Diário do Comércio - MG 08/11/2023
As importações de aço vindas da China têm afetado sobremaneira a indústria do Brasil. É o que alertou o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, na divulgação de resultados do terceiro trimestre de 2023, em entrevista coletiva. O CFO da empresa, Rafael Japur, revelou que a competição com os chineses pode até mesmo mudar o destino da produção de aço em Minas Gerais, que não é voltada para exportação.
“Nossa ideia não é exportar a produção de aço de Minas, mas produzir para o mercado doméstico. O Brasil tem que fazer uma escolha: se a gente quer exportar minério para a China, para que ele volte como aço subsidiado para o Brasil, gerando emprego e renda na China, ou se o aço será produzido no Brasil, gerando emprego e renda aqui. É uma escolha que cabe a todos nós”, afirmou Japur.
Gustavo Werneck comentou que a China tem “inundado o mundo com aço subsidiado” pelo governo chinês e acusou o país de competição desleal. Segundo ele, é urgente que o governo federal tome medidas já adotadas por outros países, como o México, e estipule uma taxa de importação de 25%.
“De fato, esse é o maior problema que temos hoje na indústria do aço brasileira. Está relacionado a essa desindustrialização que já vem ocorrendo no Brasil, essa competição desleal feita por muitos países no mercado mundial, a qual se agravou muito nos últimos meses, com essa importação de aço no Brasil”, disse Werneck. Este ano, a importação de aço cresceu 58%.
O CEO afirmou que as importações chinesas não seguem as normas e recomendações da Organização Mundial do Comércio (OMC), aceleram a desindustrialização brasileira e ameaçam investimentos para os próximos anos. “Eu vejo que tem um entendimento, uma compreensão (no governo) muito mais profunda que me leva a crer para uma situação de maior equilíbrio. Não vamos desmobilizar”, comentou.
Impacto
Ele explicou que a capacidade instalada no País é de produzir 50 milhões de toneladas de aço por ano, enquanto para a China, somente para exportação, a previsão é de comercializar 100 milhões de toneladas em 2023. “São números chocantes. Os países estão implementando medidas para que o aço não chegue de forma desleal. Se continuar nesse nível de importação, em toda a cadeia do aço pode impactar 250 mil empregos”, disse Gustavo.
O CEO conta que a Gerdau demitiu 700 empregados e está com três usinas paralisadas no País. Em Minas, somente a usina de Ouro Branco, na região Central, está com produção normalizada, enquanto as de Barão de Cocais, também na região Central, e de Divinópolis. no Centro-Oeste, estão com capacidade reduzida.
Por fim, Werneck expressou que a indústria do aço não pleiteia protecionismo na economia brasileira, mas uma equiparação com os concorrentes chineses. “Competimos de igual para igual com qualquer produtor de aço do mundo. A única coisa que pedimos é que se implementem medidas urgentes para combater essa penetração injusta de aço no Brasil”, finalizou.
Balanço do trimestre
Ao longo do terceiro trimestre de 2023, o lucro líquido ajustado da Gerdau caiu 47,3% e chegou a R$ 1,592 bilhão ante os R$ 3,022 bilhões registrados em igual trimestre de 2022. A queda trimestral fez com que a empresa começasse o segundo semestre com retração de 40,3% no lucro, que chegou à cifra de R$ 6,12 bilhões.
O Ebitda ajustado chegou a R$ 3,34 bilhões, valor 11,7% menor que o gerado no segundo trimestre e 37,6% inferior se comparado com o mesmo intervalo de 2022. Nos primeiros nove meses do ano, o Ebitda chegou a R$11,46 bilhões, 35,9% menor.
A receita líquida foi de R$ 17,063 bilhões no terceiro trimestre, 6,6% menor quando comparada com o trimestre imediatamente anterior. Na comparação com o terceiro trimestre de 2022, a queda foi ainda maior, de 19,3%. Nos nove meses de 2023, a receita líquida da Gerdau caiu 15,9% e encerrou em R$ 54,2 bilhões.
Mesmo assim, os investimentos serão mantidos. Com aporte de R$ 1,75 bilhão, a empresa vai expandir os perfis de produção em Ouro Branco. Além disso, investirá R$ 1 bilhão na formação de florestas para a produção de carvão vegetal e R$ 1,4 bilhão no Parque Solar de Arinos, para a produção de energia fotovoltaica.
Brasil Mineral - SP 08/11/2023
A Usiminas registrou prejuízo líquido de R$ 166 milhões no terceiro trimestre de 2023
A Usiminas registrou prejuízo líquido de R$ 166 milhões no terceiro trimestre de 2023, frente a um resultado positivo de R$ 287 milhões no trimestre anterior. O Ebitda ajustado consolidado ficou negativo em R$ 20 milhões e a margem EBITDA também caiu para 0,3%. Já as vendas de aço totalizaram 1 milhão de toneladas, um aumento de 5% na comparação com o trimestre anterior. “Não é novidade que a Usiminas, assim como toda a indústria siderúrgica brasileira, está passando por um momento desafiador. Os elevados níveis de importação de aço proveniente principalmente da China, que chegam até o País com preços artificialmente baixos, abaixo do custo em alguns casos, criam uma concorrência desleal com o aço nacional”, comenta Marcelo Chara, presidente da Usiminas.
Para ele, o governo brasileiro deve adotar alguma medida para garantir isonomia de competição. “O México recentemente aumentou a tarifa de importação para 25%. Em comparação, a tarifa de importação do Brasil está em 10,8%. Isso leva a uma invasão de produto porque outros mercados se fecharam para a concorrência desleal, enquanto o Brasil continua aberto”, afirma.
A Usiminas investiu R$ 886 milhões no terceiro trimestre de 2023, destinado, principalmente, à reforma do Alto Forno 3 da Usina de Ipatinga, maior investimento da companhia no ano. Com a conclusão das obras, a Usiminas prepara o equipamento para a entrada em operação. “É um trabalho cuidadoso para retomar com segurança e cuidado com o meio ambiente. Foi uma obra complexa e que trará muitos benefícios e competitividade para a Usiminas. O Alto Forno 3 tem diversas melhorias de tecnologia que melhoram o desempenho, impactando em custos e na redução de emissão por tonelada produzida”, destaca Chara.
Entre os ganhos esperados estão o aumento da produtividade, com a redução de consumo de combustível e carga metálica, e diminuição das emissões de carbono, que devem ser reparados no primeiro trimestre de 2024, após o período de ramp-up para estabilização operacional do equipamento.
Além do Alto-Forno 3, outra medida realizada na Usina de Ipatinga com foco na performance ambiental foi a paralisação da Coqueria 3, que também contribuiu para a redução de custos, um dos principais focos da gestão.
O presidente comenta que o cenário do mercado, pode impactar na produção da companhia. “Sem medidas concretas, o mercado continuará sofrendo com o aumento da concorrência e podemos ter que abafar um dos fornos menores. Não poderemos operar com toda a nossa capacidade. Já em 2023, deixamos de abrir 600 vagas de trabalho pela concorrência chinesa”, explica Chara.
Valor - SP 08/11/2023
O Valor apurou que a companhia tem interesse nos ativos e se prepara para realizar uma proposta pelas operações no Brasil e Argentina
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) confirmou a contratação do banco Morgan Stanley para analisar os ativos da InterCement, mas diz que o processo ainda está em fase preliminar.
Segundo a empresa, não há nenhum fato ou documento vinculante sobre o tema que mereça divulgação ao mercado, não sendo possível, inclusive, determinar o objeto potencial da operação.
O Valor apurou que a CSN tem interesse nos ativos da InterCement, da Mover Participações (ex-Camargo Corrêa), e se prepara para realizar uma proposta pelas operações no Brasil e Argentina.
Money Times - SP 08/11/2023
A Gerdau (GGBR4) entregou resultados robustos no terceiro trimestre do ano (3T23), em meio a condições de mercado desafiadoras, avaliam analistas.
“Os resultados do 3T23 mostram que Gerdau segue atuando de forma a mitigar ao máximo qualquer deterioração no nível atual de suas margens”, afirma Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.
Ainda assim, os números continuaram a desacelerar, justamente, pelo ambiente nacional desafiador, especialmente após a alta nas importações de aço. Além disso, a Gerdau mencionou a pressão na divisão de aços especiais devido à fraca demanda do setor automobilístico no Brasil e nos Estados Unidos.
No entanto, Caio Greiner e Leonardo Correa, do BTG, ressaltam que a Gerdau está “bem posicionada para enfrentar a tempestade”. “A exposição da Gerdau a fundamentos sólidos na indústria siderúrgica norte-americana deverá proporcionar alguma resiliência ao fluxo de lucros da empresa”, dizem.
Ativa tem recomendação neutra para Gerdau, com preço-alvo em R$ 32,00. Já o BTG indica compra das ações, com alvo em R$ 33, mas, devido ao balanço subalavancado, reitera a preferência por Gerdau Metalúrgica (GOUA4).
Os destaques da Gerdau no 3T23
Com uma queda trimestral de 9% na produção e de 6,1% nas vendas, Gerdau apresentou receitas 1,4% inferiores às expectativas, avalia Arbetman, da Ativa.
Ainda assim, com custos 2,4% inferiores, a companhia apresentou uma margem bruta superior à projetada. Ademais, a evolução de apenas 0,1 ponto percentual da relação entre vendas, despesas gerais e administrativas (SG&A) e receitas não impediu que a margem Ebitda superasse a modelagem.
O fluxo de caixa livre (FCF) foi o principal destaque da Gerdau no trimestre. A alavancagem permanece em níveis baixos — a dívida líquida está agora em R$ 5,5 bilhões.
Mas, embora a companhia continue apresentando geração sólida, o BTG destaca que os dividendos ficaram abaixo das expectativas.
“A empresa também anunciou dividendos no valor de R$ 822 milhões, o que ficou 50% abaixo da nossa previsão, e levou a uma redução adicional na dívida líquida para apenas R$ 5,5 bilhões”, afirmam Greiner e Correa, do BTG.
Revista Mineração - SP 08/11/2023
Entre os anos de 2000 e 2022, a produção de aço na América Latina avançou 12%, para 63 milhões de toneladas anuais. Embora o crescimento tenha sido inferior à média mundial ex-China, de 20%, quando incluímos o mercado chinês essa expansão muda de perspectiva. A produção chinesa saltou 692% nesse período, chegando a 1,018 bilhão de toneladas.
Essa incrível disparidade entre a escala da produção na China e na América Latina conta apenas uma parte da história. E, para sermos francos, a parte mais adocicada. Mergulhando nos números, vemos um cenário bastante preocupante.
