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09 de Setembro de 2024

SIDERURGIA

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch, pode ser a produtora de aço mais afetada caso o governo americano acate o pedido de abertura de processos antidumping e de direitos compensatórios por subsídios contra importações de aço laminados de vários países. As petições foram protocolados na quinta-feira, 5, por siderúrgicas americanas, entre elas a gigante US Steel, no Departamento de Comércio dos Estados Unidos (DoC) e na Comissão de Comércio Internacional do país. O movimento conta ainda com apoio do sindicato União Nacional de Trabalhadores, o USW.

Nas reclamações, as empresas locais apontam que estão sendo prejudicadas pela entrada de um tipo de aço, o galvanizado (revestido contra a corrosão), em seus mercados, uma vez que são fabricantes do produto. Elas pedem às autoridades de comércio americanas que abram investigação para imposição de direitos antidumping (AD) e também compensatórios (CVD) por prática de subsídios nos países de origem.

As petições arrolam, além do Brasil, siderúrgicas da Austrália, Canadá, México, Holanda, África do Sul, Taiwan, Turquia, Emirados Árabes Unidos e da República Socialista do Vietnã. Os documentos são assinados pelas siderúrgicas locais Steel Dynamics, US Steel, Nucor Corporation e Wheeling-Nippon Steel, na condição de fabricantes de aço resistente à corrosão, um produto usado no setor automotivo, construção civil e bens da linha branca. E contam com a chancela do USW, que representa trabalhadores em instalações dessas companhias.

No documento, ao qual o Estadão teve acesso, as siderúrgicas brasileiras citadas são ArcelorMittal e sua subsidiária ArcelorMittal Vega (de São Francisco do Sul-SC, que beneficia aços galvanizados), a CSN e a Usiminas. Foram arroladas também empresas beneficiadoras de aço - grupo Aço Cearense, Armco do Brasil e Tuper Indústria Metalúrgica. Estranhamente, a Vale, que não tem mais operações de fabricação de aço no Brasil desde meados de 2022, também tem seu nome incluído nas petições.

Fabricantes brasileiros ainda vivem os impactos de medida imposta pelo governo do ex-presidente Donald Trump, em março de 2018, a seção 232, que determinou uma tarifa de 25% para importações de aço de diversos países, consideradas “ameaçadoras à segurança nacional dos EUA”. As tarifas envolviam uma ampla gama de produtos, de aço laminado plano ao carbono e ligas, incluindo os aços contra corrosão (galvanizados), agora novamente alvos.

Segundo informam as petições, na época alguns países receberam isenções das tarifas. O Brasil conseguiu ficar isento delas em troca de cotas sobre as importações dos EUA oriundas do País. No caso dos aços galvanizados, o volume fixado foi de 253.468 toneladas líquidas por ano. O Canadá e o México também ficaram isentos após concordarem que os Estados Unidos poderiam reimpor as tarifas da Seção 232 se as importações desses países excedessem certos volumes.

Segundo apurou o Estadão com pessoas do setor, a CSN é quem exporta a maior parte de aço galvanizado que se destina ao mercado americano - mais de 200 mil toneladas anuais. Os volumes de Usiminas são pouco expressivos e ArcelorMittal praticamente não vende àquele mercado, para o qual o grupo tem outros acessos (via Canadá). Para a CSN, de acordo com uma pessoa próxima à direção da empresa, é uma notícia muito ruim, considerando que, na enxurrada de importações que atingiram o Brasil a partir de 2023, produtos galvanizados (zincados, galvalume e pré-pintados) fabricados por ela, Usiminas e ArcelorMittal foram muito afetados. Procurada, a CSN informou que não iria se manifestar.

De acordo com o documento das siderúrgicas americanas, de janeiro a junho deste ano entraram nos Estados unidos 1,95 milhão de toneladas de aço galvanizado, alta de 58% sobre igual período do ano passado. Os destaques são Canadá, Vietnã - que vem se tornando um grande exportador mundial de aço -, México e Taiwan. O total anual foi de 3,4 milhões de toneladas (2021), 3,18 milhões (2022) e 2,49 milhões de toneladas no ao passado.

Nos mesmos anos, os embarques de aço galvanizado do Brasil para o EUA, conforme os documentos, somaram 220,96 mil toneladas, 201 mil e 209,7 mil toneladas respectivamente. De janeiro a junho deste ano, os volumes somaram 135,6 mil toneladas, aumento de 17,7%.
Processos têm de demonstrar danos e perdas

Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, que reúne as fabricantes no Brasil, disse ainda não dispor das informações detalhadas das petições protocoladas no DoC e no ITC, para comentar, mas que isso tem prazo. “Primeiro, esperar para ver se os dois órgãos de comércio do país vão aceitar as petições para abrir investigações”, disse. Uma investigação de antidumping e direito compensatório demanda tempo, não menos que um ano, afirmou.

Segundo Lopes, se aberta, terá de demonstrar que as importações desse produto pelo mercado americano causaram danos e perdas às empresas locais e também nexo causal (vinculação entre as duas primeiras). No caso de imposição de antidumping, a defesa é feita pela empresas. Já em relação a subsídios são as autoridades do governo brasileiro que atuam.

A avaliação é que faz parte da regra do jogo tomar medidas de defesa comercial, mas o que chama atenção nessas petições é o grande número de países, de vários continentes - Américas, Europa, África, Ásia -, além de países do Oriente Médio e da Oceania. “O mundo inteiro estaria vendendo aço com preço baixo aos EUA?”, questiona Lopes. Ele observa que as empresas americanas já têm a proteção da seção 232, de Trump, com tarifa de 25% ou sistema de cotas, no caso do Brasil.

Para um especialista do setor siderúrgico, que preferiu não ser identificado, o processo, no caso do Brasil, atinge em cheio a CSN. E, do alvo mirado pelas usinas americanas, o volume brasileiro corresponde a menos de 7%. Canadá, México e Vietnã são os grandes exportadores desse tipo de material para os EUA. Para ele, há uma escalada protecionista global, todo mundo contra todos, em meio a um excesso de capacidade de oferta, principalmente da China, que beira 600 milhões de toneladas.

ECONOMIA

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

O principal questionamento do investidor estrangeiro em relação ao Brasil é por que o Banco Central (BC) deve elevar os juros e correr o risco de frear demais o crescimento econômico no mesmo momento em que há expectativa de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortar as taxas nos Estados Unidos. Mas, para o economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara, “se o Fed não estivesse cortando, talvez a gente tivesse que subir mais os juros”.

Não elevar as taxas com as expectativas da inflação desalinhadas no Brasil, em meio ao estresse no câmbio, faria o juro ficar mais alto no longo prazo, segundo ele. “A unanimidade é a coisa mais importante disparada” na próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), alerta Ázara, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, durante evento do UBS BB, em Nova York.

Para ele, a esperada redução das taxas nos EUA pode deixar o Brasil “menos feio” em termos relativos já que o apetite de investidores estrangeiros pelo México, que vem disputando os recursos com o País, se reduziu diante de medidas da nova presidência. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Qual o principal questionamento do investidor estrangeiro em relação ao Brasil?

A pergunta que eu mais recebi é por que vai subir a taxa de juros no Brasil. Nós esperamos uma alta de 0,25 ponto porcentual em setembro, depois 0,50 ponto porcentual e outra de 0,25 ponto porcentual. A alternativa seriam três aumentos de 0,50 ponto porcentual. Acho muito difícil que o Copom não eleve os juros em setembro. E, quando eu apresento um cenário que é uma alta de taxa de juros e um corte começando em março, falam: ‘Pô, mas vai subir para depois cair?’
E qual a resposta?

Não existe uma taxa de juros mágica, um nível que consiga convergir o modelo. A gente tem uma meta de inflação, de 3% ao ano. O modelo está acima. Tem de subir a taxa de juros, é isso. É muito mecânico, mas é muito intuitivo. A subida dos juros é muito relevante para isso (controlar a expectativa de inflação).
O investidor estranha o fato de o Brasil estar prestes a elevar os juros no mesmo momento em que os Estados Unidos devem começar a cortar as suas taxas?

As políticas monetárias são independentes, está certo? Então, é claro que influencia o que o Fed está fazendo. Se o Fed não estivesse cortando, talvez a gente tivesse que subir mais os juros. Mas, obviamente, o Banco Central já entende que vai ter um movimento de queda de juros nos Estados Unidos. Pode parecer meio estranho a gente subir, depois cair e subir quando o juro está caindo nos EUA, mas é uma prova da independência e da credibilidade.

Mas o BC deve aumentar os juros para recuperar credibilidade após ruídos na comunicação e a divisão na reunião de maio?

Eu não acho que eles estão subindo os juros só para ganhar credibilidade. É claro que a consequência natural de elevar as taxas é ganhar mais credibilidade, mas é a coisa certa. A necessidade de alta é porque o modelo (de inflação) está projetando mais uma vez que as expectativas subiram devido à tensão no câmbio. Há quatro meses, o câmbio era R$ 5,00. Agora, é R$ 5,60. É uma depreciação significativa.

Esse cenário poderia ter sido evitado?

Dava para ter evitado uma alta tão grande (do dólar frente ao real), mas não sei se daria para evitar uma alta da taxa de juros. O câmbio não teria depreciado tanto se não fosse a incerteza que aumentou naquela hora. Os vários discursos (do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre os juros) naquele momento foram muito ruidosos. Mas, após uma reunião do (diretor de política monetária e indicado à presidência do BC, Gabriel) Galípolo, o (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad e o Lula, o presidente parou de falar sobre esse assunto. E quando perguntaram a Lula se o Galípolo poderia elevar os juros, ele falou que confia no seu indicado e que pode subir as taxas.
A relação do governo com o BC muda com Galípolo na presidência? Os ataques, os ruídos devem acabar?

Acho que diminui. É meio difícil de entender por que (Lula) bateu tanto no presidente do Banco Central. Acho que existe um desconforto com o Roberto (Campos Neto), que é presidente do BC indicado por outro presidente. É uma coisa que a gente está aprendendo a lidar. Agora, vai ser o presidente do BC indicado pelo Lula.

Talvez, um corte de juros nos Estados Unidos sequenciado provoque de novo alguma empolgação para aumentar o investimento para o Brasil e emergentes em geral. Existe uma percepção pior com o México por medidas do novo governo. Então, em termos relativos, o Brasil fica estável, menos feio. As pessoas já estavam menos animadas com todo o ruído (com o Banco Central)

Qual a principal preocupação do investidor estrangeiro neste momento?

Se o aumento dos juros não vai matar o crescimento. Subir a taxa de juros ajuda a parte longa a ficar mais baixa, o que diminui os custos dos investimentos. Não subir os juros faria a taxa ficar mais alta no longo prazo. Eu vejo com bons olhos essa (futura) alta da taxa de juros. É a medida apropriada.
Mas e quanto ao apetite para investir no Brasil?

Os investidores estrangeiros estão preocupados com essa história da alta de juros, querem entender. Uma vez entendido, acho que não muda a percepção deles. Precisa de um catalisador maior. Talvez, um corte de juros nos Estados Unidos sequenciado provoque de novo alguma empolgação para aumentar o investimento para o Brasil e emergentes em geral. Existe uma percepção pior com o México por medidas do novo governo. Então, em termos relativos, o Brasil fica estável, menos feio. As pessoas já estavam menos animadas com todo o ruído (com o Banco Central).
A suspensão do X no Brasil por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) impacta o apetite estrangeiro?

Fiz dezenas de reuniões nos últimos dias, e ninguém perguntou disso. Não é que (a decisão) não seja importante, claro que é relevante, mas eu não acho que é tão relevante no (contexto) macro agora. É um assunto que eu vejo mais brasileiros falando.
O Brasil corre o risco de perder a onda de flexibilização monetária do Fed?

Acho difícil. Uma parte do juro alto atrai investidores e a outra é que os juros menores nos Estados Unidos obrigam os investidores a buscarem alternativas de investimento. O risco que a gente tem é caminhar para uma recessão mundial.
Quais seriam os efeitos?

O banco não trabalha com uma recessão como cenário principal, mas alternativo. Seria uma desaceleração suave com quedas sequenciadas, ou seja, uma atividade pior e que leva o mundo para uma recessão. Aí, a aversão a risco fica maior e não tem entrada de investimentos no Brasil. A chance de termos (mais) investimentos é o cenário de pouso suave.

Qual o seu diagnóstico do quadro fiscal do Brasil, considerando o orçamento 2025 e as recentes sinalizações do governo?

O pecado original é fiscal. O medo que todo mundo tem é de uma política fiscal que replique aquela observada no fim do segundo governo Dilma (Rousseff). Só para lembrar, em um ano e meio, a relação dívida/PIB subiu de 50% para 70%. Então, esse fantasma está lá e todo mundo fica com medo de que alguma coisa parecida possa acontecer de novo. Não parece ser, pelo que sinalizam hoje. A gente está discutindo mais 0,2% (do PIB) ou menos 0,2% de resultado fiscal no ano. Mas tem sempre o medo de, em alguma hora, a gente abandonar a regra de gasto. Então, esse medo fica pairando ali como uma Espada de Dâmocles. Se o pecado original é fiscal, uma resposta fiscal é demais para os investidores.
Que tipo de resposta?

