos veículos.

“Esperamos um impacto nos resultados do setor automotivo como um todo. Nas montadoras, que estão com produção paralisada, nos fornecedores, que vão ter queda de demanda, e na distribuição de novos veículos também”, afirma Lucas Schwarz, analista da VG Research.

E acrescenta: “Não sabemos o tamanho desse impacto ainda. Tudo depende de quanto tempo a greve deve durar. Mas não deve passar em branco.”
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Na última sexta-feira (22), Shawn Fain, presidente da UAW, informou que os funcionários de 38 distribuidoras de autopeças da General Motors e da Stellantis cruzaram os braços em 20 estados americanos, o que equivale a uma paralisação de 18.300 trabalhadores. Ao todo, a UAW tem cerca de 145 mil sindicalizados. Segundo Fain, o objetivo é ter mais adesão nos próximos dias.

Na Ford, a situação pareceu se acalmar quando a UAW relatou “progressos reais” nas negociações com a montadora e indicou que, por isso, demais plantas seriam poupadas. Entretanto, no domingo (24), a montadora afirmou que ainda tem “lacunas significativas a preencher” em fatores econômicos considerados chave antes de poder chegar a um novo acordo com o sindicato.

No último dia 15, o antigo acordo trabalhista entre as montadoras e os funcionários expirou e o sindicato iniciou a greve com a exigência de um aumento salarial de 40% a ser feito de forma gradual, ao longo de quatro anos. A contraproposta das empresas foi por um reajuste de 20%. A posição da UAW, porém, é de não aceitar um valor inferior a 30%.
Montadoras em perigo (de novo)

“O sindicato está pedindo um reajuste na faixa dos 40% que é bastante alto. Mas tem um problema muito mais grave no meio dessa paralisação, que é a defasagem de produção das montadoras”, afirma Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos.

Segundo Meira, a produção das fábricas está 20% inferior ao período pré-Covid. Não houve ainda uma recuperação total do setor, principalmente por causa da falta de chips no mercado. Com a greve, a produção total de veículos pode chegar a uma defasagem de 40%.
“Isso tem um impacto no mercado global, estamos falando das maiores montadoras do mundo”, ressalta Meira.

Pensando na repercussão nos resultados das empresas, o especialista acredita que haverá impacto no lucro líquido, principalmente, devido ao efeito cascata de menor produção e, consequentemente, menores vendas.

A gente não está falando aqui de uma Porsche, que consegue aumentar o valor dos veículos quando tem escassez no mercado. Estamos falando da produção de veículos comuns, que não tem uma grande margem para aumentar preço e compensar o menor volume. Porque, se aumentar, não vai vender e vai ter impacto do mesmo jeito.

Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos

Dado o efeito negativo considerado certo, a maior dúvida é: afinal, quanto tempo a greve pode durar? A WHG trabalha com a hipótese de paralisação total de quatro semanas, ampliando o prejuízo visto até aqui.

Até sexta-feira (22), a paralisação já tinha causado mais de US$ 1,6 bilhão em perdas na indústria, incluindo mais de US$ 500 milhões apenas para as três fabricantes de automóveis atingidas diretamente, conforme estimativas do Anderson Economic Group.

O desempenho das ações, no entanto, é misto. As ações da Ford (F) fecharam a última semana com perda acumulada de 1,43%, mas subiram 1,89% na sexta e avançavam 2,3% nesta segunda-feira (25). Já os papéis da GM caíram 0,40% no último pregão da semana passada e encerram o período cedendo 4,04%. Já hoje operavam em alta de 1,54% no mesmo horário.

Por outro lado, as ações da Stellantis, que operaram próximas da estabilidade na sexta e chegaram a subir 0,52% na semana, são negociadas nesta segunda em queda de 1,19%.
Disputa em terreno político

O setor automotivo não é trivial para a indústria dos Estados Unidos: representa 3% do PIB do país. Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG, calcula que a greve pode ter um impacto significativo nos próximos indicadores econômicos.

“Uma semana de greve pode retirar de 5 a 10 pontos-base do PIB americano no trimestre. Então, se a greve durar quatro semanas, então ela tiraria de 20 a 40 pontos-base do PIB”, diz Fenolio.