O primeiro ponto de alerta é que, nesse período de 20 anos, houve um processo contínuo de desindustrialização do aço latino-americano, invertendo os caminhos do comércio internacional. No ano 2000 nós exportamos 163,4 mil toneladas para a China, enquanto eles vendiam para o lado de cá do mundo cerca de metade desse volume. Realizando o comparativo do ano passado com o ano de 2000, nossas exportações caíram 94%, para meras 9,2 mil toneladas, enquanto as vendas de aço chinês para a América Latina saltaram 8.690%, para 7,09 milhões de toneladas.
Nos últimos 22 anos, a América Latina deixou de ser exportadora líquida de aço para a China e se tornou um grande mercado consumidor. Nesse processo, é natural que a capacidade produtiva local tenha sido prejudicada, impactando empregos e a pujança econômica da região.
Ao lado desse movimento de desindustrialização, a América Latina vem sofrendo um processo de primarização de sua indústria. As exportações de matérias-primas chinesas para a região recuaram 21% nesse período que estamos analisando, para 1,53 milhão de toneladas, enquanto as nossas exportações de matéria-prima para a China saltaram 1.458%, para 261,7 milhões de toneladas. No ano 2000, a América Latina já era uma forte exportadora de minério bruto – e essa situação somente se agravou.
Como consequência direta desse grande aumento das exportações de matérias-primas, toda a América Latina vem perdendo relevância como produtora de itens de valor agregado, se concentrando na extração de matérias-primas com menor valor agregado. Para a balança comercial da região, isso é péssimo: cada vez mais, vendemos minério bruto para adquirir bens processados, o que afeta nossa geração de empregos, a renda da população, a balança comercial da região e as perspectivas de geração de um futuro mais próspero.
Temos sentido na pele as consequências dessa mudança de vocação da indústria do aço na América Latina. No final de setembro deste ano, a Gerdau paralisou parte de sua capacidade produtiva no Brasil, com 600 pessoas com contratos de trabalho suspensos de Norte a Sul do país. E esse é apenas um exemplo entre tantos que temos na região. O fato é que estima-se que neste ano haja um excesso de capacidade produtiva da ordem de 650 milhões de toneladas – e a produção naturalmente migra para onde os custos são menores.
É impossível competir
Na raiz de todas essas questões está a impossibilidade de competir em pé de igualdade com a indústria chinesa. E é impossível competir porque eles atuam com regras muito diferentes das de qualquer país minimamente interessado em desenvolver a competição e estimular o empreendedorismo e uma cultura de livre mercado. O aço chinês não compete de isonômica com o aço latino-americano – ou, para ser mais exato, com o aço fabricado em qualquer lugar do mundo.
Mas por que é impossível competir com a indústria chinesa? O estado chinês controla as empresas locais, subsidiando suas empresas siderúrgicas (e de vários outros setores da economia). Dessa forma, é o estado que decide quanto custa produzir aço, reduzindo de forma drástica os custos com energia e insumos, aceitando atuar sem lucros (ou mesmo com margens negativas) para dominar o mercado.
Isso tem um nome: dumping. O governo chinês, focado em ganhar mercado, fomenta um sistema de custos baixíssimos, à custa de fortes subsídios e de desrespeito aos trabalhadores, que atuam em uma condição inaceitável para os padrões ocidentais. Nossa indústria quer competir e poderia muito bem competir em condições mais equitativas – mas a realidade é bem diferente.
Parte dos baixos preços praticados pelos chineses certamente vem de sua imensa escala de operação, mas o dumping é um problema real. De 1995 a 2022, foram abertas 1.489 denúncias na Organização Mundial do Comércio (OMC) referentes a produtos manufaturados metálicos, sendo 373 (25% do total) contra a China. Em 2022, das 66 ações vigentes na OMC referentes a produtos de aço, 43 se referiram à produção chinesa. Já no 1º semestre de 2023, de 63 ações vigentes, 40 se referem à produção da China.
O esforço chinês para vender por valores abaixo do preço de custo não é negativo somente para a concorrência – também é péssimo para o planeta. Os investimentos que têm sido realizados pelas empresas latino-americanas em iniciativas ESG, como a redução da pegada de carbono e o desenvolvimento do aço de baixas emissões de carbono, não são acompanhados pela China, onde o uso de fontes poluidoras continua a passos acelerados.
Para combater essa situação desequilibrada, é preciso tomar atitudes sérias. Em alguns dos países da América Latina, a tarifa de importação de aço fica muito abaixo do percentual de 25% adotado por mercados como Estados Unidos, União Europeia e, inclusive, México. No Chile, por exemplo, há uma preocupação significativa em relação aos preços distorcidos já que a produção de aço no país custa 40% a mais do que trazê-lo da China. Caso o panorama se mantenha, na siderúrgica de Huachipato, que atualmente se encontra em crise, fala-se em um risco de quase 20 mil empregos na região e cerca de 26,4 milhões de dólares que deixariam de ser injetados na economia.
Adotar uma alíquota semelhante teria o benefício de estimular a produção local, acelerar a geração de empregos, fomentar a inovação e valorizar as iniciativas ESG das empresas do setor. Além dessa medida, que poderia ser adotada rapidamente, outras iniciativas mais estruturantes podem e devem ser perseguidas em toda a América Latina, como a exigência de padrões de qualidade e ambientais, e o trabalho conjunto com os governos locais, a fim de melhorar e incentivar a competitividade sistêmica dos países latino-americanos para tornar o setor siderúrgico cada vez mais potente.
Sociedade, governos e empresas podem fazer muito mais pela defesa comercial de um setor extremamente relevante para a economia latino-americana. O que não é possível fazer é assistir, passivamente, a indústria do aço ser destruída por práticas comerciais abusivas. Como oportunidade de discutir o tema, o desempenho e os desafios do setor, a Alacero, Associação Latino-americana de Aço, realizará o Alacero Summit, congresso que acontecerá nos dias 08 a 09 de Novembro, das 8h às 15h, no Transamérica Expocenter, em São Paulo, Brasil.
O Estado de S.Paulo - SP 08/11/2023
Chamou-me a atenção a reação de alguns setores à recente decisão da indústria do aço de pedir ao governo elevação emergencial e temporária da alíquota de importação de 18 produtos siderúrgicos, para fazer frente à avalanche do aço que vem ingressando especialmente da China. Esses setores, de forma intrigante e incompreensível, alegam que a iniciativa não só estaria associada a um suposto oportunismo de elevação de preços, como também inviabilizaria o processo de reindustrialização.
Entendo que a importação e a exportação de bens fazem parte do livre mercado, desde que observadas condutas e práticas justas de comércio. Verifica-se que não é o que vem acontecendo há muito tempo no mercado internacional de aço. Há um enorme excesso de capacidade de produção de aço no mundo, grande parte do qual instalado na Ásia. Há, vale ressaltar, uma desaceleração do crescimento econômico, especialmente na China, e, consequentemente, vem diminuindo o consumo de aço em seu mercado doméstico. Diante da produção anual de mais de 1 bilhão de toneladas de aço – cerca de 31 vezes maior que a produção de aço no Brasil –, as siderúrgicas chinesas precisaram encontrar uma solução urgente para não ficarem com um estoque gigantesco de aço armazenado e terem de fechar suas usinas siderúrgicas.
A solução até então encontrada foi simples. Graças aos subsídios recebidos do governo, as empresas chinesas, em grande parte sob controle estatal, vêm exportando produtos siderúrgicos a preços frequentemente abaixo de seus custos de produção. Assim, a comparação de preços de produtos siderúrgicos no Brasil com aqueles praticados pela siderurgia chinesa não é justa. Qual empresa siderúrgica no Brasil ou em qualquer outro país que respeite as leis da economia consegue fazer isso sem fechar as portas?
É com esta situação de concorrência que a indústria de aço brasileira está se defrontando atualmente. Alguns distribuidores e empresas consumidoras de aço no País vêm se aproveitando desta prática destrutiva de preços de países asiáticos para importar grandes volumes de produtos siderúrgicos e, em silêncio, aumentar suas margens, mesmo que à custa da destruição do parque siderúrgico do País e da perda de empregos. Neste momento, garantir empregos de qualidade e especializados é questão muito importante para o Brasil.
Nos últimos dez anos, a média mensal de importações de aço foi de cerca de 252 mil toneladas de aço, das quais 113 mil toneladas vieram da China. Em 2023, a média de janeiro a agosto foi de 398 mil toneladas mensais, sendo 216 mil provenientes da China, representando 54% do total. Em setembro passado, as importações brasileiras de aço alcançaram o volume de 550 mil toneladas, das quais cerca de 67% oriundas da China. Nesse mês, as importações representaram 23% do consumo de aço no País, quando historicamente este porcentual vinha sendo de 12%.
Para fazer frente a esta avalanche de aço, é compreensível e defensável que a indústria do aço esteja pleiteando a elevação da alíquota de importação de alguns produtos siderúrgicos para 25% (a tarifa atual é de 9,6%). Outros países adotaram rapidamente medidas para evitar a implosão dos seus parques siderúrgicos e a demissão massiva. Estados Unidos, 28 países europeus e o México já elevaram o imposto de importação de aço para 25%. Não se trata, portanto, de uma invenção brasileira. Todos esses países constataram a urgente necessidade e prioridade de defender a sua indústria e os empregos. O Brasil não poderá agir de forma diferente, se quiser manter a produção de aço no País.
Precisamos parar de exportar renda e empregos para outros países e voltar a ter uma produção industrial feita por brasileiros e para os brasileiros. A reindustrialização defendida pelo governo, pelas indústrias e por nós, trabalhadores, pressupõe o fortalecimento das cadeias de produção no País e a maior oferta de empregos qualificados.
Uma indústria nacional forte é base essencial para o crescimento da economia brasileira e deveria ser do interesse de todos os setores que a compõem. É importante que todos os setores envolvidos – governo, trabalhadores e empresários – se unam para o crescimento sustentável, sem ceder a eventuais ganhos individuais de pouca duração. À queda de um setor de produção muito importante no País sucederão outras quedas, em efeito-dominó, até sermos completamente dominados e perdermos pontos estratégicos, como a indústria nacional.
A pandemia de covid ressaltou a extrema dependência do mundo em relação a matérias-primas e insumos produzidos em pouquíssimos países. Da mesma forma, petróleo e aço são pilares de nossa soberania e nossa segurança nacional, e não podemos ficar reféns do seu suprimento por outros países.