Um corte de R$ 40 bilhões, R$ 50 bilhões nos gastos. Mas não parece ser essa a receita do governo. Acho que eles vão fazer o suficiente para tentar manter a meta.
As metas fiscais são factíveis?

Este ano pode ser, porque a meta zero, na verdade, é de -0,6% (do PIB) porque tem -0,3% de gastos com as enchentes no Sul, que ficam de fora. Mais o 0,25% de banda. Então, dá -0,55%. Para o déficit fiscal do ano, a gente tem -0,7%. Se a meta é -0,55%, com todos esses ajustes, está na meta. Uma resposta positiva desse lado acalmaria muito (o investidor estrangeiro), colocaria a gente em outra situação. Mas eu não vejo o diagnóstico do governo como essa receita a ser seguida. Nunca sinalizaram algo nesse sentido.

Não tem nenhum sinal de que eles (em Brasília) vão não respeitar a regra de gastos. Mas o mercado está de olho.

E para o ano que vem?

Para o ano que vem, a gente tem -0,6% (do PIB). Se considerar a banda, a gente estaria 0,35% fora da meta. A meta é menos importante do que o comportamento do gasto. Se continuar a respeitar a regra de gastos, está tudo bem. O risco é se eles vão conseguir respeitá-la. É isso que nós estamos observando.
Como o senhor avalia os sinais de Brasília?

Não tem nenhum sinal de que eles vão não respeitar a regra de gastos. Mas o mercado está de olho.
E quanto ao câmbio?

A grande surpresa deste ano foi o câmbio muito mais fraco. A gente mudou a nossa projeção e tem R$ 5,50 no fim do ano, antes era R$ 5,10. Esse R$ 5,50 veio para ficar. Com isso, a gente revisou a nossa inflação, que era 3,2%, para 3,7% neste ano. O câmbio de equilíbrio era para ser R$ 5,10.
O PIB do Brasil no segundo trimestre veio muito forte. O que vem pela frente?

A gente já tinha revisado com o IBC-Br, de um crescimento de 2,2% para 2,8% em 2024. E a gente tem 1,5% para o ano que vem por conta do efeito-base.

A sabatina de Galípolo foi adiada. Algum impacto? E a reunião de setembro?

Não. A unanimidade é a coisa mais importante disparada nessa reunião. Uma decisão de aumento de juros de 0,50 ponto porcentual dividida seria horrível. É importante que o comitê tome uma decisão que não seja dividida (como em maio) e que gerou uma percepção de diferente visão de mundo. Acho que não foi a intenção, mas foi assim que o mercado leu.
Em Jackson Hole, foi publicado um estudo sobre a importância da leitura do mercado para a eficácia da política monetária. Como o senhor avalia essa comunicação do BC no Brasil?

Foi ruim a comunicação naquela hora (na reunião dividida). O Banco Central também aprende. E acho que, como todo mundo, quando o informacional muda, você muda de opinião. Fazer menos forward guidance está nessa linha, sinalizar a unanimidade agora é muito importante.
Mas o senhor acha que o BC deu um cavalo de pau? Falou demais depois?

Eles queriam comunicar que não tinha uma divergência, e o mercado leu isso com uma certeza de (aumento de) 0,50 ponto porcentual. Eu acho que o mercado é que leu errado naquela hora. Quando o Roberto (Campos Neto) diz que, quando e se tiver, um aumento de juros será gradual, é uma sinalização de uma alta de 0,25 ponto porcentual. Ele não quer fazer um forward guidance, mas, ao mesmo tempo, o BC tem de preparar o mercado. É difícil esse ajuste.

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

Os resultados do PIB foram bons, mas há uma característica que gostaria de registrar já de partida. Importantes gastos foram antecipados para o início de 2024, especialmente precatórios, o que não se repetirá. Certamente, a intenção foi dar uma força para a atividade econômica, o que foi bem-sucedido, uma vez que a expansão fiscal certamente explica parte dos bons resultados alcançados na atividade.

Ao mesmo tempo, estamos em ano eleitoral, quando Estados e municípios antecipam ferozmente seus gastos para terminar obras antes do pleito.

O lado positivo dos dados é que, exceto pelo agronegócio, que sofreu bastante este ano com os fenômenos climáticos, praticamente todos os setores da economia cresceram bem. O agro crescer pouco não me preocupa, pois ele vai se ajustar e continuar sua trajetória vitoriosa, como tratamos no nosso último artigo. O importante é que a economia das grandes cidades, e não apenas do interior, está crescendo bastante. O bom desempenho da construção civil é um excelente indicador desse fato.

O ruim desses dados é que este crescimento não é sustentável. A taxa de investimento ainda é muito baixa, inferior a 17%. Com isso, é impossível sustentar expansão mais significativa. Em segundo lugar, o desarranjo das finanças públicas e o crescimento da dívida não permitem que a taxa de juros baixe para níveis que estimulem o desenvolvimento.

Finalmente, a inflação já encostou no teto da meta, com a decisão da bandeira vermelha na tarifa de energia elétrica a partir de setembro. Isso sugere que o Banco Central provavelmente vai aumentar os juros na próxima reunião do Copom.

Esses três elementos são faces do mesmo fenômeno e sugerem que temos um bom resultado do PIB, mas que não é sustentável.

E não temos um claro rumo nem no governo, que insiste em privilegiar ideias antigas que já deram errado, nem no Congresso. Os congressistas parecem muito mais preocupados com a engenharia de sua reeleição, através de um volume inacreditável de emendas paroquiais, e se mostram particularmente abertos a qualquer lobby bem organizado, seja para liberar jogo, armas, cigarro eletrônico ou térmicas a carvão.

A própria sociedade civil rendeu-se à polarização e às suas bolhas e diminuiu muito a atividade dos seus centros de pensamento. Muita gente discute o que acontecerá na semana que vem, na próxima reunião do Copom, mas não presta atenção ao futuro do país que está se decidindo hoje.

Infomoney - SP   09/09/2024

O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) desacelerou em agosto em relação a julho, com um alta de 0,12% no mês passado ante os 0,83% observados no mês anterior, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (6) pela Fundação Getulio Vargas (FGV.

Com o resultado, o índice acumula um avanço de 2,07% no ano e de 4,23% em 12 meses.

Em agosto de 2023, o IGP-DI havia subido apenas 0,05% e tinha queda acumulada de 6,91% nos 12 meses anteriores.
André Braz, coordenador dos índices de preços, comentou que a inflação ao produtor apresentou desaceleração significativa em agosto. “A queda nos preços de commodities importantes, como minério de ferro e soja, foi determinante para a desaceleração da inflação entre os produtos agropecuários e industriais, contribuindo para uma moderação no avanço do índice”, afirmou em nota.

Já nos preços ao consumidor, a adoção da bandeira verde, em substituição à amarela, resultou em uma redução na tarifa de energia elétrica.

“No setor da construção civil, a inflação manteve-se estável, com variação em torno de 0,70% tanto para materiais quanto para mão de obra”, destacou Braz.

IPA

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) registrou taxa de 0,11% em agosto, ante uma lata de 0,93% no mês anterior.

A taxa do grupo Bens Finais variou de uma queda de 0,04% em julho para uma alta de 0,12% em agosto. A principal contribuição para este resultado partiu do subgrupo alimentos processados, cuja variação passou de -0,09% para 0,83%.

A taxa do grupo Bens Intermediários passou de 1,29% em julho para 0,61% em agosto. O principal responsável pelo recuo da taxa do grupo foi o subgrupo combustíveis e lubrificantes para a produção, cuja taxa passou de 2,19% para 0,18%.

Já o estágio das Matérias-Primas Brutas caiu 0,47% em agosto, uma forte desacelerando em relação a alta de 1,54% em julho. Contribuíram para este movimento os seguintes itens: minério de ferro (de uma alta de 1,34% para uma queda de -6,28%), soja em grão (de +0,59% para -2,03%) e leite in natura (de 5,27% para 0,65%).

Em sentido oposto, se destacam com valorização os itens: aves (-0,82% para 1,99%), milho em grão (0,44% para 2,35%) e bovinos (1,89% para 2,75%).

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

Seria o caso de Simone Tebet e Dario Durigan – que é Haddad – conversarem. Ambos deram, com horas de diferença, entrevistas ao Estadão. O tema é revisão estrutural de gastos obrigatórios. O produto, bateção de cabeças.

A ministra do Planejamento falou antes: “Ninguém vai mexer nos pisos de saúde e educação. Nem devemos. E não tem discussão sobre a valorização real do salário mínimo e sobre desvincular o salário mínimo das aposentadorias.”

Estabelecidos o imexível e o indiscutível, não terá sobrado muito de onde cortar para valer. Este, já ido, é ano eleitoral. O próximo, véspera daquele em que Lula concorrerá à reeleição. A ministra – informa-nos – está conformada à enxugação de gelo que chamam de pente-fino.

O número 2 da Fazenda falou depois. Respondeu sobre se haveria a possibilidade de as despesas com previdência social, saúde e educação serem submetidas ao limite do arcabouço fiscal. “Temos feito esse debate. Ele está amadurecendo no governo e, na hora certa, vamos anunciar. Vamos fazer esse ajuste necessário, como a gente tem feito.”

É o oposto do que dissera Tebet. O que vale?

Excluída a discussão – ora inexistente – sobre como se calcula a valorização do salário mínimo, os outros assuntos estão na ordem do dia. A vinculação dos pisos constitucionais de saúde e educação ao crescimento da arrecadação consiste na própria explicação da inviabilidade do natimorto arcabouço fiscal. A trajetória é asfixiante. Idem o atrelamento das despesas previdenciárias ao crescimento – acima da inflação – do salário mínimo.

Não há arrecadação recordista capaz de responder à escalada de gastos obrigatórios – que a própria arrecadação puxa.

A ministra quer mais: “E temos a consciência de que vamos precisar das receitas extraordinárias, ou seja, das receitas que não são correntes. Nós estamos contando com elas para zerar a meta. E tudo bem em relação a isso. (...) Não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato. Ou seja, não importa de que forma nós vamos fazer. Nós temos e vamos cumprir a meta zero.”

A forma importa, sim. A meta para 25 não era zero. Foi rebaixada. E mesmo sobre a de 24 já se pedalou para fabricar-antecipar dinheiros. Ainda assim, improvável que seja cumprida. O rato é gordo. No acumulado até julho, o déficit primário do governo central no ano chegou a quase R$ 78 bilhões. Tudo bem?

A forma importa, sim. Os criativos da contabilidade estão na pista. Sempre atuam oferecendo atalhos cumpridores de meta. O auxílio gás, cujo valor o governo quer quadruplicar até 2026, foi manobrado para que seu espalhamento ficasse de fora dos limites das regras fiscais. O gato caça engordando. Nem um foge nem o outro corre.

Opinião por Carlos Andreazza
Andreazza foi colunista do jornal O Globo e âncora da Rádio CBN Rio, além de ter colaborado com a Rádio BandNews e com o Grupo Jovem Pan. Formado em jornalismo pela PUC-Rio, escreve às segundas e sextas.

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

Os números do segundo trimestre da economia brasileira surpreenderam novamente os analistas que se debruçam sobre os indicadores de atividade no dia a dia. Enquanto o consenso dos economistas apontava para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9% no período de abril a junho, o resultado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou um avanço de 1,4%.

O bom desempenho do segundo trimestre elevou a previsão para o PIB de 2024 ao patamar de 3%. Se confirmado, será um resultado melhor do que o esperado em janeiro, quando as projeções de crescimento eram de apenas 1,59%. O fato é que a surpresa com o desempenho da economia não fica restrita a 2024. Nos últimos anos, o PIB tem crescido mais do que o esperado. E por que isso tem ocorrido?

Os economistas apontam vários fatores para esse crescimento mais forte. Há um consenso de que as reformas empreendidas - como a trabalhista e da Previdência - desde o governo Michel Temer podem ter ampliado a capacidade de crescimento potencial do País.

Essa mudança de patamar se somou a uma expansão fiscal - via reajuste do salário mínimo e pagamento de precatórios (dívidas judiciais da União), por exemplo - e a um mercado de trabalho aquecido, que deram um fôlego extra recente para a atividade econômica.

Ana Paula Vescovi: ‘Tivemos importantes reformas que contribuíram para a produtividade e para o crescimento potencial’

Armando Castelar: ‘Ainda está longe a conclusão de que o País está preparado para manter esse ritmo e perfil de crescimento’

Caio Magale e Rodolfo Margato: ‘Maior parte do crescimento parece vir de impulsos de demanda, que estão perdendo o fôlego’

Mário Mesquita: ‘O aumento da incerteza institucional joga contra o crescimento da economia’

Solange Srour: ‘Crescendo acima do potencial, resta à política monetária não deixar a inflação fora de controle’

Alessandra Ribeiro: ‘Há uma combinação de elementos conjunturais cujos efeitos os economistas não têm conseguido captar bem’

A economia brasileira cresceu mais um trimestre acima das expectativas dos analistas. Diante das surpresas recorrentes, a pergunta que se coloca é o que está por trás dessa força da economia brasileira nos últimos trimestres e se esse ritmo deve se sustentar à frente.

Ainda que haja uma discussão em relação ao efeito de reformas macro e microeconômicas realizadas nos últimos anos afetando o PIB potencial da economia brasileira, há uma combinação de elementos conjunturais cujos efeitos para a atividade econômica os economistas não estão conseguindo captar bem. É possível ver a combinação de pelos menos três forças principais por trás da performance mais forte da economia brasileira nos últimos trimestres.

