IstoÉ Dinheiro - SP 04/09/2023
O ZG Group, que opera um site para transações de aço, concordou em abrir seu capital por meio de uma fusão com uma Empresa de Aquisição de Propósito Específico (SPAC), primeiro negócio desse tipo a ser realizado em Hong Kong.
A empresa chinesa se unirá à Aquila Acquisition, uma SPAC apoiada por uma unidade do China Merchants Bank, de acordo com um registro na bolsa de valores divulgado nesta quinta-feira. O negócio avalia a empresa em 10 bilhões de dólares de Hong Kong, o equivalente a US$ 1,27 bilhão.
O ZG Group, anteriormente chamado de Zhaogang.com, está recebendo HK$ 605,3 milhões em receitas brutas de investimentos privados como parte do acordo, disse Aquila. Uma subsidiária de Hong Kong do Trafigura Group, o gigante do comércio de commodities, está entre os investidores que estão colocando dinheiro no negócio.
As empresas esperam que o negócio seja fechado no quarto trimestre.
Monitor Digital - RJ 04/09/2023
Beijing, 1º set (Xinhua) — A Baotou Steel Union Co., Ltd. da Mongólia Interior (Baogang United Steel, 600010.SH) recebeu recentemente um pedido de compra de mais de 10.000 toneladas de seus trilhos de aço tratados termicamente de alta dureza, para um projeto ferroviário no México.
No início de maio, a empresa exportou mais de 2.300 toneladas desses trilhos de aço para o mesmo projeto ferroviário mexicano. Com seus produtos de alta qualidade e atendimento eficiente ao cliente, a siderúrgica chinesa foi reconhecida pelos clientes mexicanos, levando a este recente pedido adicional.
Ao fornecer aos compradores globais respostas oportunas e precisas dos termos comerciais e documentos técnicos, atualizando-os com o progresso da produção em tempo real e oferecendo orientação profissional e sugestões sobre transporte e embalagem, a Baogang United Steel tem conquistado a confiança dos clientes.
No futuro, a empresa continuará a aprofundar a adaptação de vários tipos de produtos, apostando no desenvolvimento de novos produtos que se adaptem à procura do mercado. Ao expandir ainda mais o seu mercado de vendas e melhorar a qualidade do serviço, a siderúrgica está empenhada em aumentar a sua presença no mercado global e atrair mais clientes em todo o mundo.
Globo Online - RJ 04/09/2023
O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) apontou perda de fôlego na passagem do primeiro para o segundo trimestre. Ainda assim, o resultado veio acima do esperado pelos analistas, com alta de 0,9%, frente a uma estimativa média de 0,3%, o que leva os agentes a revisarem as projeções para o ano. As projeções estão caminhando para perto de um crescimento de 3% em 2023.
Muitos dos ajustes que já ocorrem são em função de um efeito estatístico, chamado "carrego". Segundo esse efeito, dado o ritmo do PIB no primeiro semestre, mesmo que a economia fique estagnada no segundo semestre na comparação com a primeira metade deste ano, na média de 2023, já haverá um ganho em relação ao PIB de 2022.
Alguns economistas calcularam um carrego estatístico em torno de 3,0% para o resto do ano. Ou seja, para o PIB, na média anual, ficar abaixo deste patamar, seria preciso que a economia declinasse no segundo semestre na comparação com o primeiro.
Nas contas do Santander, a alta de 0,9% entre abril e junho implica um avanço já contratado de pelo menos 3,1% para o PIB em 2023. "A nossa previsão de crescimento do PIB para 2023 de 1,9% está atualmente em revisão com riscos inclinados para cima", disse o banco em relatório.
Resiliência
Segundo economistas do banco, embora as condições financeiras continuem em níveis criticamente restritivos, os indicadores da atividade econômica têm demonstrado uma elevada resiliência, na esteira de um mercado de trabalho ainda restritivo.
O banco Goldman Sachs agora prevê um crescimento do PIB de 3,25% em 2023, contra estimativa anterior de 2,65%. O economista Alberto Ramos, que acompanha a economia brasileira, também estima um carrego estatístico de 3,1% para este ano.
“Esperamos que a atividade se beneficie de estímulos fiscais e parafiscais (como as robustas transferências para lares de baixa renda, que têm alta propensão a consumir), de uma expansão real nos salários e de um declínio na inflação de alimentos”, diz um relatório divulgado pelo Goldman nesta sexta-feira, assinado por Ramos.
A consultoria MB Associados também revisou a projeção para o crescimento deste ano, para 3,0%, ante um avanço de 2,5%, estimado anteriormente. E ainda poderá haver mais surpresas positivas neste segundo semestre, sustenta um relatório da consultoria.
“No segundo semestre teremos o impacto da queda de preços de alimentos, que resulta em ampliação da renda disponível para a população mais pobre. O El Niño pode evitar nova deflação este ano, mas pelos menos nos próximos meses ainda o efeito de queda de preços no setor será visível. Junto a isso tem o efeito do Desenrola, que aumenta o potencial de crédito para o consumo dos mais pobres especialmente no final do ano. Por fim, a queda de juros pode ter algum efeito, mesmo que pequeno, ainda no Natal”, diz um trecho do relatório.