Nós, trabalhadores, defendemos a produção industrial, investimentos em tecnologia e desenvolvimento social no País como motor do crescimento econômico e da melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Se nada for feito para controlar as importações predatórias de aço que atuam com intermediários das vendas de aço, mais usinas siderúrgicas paralisarão suas operações, gerando demissões, desabastecimento de aço e consequente desarranjo das cadeias produtivas no País. É importante destacar que isso envolve uma cadeia, com geração de empregos, nos setores metalúrgico, químico, de minério, transporte, alimentação, entre outros.
Neste cenário, todos nós seremos perdedores.
O Brasil precisa de uma política de fortalecimento da indústria, que garanta empregos de qualidade e competitividade no cenário internacional.
Valor - SP 08/11/2023
Maior entrada de produto importado já levou siderúrgica a cortar 700 postos de trabalho
Gustavo Werneck: “É urgente que o governo efetue medidas de curtíssimo prazo” — Foto: Gabriel Reis/Valor
O crescimento na entrada de aço importado no país, que se tornou queixa recorrente da indústria brasileira em 2023, deixou marcas no balanço e nos dividendos anunciados pela Gerdau no terceiro trimestre. No período, o lucro líquido da companhia recuou 47% na comparação anual, a R$ 1,6 bilhão. O dividendo de R$ 822 milhões, menor do que o esperado e do que o anunciado pela holding, foi interpretado pelos investidores como um sinal de que a siderúrgica antevê ainda momentos difíceis, em particular no mercado doméstico.
Em conversa com jornalistas, o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, disse na terça-feira (7) que a situação dos produtores de aço no país “está ficando dramática” devido ao aumento na importação, a maior parte vinda da China. O volume de aço importado subiu 58% entre janeiro e setembro deste ano, afirmou, para 5 milhões de toneladas. Ao contabilizar também o insumo que entra de forma indireta, a importação deve chegar a 10 milhões de toneladas, volume equivalente à produção de duas grandes usinas integradas.
As condições mais ácidas no mercado doméstico também se refletem na decisão de pagamento de proventos, segundo o vice-presidente de finanças da Gerdau, Rafael Japur, uma vez que ela depende da capacidade de geração de reais.
“Em momentos como o de hoje, em que a operação local enfrenta uma enxurrada de importações e tem uma carteira de investimentos elevada, a gente começa a depender de trazer recursos de outras subsidiárias para fazer a distribuição de dividendos, em movimentações que nem sempre são oportunas”, disse o executivo.
Conforme Japur, há espaço para reavaliar a distribuição de dividendos nos próximos trimestres. Mas, sob a perspectiva atual, “de enxurrada de importados sem uma tendência de redução”, a postura é de cautela na distribuição de recursos a partir do Brasil. A Metalúrgica Gerdau, que controla a siderúrgica, também vai pagar dividendos, de R$ 960,4 milhões.
Segundo o comando da empresa, a China está “inundando” o mercado nacional com seu aço, que chega com preço abaixo do custo que se tem para produzir no Brasil. “É aço que não segue as recomendações e normas da Organização Mundial do Comércio”, destacou Werneck.
A Gerdau pleiteia, junto com outros produtores, um aumento na tarifa sobre a importação do material, de 12% para 25%. Segundo o executivo, a taxa de 25% é a mesma implementada pelo México, que tem condições parecidas com as do Brasil. “É urgente que o governo implemente medidas de curtíssimo prazo”, disse.
A entrada de aço estrangeiro já estaria causando demissões e redução de capacidade produtiva. Werneck afirma que a Gerdau já demitiu 700 funcionários no país e está com três usinas paradas. “Vamos continuar sofrendo novos fechamentos de capacidade, se nada for feito”, disse.
Essas reduções foram realizadas em usinas de todo o país, exceto na unidade de Ouro Branco (MG). Além dos desligamentos, há turmas em férias e com suspensão temporária do emprego.
A Gerdau teve uma queda de 5,3% na venda de aço no Brasil no terceiro trimestre deste ano, sobre o mesmo período do ano passado. No acumulado até setembro, o recuo é de 8,5%, para 3,88 milhões de toneladas. A produção ficou estável, com queda de 0,2% no trimestre, para 1,28 milhão de toneladas, mas caiu 9,1% no acumulado do ano, para 3,98 milhões de toneladas.
Werneck afirmou ainda que a média histórica de 25% de exportações do aço produzido pela Gerdau no país não está ocorrendo porque não há mercado para o produto nacional, “já que a China tem inundado o mundo com aço subsidiado”.
Apesar da desaceleração da demanda global e da entrada elevada de aço importado, os resultados da Gerdau em nove meses já corresponderiam ao terceiro melhor ano da sua história, o que mostra que, mesmo com os desafios, os números ainda são expressivos. Entre janeiro e setembro, a receita líquida somava R$ 54,2 bilhões, queda de 15,9%, e o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado estava em R$ 11,5 bilhões, baixa de 35,9%.
Entre 2021 e 2026, a siderúrgica planeja investir R$ 11,9 bilhões em suas operações e já executou aproximadamente um terço desse valor, também na operação Brasil. Ao mesmo tempo, a companhia segue em sua jornada de retirar capacidades de aço do mercado, por causa da competição “desleal” com o produto importado, e de redução de custos, diante da avaliação de que o cenário de entrada excessiva de aço importado vai permanecer no curto prazo.
Para as operações na América do Norte, as perspectivas são positivas, apesar da recente acomodação da demanda. Em aços especiais, o mercado automotivo nos Estados Unidos permanece com bom desempenho, mas a produção ainda está abaixo dos níveis históricos, enquanto o mercado de óleo e gás segue resiliente. No Brasil, a produção de veículos no ano foi revista para baixo e a produção de máquinas agrícolas também deve recuar.
IstoÉ Dinheiro - SP 08/11/2023
A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 7, traz longa exposição sobre a piora do cenário global e os mecanismos de transmissão da alta de juros de países avançados para a economia doméstica. Para o Copom, “a conjuntura internacional se mostra adversa” e “os riscos em torno do cenário global cresceram”.
O colegiado avalia que – diante de um contexto geopolítico incerto, conjugado com mercado de trabalho aquecido e hiato do produto apertado em avançados – a estratégia de aperto monetário prolongado tem sido fundamental para conter a inflação mundial, facilitando o controle inflacionário dos países emergentes. “Por outro lado, o aperto monetário global pode trazer pressões sobre o câmbio e impactar o preço dos ativos domésticos, contribuindo para um processo desinflacionário interno mais lento no curto prazo”, admite o BC.
A ata passa então a debater a elevação das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, que restringe as condições financeiras. Para o Copom, ainda é incerta a defasagem e a magnitude dessa alta de juros sobre a atividade econômica dos EUA, que segue resiliente.
“Face à elevação das taxas de juros de longo prazo observada, o Comitê discutiu, inicialmente, as possíveis razões desse fenômeno. Em sua discussão, o Comitê deu maior ênfase às perspectivas fiscais, em particular nos Estados Unidos, enfatizando seus impactos sobre as condições financeiras globais. Também se discutiu como a resiliência da economia norte-americana impactará a duração do aperto necessária para a convergência da inflação nos Estados Unidos. Na visão de alguns, o cenário atual é carregado de incerteza e a combinação do aperto substancial das condições financeiras com a resiliência da atividade pode tornar mais difícil o atingimento de um pouso suave”, detalhou o documento.
Por fim, a ata lista os múltiplos canais de transmissão da taxa de juros dos EUA para a economia brasileira, como: diferencial de juros, prêmio a termo na curva de juros, demanda externa, câmbio, taxa neutra de juros, preço das commodities, entre outros.
“Enfatizou-se, em primeiro lugar, o impacto da necessidade de atração de recursos para financiar uma dívida mais alta nos países desenvolvidos. Em tal ambiente, com taxas de juros de dívidas soberanas mais elevadas em economias centrais, nota-se um impacto em outros mercados, tanto de dívida soberana de emergentes quanto de crédito privado, cujo impacto final será tão maior quanto maior for o tempo de juros mais elevados, podendo levar a realocações no processo de rolagem de dívidas”, avaliou o Copom.
O BC destaca ainda o canal do câmbio, que tem efeito direto sobre a inflação. Mas, apesar da gravidade de eventos externos – como o conflito no Oriente Médio e o movimento “substancial” nos preços de ativos internacionais – o Copom considerou que o câmbio e o preço do petróleo tiveram variações “até o momento moderadas”.
“Por fim, ao incorporar os múltiplos canais de transmissão em um ambiente de maior incerteza, o Comitê avalia que é apropriado adotar uma postura de maior cautela diante dos riscos envolvidos”, concluiu o colegiado.
Agência Brasil - DF 08/11/2023
Pelo quarto mês seguido, a taxa média de juros das concessões de crédito teve queda, desacelerando em 12 meses, segundo as Estatísticas Monetárias e de Crédito divulgadas nesta terça-feira (7) pelo Banco Central (BC). A taxa, considerando o conjunto dos recursos livres e direcionados, alcançou 30,5% ao ano em setembro, redução de 0,2 ponto percentual no mês.
O pico dos juros aconteceu em maio, com 32,3% ao ano. Nos 12 meses encerrados em setembro, o crescimento foi de 1,5 ponto percentual. Já nos 12 meses encerrados em agosto, a alta foi de 7,6 pontos percentuais.
O comportamento dos juros bancários médios ocorre em um momento em que a taxa básica de juros da economia, a Selic, também vem sendo reduzida. A Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação.
Após sucessivas quedas no fim do primeiro semestre, a inflação voltou a subir na segunda metade do ano, mas essa alta era esperada por economistas. Diante disso, na semana passada o BC cortou os juros pela terceira vez no semestre, para 12,25% ao ano, em um ciclo que deve seguir com cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões. Ainda assim, os membros do colegiado indicaram que poderão mudar o tempo do período de cortes, caso as condições tornem mais difícil reduzir juros.
De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Até o fim do ano, a previsão dos analistas é que a Selic caia para 11,75%. Com isso, a taxa de captação dos bancos (o quanto é pago pelo crédito) vem recuando. Desde abril, ela está em queda e ficou em 9,3% em setembro.
A elevação da taxa básica ajuda a controlar a inflação porque causa de reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, contendo a demanda aquecida. Quando o Copom diminui a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.
Crédito livre
No crédito livre para as famílias, a taxa média de juros chegou a 57,3% ao ano, com redução de 0,5 ponto percentual em relação a agosto e alta de 3,5 pontos percentuais em 12 meses. “Esse desempenho decorreu, principalmente, da redução das taxas médias praticadas nas principais modalidades [efeito taxa]”, explicou o BC.