O primeiro fator está relacionado aos efeitos da política fiscal atualmente implementada, na medida em que a expansão de gastos tem efeito multiplicadores para a atividade econômica. O aumento de gasto público em curso é evidente em várias rubricas como salários do funcionalismo público, gastos previdenciários, gastos em saúde e educação, programas sociais, dentre outros. Entre janeiro e julho deste ano, as despesas totais cresceram a um ritmo de 7,8% em termos reais, mantendo um ritmo expressivo, sendo que, no mesmo período do ano passado, o crescimento foi ainda mais substancial, de 8,7%.

O segundo fator está relacionado ao efeito defasado do ciclo de flexibilização monetária implementado pelo Banco Central, em especial no mercado de crédito. As concessões de crédito a pessoa física devem crescer 7,7% em termos reais neste ano ante 4,5% no ano passado, sendo que as concessões a pessoas jurídicas devem crescer 6,9% ante retração de 5,7% em 2023. No mercado de capitais, observa-se importante expansão de emissões, sendo que de janeiro a julho mostraram crescimento de 114% em termos reais.

O terceiro fator, ainda que menos importante em relação aos dois anteriores, está relacionado aos efeitos da resiliência da economia americana na primeira parte do ano, com efeitos para a atividade global e brasileira.

Especificamente para o segundo trimestre, os efeitos menos expressivos da tragédia do Rio Grande do Sul em relação ao inicialmente esperado também explicam pontualmente uma parte da surpresa em relação ao resultado especificamente do segundo trimestre.

Para os próximos trimestres, entretanto, a economia brasileira deve perder ímpeto. A estimativa é que o crescimento das despesas totais do governo desacelere, sendo que para o período de janeiro a julho de 2025 em relação ao mesmo período desse ano registre queda de 1,6% em termos reais.

As condições financeiras já apertadas verificadas no mercado financeiro em função de questões externas, mas principalmente domésticas, também devem afetar, ainda que com certa defasagem, a oferta de crédito. E, por fim, a economia americana está em processo claro de desaceleração, o que em conjunto com o movimento esperado para a economia chinesa deve afetar a economia global com efeitos para a economia brasileira. Enfim, é o que os fundamentos apontam. Vamos ver se teremos novas surpresas.

Alessandra Ribeiro é sócia e diretora de macroeconomia e análise setorial da Tendências
Ana Paula Vescovi: ‘Tivemos importantes reformas que contribuíram para a produtividade e para o crescimento potencial’

Atualmente, estimamos crescimento potencial em 1,5%, mas vemos fatores que podem elevar este indicador para 2% nos próximos anos. As vantagens comparativas no setor agrícola e na agroenergia, a simplificação tributária e outras eventuais reformas poderão trazer importantes ganhos de produtividade.

Olhando para o passado recente, tivemos importantes reformas que contribuíram positivamente para a produtividade e para o crescimento potencial. Cabe destacar as reformas trabalhista e previdenciária. A aprovação no novo marco do saneamento destravou investimentos no setor, e a aprovação da nova TLP (Taxa de Longo Prazo) retirou distorções do mercado de crédito e catapultou o mercado de capitais. Ademais, a rápida adoção de tecnologias durante a pandemia, como o trabalho remoto, o comércio online e a disseminação dos meios de pagamento digitais contribuíram tanto para ganhos de eficiência logística quanto para uma rápida bancarização da sociedade.

Vimos também, desde a pandemia, uma sequência de impulsos fiscal e monetário extraordinários e muito fortes que influenciaram o PIB positivamente e ajudam a explicar os desempenhos surpreendentes observados no curto prazo. Em 2021 e 2022, houve retomada do crescimento após o impacto inicial da pandemia, com alta capacidade ociosa e retomada do mercado de trabalho.

Adicionalmente, a reabertura do setor de serviços, em conjunto com a poupança acumulada no período de distanciamento social intensificaram esta tendência. Já em 2023, vimos um grande impulso vindo do setor agropecuário, que teve a maior safra da história em um ano em que o ciclo pecuário atingiu o pico da oferta. Este choque positivo se espalhou pelo restante da economia, tendo reflexos também em indústria e serviços.

Desde 2023 vimos a aceleração do impulso fiscal que, em conjunto com um mercado de trabalho bastante apertado, levou a forte expansão no consumo das famílias. O aumento dos valores pagos em programas sociais, reajustes reais do salário mínimo, e o forte pagamento de precatórios são alguns dos elementos que ajudam a explicar esta dinâmica mais favorável. Adicionalmente, os baixos níveis de desemprego geraram maiores pressões salariais e culminaram em ganhos reais de renda para as famílias.

Esses fatores de curto prazo estão contribuindo em alguma medida para as surpresas do crescimento brasileiro no período recente. Contudo, não representam ganhos estruturais ou permanentes.

Os desafios para aumento do crescimento potencial permanecem. A taxa de investimentos segue baixa, abaixo de 17%, apesar da retomada recente. A produtividade deverá seguir limitada pela estagnação da escolaridade e do capital humano. O pico do bônus demográfico e o envelhecimento da população também são limitadores.

Finalmente, o ajuste fiscal, o aperfeiçoamento dos padrões regulatórios, o combate à informalidade e ao crime organizado, e o desenvolvimento das instituições capazes de aumentar a confiança e dar previsibilidade ao ambiente de negócios permanecem como pautas essenciais para o crescimento de longo prazo.

Ana Paula Vescovi é economista-chefe do Santander
Armando Castelar: ‘Ainda está longe a conclusão de que o País está preparado para manter esse ritmo e perfil de crescimento’

O PIB do segundo trimestre, divulgado terça-feira, 3, pelo IBGE, superou outra vez as projeções dos analistas, como já ocorrera um trimestre antes. Com isso, a previsão de crescimento para o ano deve subir, para cerca de 3%, o dobro do que se esperava ao final de 2023, repetindo o mesmo padrão dos anos anteriores: no final de 2020 se projetava alta de 3,4% no PIB do ano seguinte, veio 4,8%; no final de 2021, a projeção para 2022 era de 0,4%, mas o PIB cresceu 3,0%; e no final de 2022 se previa alta de 0,8% e o PIB aumentou 2,9% em 2023.

Será essa consistente subestimação reflexo de um certo pessimismo embutido nos modelos dos analistas de mercado? Será esse o resultado de, como se diz, um economista precisar ser pessimista para ser respeitado por seus pares, ou de a economia ser a “dismal science”, a ciência do desânimo, na expressão de Thomas Carlyle? Não me parece ser esse o caso. De fato, um exame mais completo dos dados nos leva a descartar essa hipótese: nos últimos 24 anos (2000-23), o crescimento previsto ficou abaixo do observado em apenas 11 anos e, na média, os economistas acertaram quase na cabeça. Quase um cara ou coroa.

O que explica, então, a subestimação recente? Há duas explicações prováveis e não excludentes. A primeira é que as reformas empreendidas pelos governos Temer e Bolsonaro, como a reforma trabalhista, as privatizações, as mudanças nas leis das agências reguladoras e das estatais, a substituição da TJLP pela TLP nos empréstimos dos bancos públicos, e várias outras, aumentaram o crescimento potencial do PIB, permitindo ao País crescer mais sem gerar inflação e, portanto, sem exigir uma política monetária contracionista. Os modelos existentes não estariam, talvez, incorporando esse efeito e, daí, a subestimação.

Há, por outro lado, a visão de que se subestimou o aumento da demanda agregada no período pós-pandemia e o impacto que esta teve no mercado de trabalho, e isso não apenas no Brasil. Seja porque as famílias acumularam uma poupança extra durante a pandemia, por conta de transferências governamentais e de não poder sair de casa, seja porque a pandemia mudou os hábitos de consumo, seja ainda porque a baixa taxa de desocupação permitiu às famílias se endividarem, fato é que o consumo privado vem crescendo mais rápido do que se via antes. A esse efeito se soma o forte aumento do gasto público, que tem superado as projeções, em que pese a complicada situação fiscal.

Tudo indica que o segundo efeito é o mais forte, como refletido em uma taxa de juros neutra mais alta dos que há alguns anos atrás. Mas ambas as explicações fazem sentido, ainda que longe de levar à conclusão de que o País está preparado para manter o ritmo e o perfil do crescimento dos últimos três anos. É preciso desacelerar.

Armando Castelar é pesquisador associado do FGV/Ibre
Caio Magale e Rodolfo Margato: ‘Maior parte do crescimento parece vir de impulsos de demanda, que estão perdendo o fôlego’

O PIB cresceu 1,4% no 2.º trimestre, acima das estimativas. 2024 deve fechar em 3,1%, contra 1,5% estimado pela pesquisa Focus no início do ano. Será o quinto ano consecutivo em que o PIB supera expectativas.

A tendência deve continuar no curto prazo. O mercado de trabalho aquecido, aumento do crédito e transferências sustentam o consumo. O investimento ainda avançará para recuperar a queda de 2022 e 2023.

Por trás deste desempenho há fatores estruturais e conjunturais. Os estruturais – reformas que elevam a capacidade produtiva do país – devem garantir um crescimento “basal” mais alto no tempo. Já os conjunturais representam impulsos de demanda, como gastos públicos, subsídios, corte de juros. Estes têm efeitos de curto prazo. E, se exagerados, podem desembocar em uma “ressaca” de endividamento e/ou inflação.

O desafio é entender quanto cada um desses fatores contribuíram com o crescimento recente. A resposta é chave para prever os próximos anos.

Do lado estrutural, as reformas, a modernização da regulação setorial, o avanço do mercado de capitais, a melhoria na constituição de garantias para crédito, os avanços financeiros (PIX e outros) impulsionam a produtividade. Por exemplo, vemos ganho de flexibilização das relações trabalhistas. Segundo dados do Caged, as contratações e demissões (voluntárias) estão nas máximas históricas.

Isto posto, as medidas de produtividade não parecem ter melhorado muito, como mostram estudos do Observatório da FGV/IBRE. Ademais, a taxa de investimento continua baixa, ao redor de 16,5% do PIB. Assim, os avanços estruturais ajudam a explicar as surpresas recentes, mas parecem longe de “fechar a conta”.

Do lado conjuntural, os impulsos são substanciais. As despesas primárias do governo central crescem, em média, 10% acima da inflação desde 2022, concentradas em medidas que puxam o consumo direta e indiretamente, através do aquecimento do mercado de trabalho. O crédito de bancos públicos reacelerou, puxando também o privado. E o BC cortou a taxa Selic em 3,25 pontos porcentuais (pp) recentemente.

Outro fator cíclico foi a alta de commodities entre 2020 e 2023. Em média, preços de grãos, petróleo e minério dobraram no período. Este movimento, aliado à elevada produção e câmbio desvalorizado, movimentou comércio, serviços e construção civil em muitas regiões do país.

Há sinais de que esses estímulos podem estar passando do ponto. A inflação parou de convergir para a meta. Custos de produção pressionam preços, sobretudo em meio à demanda aquecida. A dívida pública subiu 7 pp. do PIB desde 2022, sem sinais de estabilização. Neste ambiente, o BC indica alta de juros para baixar a fervura. Vai ajudar o BC a reversão – quase que completa – da alta de commodities este ano.

Em suma, avaliamos que parte do bom desempenho da economia é estrutural, o que nos levou a elevar nossa estimativa de crescimento potencial para 2,0% (1,5% antes). Mas a maior parte parece vir de impulsos de demanda, que estão perdendo o fôlego. Estimamos crescimento de 1,8% em 2025.

Caio Magale é economista-chefe da XP; Rodolfo Margato é economista da XP
Mário Mesquita: ‘O aumento da incerteza institucional joga contra o crescimento da economia’

O PIB do 2º trimestre voltou a surpreender positivamente, mantendo a sequência dos últimos anos. Enquanto em 2020 e 2021 as surpresas podem ser associadas à recuperação mais rápida que o esperado no início da pandemia, as explicações para os anos subsequentes são mais diversas e não excludentes. Uma muito debatida é o possível aumento do potencial de crescimento, após importantes mudanças, como a reforma trabalhista e dos marcos regulatórios – uma hipótese que o tempo irá confirmar, ou rejeitar.

No entanto, isso explicaria no máximo uma alteração de ritmo de cruzeiro da economia para a faixa de 2% ou pouco acima, não o ritmo de 3% que se vê recentemente. Assim, convém identificar que, além das reformas, eventos específicos podem ter aumentado o crescimento circunstancialmente nos últimos anos, como um mercado pujante para as dívidas corporativas, uma safra agropecuária recorde, que trouxe multiplicadores importantes para a economia, e o retorno de uma postura fiscal expansionista, que enseja riscos para a trajetória da dívida, mas cujos impactos sobre condições financeiras têm sido limitados.

A principal discussão é o quanto esses eventos vão se repetir e, principalmente, se as surpresas são sustentáveis. Por isso, observo como um fator importante a composição das surpresas mais recentes. O consumo das famílias tem sido mais robusto, mas o investimento tem tido alguma estagnação, o que traz algum ceticismo de que a capacidade de crescimento sustentável da nossa economia tenha realmente aumentado de forma definitiva.