O J.P. Morgan também revisou a estimativa de PIB deste ano, de 2,4% para 3%. Segundo os economistas Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez, que assinam o relatório, a força observada no segundo trimestre levou a uma revisão da expectativa para o terceiro trimestre, que passou de -2% para -0,4%. Já a previsão para o quarto trimestre caiu para -0,4%.
"Assim, melhoramos a nossa previsão do PIB para 2023, ainda impulsionado pelas exportações e com notável resiliência no consumo público e privado. (...) Com uma maior transferência estatística e as perspectivas de que o setor agrícola possa permanecer sólido no próximo ano, revisamos a nossa previsão do PIB para 2024 de 1% para 1,2%", disseram.
A XP Investimentos também espera, agora, um crescimento anual mais próximo de 3,0% este ano. “Há um quadro de economia resiliente, de solidez, e as projeções do mercado e da XP vão caminhar para um PIB mais próximo de 3% este ano, em relação ao ano passado”, diz o economista Rodolfo Margato, em comentário por escrito.
Carlos Lopes, economista do banco BV, também já estima um número mais positivo para o PIB este ano.
— O resultado bastante positivo desse segundo trimestre eleva bastante essa perspectivas para o ano, que deve ter um número de crescimento por volta de 3% por causa do carrego. Ainda estamos revisando as projeções, mas a do ano deve ficar próxima disso — afirmou.
Agência Brasil - DF 04/09/2023
Beneficiada pela safra recorde de grãos e pela queda nas importações de combustíveis, a balança comercial – diferença entre exportações e importações – fechou agosto com superávit de US$ 9,767 bilhões, divulgou nesta sexta-feira (1º) o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O resultado é o melhor para meses de agosto e representa alta de 137,8% em relação ao mesmo mês do ano passado, pelo critério da média diária.
Com o resultado de agosto, a balança comercial encerrou os oito primeiros meses do ano com superávit acumulado de US$ 63,322 bilhões, maior resultado para o período desde o início da série histórica, em 1989. O saldo positivo já supera o superávit comercial recorde de US$ 61,525 bilhões de todo o ano passado.
Em relação ao resultado mensal, as exportações cresceram levemente, enquanto as importações despencaram em agosto. No mês passado, o Brasil vendeu US$ 31,211 bilhões para o exterior, alta de apenas 1,4% em relação ao mesmo mês de 2022 pelo critério da média diária. As compras do exterior somaram US$ 21,444 bilhões, recuo de 19,6% pelo mesmo critério.
Do lado das exportações, a safra recorde de grãos e a maior demanda por minério de ferro contribuíram para a estabilidade, compensando a queda internacional no preço de algumas commodities (bens primários com cotação internacional). Do lado das importações, o recuo no preço do petróleo e de derivados foi o principal responsável pela retração.
Após baterem recorde no primeiro semestre do ano passado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, as commodities recuaram nos últimos meses. Apesar da subida do petróleo e de outros produtos em agosto, os valores continuam inferiores ao mesmo mês do ano passado.
No mês passado, o volume de mercadorias exportadas subiu 15,8%, enquanto os preços caíram 11,6% em média na comparação com o mesmo mês do ano passado. Nas importações, a quantidade comprada caiu 7,6%, mas os preços médios recuaram 11,9%.
Setores
Ao comparar o setor agropecuário, a safra recorde de grãos pesou mais nas exportações. O volume de mercadorias embarcadas subiu 43% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2022, enquanto o preço médio caiu 17,5%. Na indústria de transformação, a quantidade subiu 3,1%, com o preço médio recuando 5,5%. Na indústria extrativa, que engloba a exportação de minérios e de petróleo, a quantidade exportada subiu 23,3%, enquanto os preços médios caíram 19,2%.
Os produtos com maior destaque nas exportações agropecuárias foram milho não moído, exceto milho doce (10,8%), café não torrado (17,4%) e soja (14,8%). Destaque positivo para a soja, cujas exportações subiram 3,2% entre agosto do ano passado e agosto deste ano. A safra recorde fez o volume de embarques do produto aumentar 44,2%, mas o preço médio caiu 20,4%.
Na indústria extrativa, as principais altas foram registradas em minério de ferro (10,3%) e minérios de níquel (166,2%) na mesma comparação. No caso do ferro, a quantidade exportada subiu, mas o preço médio caiu com a desaceleração da economia chinesa.
Em relação aos óleos brutos de petróleo, também classificados dentro da indústria extrativa, as exportações caíram 6,6%. Os preços médios recuaram 31,2% em relação a agosto do ano passado, mas a quantidade embarcada aumentou 35,9%, impulsionada pelo crescimento da produção.
Na indústria de transformação, as maiores altas ocorreram nos açúcares e melaços (54,4%); alimentos para animais (25,4%); e bombas, centrífugas, compressores de ar, ventiladores, exaustores e aparelhos de filtrar (136,5%).