Nas contratações com empresas, a taxa livre subiu 0,4 ponto percentual no mês e 0,1 ponto percentual em 12 meses, alcançando 22,9% ao ano. Segundo o BC, o resultado se deve a uma maior participação de modalidades com taxas mais elevadas em relação às de menor custo (efeito saldo).
Cartão de crédito
Para pessoas físicas, um dos destaque foi o cartão de crédito, com redução de 0,1 ponto percentual no mês e alta de 12,2 pontos percentuais em 12 meses, alcançando 101,4% ao ano.
No crédito rotativo, que é aquele tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão e dura 30 dias, houve queda de 4,4 pontos percentuais no mês e alta 50,2 pontos percentuais em 12 meses, para 441,1% ao ano.
A modalidade é uma das mais altas do mercado. Em outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou lei que limita os juros do crédito rotativo. A legislação define que as empresas emissoras de cartão têm 90 dias para encaminhar ao Conselho Monetário Nacional (CMN) uma proposta de regulamentação com definição desse teto.
Caso contrário, fica decidido que os juros não poderão ser maiores que o valor original da dívida. Ou seja, juros de 100% e não de mais de 400% ao ano como é cobrado atualmente.
Após os 30 dias, as instituições financeiras parcelam a dívida do cartão de crédito. Nesse caso do cartão parcelado, os juros reduziram 0,8 ponto percentual no mês e aumentaram 8,2 pontos percentuais em 12 meses, para 193,8% ao ano.
Também influenciou a redução dos juros para as famílias a taxa do crédito pessoal não consignado, com queda de 1,3 ponto percentual em setembro e alta de 9,7 pontos percentuais em 12 meses (91,3% ao ano). Por outro lado, os juros do cheque especial tiveram alta de 2,8 pontos percentuais no mês e de 0,1 ponto percentual em 12 meses (134,4% ao ano).
No crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. Já no crédito direcionado, as regras são definidas pelo governo, e se destina, basicamente, aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.
No caso do crédito direcionado, a taxa média para pessoas físicas ficou em 11% ao ano em setembro, redução de 0,5 ponto percentual no mês e alta de 0,2 ponto percentual em 12 meses. Para as empresas, a taxa subiu 0,7 ponto percentual no mês e 1,9 ponto percentual em 12 meses, para 11,4% ao ano.
Contratações
A manutenção prolongada dos juros em alta - resultado do aperto monetário - e a própria desaceleração da economia levaram também a uma desaceleração do crédito bancário. Em setembro, as concessões de crédito subiram 0,5% para as pessoas físicas e 3,8% para empresas. Em agosto, esses aumentos foram de 8% e 3,8% para esses segmentos, respectivamente.
Em setembro, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ficou em R$ 5,575 trilhões, um crescimento de 0,8% em relação a julho. O resultado refletiu o aumento de 1,6% no saldo das operações de crédito pactuadas com pessoas jurídicas (R$ 2,196 trilhões) e o incremento de 0,3% no de pessoas físicas (R$ 3,379 trilhões).
Na comparação interanual, o crédito total cresceu 8% em setembro, mantendo a tendência de desaceleração observada desde meados de 2022. Em agosto, esse crescimento havia sido de 9%. Nas mesmas bases de comparação, os estoques de crédito para pessoas jurídicas e pessoas físicas desaceleraram, com expansões de 4,4% e 5%, respectivamente, ante 10,5% ante 11,8% em agosto, na mesma ordem.
Já o crédito ampliado ao setor não financeiro, que é o crédito disponível para empresas, famílias e governos, independentemente da fonte (bancário, mercado de título ou dívida externa), alcançou R$ 15,467 trilhões, com redução de 0,5% no mês. O principal fator dessa queda foram os títulos da dívida pública, que diminuíram 3,9%.
Em 12 meses, o crédito ampliado cresceu 7,1%, ante 8,9% em agosto deste ano.
Endividamento das famílias
Segundo o Banco Central, a inadimplência - considerados atrasos acima de 90 dias - tem se mantido estável há bastante tempo, com pequenas oscilações e registrou 3,5% em setembro. Nas operações para pessoas físicas, ela está em 4%, e para pessoas jurídicas em 2,7%.
O endividamento das famílias - relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses - ficou em 48% em agosto, aumento de 0,2 ponto percentual no mês e queda de 1,7% em 12 meses. Com a exclusão do financiamento imobiliário, que pega um montante considerável da renda, o endividamento ficou em 30,4% no nono mês do ano.
Já o comprometimento da renda - relação entre o valor médio para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período - ficou em 27,5% em agosto, redução de 0,1 ponto percentual na passagem do mês e no mesmo patamar em 12 meses.
Esses dois últimos indicadores são apresentados com uma defasagem maior do mês de divulgação, pois o Banco Central usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
CNN Brasil - SP 08/11/2023
Os países em desenvolvimento devem pelo menos US$ 1,1 trilhão (R$ 5,37 trilhões) a credores da China, de acordo com uma nova análise de dados publicada na segunda-feira (6).
Segundo o levantamento, mais da metade dos milhares de empréstimos que a China concedeu ao longo de duas décadas são devidos num momento em que muitos dos devedores enfrentam dificuldades financeiras.
Nesse cenário, é crescente o número de reembolsos de empréstimos vencidos aos credores chineses, de acordo com a AidData, um laboratório de investigação universitário da William & Mary, na Virgínia.
A AidData concluiu que quase 80% da carteira de empréstimos da China no mundo em desenvolvimento está voltada para apoiar países em dificuldades financeiras.
Ao longo dos anos, Pequim vem direcionando investimentos para o financiamento de infraestrutura nos países mais pobres – inclusive no âmbito de um esforço que o presidente da China Xi Jinping classificou como o carro-chefe da “Iniciativa Cinturão e Rota”, lançada há uma década neste outono.
Esse financiamento fluiu liberalmente para estradas, aeroportos, ferrovias e centrais elétricas da América Latina ao Sudeste Asiático e ajudou a impulsionar o crescimento econômico entre os países mutuários.
Ao longo do caminho, a iniciativa aproximou muitos governos de Pequim e vem consolidando a China como um dos maiores credores do mundo, ao mesmo tempo que provocou acusações de empréstimos irresponsáveis.
Agora, 55% dos empréstimos do setor oficial da China aos países em desenvolvimento entraram nos seus períodos de reembolso, de acordo com a análise de mais de duas décadas de financiamento estrangeiro da China em 165 países, divulgada pela AidData.
Essas dívidas vencem durante um novo e desafiante clima financeiro de taxas de juro elevadas, moedas locais em dificuldades e abrandamento do crescimento global.
“Muitos destes empréstimos foram emitidos durante [o período do Cinturão e Rota, iniciado em 2013] e vieram com períodos de carência de cinco, seis ou sete anos, e então [os esforços internacionais de suspensão da dívida durante a pandemia] acrescentaram dois anos de carência adicionais, nos quais os mutuários não tiveram de pagar pelos empréstimos”, disse o diretor executivo da AidData e autor do relatório, Brad Parks, à CNN.
“Agora, a história está mudando. Durante a última década, a China foi o maior credor oficial do mundo, e agora estamos neste ponto crucial em que se trata realmente [da China] ser o maior cobrador oficial de dívidas do mundo”, disse Parks.
A projeção da AidData reflete números do seu banco de dados, o qual analisa o equivalente a US$ 1,34 trilhão (R$ 6,54 trilhões) em compromissos de empréstimos e subvenções do governo da China e de credores estatais a mutuários dos setores público e privado em países de baixo e médio rendimento entre 2000 e 2021.
Esse conjunto de dados – constituído de informações oficiais e de fontes públicas sobre os empréstimos e subsídios individuais – proporciona um dos mais amplos panoramas sobre as atividades de financiamento chinesas.
Os investigadores também citaram dados comunicados por credores ao Banco de Compensações Internacionais, com sede na Suíça, que, segundo eles, indicam que os mutuários dos países em desenvolvimento devem aos credores chineses pelo menos US$ 1,1 trilhão e até US$ 1,5 trilhão (R$ 7,32 trilhões) em 2021.
Gestora de crises
A AidData diz que Pequim nunca teve de lidar com mais de 10 países em dificuldades financeiras e com dívidas não pagas até 2008. Mas, em 2021, os dados indicam que havia pelo menos 57 países com dívidas pendentes a credores estatais chineses que estavam em dificuldades financeiras.
Este parece ser um fator que altera a forma como a China concede empréstimos.
O financiamento para os grandes projetos de infraestruturas que conquistaram a boa vontade de Pequim em todo o mundo em desenvolvimento está em forte declínio. Em vez disso, a China visa fornecer números substanciais de empréstimos de resgate de emergência, de acordo com a AidData.
No entanto, os empréstimos chineses não estão chegando ao seu patamar mais baixo. A China continua a ser a maior fonte oficial de financiamento do desenvolvimento do mundo e continua a financiar mais do que qualquer economia desenvolvida do G7, bem como credores multilaterais, dizem os investigadores.
Isso ocorre mesmo quando os Estados Unidos e os parceiros do G7 intensificaram seus esforços. Juntos, os membros do grupo gastaram mais do que a China em cerca de US$ 84 bilhões (R$ 410,06 bilhões) em 2021.
Os compromissos gerais de financiamento da China para o mundo em desenvolvimento diminuíram no início da pandemia, de acordo com a AidData.
Os investimentos caíram de um pico que se aproximava dos US$ 150 bilhões (R$ 732,25 bilhões) em 2016 e caíram abaixo dos US$ 100 bilhões (R$ 488,17 bilhões) em 2020 pela primeira vez desde 2014.
Mas o financiamento segue na casa das dezenas de bilhões de dólares, de acordo com os dados mais recentes da AidData, que documentou US$ 79 bilhões (R$ 385,65 bilhões) em compromissos para 2021, incluindo subvenções e empréstimos, um aumento de US$ 5 bilhões (R$ 24,41 bilhões) em relação ao ano anterior.
Em comparação, os compromissos de financiamento do Banco Mundial totalizaram cerca de US$ 53 milhões (R$ 258,73 milhões) em 2021.
No entanto, os empréstimos chineses para projetos de infraestruturas, em porcentagem dos compromissos totais com países mutuários de baixo e médio rendimento, caíram de 65% em 2014 para 50% em 2017, e novamente de 49% em 2018 para 31% em 2021.
Nesse ano, 58% dos empréstimos foram empréstimos de resgate de emergência, que ajudam os países em dificuldades a manterem-se à tona, reforçando as reservas estrangeiras e as notações de crédito ou ajudando-os a fazer pagamentos de dívidas a outros credores internacionais.
Isto significa que a China está agindo cada vez mais como um “gestor de crises internacionais”, de acordo com a AidData, que destacou que o resgate dos mutuários depende dos seus riscos para o setor bancário chinês.