Em números, frente ao que esperávamos no início de 2023, naquele ano tivemos maior robustez no consumo (crescimento de 3,1%, ante projeção de 1,2% e mediana da pesquisa Focus de 0,9%) e exportações (9,1%, ante projeção de 5,1% e consenso de 2%, muito impulsionadas pela safra recorde), mais que compensando a surpresa negativa no investimento, que contraiu 3,0%, ante projeção de 0,5% de alta (consenso de 1,3%).

Para 2024, nossa projeção atual para a expansão do consumo no ano (ainda não revisada após o PIB do 2T) é de 4,0%, com viés de alta, e se compara com expectativa de 0,6% no começo de 2023, enquanto o investimento devolve a queda do ano passado (com os 3,4% projetados para esse ano), mas tem crescimento acumulado em 2023/2024 de 0,3% - bastante fraco e abaixo dos 1,4% que enxergávamos no início de 2023.

A força do consumo tem como fundamentos o dinamismo do mercado de trabalho que está, neste momento, sobreaquecido, o impulso fiscal - com o retorno das políticas de aumentos reais do salário-mínimo, aumento do salário de servidores e, em 2024, com o pagamento de precatórios atrasados - e, mais recentemente, um desempenho melhor que o esperado do crédito.

Ocorre que o sobreaquecimento do mercado de trabalho é potencialmente inflacionário e o impulso fiscal vem ao custo de piora na trajetória esperada das contas públicas e aumento do risco-país. Tais fatores pressionam os juros de mercado, que atuam como vetor negativo para o investimento. Assim, seria importante reforçar a estratégia de ajuste fiscal e avançar nas agendas que melhoram o ambiente de negócios do país, como forma de impulsionar os investimentos privados e manter os ganhos dos últimos anos. Além disso, vale notar que o aumento da incerteza institucional não há de contribuir para uma retomada sustentada do investimento e joga contra o crescimento da economia.

Mário Mesquita é economista-chefe do Itaú Unibanco

Solange Srour: ‘Crescendo acima do potencial, resta à política monetária não deixar a inflação fora de controle’

Nos últimos anos, nosso crescimento surpreendeu de maneira positiva. Desde 2021, temos observado um crescimento real médio do PIB de 3,3% ao ano. Com a evolução do PIB deste ano, que caminha para expandir também perto de 3%, o debate sobre um possível aumento do nosso potencial de crescimento ganha força.

De fato, tivemos progressos muito significativos na agenda de reformas que tendem a trazer ganhos de produtividade, como a reforma trabalhista e da Previdência, a substituição da TJLP pela TLP, o marco do saneamento básico, reformas no setor de óleo e gás, a aprovação da Lei da Liberdade Econômica e estamos prestes a regulamentar a reforma tributária.

A hipótese de que esses avanços tenham aumentado nosso PIB potencial não pode ser descartada, mas ainda é difícil mensurar. Isso porque os efeitos cumulativos dessas reformas levam tempo para se materializar e para serem comprovados por modelos econométricos.

Por outro lado, não temos observado um aumento da nossa taxa de investimento. Pelo contrário, estamos com uma taxa perto de 17% do PIB – mesmo nível de quase 20 anos atrás.

Acredito que há duas causas maiores impedindo o investimento. A primeira é a piora consistente do ambiente institucional, com aumento acelerado da insegurança jurídica nos últimos ano. A falta de previsibilidade das leis (modificadas a todo momento), regulamentações e decisões judiciais revistas com frequência, a judicialização excessiva de questões econômicas e até a disputa de funções entre Judiciário, Legislativo e Executivo são vistos como acontecimentos “normais” no Brasil de hoje. Investimentos têm prazos longos de maturação e nada pior do que a incerteza para prejudicar o seu avanço.

Em segundo lugar, o aumento acelerado dos gastos públicos e a falta de horizonte para a estabilização da dívida pública têm aumentado os juros de equilíbrio da economia. A despesa primária, que estava perto de 18% em 2022, subiu 1,5 ponto base em 2023 e não deve desacelerar muito nos próximos anos, segundo as projeções do governo. De 2022 até 2028, a relação dívida/PIB deverá crescer de 73,5% do PIB para 88,7%, não contabilizando a proposta de renegociação das dívidas estaduais, que ultrapassam R$ 765 bilhões.

É cada vez mais urgente destravarmos os investimentos, pois a questão demográfica é muito preocupante. Segundo o último Censo, a população tem envelhecido rapidamente. Em 2000, projetava-se que para cada 100 pessoas na faixa de 15 a 64 anos (também chamada de População Economicamente Ativa), haveria 25 pessoas com mais de 65 anos em 2050. Na previsão atual, haverá 37. Ou seja, um crescimento de quase 50%. Vale destacar ainda que a PEA está hoje em um patamar 3% inferior ao previsto em 2013.

Diante deste cenário, é difícil concluir se a evolução do nosso crescimento se apoia em fatores estruturais. A hipótese mais razoável é que o crescimento forte da transferência de renda, que vem ocorrendo nos últimos anos e que até agora não se mostrou eficaz em aumentar a produtividade do trabalho, esteja sustentando um PIB puxado majoritariamente pelo consumo. Crescendo acima do potencial, resta à política monetária ficar mais restritiva para não deixar a inflação fora de controle.

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

O FMI faz anualmente um relatório de monitoramento das economias de seus países-membros, no qual analisa a política econômica e apresenta projeções. O mais recente foi divulgado em julho e tem um destaque importante. A projeção de crescimento de médio prazo para a economia brasileira subiu de 2,0% para 2,5% ao ano, estimativa que se mostrou realidade pelos dados do PIB do segundo trimestre divulgados pelo IBGE na semana passada.

A explicação do FMI para o aumento do PIB do Brasil são os ganhos esperados com a reforma tributária e a transição energética.

O documento destaca ainda que a economia brasileira tem mostrado resiliência em meio a um processo de controle da inflação. Nas estimativas para a balança comercial, o órgão projeta um saldo superior a US$ 100 bilhões em 2029, e prevê, ainda, aumento na taxa de investimento externo direto para os próximos anos.

Os bons números colhidos e o cenário benigno do FMI são resultado das políticas econômicas que se acumulam ao longo do tempo. Historicamente, os dois maiores empecilhos para o crescimento sustentado no Brasil foram a inflação descontrolada e os déficits na balança comercial. Esses fatores estão superados.

Para avançar mais, torna-se necessário agora manter o controle sobre o Orçamento e a trajetória da dívida pública. A rigidez das despesas obrigatórias, que estabelece proporções fixas e obrigatórias de gastos, limita a capacidade do governo de gerar superávits primários, de investir e de ajustar os gastos às mudanças conforme se modificam as condições das demandas da sociedade.

A elaboração do Orçamento reflete cada vez mais a diversidade de interesses no País, com a participação ativa do Congresso em sua elaboração e direcionamento. E assim deve ser num regime democrático. Contudo, como em qualquer orçamento, os recursos são limitados e os objetivos ilimitados. As escolhas devem, por isso, seguir uma agenda de prioridades estruturantes que precisa ser negociada pelo Executivo e o Legislativo, o que é possível e factível, a partir de um exercício de racionalidade, temperança e tolerância.

Os números mostram que o Brasil tem todas as condições objetivas para iniciar um ciclo de retomada de desenvolvimento sem comprometer o controle inflacionário. Podemos ambicionar mais, criar um ambiente propício a novos investimentos, pelo uso dos instrumentos do Orçamento pela ótica das prioridades nacionais e intensificando um plano permanente de reformas.

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

O artigo de Zhao Jian ficou online por apenas algumas horas em 16 de agosto antes de ser apagado pelos censores. Para o leitor ocidental, o conteúdo pareceria anódino, mas, para um funcionário do Partido Comunista, estava cheio de ideias perigosas.

Zhao, um economista respeitado, argumentou que era difícil entender por que o governo chinês não estava se esforçando mais para estimular a economia. A crise econômica mais séria em uma geração fez com que a incerteza em relação ao futuro “envolvesse os corações das pessoas”, escreveu ele. “A lógica e as restrições dos tomadores de decisão não podem ser entendidas pelo mercado.”

A exclusão do artigo, ironicamente, provou que Zhao tinha razão. O exército de censores da internet da China rotineiramente expurga postagens que vão contra as políticas de Xi Jinping, o líder supremo do país. Mas o domínio do que é considerado muito sensível se expandiu rapidamente nos anos mais recentes e agora inclui muitos debates a respeito da economia.

Acadêmicos e especialistas que buscam debater questões econômicas aparentemente mundanas são silenciados. Dados que costumavam estar prontamente disponíveis estão desaparecendo da esfera pública. Isso não apenas restringe ainda mais a já limitada liberdade das pessoas comuns de falar o que pensam, mas também prejudica o crescimento ao dificultar o investimento.

Acima de tudo, ressalta a pergunta urgente de Zhao: qual é a base para a elaboração da política econômica? O que o governo sabe que as pessoas comuns não sabem - e quão confiáveis são as informações nas quais ele está baseando suas decisões?
Padrão de desvios

Os dados econômicos oficiais da China sempre tiveram suas falhas. Li Keqiang, ex-primeiro-ministro, certa vez questionou sua precisão. Economistas há muito reclamam que o Escritório Nacional de Estatística (NBS) não fornece detalhes suficientes sobre suas metodologias. Mas os observadores da China costumavam presumir que os dados se tornariam gradualmente mais abrangentes e confiáveis. Em vez disso, o inverso parece estar acontecendo.

Dados recentes a respeito da balança de capital da China têm sido tão contraditórios - houve uma discrepância gritante de cerca de US$ 230 bilhões entre as estatísticas alfandegárias e de balanço de pagamentos nos anos mais recentes - que o Tesouro dos Estados Unidos pediu às autoridades chinesas que esclarecessem os números.

A explicação resultante foi tão complicada que só confundiu ainda mais as coisas. Em 19 de agosto, para consternação dos investidores, as bolsas de valores da China pararam de publicar dados diários de fluxos de capital estrangeiro, um indicador crítico do sentimento. Os números agora serão revelados apenas trimestralmente.

Enquanto isso, os dados que são tornados públicos são cada vez menos consistentes com a experiência de empresas e investidores no local. Os números oficiais mostram que a taxa de crescimento do PIB voltou ao nível pré-pandêmico, apesar do moribundo setor imobiliário e do baixo investimento em infraestrutura. Esta é uma afirmação risível, diz Logan Wright, do Rhodium Group, uma empresa de consultoria. “O problema mais amplo é simplesmente que os dados do PIB pararam de ter qualquer semelhança com a realidade econômica”, explica ele.

A constante distorção das estatísticas oficiais parece projetada para obscurecer notícias que podem envergonhar o governo. Por exemplo, em meados de 2023, um professor da Universidade de Pequim disse publicamente que havia 16 milhões de jovens sem emprego que não apareciam nas estatísticas de desemprego porque pararam de procurar trabalho. Se fossem levados em consideração, afirmou o professor, a taxa de subemprego para os jovens seria superior a 46%. Em um mês, o NBS parou completamente de emitir dados do desemprego juvenil urbano. Então, em janeiro, começou a publicar um número “melhorado e otimizado”, que também era muito menor. Acadêmicos e jornalistas tiveram relativamente pouco a dizer a respeito do assunto desde então.
Viva a economia!

Geralmente, as afirmações ousadas das autoridades a respeito da economia não são questionadas, ao menos em público. O governo declarou que ninguém mais vive na pobreza absoluta na China - o tipo de afirmação que pode naturalmente suscitar todos os tipos de perguntas a respeito da precisão dos dados e da aplicação dos critérios corretos. No entanto, quase não houve debate a partir da descoberta na mídia.

Da mesma forma, assuntos de grande importância para a economia, mas de natureza incômoda para as autoridades, recebem pouco escrutínio. As maiores vítimas da crise imobiliária da China são os 20 a 30 milhões lares que supostamente pagaram por apartamentos que nunca foram concluídos. Entender quem são essas pessoas, como estão lidando economicamente e o que pode ser feito para ajudá-las é fundamental para reviver o mercado imobiliário. No entanto, poucos economistas parecem estar conduzindo alguma pesquisa envolvendo esses milhões de enganados.

Os efeitos econômicos completos de lockdowns longos, severos e impopulares durante a pandemia em cidades como Xangai e Wuhan nunca foram examinados publicamente. Em vários casos, jornalistas e comentaristas de redes sociais que abordaram esses tópicos foram presos. O verdadeiro número de mortes por covid-19 na China é desconhecido. Um cientista proeminente baseado em Xangai que estava investigando as origens da covid se viu trancado do lado de fora de seu laboratório no início deste ano. As autoridades parecem muito mais interessadas em controlar a discussão da doença do que em entender seu impacto.

O neican pode ser muito mais impactante do que o material para consumo público. Um relatório pode demonstrar, digamos, que mesmo que autoridades locais falem animadamente em um boom em tecnologias de ponta como IA ou robótica, o benefício real dessas indústrias para a economia é lamentavelmente pequeno. Acadêmicos e jornalistas podem viver uma vida dupla, produzindo relatórios públicos e aqueles destinados apenas aos olhos de autoridades. Pode parecer que um repórter da Xinhua, a agência de notícias estatal, por exemplo, produz apenas bobagens aduladoras, mas, nos bastidores, talvez ele escreva artigos explosivos expondo empresas poluidoras ou autoridades corruptas. É um privilégio poder escrever relatórios internos, diz um desses autores, observando que há uma competição intensa para fazê-lo.