Em relação as importações, os principais recuos foram registrados nos seguintes produtos: trigo e centeio (65%), milho não moído (37,9%) e látex e borracha natural (42,1%) na agropecuária; gás natural (69,9%), carvão não aglomerado (58%) e óleos brutos de petróleo (5,6%), na indústria extrativa; e compostos organo-inorgânicos (38,2%) e adubos ou fertilizantes químicos (45,1%), na indústria de transformação.
Em relação aos fertilizantes, cujas compras do exterior ainda são impactadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia, a queda deve-se principalmente à diminuição de 56,5% nos preços. A quantidade importada subiu 26,3% em agosto na comparação com agosto do ano passado.
Estimativa
Apesar da desvalorização das commodities, o governo prevê saldo positivo recorde de US$ 84,7 bilhões, contra projeção anterior de US$ 84,1 bilhões, feita em abril.
Segundo o MDIC, as exportações diminuirão 1,4% este ano e encerrarão o ano em US$ 330 bilhões. As estimativas são atualizadas a cada três meses. As importações recuarão 10% e fecharão o ano em US$ 245,2 bilhões.
As previsões estão muito mais otimistas que as do mercado financeiro. O boletim Focus, pesquisa com analistas de mercado divulgada toda semana pelo Banco Central, projeta superávit de US$ 70,9 bilhões neste ano.
Agência Brasil - DF 04/09/2023
O comportamento da economia brasileira, que cresceu 0,9% no segundo trimestre deste ano na comparação com os três meses anteriores, era esperado por analistas do setor produtivo ouvidos pela Agência Brasil, que mantêm uma visão de otimismo para os próximos meses.
O Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, apresentou alta de 3,7% no primeiro semestre, informou hoje (1°) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Serviços
O economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), atribui três pontos principais ao crescimento de 0,6% do setor de serviços no trimestre. A influência do setor é grande porque responde por 70% da dinâmica econômica brasileira.
O primeiro ponto é o fato de não ser tão impactado pelo aperto monetário – alto nível da taxa de juros – diferentemente da indústria e do comércio de consumos duráveis, como automóveis.
O segundo é um reflexo pós-pandemia: “houve uma demanda reprimida no setor de serviços durante a pandemia, um setor que sofreu muito, principalmente no turismo. Ao que tudo indica, essa demanda reprimida ainda não se esgotou, então tem havido um aumento de atividade acima dos demais setores”, avalia.
A valorização do real ante o dólar é o terceiro fator citado pelo economista porque “faz com que a indústria tenha mais dificuldade em competir com produtos estrangeiros, que ficam relativamente mais barato. Isso vale para o comércio também”.
No primeiro semestre, a moeda americana recuou 9,4% em relação ao real. O analista da CNC pontua que o setor de serviços não sofre com a desvalorização. “Pelo contrário, a queda do dólar contribui para que a inflação seja menor, o setor de serviços depende muito do nível geral de preços”, detalha.
Fabio Bentes espera que, se a inflação seguir controlada, mesmo que um pouco mais alta, e haja novos cortes na taxa de juros por parte do Banco Central, os serviços e o consumo no comércio tendem a ter um aquecimento maior no segundo semestre de 2023, se mantendo como locomotiva do PIB.
Indústria otimista
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a maior entidade de classe da indústria brasileira, que representa 130 mil indústrias, o resultado do PIB do segundo trimestre veio acima do esperado.
“A Fiesp estava com uma projeção de 0,8%. O que surpreendeu mesmo foi o agro. O mercado esperava uma queda de 3,4%, mas veio só de 0,9%. No todo foi positivo”, aponta o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, que deve rever a expectativa de crescimento da economia ao fim de 2023.
“A gente projetava 2,6% de crescimento, que já era acima do consenso do mercado, que estava entre 2,1% e 2,3%. Já era otimista, mas, na verdade, não se tratava de otimismo, se tratava de dados. Se não tiver nenhuma surpresa negativa, devemos ter um crescimento de 3% em 2023.”
Agropecuária
Para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a queda de 0,9% do setor agropecuário era esperada por causa do fator sazonalidade, ou seja, o comportamento cíclico das safras. Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA, explica que o desempenho do agro funciona em uma espécie de gráfico em V: tem um bom primeiro semestre, quedas de desempenho nos segundo e terceiro trimestres, e volta a subir no fim do ano.
“A gente sugere que a análise seja feita comparando com o mesmo trimestre do ano anterior, porque daí essa questão da sazonalidade é reduzida, então a gente vê um crescimento de 17%”, explica. “Outra análise que a gente gosta é o acumulado dos últimos quatro trimestres, quando o agro cresceu 11,2%”, completa.
Segundo Conchon, o ano tem sido coroado por boas safras de culturas que têm grande produção em volume, como a soja, o milho, algodão e atividades da pecuária. Desempenho que são resultado de estímulos do ano passado, que têm trazidos bons frutos para a safra corrente.
“Estímulos promovidos pelos altos preços das commodities no mercado internacional e aqui no Brasil também”.
Preocupação
O patamar de preços das commodities (produtos primários negociados no mercado internacional) que animou os produtores no plantio da atual safra pode ter um impacto negativo para a próxima safra, uma vez que os valores têm apresentado quedas.