“É muito revelador que nem todos os que estão sobreendividados obtenham um empréstimo de resgate de emergência da China – o que descobrimos é que eles realmente só canalizam esses empréstimos para os maiores mutuários do Cinturão e Rota, onde os bancos chineses têm a maior exposição no balanço patrimonial”, disse Parks.
“A um nível superficial, a China está resgatando os mutuários, mas a um nível mais profundo está resgatando também os seus próprios bancos.”
Impactos
O impacto que estes empréstimos poderão ter no setor bancário da China, que está sobrecarregado por problemas crescentes com a dívida interna, não é claro.
A China juntou-se a outros credores em negociações conjuntas sobre o alívio da dívida para mutuários em dificuldades, como a Zâmbia e o Gana, mas os investigadores da AidData sugerem que também pode ter minado os esforços para o alívio coordenado, ao “abrir caminho para a frente da linha de reembolso, exigindo que os mutuários forneçam recurso a garantias em dinheiro que outros não possuem”.
A segunda maior economia do mundo também tem emitido penalidades mais severas para reembolsos tardios, disseram.
A China tem defendido consistentemente o seu histórico de alívio da dívida, dizendo que desempenhou um papel “positivo” e “construtivo” nos esforços multilaterais, observando em outubro que “a sustentabilidade da dívida continuou a melhorar” para o programa Cinturão e Rota.
Olhando para o futuro, também avançou para acordos de empréstimos sindicalizados, nos quais a China trabalha com bancos comerciais ocidentais e instituições multilaterais para avaliar projetos e reduzir riscos futuros, de acordo com as conclusões da AidData.
Metade da carteira de empréstimos não emergenciais da China aos países em desenvolvimento é agora fornecida através de acordos de empréstimos sindicalizados, com mais de 80% destes acordos envolvendo parceiros ocidentais ou multilaterais, disseram.
Nos últimos anos, a China também tomou medidas para recalibrar a Iniciativa Cinturão e Rota, com o objetivo de reforçar a supervisão e reduzir os riscos, no meio de reações negativas sobre preocupações ambientais, sociais e laborais sobre os projetos.
As autoridades chinesas defenderam o impacto da iniciativa. Num fórum realizado em Pequim no mês passado, centrado na iniciativa Cinturão e Rota, as autoridades saudaram o que consideraram ser uma nova fase do projeto centrada no desenvolvimento de “alta qualidade”.
Entretanto, para os países já endividados e que procuram refinanciar com os empréstimos de resgate de emergência de Pequim, os investigadores da AidData alertaram que “devem estar conscientes do perigo de trocar dívidas menos caras por dívidas mais caras”.
IstoÉ Dinheiro - SP 08/11/2023
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que a inflação cheia está caindo bastante no mundo, mas as taxas de juros tendem a se manter altas por mais tempo. Em países avançados, destacou, a Inglaterra está com queda menos acentuada. Nos países emergentes, o Brasil está com processo de desinflação “abrupto”.
“Existia um certo nível de convicção sobre a desinflação global”, disse Campos Neto logo no início de seu discurso. Ele ressaltou que existem desafios para essa desinflação, o que significa que as taxas de juros internacionais podem ficar mais altas por mais alta, o que implicações para a liquidez do mundo e no crédito para emergentes.
Em diversos países os núcleos encontram em patamares superiores às metas, o que reforça a visão de juro alto por mais tempo, reforçou o presidente do BC. “Vemos núcleos na inflação global caindo mas ainda em níveis elevados.”
Roberto Campos Neto disse que o cenário global de inflação desacelerou um pouco, e ainda precisa ser monitorado de perto. Esse processo tende a ser lento e tem muitos desafios, afirmou em evento da Bradesco Asset nesta terça-feira, 7.
Havia uma tese de que a desinflação da economia mundial iria ser empurrada por diversos, mas esse movimento tem se mostrado desafiador, afirmou Campos Neto. No mercado imobiliário, por exemplo, os preços dos imóveis voltaram a subir na economia mundial. “Não parece que desinflação virá daí.”
“Provavelmente vamos ter taxas de juros mais altas (no mundo) por mais tempo”, disse o presidente do BC.
Campos Neto falou também da reorganização das cadeias mundiais, e de fenômenos como o “nearshoring”, em que países desenvolvidos tendem a fazer mais comércio com vizinhos politicamente alinhados. “México e Vietnã são países beneficiados pela fragmentação das cadeias. O Brasil é candidato.”
Globo Online - RJ 08/11/2023
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta terça-feira, por 20 a 6, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Tributária. O texto segue agora para o plenário da Casa, onde deve ser votado nesta quarta-feira. A PEC tem de ser aprovada por 49 dos 81 senadores, em dois turnos.
Como o texto foi modificado, terá de passar por uma nova votação na Câmara dos Deputados para então ser promulgada. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-RJ), defendeu o fatiamento da PEC para que esse processo seja finalizado ainda neste ano.
Na última versão, o relator Eduardo Braga (MDB-AM) voltou a ampliar parte das exceções da proposta e criou o cashback obrigatório no consumo de gás de cozinha para famílias de baixa renda. O texto-base ainda tem uma série de outros setores e produtos com benefícios fiscais, como medicamentos, veículos a álcool e para taxistas.
— A sessão de amanhã será exclusivamente dedicada a reforma tributária — disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O que é a reforma?
A votação foi possível após acordos políticos que custaram o aumento de exceções. Para agradar estados do Centro-Oeste, Braga voltou atrás e permitiu a criação de nova contribuição sobre produtos primários para abastecer fundos estaduais. O relator também atendeu o setor automotivo e estendeu isenções fiscais para produção de veículos movidos a etanol.
Além disso, desde a primeira versão do relatório, Braga havia atendido o apelo de associações de profissionais liberais para uma alíquota menor.
— O resultado de hoje nos dá bastante confiança de que no plenário teremos número para aprovar a Emenda Constitucional. Um requerimento de calendário especial já está na mesa do Senado. Se o calendário for aprovado, o presidente Rodrigo Pacheco estará habilitado a pautar a PEC no plenário — disse Braga.
O relator também voltou a se declarar contra a possibilidade de fatiar a proposta para votações em separado. A alternativa foi citada novamente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O texto deve voltar para a análise dos deputados.
— O sistema tributário é bastante complexo. O fatiamento dependeria muito do consenso que acontecer, sob pena de termos uma inviabilidade da aplicação do sistema tributário — ressaltou Braga.
Isenções ampliadas
Para tentar destravar a reforma e garantir votos ao texto, Braga fez modificações no texto, mas justificou que as concessões feitas tiveram compensações.
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— Para cada concessão que foi feita no relatório do dia 25, houve uma redução de concessão dada pela Câmara dos Deputados. Para cada uma das questões, nós fomos milimetricamente fazendo as compensações — disse o relator.
Entre as isenções fiscais ampliadas, o senador preservou a atual isenção na compra de automóveis por pessoas com deficiência ou no espectro autista, bem como por taxistas. Ele também incorporou na alíquota zero a aquisição de medicamentos e dispositivos médicos adquiridos pela Administração Pública e por entidades de assistência social sem fins lucrativos.
Eduardo Braga ainda estendeu a isenção de imposto para indústrias automotivas que invistam em carros movidos a álcool. No texto anterior, ele permitia a concessão de créditos tributários para produção de veículos elétricos. A manutenção será válida para plantas de fábricas aprovadas ou implantadas até dezembro de 2025.
O benefício atende, principalmente, governadores do Nordeste, que fecharam contratos recentemente com indústrias automotivas chinesas.
O relator da Reforma Tributária também garante no novo texto a imunidade de IPVA para embarcações que exerçam atividades econômicas. “Adequamos a imunidade de IPVA para plataformas de forma a abranger aquelas cuja finalidade principal seja a exploração de atividades econômicas em águas territoriais e na zona econômica exclusiva e embarcações que tenham essa mesma finalidade principal”, diz o texto.
A "cidade dos sonhos" tem ruas estreitas onde as pessoas têm prioridade sobre os veículos. Há muitas árvores e áreas verdes, e muita vida ao ar livre.
A nova versão da Reforma Tributária também retoma uma proposta da Câmara dos Deputados de incluir a possibilidade de criação de uma contribuição dos estados sobre produtos primários, para abastecimento de fundos próprios. Essa contribuição será extinta no final de 2043.
A medida é um aceno aos estados do centro-oeste que se sentiram prejudicados com a divisão do Fundo de Desenvolvimento Regional. Os recursos serão distribuídos com prioridade para estados com menor PIB e maior população.
Número elevado de exceções
O Ministério da Fazenda estima que o número elevado de regimes especiais pode levar a necessidade de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) de até 27,5%.
Entre as alterações de maior destaque, já descritas em relatório de Eduardo Braga, estão a criação de uma alíquota reduzida em 30% do imposto padrão para profissionais liberais, como médicos, advogados e engenheiros. Braga também instituiu um novo tipo de alíquota para a cesta básica.
Além da alíquota zerada, sugerida pela Câmara dos Deputados, também haverá uma alíquota reduzida em 60% para produtos da chamada “cesta estendida”. A lista detalhada será determinada em lei complementar.
O texto de Braga estabeleceu, por exemplo, novos regimes específicos, que poderão ter alíquotas mais baixas que a padrão: serviços de saneamento e de concessão de rodovias, serviços de telecomunicações, agências de viagens e turismo, transporte coletivo de passageiros intermunicipal e interestadual.
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) avalia que, diferentemente do que é defendido pelo setor de comércio e serviços, por exemplo, a reforma não aumentará a carga tributária em relação a hoje. Isso porque, o atual sistema já possui uma série de cobranças escondidas na cadeia de produção.
— Quem hoje vende um discurso de que a alíquota vai ser absurda, de que o impacto vai ser muito grande na vida das pessoas, na verdade não está informando o cidadão. Ele hoje já paga uma carga maior do que essa sugerida, só que ela está oculta. — disse Vieira.
O relator Eduardo Braga aceitou também a diminuição de 180 para 90 dias do prazo para o governo apresentar projeto de lei com sugestões de alterações nos impostos de renda e folha de pagamento. Alteração foi solicitada por Alessandro Vieira.
Trava de alíquota
Eduardo Braga ainda criou uma trava para evitar o aumento da carga tributária no país. Será calculado uma média de arrecadação em relação ao PIB, entre 2012 e 2022. Esse percentual será o limite que União e entes federativos poderá arrecadar, chamado de teto de referência. Caso a carga tributária ultrapasse esse valor, precisará ser obrigatoriamente diminuída.