Os think-tanks são um pilar dos neican. Sob Xi, mesmo que os think-tanks independentes tenham sido forçados a fechar, aqueles alinhados ao estado se multiplicaram. As portas do último think-tank de livre mercado proeminente na China, o Unirule, foram literalmente soldadas em 2019, prendendo brevemente alguns de seus pesquisadores lá dentro. Mas centenas de “think-tanks com características chinesas” foram estabelecidos por governos municipais e provinciais, por ministérios e até mesmo por algumas empresas estatais.

Entre 2018 e 2020, tais organizações quase triplicaram em número, de 507 para 1.413 (a moda está desaparecendo um pouco: no final do ano passado, havia apenas 1.096 deles). A maioria das pesquisas que eles fazem é apenas para consumo interno. Sua produção pode dar às autoridades uma boa compreensão das dimensões locais de problemas como a crise imobiliária, diz um pesquisador. Outro afirma que é capaz de escrever abertamente a respeito de problemas administrativos, como a dificuldade de implementar decretos governamentais em desacordo entre si.

Alguns especialistas especularam que a vasta economia digital da China fornece aos formuladores de políticas acesso a um tesouro de dados de alta qualidade a respeito de empresas e consumidores em tempo real. O estado está construindo trocas onde os dados que as empresas coletam sobre transações podem ser comprados e vendidos. Mas essas plataformas ainda estão em desenvolvimento. Da mesma forma, os serviços de segurança da China executam uma operação massiva de vigilância nacional que, por sua própria natureza, rastreia o movimento de pessoas e bens e as opiniões expressas por cidadãos comuns. Mas não há evidências de que as autoridades façam uso dessas informações para melhorar sua compreensão da economia.
Erros prosperam na escuridão

A questão final é: quanto de todas essas informações chega aos altos escalões do Partido Comunista? É difícil dizer. Os autores costumam se gabar da influência de seus relatórios neican, diz Huang, mas não há dados confiáveis a respeito de quem está afetando as políticas públicas. Um pesquisador diz que é informado se um alto funcionário fizer uma anotação em um de seus relatórios, mas não é informado quanto ao que a nota diz. A profusão de think-tanks presumivelmente fornece um número enorme de recomendações para diferentes braços do governo. Mas Bob Chen, um investidor baseado em Xangai, argumentou recentemente em um podcast local chamado Baiguan que a centralização do poder no alto escalão do partido significa que os destinatários não têm mais autoridade para promover quaisquer reformas recomendadas pelos relatórios.

Além disso, parece natural que os relatórios neican tendam a bajular as autoridades. Um pesquisador estatal observa que quanto mais positiva for sua análise, melhor será a recepção que ela recebe. Isso fornece um incentivo óbvio para colocar um viés otimista nas coisas. O inverso também parece ser verdade: o mesmo pesquisador que se disse livre para discutir problemas administrativos também adverte que ele nunca critica diretamente decretos de políticas vindos de cima.

Ninguém fora dos mais altos escalões do poder entende exatamente o que Xi lê e como ele age com base nas informações. A formulação de políticas econômicas da China sempre foi um tanto opaca, mas isso importava menos quando o crescimento era forte e os formuladores de políticas pareciam pragmáticos. Com o crescimento se deteriorando e a burocracia se tornando mais ideológica, a escassez de boas informações sobre a economia é muito mais preocupante. Pode eventualmente se tornar um problema tão grande para os líderes da China quanto para os estrangeiros perplexos.

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro segue surpreendendo: depois de uma alta de 1% no primeiro trimestre, um novo aumento, ainda maior, de 1,4%, no segundo. Com esses dados, o mercado financeiro imediatamente começou a revisar para cima as projeções do ano, que agora se aproximam de 3%.

O grande problema desses dados, e que motiva a preocupação dos economistas sobre a sustentabilidade desse crescimento, é que a taxa de poupança do País está em queda contínua desde 2022.

Depois de atingir 20% do PIB no segundo trimestre de 2021, ela caiu para 18,2% no mesmo período de 2022, com novos recuos, para 16,8%, em 2023, e 16% este ano (dado divulgado na segunda-feira, 2, pelo IBGE).

Coincidentemente, nesses anos o setor público consolidado teve superávit primário de 3,24% e de 3,33%, respectivamente. Ou seja, o governo gastou menos, e a poupança do País ficou mais alta.

Em 2023, vieram os efeitos da PEC da Transição, com mais despesas públicas, e mesmo agora, em 2024, o consumo do governo segue alta, com alta de 2,9% no primeiro semestre. Já pelo lado das famílias, os gastos subiram 4,6% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano passado.

Com a queda da taxa de poupança, o País não consegue recursos para financiar os investimentos, que são o principal motor para o crescimento sustentável da economia.

A taxa de investimento, apesar de ter tido um leve aumento no segundo trimestre, com alta de 16,4%, em 2023, para 16,8%, este ano, permanece em nível extremamente baixo. O gráfico mostra, por exemplo, que o melhor momento da série foram os anos de 2003 e 2008, quando o índice chegou a 20,3% do PIB.

Ainda que se some a esse indicador o déficit em conta-corrente (1,56% do PIB em 12 meses até julho), que nada mais é do que o uso de poupança externa pela nossa economia, o patamar continua baixo.

Sem poupança, não há investimentos. E sem investimentos, o mais provável é que o crescimento acabe perdendo força mais à frente.

MINERAÇÃO

Infomoney - SP   09/09/2024

Os preços futuros do minério de ferro na bolsa de Dalian caíram pela sexta sessão consecutiva nesta sexta-feira e estavam a caminho de sua maior perda semanal em quase dois anos, conforme dados econômicos fracos da China pesaram sobre as perspectivas de demanda no maior mercado mundial de aço.

O contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com queda de 1,9%, a 671,5 iuanes (94,72 dólares) a tonelada.

O contrato perdeu 11,24% esta semana, caminhando para sua maior queda semanal desde 28 de outubro de 2022.

O minério de ferro de referência de outubro na Bolsa de Cingapura recuava 0,74%, a 90,35 dólares a tonelada.

O minério de ferro está entre as commodities mais vulneráveis aos riscos de desaceleração da China, já que o mercado imobiliário chinês compõe a maior parte da demanda por aço e pode continuar se deteriorando, disseram analistas do ING em nota.

Os preços de novas casas na China subiram em ritmo mais lento em agosto, já que o setor imobiliário atingido pela crise ainda não se recuperou.

O índice dos gerentes de compras da indústria siderúrgica da China caiu pelo terceiro mês consecutivo em agosto, informou no sábado o CFLP Steel Logistics Professional Committee (CSLPC).

A queda dos preços do minério de ferro ocorre no momento em que a Associação de Ferro e Aço da China desaconselhou as usinas a reiniciarem a produção ou aumentarem muito rapidamente, apesar de estimar um certo grau de recuperação na demanda de aço em setembro e outubro, disseram analistas do ANZ.

“Esperamos que os preços do minério de ferro caiam ainda mais este ano em meio à demanda moderada e à oferta suficiente”, disseram os analistas do ING.

IstoÉ Dinheiro - SP   09/09/2024

As mineradoras Vale e BHP, juntamente com sua joint venture Samarco, poderão fechar em breve um acordo com autoridades brasileiras para o pagamento de cerca de R$ 100 bilhões pelo rompimento de barragem em Mariana (MG), afirmaram quatro fontes a par das discussões.

A expectativa de três dessas fontes é que um acerto final poderá ser alcançado em outubro. O montante é superior aos R$ 82 bilhões de novos recursos a serem pagos para compensar o desastre, ofertados na última proposta feita pelas companhias, em junho.

Na véspera, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter a expectativa de que o acordo seja fechado ainda no início de outubro.

“Está bem avançado. A expectativa do presidente Lula está compatível com a realidade. Está bem próximo”, disse uma das fontes, pontuando que faltam apenas “poucos detalhes de texto e também detalhes financeiros”.

“Todos os valores estão sendo discutidos e equilibrados. Atingidos, meio ambiente, saúde, saneamento, pescadores, agricultores e aí vai… é necessário ver o que será executado por cada ente da federação e pelas instituições. É uma conta gigante.”

As negociações envolvem diversas instituições de Justiça, poder público, ministérios públicos federal e estaduais (MG e ES), bem como defensorias públicas da União, Minas Gerais e Espírito Santo, representando as comunidades atingidas.

Uma segunda fonte afirmou que os governos de Minas Gerais e Espírito Santo já estão em acordo pra fechar e que falta um aval da União.

Uma terceira fonte afirmou que a “corda” dos valores foi esticada “ao limite absoluto” e que, para fechar, será um acerto “com definitividade e quitação de modo a encerrar as pendências” judiciais.

Além do montante novo a pagar às autoridades, para que elas empenhem as ações necessárias para reparar e compensar o rompimento, as mineradoras terão ainda obrigações a fazer previstas no texto, que demandarão ainda investimentos próprios futuros.

As companhias apontam também ter investido um total de 37 bilhões de reais em reparação e compensação desde o rompimento.

Procuradas, Vale, BHP e Samarco reiteraram, em comunicados diferentes, estarem engajadas no processo para estabelecer um acordo que garanta a reparação justa e integral às pessoas atingidas e ao meio ambiente.

A BHP adicionou que “segue otimista que um acordo final poderá ser alcançado em breve”.

O colapso da barragem de rejeitos de minério de ferro, que pertencia à Samarco, em novembro de 2015, deixou 19 mortos, centenas de desabrigados, além de atingir o rio Doce em toda a sua extensão, até o mar do Espírito Santo.

As mineradoras haviam fechado um acordo inicial sobre o desastre ainda em 2016, o que criou uma base para implementar reparações, mas que não contou com a assinatura dos Ministérios Públicos federal e estaduais, não fixou um volume de recursos global a ser empenhado e deixou para frente diversas etapas a serem cumpridas, sendo alvo de críticas por diversas partes.

AUTOMOTIVO

IstoÉ Dinheiro - SP   09/09/2024

A Volvo reduziu suas metas de lucro para 2026, citando condições complexas de mercado e tarifas sobre carros feitos na China, um dia após abandonar os planos de vender exclusivamente veículos elétricos até o final da década.

A montadora sueca, de propriedade majoritária da chinesa Geely, culpou as tarifas comerciais globais impostas pelos EUA e pela União Europeia à China, que obscureceram o futuro das montadoras. A empresa tem três fábricas na China, bem como um centro de pesquisa e desenvolvimento e design.

A Volvo disse que agora espera que seus lucros antes de juros e impostos cheguem a 7%-8% em 2026, abaixo de sua meta anterior de mais de 8%. A empresa também diluiu sua meta de receita, optando por medir o sucesso pelo desempenho superior ao do mercado de carros premium até 2026 – o que ela diz ter alcançado nos últimos anos. Anteriormente, a montadora tinha como meta uma receita de 550-600 bilhões de coroas suecas (US$ 53,43 bilhões-US$ 58,28 bilhões).

Também na quinta-feira, antes de uma reunião com investidores e analistas, a Volvo disse que expandiu sua parceria com a Nvidia e disse que novos carros elétricos seriam construídos com uma única plataforma flexível baseada em software que reduziria custos.

A montadora disse que seu modelo EX90 é o primeiro a usar o novo sistema de produção digital centralizado, que inclui tecnologia da empresa de inteligência artificial dos EUA. A Volvo disse que a arquitetura centrada em software se combinaria com uma nova plataforma de produção física e elétrica para reduzir custos.

Valor - SP   09/09/2024

Em poucos anos, “a indústria automotiva transformou-se imensamente’, disse executivo-chefe, Oliver Blume, aos funcionários

A tentativa de altos executivos da Volkswagen de defender, nesta semana, perante 25 mil funcionários na sede da montadora em Wolfsburg, seu plano para, pela primeira vez na história, fechar fábricas na Alemanha foi recebido aos gritos de “Nós somos a Volkswagen — não vocês”.

Desde que o executivo-chefe Oliver Blume assumiu o leme da maior montadora da Europa, há dois anos, a indústria automotiva do continente foi assolada por fortes ventos contrários, queda na demanda por veículos movidos a bateria e competição ferrenha no mercado local chinês de veículos elétricos (VEs). A solução dele: rasgar uma garantia de trabalho de três décadas e quebrar o tabu de fechar fábricas na Alemanha, pela primeira vez em seus 87 anos de existência.

Em poucos anos, “a indústria automotiva transformou-se imensamente’, disse Blume aos funcionários. A transição para os VEs tem sido brutal para o setor automotivo alemão. A indústria precisa lidar com o aumento dos custos, enquanto investe pesado na tecnologia de baterias e a demanda do consumidor se inclina para os híbridos.

Fornecedoras de autopeças, como Boch, Continental e ZF Friedrichshafen, recorreram ao corte de dezenas de milhares de empregos, diante da queda das margens de lucro e da demanda. A Volkswagen, que assinou um acordo de segurança no emprego em 1994, não tem conseguido cortar muitos empregos, o que espreme suas margens de lucro.

Outrora a maior montadora do mundo, seu valor de mercado agora é de pouco menos da metade que o da chinesa BYD.