Entretanto, o economista não acredita que essas mudanças devem afetar a macroeconomia de forma permanente, a ponto de ser relevante para mudar a posição do Federal Reserve (banco central dos EUA) na sua postura restritiva de juros. Ele vê chances de uma inflação maior no preço dos veículos e de perda da produção industrial, mas de forma temporária, sem prejuízos duradouros.

Mesmo assim, o assunto ganhou atenção do governo americano. Após convite do UAW, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou via redes sociais que visitará uma das plantas paralisadas em Michigan na terça-feira (26). Em publicação no X (antigo Twitter), afirmou que “é hora de um acordo ganha-ganha que mantenha a indústria automobilística americana prosperando com empregos bem pagos”.

No dia seguinte, quarta-feira (27), o ex-presidente Donald Trump – que participa da corrida eleitoral para um segundo mandato – estará na mesma cidade para falar aos trabalhadores do setor automotivo, segundo informações da Reuters.

NAVAL

Porto Gente - SP   26/09/2023

Hoje, 80% das mercadorias comercializadas globalmente são transportadas em navios (ONU).

A primeira visita do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (sem partido), à sede da Autoridade Portuária de Santos, ocorreu em 21 de setembro último e juntamente com a Secretária de Portos e Aeroportos, Mariana Pescatori. Como era esperado, foi um evento político concorrido, anúncios de intenções e sinalizações. Confirmou o presidente do porto Anderson Pomini no cargo. Como prioridades, confirmou as do seu antecessor: a construção do túnel submerso e a dragagem de aprofundamento do canal para 17 metros. Projetos anunciados por décadas.

Dando potência às suas intenções, avisou que o presidente Lula, em data a ser marcada, irá assinar o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), juntamente com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, abrangendo o túnel submerso ligando Santos ao Guarujá. Também uma sinalização de aproximação do Partido Republicanos ao governo. Em sala fechada, o ministro fez a reunião de praxe com os sindicalistas. E não se esqueceu de colocar o aeroporto do Guarujá, na margem esquerda do porto, no rol de seus desejos. Uma característica rara dentre os portos do mundo. Todavia, há muitos anos, meros anúncios.

Ao que pareceu, Silvio Costa desconhece o projeto hidroviário que vem sendo gravemente ameaçado por travessias de rios da região, por pontes executadas pelo governo do Estado de São Paulo. Sem calado aéreo, a reduzida altura impede a passagem de barcaças com contêineres e inviabiliza a integração das hidrovias à logística portuária. Entretanto, é uma logística estratégica e essencial , principalmente ao projeto da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), no Porto de Santos, anunciado há mais de 20 anos.

O ministro assegurou, sem explicar como, uma Autoridade Portuária mais atuante na relação Porto Cidade e valorização das práticas ESG (acrônimo em inglês, na tradução Ambiente, Social e Governança). Para tanto, é urgente que seja adotado um Master Plan (Plano Mestre) dinâmico e permanente, de forma a garantir a sua implantação com qualidade e rigor. Condições para o porto e a sua região se desenvolverem harmonicamente. O projeto municipal Valongo -Paquetá, em curso, ameaça a logística rodoviária no porto.

Cumprir essa meta no curto prazo de três anos e três meses, entremeados de campanhas eleitorais, faz-se imperativa uma estratégia eficaz, priorizando inovações e insights profundos de como são os processos e como podem ser melhorados. A penúltima diretoria do Porto de Santos saiu algemada pela Polícia Federal e a última foi um fracasso. Portanto, é preciso dar significado a esse desafio e tratá-lo como um sistema de criação de valores.

O fato relevante do ministro Sílvio Costa considerar que o Porto de Santos é o melhor ativo portuário do Hemisfério Sul, é uma declaração a exigir responsabilidade e competência. Isto há sobejamente e devem ser postas em prática. São fatores de segurança e forte atrativo de capitais globais, bem como fomento de parcerias. Assim, o presidente Lula poderá anunciar um dos maiores canteiros de obras do Brasil, no porto da sua infância.

PETROLÍFERO

IstoÉ Dinheiro - SP   26/09/2023

O petróleo fechou em baixa, devolvendo os ganhos registrados mais cedo, com o fortalecimento do dólar no exterior e a cautela com as perspectivas para o crescimento diante dos sinais de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos. O mercado também se ressentiu diante das turbulências no setor imobiliário chinês, que induzem incertezas sobre a demanda do país asiático.