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O valor estipulado será revisto a cada cinco anos, com atualização de novos PIBs anuais. O parecer também estabelece a revisão a cada cinco anos de setores em regimes especiais e beneficiados por alíquotas reduzidas.
— Fizemos uma ‘trava’ sobre a carga tributária, criando um valor de referência sobre essa carga e projetando os quatro primeiros anos de implementação, seja do CBS, seja do IBS, para aferir uma média. Esta média, comparada com o valor de referência, se for maior, obrigará a redução da alíquota. Se for menor ou igual, abre-se espaço para a implementação de políticas públicas. Portanto, garantindo o fundamento da neutralidade da carga tributária para o contribuinte — afirmou Braga.
O líder do União Brasil, Efraim Filho (PB), porém, defende um teto fixo para a alíquota de IVA, assegurando que a carga tributária não seria elevada.
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— A trava da carga tributária é bem-vinda, mas as pessoas perguntam: "Quanto eu vou pagar de imposto?". E essa resposta só pode ser dada se nós trouxermos a alíquota de referência de 25%, preservando, por exemplo, a questão dos produtos do agronegócio, da saúde e da educação. Não são esses os vilões da história. Então, vamos manter essa posição, manter o apelo - que inclusive será fruto de destaque, se for o caso - de que a gente tenha uma alíquota para poder transmitir uma mensagem ao cidadão brasileiro. O Congresso e o Senado não votarão uma Reforma Tributária que signifique aumento de imposto — disse.
Braga, porém, rebate:
— Por que não 15, 12 ou 10% (de alíquota)? Porque o sistema brasileiro não é igual ao de outros países. Arbitrar uma alíquota qualquer é uma ficção tributária, é discurso político.
Fundo Regional
Em acordo com a Fazenda, Braga elevou de R$ 40 bilhões para R$ 60 bilhões o aporte anual do governo federal no Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR) e determinou a distribuição dos recursos seguindo critérios de renda do estado e população.
O FDR será usado pelos estados para conceder incentivos locais dentro do novo sistema tributário. O desembolso começa em R$ 8 bilhões em 2029 e sobe até chegar a R$ 60 bilhões em 2043.
Em outra alteração, ele propôs que o mecanismo conhecido como "cashback", ou seja, de devolução de imposto cobrado, seja obrigatório "nas operações de fornecimento de energia elétrica ao consumidor de baixa renda". A lista de produtos da cesta básica estendida, que terão alíquota reduzida, também poderão ter cashback para baixa renda.
Prêmio por arrecadação
O relator criou um mecanismo para premiar estados e municípios que forem mais eficientes e aumentarem as receitas ao longo do período de transição para o novo sistema tributário.
A intenção é evitar o chamado “efeito carona”, que permitiria aos governos estaduais e municipais manterem patamar de receitas semelhante ao atual, independentemente de esforço para fiscalizar o cumprimento da nova legislação ou do seu desempenho econômico.
Comitê gestor
Eduardo Braga também fez modificações no Conselho Federativo, que passa a se chamar Comitê Gestor. O relator retirou o poder do colegiado de editar normas infralegais em relação à distribuição da arrecadação com o IBS. Mas manteve a competência do órgão de distribuir a arrecadação, interpretar e aplicar os regulamentos que serão definidos em lei complementar, além de efetuar compensações de crédito.
O relator manteve, porém, a composição do comitê com 27 membros, representando cada Estado e o Distrito Federal; e 27 membros, representando o conjunto dos Municípios. As deliberações do Comitê Gestor serão aprovadas se obtiverem a maioria absoluta de seus representantes, sendo que a decisão precisa ser apoiada por estados que representam 50% da população do país.
Zona Franca de Manaus
Para manter os benefícios da Zona Franca de Manaus, a reforma passa a instituir uma Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide), um tipo de imposto, sobre importação, produção ou comercialização de bens industrializados que não sejam produzidos na Zona Franca de Manaus, e estejam entre as categorias também produzidas na região. Dessa forma, os bens produzidos na área continuariam mais baratos e competitivos. Eduardo Braga é amazonense.
Imposto seletivo
No relatório de Braga, o imposto seletivo (o imposto do pecado) não incidirá sobre as exportações, energia elétrica e telecomunicações. O tributo, porém, poderá incidir sobre armas e munições, exceto quando destinadas à administração pública.
O texto também abre a possibilidade de uma cobrança de 1% de alíquota sobre a extração de recursos naturais não renováveis, como petróleo cru e minérios. A determinação da cobrança, porém, será detalhada em lei complementar, que poderá trazer exceções na incidência.
Com a nova previsão, o combustível fóssil, como gasolina e diesel, poderá ter incidência dupla de imposto seletivo. Isso porque, a PEC também abre brecha para que o imposto seja cobrado para o combustível no final da cadeia.
Valor - SP 08/11/2023
O rating reflete a posição de liderança em termos de custo e de escala global de produção, mas é limitado pela concentração das atividades em mineração de ferro e pela exposição ao Brasil, dizem os analistas
A Fitch Ratings afirmou a nota de crédito da Vale em ‘BBB’ em escala global, com perspectiva ‘estável’. A agência também afirmou o rating ‘BBB’ para os títulos de dívida sêniores emitidos pela Vale Overseas e Vale Canada.
Segundo a Fitch, os ratings da Vale refletem sua posição de liderança em termos de custo e a escala global de sua produção, mas são limitados pela concentração de suas atividades em mineração de ferro e sua elevada exposição ao Brasil, que representa 90% de seu resultado operacional.
A nota de crédito em moeda estrangeira da companhia não é limitada pelo rating soberano do Brasil (‘BB’), pois os resultados operacionais gerados pelas operações do Atlântico Norte devem continuar cobrindo, em cerca de uma vez, as despesas consolidadas com juros em moeda forte.
A Fitch acredita que a Vale manterá baixa sua alavancagem e que irá gerar um forte fluxo de caixa, mesmo com as quedas de preços do minério.
Valor - SP 08/11/2023
Disputa envolve direito de explorar minério de ferro em uma das maiores barragens do país
Uma disputa entre a Vale e uma pequena empresa criada para prospectar oportunidades no mercado minerário se arrasta na Justiça há quase dez anos pelo direito de pesquisar minério de ferro nos rejeitos de uma das maiores barragens do Brasil, sob responsabilidade da mineradora.
O litígio envolve uma área de 480 hectares cujo alvará de pesquisa foi concedido em 2014 pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), rebatizado três anos depois de Agência Nacional de Mineração (ANM), à Itabiriçu Nacional Pesquisa Mineral LTDA, que praticamente só existe no papel.
A área cujo direito foi repassado à empresa faz parte do Complexo Minerário de Itabira (MG), onde a Vale foi fundada em 1942. Três quartos do terreno estão dentro da barragem do Itabiruçu, a segunda maior da mineradora no município.
O alvará concedido à Itabiriçu - registrada erroneamente com o “i”, o que a diferencia do nome da barragem - não é reconhecido pela Vale, que foi à Justiça para tentar anulá-lo e não permitiu, nesses quase dez anos, a entrada da empresa no local para realizar a pesquisa. O argumento é que o alvará, ainda ativo na ANM, está “em flagrante abuso de direito por uma empresa cujo único propósito é se enriquecer indevidamente à custa da Vale e criar obstáculos às atividades da companhia”.
O caso tramita no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, com recursos já apresentados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), e chegou no mês passado a uma corte do Texas, nos EUA. A Itabiriçu, com base em imagens de satélites, acusa a Vale de vender ilegalmente para siderúrgicas americanas mais de 100 milhões de toneladas de minério que estariam dentro polígono, abrindo assim um capítulo internacional da contenda.
No processo da Justiça brasileira, acessado pelo Valor, a Vale admite que a área em disputa tem “mais 70 milhões de toneladas de minério de ferro”, além de reunir “35% do minério existente na barragem de rejeitos de Itabiruçu”, que passa atualmente por expansão e tem pelo menos 130 milhões de metros cúbicos de rejeitos.
Trata-se de volume muito superior ao armazenado nas barragens que protagonizaram desastres ambientais em Minas Gerais: a de Brumadinho, que se rompeu em 2019, tinha capacidade de 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos, cerca de 25% do total da de Fundão, em Mariana, que rompeu em 2015.
A Vale nega a “lavra ilegal”, como sustenta a Itabiriçu, e ressalta que os materiais (rejeitos, estéreis e produtos) extraídos de outro local e porventura depositados na barragem são de sua propriedade. A mineradora cita resolução da ANM, de 2021, que diz que os “rejeitos fazem parte da mina onde foram gerados” e que o seu aproveitamento “independe da obtenção de nova outorga mineral, quando vinculados à mina onde foram gerados e exercido pelo titular do direito minerário em vigor”.
Nunca vi uma briga pelo rejeito da barragem (de minério de ferro)”
— Paulo Rodrigues
A área foi disponibilizada em setembro de 2012. Dois anos antes, a Vale, que detinha os direitos minerários do terreno desde a década de 1980, apresentou relatório no qual declarava a inexistência de recursos minerais aproveitáveis e demonstrava seu desinteresse pelo polígono.
O relatório, no entanto, foi recusado pelo DNPM, razão de o órgão ter colocado a área disponível para outros interessados. O processo foi realizado, sem a participação da Vale, e o alvará de pesquisa - passo inicial para quem deseja extrair minerais do solo brasileiro - foi então concedido à Itabiriçu.
Na época, prevaleceu o entendimento de outro parecer do DNPM: “as substâncias minerais existentes no rejeito e no estéril submetem-se ao mesmo tratamento jurídico do minério ‘in loco’, ainda não lavrado, e, portanto, o seu aproveitamento econômico depende da existência de título minerário”. A Itabiriçu protocolou mandado de segurança no STJ questionando a resolução da ANM, de 2021, que segundo ela usurpou uma função legislativa ao criar “um novo direito” sobre o aproveitamento dos rejeitos.
A empresa foi criada em 2014, mesmo ano da concessão do alvará de pesquisa. O responsável e sócio majoritário é Everaldo Gonçalves, um geólogo de 78 anos que já trabalhou com prospecção mineral na Amazônia, foi professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O objetivo, disse Gonçalves, é comprovar a viabilidade econômica dos rejeitos que estão na barragem, onde segundo ele se originou uma jazida antropogênica, que se forma graças à ação do homem.
O geólogo Paulo Rodrigues, especializado em mineração e integrante do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, afirma que um litígio como esse é raro. “Nunca vi uma briga pelo rejeito da barragem”, conta.