“Com menos renda, o produtor investe em um pacote tecnológico mais barato e, com isso, a produtividade cai”, explica Conchon.
Como exemplo da quede de preços, o analista da CNA cita o valor de negociação da saca de soja nos últimos doze meses, que recuou 16,6% em dólar. No caso da arroba do boi, a queda foi 32,1% em dólar.
A importância de analisar o comportamento dos valores em dólares se dá pelo fato de grande parte da produção ser negociada no mercado internacional, ou seja, vendida para outros países.
Outra preocupação que pode afetar a colheita do fim deste ano e do começo de 2024 é algo que foge totalmente do controle dos produtores: o El Niño, aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico.
“A nossa preocupação é que o El Niño prejudique o início do plantio da safra 23/24, ou seja, na colheita do trigo, agora no final do ano, e principalmente no início do plantio a partir de setembro”, finaliza.
O Estado de S.Paulo - SP 04/09/2023
A narrativa sobre a China mudou numa velocidade impressionante, da história de um colosso imparável para a trajetória de um gigante patético e incapaz. Como isso aconteceu?
Minha sensação é que muito do que se escreve a respeito da China dá importância demais a eventos e políticas recentes. Sim, Xi Jinping é um líder errático. Mas os problemas econômicos da China têm se construído há muito tempo. E ainda que o fracasso de Xi em solucionar esses problemas adequadamente sem dúvida reflita suas limitações pessoais, reflete também vieses ideológicos profundos dentro do partido que governa a China.
Comecemos com perspectiva a longo prazo.
Por três décadas, após Deng Xiaoping assumir o poder e introduzir reformas com base no mercado, a China experimentou uma enorme ascensão, com o produto interno bruto real crescendo mais de sete vezes. É verdade que tamanha ascensão só foi possível porque a China começou a jornada de crescimento tecnologicamente atrasada e pôde aumentar a produtividade rapidamente adotando tecnologias já desenvolvidas no exterior. Mas a velocidade da convergência da China foi extraordinária.
Desde o fim da década de 2000, contudo, a China parece ter perdido bastante de seu dinamismo. O Fundo Monetário Internacional estima que, desde 2008, o índice de produtividade total dos fatores — que mensura a eficiência com que cada recurso é usado — cresceu a apenas metade da velocidade que havia crescido na década anterior. Nós devemos desconfiar bastante dessas estimativas, mas houve uma clara diminuição na taxa de progresso tecnológico.
E a China não tem mais demografia para sustentar um crescimento tórrido: sua população economicamente ativa atingiu o pico em torno de 2015 e tem declinado desde então.
Muitos analistas atribuem a perda de dinamismo da China a Xi, que assumiu o poder em 2012 e tem sido consistentemente mais hostil à empresa privada do que seus antecessores. Mas essa análise me parece superficial demais. Certamente o foco de Xi em controle estatal e arbitrariedades não ajudou, mas a diminuição de ritmo de crescimento da China começou antes de Xi assumir o poder.
E em geral ninguém é muito bom em explicar índices de crescimento a longo prazo. O grande economista do MIT Robert Solow gracejou famosamente afirmando que tentativas de explicar por que alguns países crescem mais vagarosamente que outros acabam em “arroubos de sociologia amadora”. Provavelmente causas profundas impediram a China de continuar a crescer no ritmo anterior a 2008.
Em qualquer caso, a China claramente não consegue sustentar algo próximo às taxas de crescimento do passado.
Mas crescimento mais lento não tem necessariamente de se traduzir em crise econômica. Conforme apontei recentemente, até mesmo o Japão, com frequência lido como um exemplo de alerta, desempenhou bem decentemente desde a diminuição no crescimento do início dos anos 90. Por que as coisas parecem tão tenebrosas na China?
Em um nível fundamental, a China padece do paradoxo da parcimônia, segundo o qual a economia pode sofrer quando os consumidores tentam poupar dinheiro demais. Se as empresas não estão dispostas a contrair empréstimos e então investir todo o dinheiro que os consumidores estão tentando poupar, o resultado é recessão. Essa recessão pode muito bem reduzir a quantidade de empresas dispostas a investir, então uma tentativa de poupar mais pode de fato reduzir o investimento.
E a China tem um índice nacional de poupança incrivelmente alto. Por quê? Eu não estou certo se há um consenso a respeito das causas, mas um estudo do FMI argumentou que os principais motivadores são a baixa taxa de natalidade, portanto as pessoas não sentem que poderão confiar em seus filhos para sustentá-las na velhice, e a rede de seguridade social inadequada, portanto as pessoas também não sentem que podem confiar no apoio do Estado.
Enquanto a economia foi capaz de crescer com extrema rapidez, as empresas encontraram maneiras úteis de investir essas poupanças. Mas esse tipo de crescimento agora é coisa do passado.
O resultado é que a China tem uma grande quantidade de enormes poupanças prontinhas para sair mas sem ter aonde ir. E a história das políticas chinesas têm sido de esforços cada vez mais desesperados de mascarar este problema. Por um tempo, a China manteve a demanda sustentando enormes superávits na balança comercial, mas isso arriscava uma reação protecionista. Então a China direcionou os excessos de poupança para uma monstruosa bolha imobiliária, que está estourando neste momento.