“Uma revolução”

Para Blume, as apostas também são altas. Herbert Diess, seu antecessor, foi afastado poucos meses após questionar o tamanho da força de trabalho da Volkswagen. Agora, à medida que as preocupações sobre o futuro da indústria automotiva do país vão se acumulando, até o primeiro-ministro do país, Olaf Scholz, entrou na discussão. Se Blume tiver sucesso em fechar uma ou mais fábricas na Alemanha, seria “uma revolução”, segundo especialistas veteranos do setor.

“Temos um problema na Alemanha com altos custos, um monte de ineficiências e regras governamentais”, disse Ferdinand Dudenhöffer, da Universidade de Duisburg-Essen. “E o problema da VW [Volkswagen] é que [...] você está numa situação em que não pode mudar nada. É como uma empresa estatal.”

“O mercado simplesmente não está mais lá”

O diretor financeiro da Volkswagen, Arno Antlitz, destacou a gravidade da situação da montadora ao dizer aos trabalhadores que o mercado automotivo europeu encolheu 13% em vendas anuais, em comparação aos níveis anteriores à pandemia da covid-19. Para a Volkswagen, isso significa vender cerca de meio milhão de carros a menos no continente, o que equivale à produção anual de duas fábricas.

“O mercado simplesmente não está mais lá”, disse Antlitz.

A Volkswagen "não está fazendo seu trabalho”

A presidente do poderoso conselho de trabalhadores da Volkswagen, Daniela Cavallo, discorda. Argumenta que os problemas da empresa decorrem de sua equipe de liderança. “A Volkswagen está sofrendo porque o conselho de administração não está fazendo seu trabalho”, disse ela na reunião.

O conselho executivo da Volkswagen não é o único na Alemanha a ter negociações difíceis com o conselho de trabalhadores, que dá aos representantes dos funcionários o direito de influenciar e votar na estratégia da empresa. No entanto, o conselho de trabalhadores da Volkswagen, que detém metade dos assentos no conselho de supervisão, tem como forte aliado o Estado de Baixa Saxônia, que detém 20% dos direitos de voto e prioriza o emprego.

Em 2023, a marca principal do grupo Volkswagen prometeu reduzir os gastos em 10 bilhões de euros até 2026 — um projeto baseado em programas de aposentadoria antecipada, no qual alguns trabalhadores recebem até 85% de sua remuneração total, e em pacotes de demissão voluntária, para os quais a montadora reservou 900 milhões de euros.

No entanto, após ficar 3 bilhões de euros aquém da meta, os executivos querem uma ação mais direta. Na quarta-feira (4), Blume enfatizou que as marcas de carros da empresa que dependem de alto volume de produção estavam especialmente em risco. As concorrentes da Volkswagen no segmento de mercado de massa também têm sofrido com a baixa demanda dos consumidores e a rápida transformação do setor.

Posição da Renault

O executivo-chefe da Renault, Luca de Meo, descreveu o setor como “radicalmente volátil e imprevisível” e defendeu uma maior cooperação entre as montadoras europeias como forma de sobreviverem às turbulências, embora as negociações com a Volkswagen para produzir VEs mais baratos tenham sido abandonadas neste ano.

O fraco desempenho nos Estados Unidos também levou a quedas acentuadas nos lucros e no preço das ações da Stellantis, dona das marcas Jeep, Peugeot e Fiat. Assim como as montadoras alemãs, as francesas deparam-se com forte resistência dos sindicatos e têm, em grande parte, se baseado em não substituir trabalhadores aposentados para encolher o quadro.

O crescimento das vendas de VEs na Europa tem caído à medida que o desenvolvimento da infraestrutura de abastecimento desacelera e os governos, inclusive o alemão, retiram os subsídios oferecidos aos consumidores.

As montadoras reagiram com descontos, afetando margens de lucro que, em média, já eram inferiores às dos carros a gasolina, em parte pelos pesados investimentos necessários para a mudança tecnológica. A Volkswagen, por exemplo, ofereceu aos clientes na Alemanha um desconto de 3.570 euros nos VEs de sua linha ID e fez ofertas semelhantes em outros países.

No primeiro semestre de 2024, a empresa registrou uma queda de 11% nos resultados operacionais em comparação ao mesmo período do ano anterior, enquanto a margem de lucro operacional caiu de 7,3% para 6,3%. A margem da marca Volkswagen, que o programa de corte de custos de 10 bilhões de euros pretendia elevar para 6,5% em 2026, foi de 2,3% no primeiro semestre de 2024.

“O desafio é que não há um fator único que você possa identificar para resolver o problema da demanda por veículos elétricos”, disse Michael Tyndall, analista especializado em automóveis no HSBC.

Na Alemanha, foram vendidos 360 mil carros elétricos nos primeiros oito meses de 2024 — um declínio de mais de 20% em comparação ao mesmo período de 2023, segundo a VDA, a associação da indústria automotiva alemã.

Preocupações com mercado da China

Outra preocupação cada vez maior é o mercado da China. A Volkswagen tem perdido participação em seu mercado mais lucrativo e as marcas chinesas de VEs, como a BYD, estão fazendo planos para conquistar a Europa.

A Volkswagen se opõe à decisão da União Europeia de impor tarifas aos carros importados da China, em parte por temer medidas retaliatórias, mas também porque várias de suas marcas, como a Cupra, produzem veículos em fábricas chinesas para a venda na Europa. A Volkswagen não revela quanto as tarifas estão lhe custando, mas destacou que vem pagando taxas mais altas que muitas rivais chinesas.

As tarifas, embora criadas para proteger as empresas europeias, segundo a Volkswagen, tiveram “um impacto adicional na competitividade de preço das montadoras europeias”.

Analistas e muitos investidores reagiram de forma positiva aos novos planos de corte de custos da Volkswagen. Matthias Schmidt, um analista independente especializado em setor automotivo, disse que os desafios enfrentados pela empresa são graves o suficiente para que o conselho de trabalhadores ceda.

"Em rota de colisão com um choque de realidade”

“Desta vez, os sindicatos e Daniela Cavallo estão em rota de colisão com um choque de realidade”, disse Schmidt. Ele destacou que a Tesla, de Elon Musk, e as montadoras chinesas de VEs conquistaram mais de 5% da participação de mercado na Europa em apenas quatro anos.

No entanto, Cavallo está se preparando para uma batalha. Sua oposição ferrenha à mera sugestão do ex-executivo-chefe Diess de cortar até 30 mil empregos teve papel fundamental na sua demissão.

Ela disse que os custos trabalhistas são apenas uma fração do que a Volkswagen não conseguiu economizar na meta. Os bônus em dinheiro oferecidos aos clientes de VEs e o fato de não conseguir vender carros de preços mais altos custaram à empresa “centenas de milhões de euros”.

“Nossas fábricas são a força motriz para regiões inteiras em torno a elas”, disse Cavallo, descrevendo o fechamento de fábricas na Alemanha como um limite que não pode ser cruzado.

Volkswagen “carrega uma grande responsabilidade”

O vice-premiê alemão, Robert Habeck, seguiu a mesma linha na terça-feira, ao dizer que a Volkswagen “carrega uma grande responsabilidade” não apenas pela famosa indústria automotiva do país, mas também pelo seu futuro como potência industrial “e isso deveria continuar dessa forma”.

A crise na Volkswagen estimulou o governo alemão, que havia encerrado o plano de subsídio para VEs no fim de 2023, a discutir possíveis novos incentivos fiscais para carros movidos a bateria.

Analistas do Morgan Stanley advertiram que as tentativas de manter os carros chineses mais baratos fora da Europa e dos EUA estão mantendo os preços altos e poderiam “manter a penetração dos VEs em mercados desenvolvidos bem abaixo de 20% até o fim da década”.

Enquanto rivais como Toyota e Stellantis diversificaram suas apostas, desenvolvendo carros híbridos, a Volkswagen apostou alto ao abrir novas fábricas exclusivas de modelos elétricos — muitas das quais têm operado com capacidade reduzida desde então.

“Ainda temos um ano, talvez dois, para virar a situação"

Dudenhöffer, da Universidade de Duisburg-Essen, é cético quanto à disposição do governo e dos sindicatos em aceitar as soluções radicais de Blume. Na quinta-feira, o sindicato alemão dos metalúrgicos, IG Metall, indicou que poderia estar disposto a considerar a redução da carga horária dos trabalhadores. No entanto, avisou que a Volkswagen não pode se dar ao luxo de fazer concessões.

A Volkswagen também não tem muito tempo. “Ainda temos um ano, talvez dois, para virar a situação. Mas precisamos aproveitar esse tempo”, disse Antlitz.

(Tradução de Sabino Ahumada)

Infomoney - SP   09/09/2024

A Stellantis, controladora da Chrysler, disse neste sábado que está fazendo o recall de 1,46 milhão de veículos em todo o mundo devido a um mau funcionamento do software no sistema de freio antibloqueio que pode aumentar o risco de acidente.

O recall inclui quase 1,23 milhão de caminhões Ram 1500 dos anos-modelo 2019 e 2021-2024 nos Estados Unidos, bem como cerca de 159.000 veículos no Canadá, 13.000 no México e 61.000 fora da América do Norte.

A Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário disse que um mau funcionamento do software pode fazer com que o módulo de controle do sistema de freio antibloqueio desative o sistema de controle eletrônico de estabilidade.
O problema significa que os veículos não estão em conformidade com um padrão federal dos EUA de segurança de veículos motorizados sobre sistemas de controle de estabilidade elétrica.

A Stellantis disse que, se o problema ocorrer, as luzes indicadoras do ABS, ESC, controle de cruzeiro adaptativo e aviso de colisão frontal ficarão acesas na partida do veículo, indicando que os sistemas não estão funcionando. A frenagem fundamental estaria funcionando, acrescentou.

A empresa disse que não tem conhecimento de nenhum ferimento ou acidente relacionado.

A Stellantis também disse neste sábado que está fazendo o recall de cerca de 33.000 modelos Jeep Gladiator de 2020-2024 e veículos Jeep Wrangler de 2018-2024 devido a um possível problema de curto-circuito interno no cluster do painel de instrumentos.

CONSTRUÇÃO CIVIL

A Tribuna - SP   09/09/2024

O Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil cresceu 3,5% no segundo trimestre de 2024, na comparação com o primeiro trimestre, quando havia registrado queda de 0,5%. Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o PIB do setor cresceu 4,4%. Os números foram divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com a coordenadora das Contas Nacionais do Instituto, Rebeca Palis, vários fatores impulsionaram o segmento. “Na construção, a gente tem essa questão do aumento de crédito, dos juros um pouco mais baixos, dos programas governamentais que incentivam essa área e a questão do período eleitoral (cujos investimentos só poderiam ser feitos até junho)”, explicou Palis.

Vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan atribuiu o crescimento expressivo da construção no segundo trimestre deste ano ao aumento da atividade e do emprego no setor. “Praticamente todos os segmentos da construção tiveram mais atividade. A maior geração de emprego no País também favoreceu o consumo de insumos do setor”, analisa ele.

No acumulado de quatro trimestres até junho, comparado ao acumulado dos quatro trimestres imediatamente anteriores, o PIB da construção registrou ligeiro aumento, de 0,6%.

PIB geral
No segundo trimestre de 2024, o PIB brasileiro cresceu 1,4% comparado ao primeiro trimestre de 2024, na série com ajuste sazonal. O melhor resultado foi da indústria, que cresceu 1,8%, seguida por serviços, cujo setor avançou 1%. A agropecuária recuou 2,3%. O crescimento na Indústria, por sua vez, se deve aos desempenhos positivos das atividades de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (4,2%), construção (3,5%) e das indústrias de transformação (1,8%). Por outro lado, houve queda de 4,4% nas indústrias extrativas.

FERROVIÁRIO

Valor - SP   09/09/2024

Atualização dos estudos do megaprojeto ferroviário foi protocolado pelo governo em ação do Psol em tramitação no Supremo Tribunal Federal

 

O governo protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) a atualização dos estudos da Ferrogrão, megaprojeto ferroviário que liga um dos maiores centros de produção de grãos do mundo, em Sinop (MT), aos portos do Arco Norte, em Miritituba (PA).

O empreendimento contou com ajuste de traçado, uma nova cartada do Ministério dos Transportes para neutralizar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida pelo Psol para barrar o projeto.

A ação contesta a mudança no perímetro do Parque Nacional Jamanxim por meio de medida provisória (MP), ainda na gestão do ex-presidente Michel Temer.

Agora, o governo propõe que os trilhos da ferrovia, em 50 quilômetros dentro do parque, operem mais próximos da BR-163, na chamada “faixa de domínio”, sem mexer na demarcação.

O argumento de uso da faixa de domínio da BR-163 será defendido, em breve, pelo ministério em audiência com o relator do caso, ministro Alexandre Moraes. A expectativa é que, de um lado, o ajuste no traçado faça a ADI perder o objeto e, de outro, aumento de recurso para compensação socioambiental atenda às reivindicações de entidades envolvidas no debate sobre os impactos do projeto.

Ao Valor, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Rafael Vitale, disse que o leilão pode sair em 2025, se o STF tiver a mesma compreensão. “Acreditamos que as dúvidas serão dirimidas e vamos ter a autorização para prosseguir com os trâmites. Tendo a autorização do TCU [Tribunal de Contas da União], a gente abre o edital e faz leilão, no prazo de um ano.”

O governo ressalta que os recursos para medidas socioambientais correspondem a 6% do investimento no projeto, acima da média de 1,5% das obras de infraestrutura.