Rodrigues concorda que há uma questão sensível relacionada à segurança da barragem, argumento da Vale para proibir a entrada na área. “Se houver um problema e a barragem romper, de quem será a responsabilidade? ”, pergunta o geólogo.
Outro ponto sensível é que uma barragem nada mais é do que um lixo da exploração mineral. “Existe ali um histórico das atividades da Vale. Empresa nenhuma vai permitir que terceiros explorem o seu passado”, completou Rodrigues.
A discussão sobre o reaproveitamento dos rejeitos vem ganhando espaço, mas trata-se ainda de uma prática em desenvolvimento. A Vale ressalta que “emprega esforços” para viabilizar o reaproveitamento dos rejeitos, mas, para a comunidade de Itabira, cidade rodeada por 15 barragens, a mineradora sempre negou a viabilidade econômica deles.
“Itabira provavelmente tem o maior volume de rejeito de minério de ferro do mundo. As barragens são um risco permanente e a melhor forma de enfrentar isso, do ponto de vista ambiental e econômico, é com o reaproveitamento”, diz o jornalista Carlos Cruz, editor do site itabirano “Vila de Utopia”, que faz um acompanhamento da mineração e seus impactos na cidade.
TN Petróleo - RJ 08/11/2023
A PBGÁS e os fabricantes mundiais de veículos pesados apresentam nova tecnologia de uso do GNV em substituição ao óleo diesel. Em um simpósio realizado no último dia 31, em João Pessoa, especialistas discutiram sobre uso do gás natural em ônibus e caminhões, o crescimento desse mercado e sobre a infraestrutura necessária de postos de combustíveis no país e na Paraíba para oferecer autonomia desses veículos.
O diretor-presidente da PBGÁS, Jailson Galvão, destacou a importância da iniciativa conjunta com os fabricantes e agentes do mercado e da academia na busca de novas tecnologias para o uso do gás natural na transição energética e de sistemas com menor emissão de carbono e poluentes. Ele explicou que caminhões a gás oferecem uma redução de 20% de CO2 e de até 90% de dióxido de nitrogênio em relação ao diesel. “Esperamos que deste primeiro simpósio surjam parcerias para que tenhamos caminhões e ônibus a gás natural circulando na Paraíba”.
A gerente de mercado Industrial e Automotivo da PBGÁS, Fabiola Gomes, também apresentou os planos para o setor do gás natural na Paraíba, como o corredor rodoviário para veículos leves e pesados de GNV com a adaptação para abastecimento de caminhões e ônibus que necessitam da adaptação do bico para alta vazão. Na Paraíba, existem 37 postos de GNV e GNC que podem ser adaptados também para abastecimento de veículos de carga.
O Supervisor de Novos Negócios da MWM, Thiago Brito, destacou o diferencial dos novos motores a gás natural que mantem a mesma característica de torque e potência e consumo do diesel, mas emitem menos poluentes. “A autonomia depende da capacidade do cilindro, do modelo do caminhão e do peso da carga, mas temos caminhões que conseguiram chegar a até 600 km”, explicou.
“A ideia da Scania é trazer para seus clientes mais uma alternativa de veículos sustentáveis, fornecendo caminhões a gás natural desde 2019”. Explicou Adriano Brito, gerente de Vendas de Soluções da Scania, que destacou, ainda, que os governos estaduais e companhias de gás têm um papel fundamental na criação de uma infraestrutura de postos que possibilitem que um veículo possa circular em todas as regiões do país. Em sua palestra, o gerente de Desenvolvimento de Produtos da Iveco, Fábio Nicora, apresentou o portifólio dos caminhões e ônibus a gás natural lançados em novembro do ano passado.
“Hoje temos caminhões com autonomia de até 550 km a gás/biometano e que os motores a gás mantêm a mesma potência dos movidos a diesel. “Estamos apostando nessa tecnologia sustentável no caminho da descarbonização e creditamos que os nossos clientes também”. Na programação o gerente do BNB, André Emerick apresentou sobre linhas de financiamentos do Banco do Nordeste e o professor Doutor da UFPB, Benilton Nascimento, falou sobre o projeto de conversão de Motores Diesel para o uso de gás natural realizados no laboratório de engenharia mecânica. O Sest Senac e a Ademicon também apresentaram seus portifólios de produtos e serviços.
Valor - SP 08/11/2023
Os recursos serão usados na produção de novos veículos. Serão dois modelos utilitários esportivos, sendo um deles a próxima geração do compacto Kicks, o único modelo produzido hoje em Resende
A Nissan vai reforçar sua atividade industrial no Brasil. A montadora japonesa decidiu acrescentar R$ 1,5 bilhão aos R$ 1,3 bilhão anunciados no ano passado. Com isso, o programa que abrange o período entre 2023 e 2025 totalizará R$ 2,8 bilhões, um dos mais elevados do setor para esse intervalo de tempo.
O presidente mundial da companhia, Makoto Uchida, chegou ao Brasil na segunda-feira (6) e foi diretamente a Brasília anunciar a novidade ao presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, e a Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
“Vemos potencial de crescimento na região; Brasil e América Latina são estratégicos”, destacou o executivo, logo após o encontro com Lula. Uchida também disse que demonstrou preocupação com o crescimento econômico na conversa com o presidente. “Eu queria ter certeza dessa sustentabilidade (de crescimento).”
Os recursos serão usados na produção de novos veículos. Serão dois modelos utilitários esportivos, sendo um deles a próxima geração do compacto Kicks, o único modelo produzido hoje em Resende.
Um dos dois novos modelos será direcionado à exportação. A empresa pretende ampliar as vendas externas para mais países da América Latina, calculando abranger 20 mercados. Um dos dois modelos, cujos detalhes ainda não foram revelados, terá plataforma que poderá servir como base para uma versão híbrida (com motor a combustão e outro elétrico), que poderá funcionar com etanol, segundo Guy Rodriguez, presidente da Nissan na América Latina.
Os investimentos contemplarão, ainda, a produção de um motor turbo na linha de motores que ocupa uma estrutura industrial própria dentro do complexo de Resende. A expansão da produção requer o envolvimento de mais fornecedores. Quatro novos parceiros, cujos nomes ainda não foram revelados, assinarão contrato ainda hoje para instalarem-se no entorno da linha da Nissan em Resende.
Com o reforço em investimentos, novos modelos e fornecedores, a marca japonesa busca ampliar sua participação no mercado brasileiro. Segundo dados de emplacamentos da Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), a Nissan ocupa hoje o nono lugar do ranking brasileiro, com 3,4% das vendas de automóveis e comerciais leves.
Segundo Uchida, que está no comando da companhia desde 2019, a ambição é chegar a 7% do mercado brasileiro até 2026. Se a demanda pelos carros da marca aumentar, a fábrica de Resende terá que funcionar em três turnos. Será a primeira vez que essa unidade industrial, que completa 10 anos em 2024, poderá funcionar 24 horas por dia ininterruptamente.
Isso poderá acontecer por volta de 2027, calcula o executivo, o que exigiria a contratação de mais empregados. A empresa não diz quantas novas vagas poderiam ser abertas. Na abertura do segundo turno, em abril de 2022, foram criados 578 novos empregos. Hoje 1,3 mil pessoas trabalham na área de produção em Resende. Em 2022, a fábrica em Cordoba, na Argentina, onde é produzida a picape Frontier, também passou a operar em dois turnos.
Uchida diz que cada país tem seu perfil, e a produção de veículos precisa estar dedicada às características locais. O estilo e o design dos próximos modelos já estão em testes. Os novos veículos serão lançados em 2025, segundo Uchida.
O executivo, que já esteve no comando da operação da Nissan na China, reconhece o avanço das marcas chinesas no mercado mundial, o que ameaça, inclusive, o espaço das marcas japonesas. Isso inclui a América Latina. “Os chineses representam uma forte concorrência”, destacou. “Mas sempre soubemos produzir os veículos certos e continuaremos fazendo isso”, completou.
A Nissan já vende, no Brasil, um carro 100% elétrico, o modelo Leaf, importado. Mas não oferece pistas claras de quando pretende iniciar o processo de eletrificação na produção local. Segundo Uchida, a velocidade da eletrificação é diferente de país para país.
Mesmo assim, ele acredita que, com o desenvolvimento da infraestrutura de carregamento de baterias, o Brasil tem potencial para ter veículos elétricos porque conta com fontes de energia limpas.
Nesta terça-feira de manhã, o executivo fez o anúncio oficial do investimento aos cerca de 2,3 mil funcionários e mais 100 convidados, em cerimônia na fábrica da montadora, em Resende (RJ). As atividades na fábrica pararam para o evento.
Segundo Uchida, que está no comando da companhia desde 2019, a ambição é chegar a 7% do mercado brasileiro até 2026 — Foto: Foto: Gesival Nogueira Kebec/Valor
IstoÉ Dinheiro - SP 08/11/2023
O petróleo fechou com queda superior a 4% nesta terça-feira, 7, pressionado por sinais de fraqueza na China e na Europa – que reacendem temores de demanda global reduzida – e pela valorização do dólar. As preocupações com uma desaceleração da economia mundial se sobrepõem à perspectiva de aperto no mercado, mesmo com a extensão do corte de oferta russo e saudita e com a continuidade da guerra no Oriente Médio.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para dezembro fechou em baixa de 4,26% (US$ 3,45), a US$ 77,37 o barril. Enquanto isso, o Brent para janeiro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), caiu 4,19% (US$ 3,57), a US$ 81,61 o barril.
“Dados que confirmam que as economias estão em dificuldades sob a pressão de taxas de juro elevadas – que não se espera que baixem tão cedo – podem ter contribuído para que o petróleo revertesse os seus ganhos”, afirmou o analista Craig Erlam, da Oanda. Por isso, na sua visão, não é nenhuma surpresa que a Arábia Saudita e a Rússia continuem comprometidas com a restrição à sua oferta até o fim de ano.
A questão agora, segundo ele, é saber se os cortes serão prorrogados para 2024. “O fato de ainda não o terem feito talvez sugira que há alguma relutância, o que também pode estar pesando um pouco sobre os preços do petróleo”, avaliou.
A China reportou nesta madrugada queda de 6,4% nas suas exportações na comparação anual – leitura bem pior do que o mercado antecipava. Na visão da Pantheon, o declínio contínuo desse indicador sinaliza para uma demanda global ainda fraca – o que acende um sinal de alerta para o petróleo.
No Velho Continente, a inflação ao produtor da zona do euro e a produção industrial alemã recuaram, elevando expectativas por uma contração econômica na região. O Wells Fargo, por exemplo, disse que os números recentes aproximam a zona do euro de uma recessão.