A resposta óbvia é estimular o gasto em consumo; fazer as empresas estatais compartilharem mais de seus lucros com os funcionários; fortalecer a rede de seguridade social; e, no curto prazo, o governo poderia simplesmente dar dinheiro às pessoas — mandar cheques, do mesmo modo que os Estados Unidos andaram fazendo.
Então por que isso não está acontecendo? Vários relatos sugerem que razões ideológicas motivam a China a não fazer o óbvio. Até onde posso perceber, a liderança chinesa padece de uma estranha combinação entre hostilidade ao setor privado (simplesmente dar às pessoas a possibilidade de gastar mais diluiria o controle do partido); ambição irrealista (a China deve investir no futuro, não aproveitar a vida no presente); e uma espécie de oposição puritana a uma rede de seguridade social forte, com Xi condenando o “assistencialismo” capaz de erodir a ética do trabalho.
O resultado é uma paralisia nas políticas, com a China realizando esforços frouxos para impulsionar o mesmo tipo de estímulo orientado por investimento de que desfrutou no passado.
Nós devemos considerar a China um fracasso? É claro que não. A China é uma superpotência genuína, com enorme capacidade de ajeitar as coisas. Cedo ou tarde, ela provavelmente superará os preconceitos que minam suas políticas em reposta.
IstoÉ Online - SP 04/09/2023
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira, 1º de setembro, que a projeção para a dívida pública dos Estados Unidos indica um cenário bastante preocupante, lembrando o alerta feito pela Fitch na revisão da nota soberana do país. O presidente do BC disse que os EUA estão com o lado fiscal bem expansionista e que o governo norte-americano deve gastar perto de US$ 2 trilhões em 2023.
Ele comentou que os juros de 30 anos nos EUA ultrapassaram os juros de cinco anos, o que não acontecia há um bom tempo. “Há ainda muitos gastos no segundo trimestre nos EUA, mas o excesso de poupança privada diminuiu”, destacou, no Lide Brazil Development Forum, que ocorre em Washington.
Segundo Campos Neto, outros países estão chamando atenção para os problemas fiscais, o que tem implicações para o Brasil. “Com todo mundo olhando o fiscal, sobe barra um pouco para o fiscal interno.”
O presidente do BC ainda mencionou que o mercado imobiliário nos EUA mostra piora das condições para aquisição de moradias e que há elementos para ficar preocupado se houver uma desaceleração mais forte na economia americana, o que não se observa agora.
China
Campos Neto afirmou também que, apesar das medidas que vêm sendo apresentadas pela China relacionadas ao crescimento econômico, o mercado imobiliário tem queda de 8,5%, sendo que o setor representa 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
“As revisões de crescimento para baixo na China têm implicações ao Brasil”, diz, lembrando que o processo já vem impactando os preços chineses, com dado deflacionário, que “é sempre preocupante”.
Segundo ele, os empréstimos imobiliários estão negativos na China, com duas grandes empresas com valor de mercado perto de zero. Na parte mais estrutural, afirmou que surpreende muito na China o envelhecimento da população e o desemprego de jovens.
O Estado de S.Paulo - SP 04/09/2023
É inegável que para retomar o crescimento econômico sustentável o Brasil precisa de reformas estruturais que favoreçam a elevação dos investimentos e da produtividade. O governo priorizou, corretamente a meu ver, a reforma da tributação do consumo (PEC 45), já aprovada na Câmara e em tramitação no Senado. Vários estudos mostram o enorme potencial dessa medida para elevar, a médio e longo prazos, o crescimento potencial da economia.
Mesmo depois da aprovação no Senado, ainda haverá um longo caminho a percorrer para que as diretrizes da PEC 45 possam ser aplicadas. Grande parte das alterações necessita de complexas leis complementares, e muitos pontos requerem maior detalhamento técnico.
Em igual nível de prioridade está a questão das contas públicas. Os números divulgados na semana passada são preocupantes. O déficit primário do setor público não financeiro consolidado (União, Estados, municípios e algumas estatais) relativo aos sete primeiros meses do ano (R$ 56,2 bilhões) ficou acima das expectativas dos analistas, tendo mostrado forte deterioração no último mês desse período. Para 2024, parece cada vez mais difícil que o governo central consiga cumprir a meta de equilíbrio orçamentário, como consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Alterar ou não cumprir a meta, logo no primeiro ano após a aprovação do novo arcabouço, seria péssimo para a credibilidade da política fiscal, provocaria depreciação cambial e deterioraria as expectativas de inflação, dificultando a continuidade ou a velocidade da redução da taxa básica de juro.
Dadas as dificuldades práticas e políticas para redução do gasto público a curto prazo, não resta outra saída para o ministro Fernando Haddad do que lutar pela aprovação de medidas que elevem significativamente a receita já a partir do ano quem, bem como se esforçar para aprimorar a eficiência da máquina arrecadadora.