Dentro das vantagens econômicas, é reforçada a capacidade da ferrovia reduzir 20%, em média, o custo do frete da produção no Mato Grosso, frente ao uso de caminhões pela BR-163 ou ferrovias existentes.

Na questão ambiental, o estudo indica que a Ferrogrão pode cortar 40% das emissões de gases de efeito estufa (GEE), menos 3,4 milhões de toneladas/ano de CO2.

Ambientalistas, de modo geral, reconhecem que o transporte sobre trilhos produz menos danos ambientais para além da redução das emissões, pois estradas aceleraram o desmatamento e a atividade ilegal com o efeito de “espinha de peixe” na floresta.

No caso da Ferrogrão, os estudos mostram que 60% do seu trajeto passa por área desmatada. A vegetação nativa afetada contará com reparação com plantio das espécies em área equivalente.

Acreditamos que as dúvidas serão dirimidas e vamos ter a autorização para prosseguir”

— Rafael Vitale

O estudo reforça que o projeto não precisa pedir passagem em terra indígena (TI), comunidades quilombolas ou de ribeirinhos. Ainda assim, as terras indígenas Praia do Mangue e Praia do Índio devem passar por oitivas e receber compensação por estarem a menos de dez quilômetros da chegada da ferrovia ao Rio Tapajós (PA).

“Não foram só atualizados números. Temos agora uma agenda de sustentabilidade que não estava na modelagem anterior, um EVTEA [Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental] bem diferente”, disse George Santoro, secretário executivo do Ministério dos Transportes.

O subsecretário de sustentabilidade do órgão, Cloves Benevides, afirmou que, agora, o projeto garante quase R$ 800 milhões em investimento voltado para compensação socioambiental e mais o repasse anual de R$ 15 milhões nos 67 anos do contrato, para apoiar a política ambiental implantada a partir do projeto.

Santoro disse que os ajustes foram feitos com base nas discussões com representantes das comunidades indígenas e ambientalistas que atuam na região, dentro do grupo de trabalho (GT) criado na retomada do caso pelo Supremo.

Em julho, porém, as entidades abandonaram o GT alegando “esvaziamento” do debate, que não contou com nenhum representante da Casa Civil presente nas reuniões, por exemplo, e que o governo não era transparente sobre a atualização dos estudos.

“Não é porque tem R$ 800 milhões em compensações que agora está bom. O que importa não é o valor, mas ações que serão tomadas para mitigar os impactos. Parte disso vai ser definido no licenciamento”, afirmou, ao Valor, Mariel Nakane, assessora técnica e economista do Instituto Socioambiental (ISA). As entidades, disse, viveram num “limbo de informação” que não permitiu ter um diálogo efetivo.

Sobre a acomodação da ferrovia ao largo da BR-163, Nakane argumenta que é preciso submeter a proposta a uma análise “criteriosa”, pois a lei contestada no STF trata de mudança no perímetro do Jamanxim associada às faixas de domínio da rodovia e da ferrovia.

Além disso, ela ressaltou que, de praxe, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) “vê problema” no uso desse espaço por outro empreendimento e, na Ferrogrão, a “tese” do governo deve passar antes pela avaliação do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Rodoviário

Grandes Construções - SP   09/09/2024

Estão aprovadas as publicações dos editais de concessão dos Lotes 3 e 6 do Paraná. A decisão da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), tomada no dia 5 de setembro, prevê investimentos de mais de R$ 35,8 bilhões ao longo de 30 anos para mais de 1.200 quilômetros de rodovias estaduais e federais abrangidos pelos dois lotes.

O leilão para o Lote 3 está agendado para 12 de dezembro, enquanto o do Lote 6 será em 19 de dezembro.

Os editais promovem a concessão de mais dois lotes de rodovias no Paraná, que estavam sem concessão desde novembro de 2021. Em fevereiro deste ano, a Via Araucária assumiu 473 km do Lote 1, enquanto a EPR Litoral Pioneiro passou a administrar 605 km do Lote 2.

“O avanço dos Lotes 3 e 6 é um marco para a infraestrutura rodoviária do Paraná e do Brasil. A concessão permitirá a modernização das rodovias, garantindo sua manutenção e impulsionando o desenvolvimento econômico das cidades conectadas. Estamos confiantes nessa nova entrega à população”, destaca o diretor-geral da ANTT, Rafael Vitale.

Juntos, os dois lotes abrangem 51 municípios e impactam diretamente mais de 3,1 milhões de pessoas. Entre as cidades estão Ponta Grossa, Londrina, Guarapuava, Cascavel, Francisco Beltrão, Pato Branco e Foz do Iguaçu.

“Os investimentos nos Lotes 3 e 6 garantirão rodovias mais seguras e modernas, fundamentais para o escoamento mais eficiente da produção e para promover um grande impulso econômico para o Paraná”, observa o relator do projeto e diretor da ANTT Luciano Lourenço.

Melhorias – O Lote 3 cobre 569,7 km de rodovias, conectando importantes trechos como Mauá da Serra a Londrina e Sertanópolis e também interligando o Paraná a Santa Catarina e São Paulo. O projeto prevê investimentos de quase R$ 16 bilhões.

As melhorias planejadas incluem a duplicação de 132,6 km de rodovias, a adição de 24,6 km de faixas adicionais e a construção de 61,7 km de vias marginais, entre outras intervenções.

No Lote 6, está planejada a duplicação de 462,4 km, mais da metade dos 662,1 km de rodovias a serem concedidos. Também serão adicionados 31,4 km de faixas adicionais e 87,1 km de vias marginais. A concessão abrange trechos estratégicos que conectam o Paraná a outros países, como a ligação com as Pontes da Amizade e da Fraternidade, em Foz do Iguaçu, que unem o Brasil ao Paraguai e à Argentina, respectivamente. O investimento previsto é superior a R$ 20 bilhões.

Ambos os lotes contemplam a construção de ciclovias, passagens de fauna e a instalação de pontos de ônibus, passarelas, áreas de escape e Pontos de Parada de Descanso (PPD).

No Lote 3, serão dois PPDs, um na BR-376 e outro na PR-323. No Lote 6, serão três PPDs, dois na BR-277 e um na PR-182. Além disso, também serão implantados contornos viários para melhorar a fluidez do trânsito. O Lote 3 contará com 61,6 km de contornos, enquanto o Lote 6 terá 13,7 km.

Tecnologia – Os projetos incluem a instalação de câmeras com tecnologia OCR para reconhecimento de placas, detecção automática de incidentes, painéis de mensagem variável, sistema de pesagem automático e monitoramento meteorológico. A conectividade será garantida em toda a concessão. Além disso, haverá iluminação nos trechos de serra, com 14,9 km no Lote 3 e 21,2 km no Lote 6.

Os contratos também permitirão a migração do sistema de cobrança convencional (praça de pedágio) para o sistema eletrônico de livre passagem (Free Flow).

“O processo de regulação do Free Flow está em andamento na ANTT, mas isso não impede que a tecnologia seja prevista nos editais. Nos pontos previstos para a instalação de novas praças, as empresas poderão implementar o sistema, que trará benefícios significativos, como maior fluidez e segurança para os usuários, além de uma eficiência operacional para as concessionárias”, explica Lourenço.

Valor - SP   09/09/2024

A solução passa pela duplicação do trecho no Mato Grosso e pela construção de terceiras faixas na passagem pelo Pará

Com atraso no cronograma da Ferrogrão e aumento acelerado da produção agrícola no Mato Grosso, o governo decidiu ampliar a capacidade da BR-163, de Sinop (MT) a Miritituba (PA). Mesmo criticada por parte do setor, a solução passa pela duplicação do trecho no Mato Grosso e pela construção de terceiras faixas na passagem pelo Pará ao dar prazo adicional à concessão da Via Brasil.

O contrato tem duração de apenas dez anos, em vez dos trinta anos habituais. O modelo foi adotado na gestão de Jair Bolsonaro, com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à frente do Ministério da Infraestrutura.

O contrato mais curto foi escolhido para garantir investimentos na rodovia até a entrada em operação da Ferrogrão, que vai absorver a carga dos caminhões.

“Houve um descasamento desse planejamento. Mais do que isso, a produção de grãos tem surpreendido também, acelerado muito. As previsões que eram feitas há cinco anos atrás não são mais as de hoje”, disse Rafael Vitale, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ao Valor.

O prazo adicional para Via Brasil foi incluído nas “otimizações” de contrato do governo. A expectativa é que o aditivo contratual passe pelo Tribunal de Contas da União (TCU) com análise da câmara de solução de conflitos.

Críticos dessa estratégia entendem que, na prática, a Via Brasil receberá um “prêmio” de receita, apesar de descumprir obrigações de investimento - por exemplo, na faixa de acostamento da BR-163. E mesmo sem cumprir o contrato, a concessionária segue com a cobrança dos usuários. Grande parte dos caminhões, com composição de reboque, paga mais de R$ 700 somente na praça de pedágio Trairão (PA).

Procurada, a Via Brasil afirmou que, “em momento oportuno, após aprovação de todas as instâncias, os desdobramentos serão amplamente divulgados”.

Ao Valor, o secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, defendeu que o investimento no aumento de capacidade da BR-163 é urgente para evitar um “colapso” no sistema logístico da região. Segundo ele, essa iniciativa “não atrapalha em nada” os planos de viabilizar a Ferrogrão como principal aposta para escoar cargas pelos portos do Arco Norte, com redução drástica do custo do frete e das emissões de CO2.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) alerta que o setor responde por menos de 20% do que é transportado nas ferrovias do país. “Precisamos dessa alternativa de grande capacidade para conseguirmos reduzir o custo de transporte”, disse a assessora técnica Elisângela Lopes.

NAVAL

IstoÉ Online - SP   09/09/2024

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou ter aprovado financiamento de R$ 3,7 bilhões à LHG Logística, que serão usados na construção de 400 balsas e 15 empurradores para o transporte hidroviário de minérios de ferro e manganês pelos rios Paraná e Paraguai.

De acordo com nota publicada pela agência de notícias do banco, o recurso vem do Fundo da Marinha Mercante (FMM) e as embarcações serão construídas e entregues ao longo dos próximos quatro anos em seis estaleiros nacionais, localizados nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste, “impulsionando o setor naval brasileiro e gerando empregos e desenvolvimento nessas regiões”.

O BNDES destaca que o projeto apoiado vai contribuir para melhorar o escoamento da produção de minério, potencializar a Hidrovia Paraguai-Paraná e fomentar a construção naval nacional, além de representar um investimento estratégico para a descarbonização da matriz logística brasileira. “Modal hidroviário representa redução de 95% das emissões em relação ao rodoviário e de 70% em relação ao ferroviário”, cita a nota.

A LHG Logística é o braço de logística da mineradora LHG Mining, que faz parte do Grupo J&F. “O Fundo da Marinha Mercante e o BNDES foram fundamentais garantir a competitividade dos estaleiros brasileiros frente a concorrentes estrangeiros que apresentaram um custo inicial até 20% menor”, diz o presidente da LHG Mining, Aguinaldo Filho, segundo a nota publicada.

“O investimento representa um incremento de 16% da frota nacional de transporte de carga para navegação interior (em rios, lagoas e canais) e a geração de cerca de 5,5 mil empregos diretos e indiretos, a maior parte deles nas regiões Norte e Nordeste, onde serão aplicados 87% dos recursos aprovados. O financiamento também viabiliza a construção destas embarcações no Brasil, em meio à forte concorrência internacional de grandes players, como a China, que é maior construtor naval do mundo e cujas embarcações custariam aproximadamente 20% menos”, diz a nota do BNDES.

“Esta é uma operação que contribui para o desenvolvimento da produção nacional, gerando milhares de empregos com qualidade, impulsionando a descarbonização com um transporte mais limpo e reativando a indústria naval, que faz uma competição internacional difícil, com países como China e Singapura”, explica o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, na nota.

Segundo explica o texto do BNDES, o projeto permitirá a ampliação do escoamento na logística de minérios que são extraídos em Corumbá (MS) e carregados nas barcaças, atravessando 2.500 km pela hidrovia, cruzando o Paraguai, até chegar ao terminal marítimo de Nova Palmira, no Uruguai, onde são carregados em navios de longo curso. As prioridades para o financiamento foram concedidas pelo Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM), formado pelo Ministério dos Portos e Aeroportos e outros ministérios, além de entidades representativas da sociedade civil e bancos públicos.

Valor - SP   09/09/2024

Montante será usado para construção de balsas e empurradores para transporte hidroviário em seis estaleiros nacionais

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um financiamento de R$ 3,7 bilhões para a LHG Logística, braço de logística da mineradora LHG Mining, do Grupo J&F. Os recursos são do Fundo de Marinha Mercante (FMM) e voltados para a construção de 400 balsas e 15 empurradores para o transporte hidroviário de minérios de ferro e manganês pelos rios Paraná e Paraguai.

Especialistas afirmam que a promoção do transporte hidroviário é indicada e que há experiência na construção de embarcações desse segmento no país, mas questionam a necessidade de valor dessa magnitude para uma empresa — considerando orçamento limitado do fundo — e se esta é a alocação mais eficiente dos recursos.