O analista Bruno Cordeiro, da StoneX, lembra também da leitura do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro nesta segunda-feira no menor nível em 35 meses.
“Outros fatores como o receio relacionado a um prolongamento da política contracionista aplicada pelo Federal Reserve, pelo Banco Central Europeu e pelo Banco da Inglaterra, pressionam os preços do petróleo”, afirmou o especialista.
Ainda segundo Cordeiro, o avanço nas importações chinesas operou como um fator altista, mas não conseguiu superar os drivers opostos.
Money Times - SP 08/11/2023
Depois de permanecer quase todo mês de outubro atados a riscos geopolíticos de um conflito generalizado no Oriente Médio, os contratos de petróleo voltaram a ser influenciados por um cenário de demanda mais fraco.
Ao fim da tarde, o Brent e o WTI perdem 4,10% e 4,13%, respectivamente. A forte queda do dia leva o Brent ao menor patamar desde o fim de julho, sendo cotado a US$ 81 por barril.
Segundo analistas, os mercados sinalizam menor preocupação com eventuais déficits de oferta — referendados por Rússia e Arábia Saudita no final de semana — e maior sensibilidade às expectativas de redução de consumo de petróleo bruto nas refinarias chinesas.
Como avalia a S&P Global, algumas refinarias independentes situadas no maior consumidor de energia do mundo reportaram margens negativas no mês de outubro à medida que os estoques aumentam.
Ainda segundo os analistas da consultoria, a relação de processamento de combustíveis na China deverá ser acompanhada de perto pelos mercados, à medida que investidores avaliam a extensão da desaceleração na segunda economia do mundo.
Dados divulgados na madrugada de hoje sobre a balança comercial de outubro, não ajudaram no humor. No mês passado, a China registrou queda de 6.4% das exportações, acima da projeção de queda de 3,7%. Já o superávit comercial frustrou a projeção de US$ 79,1 bilhões, totalizando US$ 56,5 bilhões.
Outro efeito que confere pressão de baixa ao petróleo é o avanço do dólar americano ante as principais divisas do mundo desenvolvido, prejudicando a demanda por compradores não dolarizados.
Nesta tarde, o índice DXY — que mede justamente essa força do dólar com relação aos competidores — ganhava 0,30%, acima dos 105,30 pontos.
Petróleo: Voltando à programação normal
Embora o marco do primeiro mês de conflito Faixa de Gaza se mostre catastrófico sob o ponto de vista humanitário, sob o ponto de vista do petróleo, o não envolvimento direto do Irã até o momento atenuou os riscos de um choque de produção na região.
De acordo com análise da Julius Baer publicada ainda no início de novembro, o mais provável é que o foco dos investidores retome gradualmente as narrativas envolvendo o balanço de oferta e a política energética das nações exportadoras de petróleo.
“Permanecemos com a visão de que o conflito irá seguir o mesmo padrão geopolítico de outras vezes, impondo apenas choques temporários ao mercado. Isso significa que o prêmio embutido no preço do petróleo deverá cair nas próximas semanas”.
Nesse sentido, Norbert Rücker, economista-chefe do grupo, reitera seu questionamento sobre a narrativa de ofertas deficitárias no mercado. Para ele, embora a Opep+ esteja mantendo os cortes de produção, a posição de certas formas mais “suaves” do Ocidente diante de estados altamente sancionados, como Irã e Venezuela, tem ajudado a manter o balanço de oferta no comércio internacional.
Adiante, Rücker vê a guerra atuando como uma reprogramação da política de preços dos países exportadores de petróleo, com diversos deles mirando um aumento das suas cotas de produção.
Entre eles, a própria Rússia. O país, que havia colocado uma restrição temporária sobre a exportação de combustíveis diante do desabastecimento doméstico, sanou seus problemas de distribuição e deverá redirecionar maior parte da sua produção para o mercado externo.
Valor - SP 08/11/2023
Estimativa é de relatório global da FAO para o período de 1991 a 2021; maior parte dos prejuízos decorre de mudanças climáticas
Eduardo Assad: “A primeira solução é parar de emitir, parar o desmatamento” — Foto: Wenderson Araujo/Valor
Catástrofes climáticas ocorridas entre 1991 e 2021 geraram perdas de US$ 3,8 trilhões, ou mais de R$ 19 trilhões, ao setor agropecuário em todo o mundo, de acordo com recente estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O prejuízo médio anual de US$ 123 milhões corresponde a 5% do PIB agrícola mundial por ano.
Nos 30 anos analisados, o mundo perdeu anualmente, em média, 69 milhões de toneladas de cereais, 40 milhões de toneladas de frutas e legumes e 16 milhões de toneladas de carne, produtos lácteos e ovos. Esta foi a primeira estimativa da FAO sobre as perdas no campo em decorrência do clima. O estudo também considerou o impacto de crises sanitárias e guerras no fluxo de colheitas e acesso aos alimentos, e não houve uma estratificação das perdas por país.
“Os desastres recorrentes têm o potencial de minar os ganhos na segurança alimentar e minar a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares”, alertou o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, no prefácio do relatório. Nos países mais pobres, as perdas relativas são mais elevadas, com impacto de até 15% de seus PIBs agrícolas totais.
A ocorrência desses eventos extremos com impacto na produção agropecuária saltou de 100 por ano na década de 1970 para 400 nos últimos 20 anos, aponta o estudo. O aumento se deve, principalmente, às mudanças climáticas. “Não só os eventos de catástrofe estão a aumentar em frequência, intensidade e complexidade, como também se prevê que o seu impacto piore, à medida que os desastres induzidos pelo clima amplificam as vulnerabilidades sociais e ecológicas existentes”, diz o relatório.
Os números comprovam a realidade incômoda, de eventos cada vez mais frequentes e impactantes, que têm retirado bilhões do setor agropecuário brasileiro e reforçado a necessidade de intensificar a transição de modelos de produção para mitigação de emissões e adaptação às mudanças do clima.
No Brasil, estiagens consecutivas geraram quebras de safras de grãos no Sul. Geadas afetaram a produção de café em São Paulo e Minas Gerais. Animais morreram de frio em Mato Grosso do Sul. Ciclones e enchentes destruíram cidades, mataram pessoas e abalaram os sonhos de produtores rurais gaúchos. Episódios parecidos se repetiram em Santa Catarina e no Paraná no mês passado. A seca histórica no Norte mudou o cenário do Amazonas, esvaziou rios e tirou o sustento de pescadores. No Centro-Oeste é o calor que assusta e já atrasa trabalhos de campo, como o plantio de soja. Isso tudo no intervalo de poucos meses.
Desastres recorrentes têm o potencial de minar os ganhos na segurança alimentar”
— Qu Dongyu
Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), as perdas na agropecuária de janeiro a setembro chegaram a R$ 33,7 bilhões. A cifra não considera os prejuízos a produtores catarinenses e paranaenses. Somados os danos em países vizinhos, como a seca na tríplice fronteira no Rio Grande do Sul com Argentina e Uruguai, o total chega a US$ 11,3 bilhões, calcula a consultoria AON.
Eduardo Assad, pesquisador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que as alterações no clima e as perdas no setor agropecuário brasileiro eram “absolutamente previstas” e que seus impactos poderiam ter sido evitados ou reduzidos com a aplicação de boas práticas de produção e de medidas preventivas. E essa continua sendo a orientação para enfrentar a questão daqui para a frente, reforçou ele, já que o aumento de 2ºC da temperatura do planeta até 2050 na comparação com o período pré-industrial é quase certo.
Práticas já existentes, como o plantio direto, o uso de plantas de cobertura e a rotação de culturas, podem ajudar, disse Assad. Na pecuária, a indicação é a recuperação de pastos e a redução da idade de abate animal. A sombra gerada pela floresta em sistemas integrados à pastagem reduz em até 10º C a temperatura para o gado, por exemplo, auxilia no bem-estar e evita perda de peso.
“A primeira solução é parar de emitir, parar o desmatamento”, repetiu Assad. “As mudanças climáticas estão vindo para valer mesmo, com extremos de chuvas e temperaturas. É preciso intensificar as técnicas de manejo de solo e água, de adaptação e mitigação. Plantem árvores”, indicou.
É o que Sérgio Lange e um grupo de cafeicultores de Divinolândia (SP) começaram a fazer há dois anos. Além da arborização próxima aos cafezais, eles iniciaram o plantio de plantas de cobertura, aplicaram manejos para melhorar a microbiologia do solo e estão introduzindo o uso de insumos biológicos para a produção do café.
A mais de mil metros de altitude, as altas temperaturas - de até 36ºC - são o principal efeito sentido até agora pelos produtores. O tempo quente contribui para maior ocorrência de pragas e doenças, o que resulta em mais custos com manejo e aplicações, diz Lange, presidente do Sindicato Rural do município, que produz 170 mil sacas de café por safra.
“Estamos nos adaptando às mudanças climáticas. Adaptação é plantar árvore que ajuda a diminuir temperatura, a lavoura com arborização tem um clima totalmente diferente. Cai a temperatura, o café quase não tem pragas. É um modelo a ser replicado”, contou. “E mitigação é abdicar de produtos que emitem gases de efeito estufa. Os produtores que estão mais adiantados já estão vendo bastante resultados”, completou.
O pesquisador Eduardo Assad diz que as altas temperaturas preocupam pela possibilidade de déficit hídrico para as plantas em momentos cruciais. Na prática, falta água no solo. “As plantas bebem água de golinho em golinho. Quando aumenta o calor, secam o copo de uma vez. E aí há a deficiência hídrica e pode ter a perda de produtividade”, explicou.
Segundo ele, o período chuvoso no país já diminuiu em três semanas e deixou as janelas de plantio mais apertadas. “É preferível se prevenir, se adaptar a essa situação que não é nova, mas está ficando muito intensa”, alertou.
O cafeicultor paulista Sérgio Lange, no entanto, disse que os pequenos produtores ainda têm dificuldade de acessar essas informações e ter o conhecimento necessário para mudar seus sistemas produtivos. A carência evidencia a necessidade de assistência técnica, extensão rural e capacitação para disseminar as práticas resilientes por todo o país.
A FAO destaca no seu relatório a necessidade de apoiar a adoção de boas práticas de redução de risco de catástrofes para evitar perdas aos pequenos produtores e aumentar a resiliência dos seus sistemas produtivos. O investimento nessas técnicas pode resultar em um desempenho no campo, em média, 2,2 vezes melhor do que antes, diz o relatório. O documento aponta ainda que cada dólar investido em ações antecipadas pode gerar US$ 7 para as famílias rurais em benefícios e perdas evitadas.
Esta é a quarta e última reportagem da série semana sobre mudanças climáticas
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