Em meio a essa corrida para estancar a sangria fiscal, a oposição e o presidente da Câmara, deputado Artur Lira, vêm anunciando que pretendem priorizar a discussão e aprovação da PEC 32/2020, que trata da reforma administrativa. Apesar do excelente substitutivo do deputado Arthur Maia (União-BA) já ter sido aprovado em comissão e estar pronto para votação no plenário desde setembro de 2021, sua tramitação foi paralisada por iniciativa do próprio governo que a propôs. O tema é árduo politicamente, pois, entre muitas outras medidas, flexibiliza a demissão de servidores estáveis. Tende a congestionar ainda mais a já apertada pauta econômica no Congresso.
A reforma administrativa é importante para melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços que o setor público presta à população. Mas seus eventuais efeitos fiscais não são quantificáveis e somente serão percebidos a médio e longo prazos. Será que este é o melhor momento para recolocá-la no debate legislativo?
CNN Brasil - SP 04/09/2023
O volume de investimentos chineses no Brasil caiu 78% em 2022, na comparação com o ano anterior, alcançando o valor total de US$ 1,3 bilhão, o menor desde 2009, conforme apontou o relatório mais recente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
Com isso, o Brasil ficou em nono lugar entre os destinos que mais receberam investimentos chineses no mundo em 2022 — uma queda de oito posições em relação a 2021, quando ficou no topo da lista, com US$ 5,9 bilhões.
O recuo pode ser explicado pelo fato de alguns investimentos necessitarem de uma série de licenças para o início de suas operações, conforme aponta o estudo, o que eventualmente pode adiar sua execução.
Em 2021, a taxa de efetivação em relação ao número de anúncios chegou a 97%, com apenas um empreendimento não confirmado, em 2022 esse percentual caiu para 78%.
Tulio Cariello, diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, também pontua que a pesquisa pode ser melhor avaliada quando analisada a partir do número de projetos realizados no país.
“O melhor termômetro de interesse é o número de projetos, porque vemos quais setores estão sendo investidos. Podemos ter menos projetos com um valor muito alto, mas isso não necessariamente quer dizer que há um grande interesse em investimentos, porque não tem diversificação de setores”, explica.
Considerando o número de empreendimentos, as companhias chinesas investiram em 32 projetos no Brasil, 14% a mais do que em 2021, superando o pico registrado em 2018 e estabelecendo um novo recorde.
Para Cariello, o valor investido é uma consequência da soma do número de projetos. “Nos anos anteriores, tivemos menos projetos, mas um ou outro eram muito grandes. Percebemos uma falta de grandes projetos em 2022, investimentos muito altos que não foram colocados em prática, mas podem ser colocados em prática ao longo dos próximos meses”, pontua.
O diretor do CEBC também ressalta que existe a questão da burocracia envolvida nos processos de aprovação e execução desses projetos.
Mais fatores de peso
Daniel Lau, sócio da KPMG e líder do China Desk, explica que outros dois fatores pesam contra a realização de investimentos chineses no país.
O primeiro se deve a um processo cultural, já que até o final de 2022 a China ainda impunha muitas restrições para viagens devido à Covid-19.
“O executivo chinês gosta de ir até o local e conhecer o espaço físico antes de realizar alguma transação comercial”, explica o especialista. Por isso, sem poder realizar esses deslocamentos, os empresários diminuíram o número de negócios realizados no último ano.
“A quantidade de investimentos chineses diminuiu no mundo todo, não apenas no Brasil, principalmente pela dificuldade de viajar para o exterior”, avalia.
Além disso, a maior competitividade em países vizinhos do Brasil para fomentar e construir oportunidades de investimentos também contribuiu para diminuir o volume de investimentos.
“Argentina, Chile, Peru, México e Colômbia têm atraído bastante investimento chinês, uma década atrás, eles não eram tão bem estruturados em termos de captação para atrair capital chinês”, explica.
Ao mesmo tempo, Lau explica que as empresas chinesas possuem hoje uma visão de negócios muito mais refinada para as oportunidades globais. Com um olhar mais ampliado e técnico, a disputa pelo capital chinês no continente acirrou.
Perspectivas para 2023
Apesar da queda no volume investido em 2022, os especialistas concordam que a China não perdeu interesse no Brasil como um mercado de alto potencial para realizar grandes aportes, e avaliam que o volume de investimentos deve ser maior este ano.
“Apostaria em um crescimento [no volume de investimento] em 2023, por conta da base de comparação baixa”, explica Tulio Cariello.
Os setores de energia e infraestrutura são os que mais atraem capital, na avaliação do diretor do CEBC. “Se tivermos leilões, é quase certo que essas empresas [chinesas] vão participar, porque o interesse delas no nosso mercado é claro”, pontua.
Lau avalia que, olhando o ano passado de maneira isolada, a análise fica fora do contexto.
O especialista explica que a China possui um novo eixo de crescimento robusto das exportações de produtos manufaturados, o que implica em um aumento de investimentos fora do país.
Os segmentos de veículos movidos a energia renovável, a promoção de painéis solares e energia eólica e a construção de baterias de lítio são os segmentos de maior interesse chinês no mundo.