O contrato do WTI para novembro recuou 0,39% (US$ 0,35), em US$ 89,68 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para dezembro cedeu 0,09% (US$ 0,08), a US$ 91,88 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

“O ‘rei’ dólar continuará como um vento contrário para o petróleo, mas isso pode não durar muito mais tempo. As apostas de fundos de hedge no petróleo estão ficando congestionadas, já que os dados mais recentes mostram que as apostas otimistas estão nos níveis mais altos desde fevereiro de 2022”, escreveu Edward Moya, analista sênior de mercado da Oanda. Moya observou que, à medida que aumentam os riscos do petróleo a US$ 100 o barril, os traders de energia aguardam um novo catalisador.

O Goldman Sachs prevê abrandamento do crescimento do consumo durante o outono e o inverno no Hemisfério Norte, mas considera improvável que os preços mais elevados do petróleo provoquem uma diminuição dos gastos dos consumidores e do PIB dos Estados Unidos. O banco considera pequena a magnitude do aumento do preço do petróleo e acredita que o aumento dos preços da gasolina deverá ser parcialmente compensado por investimentos mais elevados no setor da energia e por preços mais baixos da eletricidade. Para o banco, é pouco provável que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aperte a política monetária em resposta aos preços mais elevados do petróleo, segundo relatório assinado por analistas, incluindo Jan Hatzius.

AGRÍCOLA

Revista Manutenção e Tecnologia - SP   26/09/2023

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) atualizou suas projeções para o mercado de máquinas e implementos agrícolas em 2023, prevendo agora uma queda de 20% nas vendas, em contraste com a expectativa anterior de uma retração de 10% em relação ao ano anterior.

Os resultados do setor vêm apresentando um cenário negativo desde novembro de 2022, coincidindo com o término dos recursos do Plano Safra 2022/23 destinados ao financiamento de máquinas, ocorrido em outubro do mesmo ano.

A esperança era que a entrada em vigor do atual Plano Safra trouxesse uma recuperação no segundo semestre, mas essa recuperação não se materializou.

Em uma entrevista à Agência Safras, o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão Bastos, expressou ceticismo quanto a uma mudança significativa no cenário atual.

Ele afirmou que não há indicativos que sugiram uma melhoria no mercado e destacou que, apesar da queda projetada para cerca de US$ 74 bilhões este ano, o setor ainda está faturando mais do que antes da série de aumentos ocorridos nos últimos anos.

Bastos explicou que os juros do Plano Safra 2023/24 não atenderam às expectativas do mercado e dos produtores, e a expectativa de uma redução nas taxas nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) leva os compradores a aguardarem.

Além disso, a queda nos preços da soja e do milho e a pressão de venda devido à falta de espaço nos armazéns também impactam o setor.

Quanto às perspectivas futuras, Estevão prevê um crescimento mais modesto na área plantada com grãos no Brasil para a próxima safra, em contraste com os anos anteriores de crescimento significativo.

Ele enfatizou que o alto custo de financiamento afeta não apenas a compra de máquinas, mas também o custeio, levando a um mercado de máquinas de reposição, não de expansão.

Recuperação – A recuperação do mercado é esperada para o segundo semestre do próximo ano, após os produtores avaliarem os juros, os preços futuros e se prepararem para a safra 2024/25. Até lá, não são esperadas mudanças significativas no mercado.

Bastos também abordou os programas de financiamento agrícola, observando que estão funcionando normalmente.

A ideia inicial de liberar recursos trimestralmente foi revertida, sendo agora responsabilidade dos bancos prestar contas a cada três meses.

No entanto, ele expressou preocupação de que os recursos possam se esgotar no primeiro semestre do próximo ano, criando um desafio adicional para o setor.

Em resumo, a Abimaq projeta uma queda de 20% nas vendas de máquinas agrícolas em 2023 devido a uma série de fatores, incluindo taxas de juros menos favoráveis, preços de commodities em queda e pressões de venda no setor agrícola.

A recuperação é esperada apenas no segundo semestre de 2024, após uma análise mais detalhada das condições de mercado e de financiamento.

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