Segundo o BNDES, as embarcações serão construídas e entregues nos próximos quatro anos em seis estaleiros nacionais das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. O banco informou que 87% dos recursos – ou R$ 2,35 bilhões – serão voltados para as regiões Norte e Nordeste. A LHG Logística informou que os estaleiros responsáveis pelas embarcações serão Enseada, Eram, Juruá, Rio Maguari, Detroit e Wilsons Sons.

O financiamento faz parte da estratégia do BNDES e do governo brasileiro de incentivar a indústria naval, com uma série de medidas anunciadas em janeiro deste ano. Pela última previsão do presidente do banco, Aloizio Mercadante, o montante de recursos para o setor naval em 2024 é de R$ 6,6 bilhões. Isso significa que só esse financiamento de R$ 3,7 bilhões para a LHG Logística representa mais da metade dessa estimativa. No início do ano, Mercadante tinha falado inicialmente em R$ 2 bilhões para o setor naval.

O anúncio remete a políticas de governos anteriores do PT, quando o BNDES foi o grande financiador do setor naval no país. O banco concedeu, em 15 anos, R$ 18,7 bilhões em empréstimos para construir e reformar estaleiros e erguer embarcações. Nos anos seguintes, no entanto, os grandes estaleiros construídos entraram em recuperação judicial por problemas para entregar encomendas no prazo e nos custos contratados.

De acordo com o BNDES, as embarcações serão usadas para o transporte hidroviário de minérios de ferro e manganês pelos rios Paraná e Paraguai. O investimento, segundo o banco, representará aumento de 16% da frota nacional de transporte de carga para navegação interior (em rios, lagoas e canais) e a geração de cerca de 5,5 mil empregos diretos e indiretos, a maior parte deles nas regiões Norte e Nordeste.

“Esta é uma operação que contribui para o desenvolvimento da produção nacional, gerando milhares de empregos com qualidade, impulsionando a descarbonização com um transporte mais limpo e reativando a indústria naval, que faz uma competição internacional difícil, com países como China e Singapura. Ao investir na produção local, o país não só reduz a dependência de importações, mas também impulsiona as exportações e a balança comercial brasileira”, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, em comunicado.

O banco informou que o projeto permitirá a ampliação do escoamento na logística de minérios que são extraídos em Corumbá (MS) e carregados nas barcaças, atravessando 2.500 km pela hidrovia, cruzando o Paraguai, até chegar ao terminal marítimo de Nova Palmira, no Uruguai, onde são carregados em navios de longo curso. As prioridades para o financiamento foram concedidas pelo Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM).

“A aprovação desse projeto vai melhorar significativamente o escoamento de minérios pelos rios Paraná e Paraguai, além de fortalecer a nossa indústria naval. O mais importante é que, com esses recursos aplicados em estaleiros das regiões Norte e Nordeste, vamos gerar milhares de oportunidades de empregos e renda e impulsionando o desenvolvimento regional”, disse o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, ao mencionar também que a iniciativa reforça o papel como “líderes em inovação e desenvolvimento, seguindo rumo a um Brasil mais forte e preparado para o futuro”.

Para o economista Claudio Frischtak, presidente da Inter.B, consultoria internacional de negócios, a promoção do transporte hidroviário é adequada, por ser o modal mais eficiente para longas distâncias e pela subutilização do potencial hidroviário. Além disso, ponderou que o Brasil é experiente no segmento de embarcações fluviais e não há risco tecnológico.

“Promover transporte hidroviário faz todo o sentido. [...] São embarcações simples e o Brasil tem certa experiência nesse tipo de produção. É muito diferente de financiar petroleiros, navios de maior porte. Foi um filme visto no passado e não foi bonito”, disse.

Frischtak questiona, no entanto, a alta concentração em uma empresa. “Qualquer recurso escasso deve ser usado com parcimônia. Será que um formato de blended finance, uma espécie de financiamento híbrido, não seria uma opção mais adequada?”, analisou o presidente da Inter.B.

Pierre de Souza, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV Eaesp), concordou de que “não há dúvida” sobre o foco em hidrovias, mas indagou sobre o uso eficiente dos recursos para estímulo à indústria.

“Faz sentido gastar para desenvolver a indústria porque vai dar mais empregos e desenvolver a região, se fica uma dúvida para “o depois”? É a alocação mais eficiente dos recursos?”, indagou.

Souza lembrou problemas do passado. “O problema de investir em algo ineficiente é que funciona a curto prazo, mas a médio e longo prazos pode não continuar vingando. Vai ser preciso esperar para avaliar esse caso”, disse.

A LHG já opera na hidrovia Paraguai-Paraná, principal via de escoamento da produção de minério de ferro da mineradora LHG Mining. De acordo com a empresa, as embarcações são necessárias para o aumento da produção. A operação foi adquirida da Vale em 2022, com produção de cerca de 2,5 milhões de toneladas por ano. Agora, está em 12 milhões de toneladas por ano.

O presidente da LHG Mining, Aguinaldo Filho, destacou que o financiamento do Fundo de Marinha Mercante (FMM) e do BNDES ajudaram a garantir a competitividade dos estaleiros brasileiros frente aos estrangeiros.

“O Fundo da Marinha Mercante e o BNDES foram fundamentais para garantir a competitividade dos estaleiros brasileiros frente a concorrentes estrangeiros, que apresentaram um custo inicial até 20% menor”, informou.

Aguinaldo Filho disse ainda que a operação “viabiliza o aumento da eficiência e da capacidade de escoamento de minério da LHG, necessários para fazer frente ao crescimento da produção, além de gerar empregos na construção dos equipamentos navais, na operação da hidrovia e nas atividades mineração”.

Dentro da estratégia de fomento à indústria naval, o BNDES já tinha anunciado este ano R$ 495 milhões para modernização do Porto de Paranaguá e R$ 12 milhões para estudos sobre o uso dos ambientes marinho, costeiro e oceânico dos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

No comunicado, o BNDES informou que o projeto representa um aumento da capacidade de escoamento da extração de minério em, no mínimo, 5,9 milhões de toneladas por ano. Além disso, “ao adotar o modelo hidroviário como base para sua logística de exportação, [o projeto] apresenta potencial de emissão de gases do efeito estufa significativamente menor frente a outras opções logísticas para o escoamento, contribuindo para a descarbonização da matriz logística brasileira”.

Para o mesmo montante de granel mineral transportado por mil quilômetros, o modal hidroviário representa redução de 95% das emissões em relação ao modal rodoviário e de 70% das emissões em relação ao modal ferroviário, segundo dados da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e do Instituto Energia e Meio Ambiente (Iema). O minério de ferro originado no projeto tem, ainda, uma peculiaridade: apresenta alto teor de ferro, possibilitando o uso de rotas tecnológicas que favorecem a descarbonização do setor de siderurgia.

“O projeto possibilita um aumento da capacidade do transporte de minérios por meio de um modal eficiente e de baixa emissão relativa de gases do efeito estufa. Além disso, a logística eficiente para o escoamento é fundamental para manter os custos competitivos e garantir a entrega em grandes volumes”, disse a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa.

PETROLÍFERO

TN Petróleo - RJ   09/09/2024

A Diretoria da ANP aprovou hoje (5/9) as minutas de edital e dos contratos da Oferta Permanente de Partilha da Produção (OPP), em que serão ofertados 14 blocos localizados no Polígono do Pré-Sal.

Os documentos serão submetidos à aprovação do Ministério de Minas e Energia (MME) e, em seguida, passarão por consulta e audiência públicas.

Entre os principais aperfeiçoamentos previstos estão:

- Adequações decorrentes da alteração das diretrizes de conteúdo local dispostas na Resolução CNPE nº 11/2023;

- Adequações decorrentes da publicação da Resolução ANP nº 969/2024, que regulamenta as licitações para a outorga do exercício das atividades de exploração, reabilitação e produção de petróleo e gás natural sob os regimes de concessão e de partilha de produção;

- Atualização dos modelos de seguro garantia decorrentes da Consulta e Audiência Públicas nº 01/2024;

- Mudança na sistemática de cumprimento do programa exploratório mínimo (PEM), que deixou de exigir a perfuração de poço exploratório, passando a prever, adicionalmente, a possibilidade de execução de atividades de sísmica 3D e reprocessamento sísmico 3D;

- Exclusão do pagamento de taxa de participação e da amostra de dados;

- Possibilidade de a licitante apresentar garantia de oferta sem declaração de interesse;

- Garantia de oferta em formato físico ou digital;

- Prazo do ciclo: mínimo de 120 dias e máximo de 180 dias;

- Inversão da etapa de qualificação, que passa a ocorrer após a sessão pública;

- Aprimoramentos no ‘Anexo VI – Procedimentos para Apuração do Custo e do Excedente em Óleo’ e no ‘Anexo IX – Regras do Consórcio’;

- Inclusão de dispositivos para incorporar novas práticas da indústria que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Dos 14 blocos em oferta, quatro foram autorizados pelo Resolução CNPE n° 26/2021 (Ágata, Esmeralda, Jade e Turmalina), um (Ametista) pela Resolução CNPE nº 04/2022 e os outros nove (Amazonita, Citrino, Itaimbezinho, Jaspe, Larimar, Mogno, Ônix, Safira Leste e Safira Oeste) foram autorizados pela Resolução CNPE nº 11/2023.

A Petrobras manifestou, ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), o interesse no direito de preferência em blocos a serem licitados no Sistema de Oferta Permanente, sob o regime de partilha de produção, nos termos da Lei 12.351/2010 e do Decreto Federal 9.041/2017. A empresa exerceu o direito de preferência em relação ao bloco de Jaspe, com percentual de 40%, considerando os parâmetros divulgados na Resolução do CNPE nº 06/2024, publicada em 28/08/2024.

Saiba mais sobre a Oferta Permanente de Partilha (OPP)

A Oferta Permanente é, no momento, a principal modalidade de licitação de áreas para exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil. Nesse formato, há a oferta contínua de blocos exploratórios e áreas com acumulações marginais localizados em quaisquer bacias terrestres ou marítimas.

Desse modo, as empresas não precisam esperar uma rodada de licitações "tradicional" para ter oportunidade de arrematar um bloco ou área com acumulação marginal, que passam a estar permanentemente em oferta. Além disso, as companhias contam com o tempo que julgarem necessário para estudar os dados técnicos dessas áreas antes de fazer uma oferta, sem o prazo limitado do edital de uma rodada.

Atualmente, há duas modalidades de Oferta Permanente: Oferta Permanente de Concessão (OPC) e Oferta Permanente de Partilha da Produção (OPP), de acordo com o regime de contratação (concessão e partilha).

Até o momento, foram realizados, pela ANP, quatro ciclos de Oferta Permanente no regime de concessão nos anos de 2019, 2020, 2022 e, o mais recente, em dezembro de 2023 e, dois ciclos de Oferta Permanente no regime de partilha de produção, em 2022 e 2023.

AGRÍCOLA

O Estado de S.Paulo - SP   09/09/2024

Faz muito tempo, mas me lembro bem das comemorações da Semana da Pátria – com ênfase para o 7 de Setembro – que os colégios faziam nas cidades maiores em meados do século passado. Os estudantes secundários desfilavam uniformizados, acompanhados por fanfarras, e cada colégio treinava seus alunos durante semanas, o passo rigorosamente certo, com as “balizas” abrindo os desfiles e fazendo malabarismos simples.

E, às vezes, havia exibição de ginástica rítmica nos gramados dos estádios de futebol, onde existiam. As famílias aplaudiam, o Hino Nacional era entoado na perfeição por milhares de vozes e o espírito cívico aflorava, magnífico. A Pátria tinha importância.

Pena que não exista mais isso.

Estamos terminando a semana do 7 de setembro com uma certa melancolia no campo.

O PIB brasileiro cresceu 3,3% no segundo trimestre em relação ao do ano passado), surpreendendo os economistas mais otimistas. Mas o da agropecuária caiu 2,9%, devido a problemas conhecidos, como a quebra da produção dos grãos por causa do El Niño ou a queda dos preços das principais commodities em função do crescimento da oferta e dos estoques mundiais. A renda rural despencou.

A soja teve sua participação reduzida em 4,3%, e o milho em 10,3%. Nem o bom crescimento do algodão, de 10,8%, compensou as perdas dos dois grãos principais. E o Focus avalia que, no ano de 2024, o PIB do agro cairá 1,5% em relação ao do ano passado.

Pior que isso foram os incêndios criminosos que destruíram lavouras, pastagens e áreas de conservação em diversos Estados do Sudeste e Centro-Oeste, afetando duramente a economia rural regional e destruindo empresas saudáveis. Uma tragédia inimaginável.

Mas como nem tudo está perdido, tivemos uma grande notícia. Na quarta-feira passada, o Senado aprovou o projeto de lei conhecido como “Combustível do Futuro“, um espetacular avanço para a economia brasileira quanto à nossa matriz energética. A lei amplia a mistura do etanol na gasolina (até 35% ao longo do tempo) e do biodiesel no diesel (dos atuais 14% para até 25% depois de 2031), dependendo da avaliação do CNPE.

As companhias aéreas deverão reduzir suas emissões de GEE em 10% até 2037. O projeto, que ainda será votado na Câmara Federal, deve ser um “case” maravilhoso a ser exibido na COP-30 que acontece no ano que vem em Belém do Pará.

A festejar também, a resiliência dos ipês amarelos, florescendo esplendorosamente, mesmo com a seca inclemente, o incêndio criminoso, o PIB cadente e o civismo esquecido.

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