“A China está cada vez mais competitiva, e a gente vê apenas uma parte desses investimentos aqui no Brasil, temos muitos projetos até o fim do ano entrando nesses principais segmentos”.
Valor - SP 04/09/2023
A mineradora, na qual a BHP tem parceria com a Vale, acabou de receber aprovação do plano de recuperação judicial, numa reestruturação de dívida que durou anos, desencadeada pela catástrofe em Minas Gerais
A BHP começou uma revisão estratégica dos ativos brasileiros de cobre e ouro que assumiu com a aquisição da Oz Minerals, em meio a uma mudança de foco para os minerais essenciais para a transição energética.
A compra da Oz Minerals por US$ 6,4 bilhões incluiu um depósito de ouro inexplorado e quatro minas de cobre e ouro pequenas, mas de alta qualidade, no estado do Pará. A BHP enxerga esses minerais do futuro, que também incluem níquel e potássio para fertilizantes, como fundamentais para seu crescimento diante da estagnação do minério de ferro e o declínio dos combustíveis fósseis.
A mineradora levará de 12 a 18 meses a partir de maio, quando a transação foi fechada, para concluir a avaliação estratégica, disse Carla Wilson, chefe da mineradora no Brasil, em entrevista à Bloomberg.
“Trata-se de compreender os recursos e as oportunidades. Nunca operamos antes no Brasil”, disse ela. “Mas é claramente uma região de commodities voltadas para o futuro, nas quais a BHP está muito focada: cobre, níquel.”
A maior aquisição da BHP em mais de uma década teve como foco a criação de um polo de cobre no sul da Austrália, ao mesmo tempo que consolidou a posição da empresa como uma das maiores produtoras mundiais do metal. O consumo de cobre deve aumentar com veículos elétricos e energias renováveis. No Brasil, apenas a mina Pedra Branca da Oz Minerals está em operação.
Até a aquisição, a presença da BHP no Brasil se limitava à Samarco, joint venture independente de minério de ferro com a Vale. A empresa ainda enfrenta as consequências do colapso de uma barragem em 2015, incluindo um processo judicial no Reino Unido e a renegociação de um acordo de indenização com as autoridades brasileiras, ambos potencialmente envolvendo bilhões de dólares.
A Samarco acabou de receber aprovação para o seu plano de recuperação judicial, numa reestruturação de dívida que durou anos, desencadeada pela catástrofe. Wilson disse que a BHP está empenhada em reparar os danos causados e fazer com que a produção volte à capacidade total até 2028. As pelotas de minério de ferro da Samarco têm um valor superior, pois são usadas para produzir aço de baixo carbono.
“Não temos intenção de vender a Samarco”, disse a executiva da BHP.
O Brasil também pode fazer parte da estratégia da BHP para seu projeto de potássio no Canadá, de US$ 5,7 bilhões. O país sul-americano é uma superpotência agrícola que importa cerca de 80% das suas necessidades de fertilizantes.
“Precisaremos encontrar mercados e também existem oportunidades potenciais para diferentes estágios desse projeto”, disse Wilson.
Infomoney - SP 04/09/2023
Em meio à queda de 23% das ações no acumulado de 2023, o JPMorgan elevou a recomendação das ações da Vale (VALE3) de neutro para overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), em relatório chamado “mudança de maré”.
O preço-alvo para a ação negociada na B3 passou de R$ 75 para R$ 79 ao final de 2024, ou um potencial de valorização de 21,4% frente o fechamento da véspera. Para o ADR (recibo de ação negociado na Bolsa de Nova York), o target passou de US$ 15 para US$ 16, ou potencial de valorização de 21,5% frente o último fechamento.
Além do valuation mais atrativo, com a ação negociada agora a um múltiplo de 4,2 vezes o EV/Ebitda (EV = Enterprise Value, a soma do valor de mercado das ações de uma companhia com a dívida líquida dessa empresa/ Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) esperado para 2024, ante um pico de 5,9 vezes no início de fevereiro deste ano, o JPMorgan também destaca outros pontos para a elevação da recomendação.
Segundo os analistas do banco, embora o setor imobiliário esteja pouco animador, a China tem produzido aço em excesso – as exportações estão em 84 milhões de toneladas por ano (Mtpa). À medida que a China produz aço em excesso, ela consome minério de ferro em excesso.
“E, ao contrário de 2021 e 2022, não esperamos ver uma redução deliberada na produção siderúrgica nacional na China. Em outras palavras, mais aço significa mais minério de ferro”, apontam Rodolfo Angele e Tathiane Martins, analistas que assinam o relatório.
Eles apontam que, talvez devido à superprodução de aço, os preços do minério de ferro permanecem teimosamente elevados em cerca de US$ 120 a tonelada (t), o que se compara às suas expectativas de preços mais próximos de US$ 100/t até o final do ano. Cada US$ 10/t adiciona US$ 2,7 bilhões de Ebitda à Vale.
O JPMorgan também aponta que o curto prazo parece bom para a Vale à medida que os volumes aumentam e a qualidade deve melhorar com a barragem de Torto, no complexo de Brucutu (MG), que recebeu licença de operação.
O posicionamento do mercado tem sido ainda muito brando para Vale e outras ações relacionadas ao segmento de matéria-prima.
“Além disso, durante a noite, vimos o governo da China lançar um pacote de estímulo nacional para o setor imobiliário. Enquanto não estamos atualizando nossas previsões para o minério de ferro, isso traz riscos de alta para nossas estimativas”, apontam os analistas.
Cabe destacar que, nos últimos dias, algumas casas, como o Bradesco BBI e o BTG Pactual, têm destacado a sua visão positiva para a Vale, tanto pela resiliência do minério de ferro quanto pelos sinais de dias melhores para as operações da companhia.
Valor - SP 04/09/2023
A presença da China no mercado internacional de veículos eléctricos está crescendo à medida que a sua quota nas exportações globais de veículos elétricos aumentou oito vezes nos últimos cinco anos.
A BYD, que se expande rapidamente na produção de veículos elétricos acessíveis, é uma força motriz por trás desta tendência. E à medida que o consumo diminui na China, os fabricantes buscam aumentar as exportações para o Sudeste Asiático, invadindo um reduto tradicional dos fabricantes de automóveis japoneses.
A China foi responsável por 35% das exportações globais de veículos elétricos em 2022, em comparação com apenas 4,2% em 2018, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA).
O Japão, pelo contrário, foi o maior exportador de veículos elétricos em 2018, com uma quota de 24,5%, mas viu a sua fatia cair para 9,3% no ano passado. Os Estados Unidos e a Europa também estão muito atrás.
Em 2022, 40% dos chamados veículos de novas energias, categoria que inclui os veículos elétricos, fabricados na China e exportados para a Europa eram de marcas chinesas como a BYD.
Os fabricantes chineses estão de olho na Europa como destino de exportação. O Dongfeng Motor Group da China está aumentando as exportações de sua marca Voyah de veículos elétricos. Em fevereiro, começou a exportar um utilitário esportivo elétrico, o Free, para Israel. No fim de junho, decidiu exportar veículos elétricos para os Países Baixos, Dinamarca e Finlândia, com planos de exportar para a Suíça e Islândia no futuro.
A Dongfeng concentrou-se no lançamento de veículos elétricos na Europa, começando com as exportações para a Noruega em junho de 2022 e possui atualmente cerca de dez showrooms naquele país. Distinguiu-se dos fabricantes ocidentais ao enfatizar a história e a cultura chinesas.
A Europa tem sido um exportador de veículos movidos a motores de combustão interna, mas tornou-se um importador líquido de veículos eléctricos. De acordo com a Associação de Informação do Mercado de Automóveis de Passageiros da China, as exportações de veículos de energia nova para a Europa, de janeiro a junho totalizaram cerca de 350 mil unidades, cerca de 25% do total de veículos elétricos e híbridos plug-in vendidos na Europa durante esse período.
Dentro da União Europeia, a Bélgica, que tem o maior porto de chegada de automóveis da Europa e serve como centro de trânsito para o continente, foi o maior destino, com 130 mil unidades.
As exportações chinesas deverão aumentar. O índice de preços ao consumidor da China caiu 0,3% em relação ao ano anterior em julho, a primeira descida em dois anos e cinco meses, à medida que se aprofunda a retração nos gastos dos consumidores.
A propagação da instabilidade financeira desencadeada pela recessão imobiliária também poderá exercer uma pressão descendente adicional sobre o consumo.
Mesmo face à diminuição da procura interna, o governo chinês tem impulsionado a produção de veículos de nova energia com subsídios maciços. No futuro, a China terá provavelmente excesso de capacidade de produção e, se esse excedente for utilizado para exportações, fará com que os preços caiam. Se mais carros chineses forem exportados para o Sudeste Asiático, o Japão poderá assistir a um declínio na competitividade das exportações.
A S&P Global espera que a quota dos fabricantes japoneses no mercado global caia de cerca de 30% em 2020 para um pouco menos de 26% em 2030. Está atrasada na eletrificação e não encontrou competitividade nos mercados de exportação.
“A produção de automóveis do Japão tem sido apoiada pelas exportações num contexto de queda da procura interna, mas precisamos ter em conta o risco de que a produção interna diminua no futuro”, disse Masatoshi Nishimoto da S&P.
Globo Online - RJ 04/09/2023
O grupo Mercedes-Benz revelou um carro elétrico com autonomia de bateria superior a todos os modelos da Tesla que estão no mercado, em uma aposta da fabricante alemã de veículos de luxo para desafiar Elon Musk, dono da montadora americana. O CLA sedã, carro-conceito prestes a entrar em produção, tem autonomia de mais de 750 quilômetros com uma carga única, batendo o Model 3 da Tesla, atualizado recentemente.
O carro é o primeiro da Mercedes baseado em seus próximos fundamentos para veículos elétricos, com um sistema de baterias que pode adicionar 400 quilômetros de autonomia com uma carga de apenas 15 minutos.
– Estamos indo para um próximo patamar – disse o diretor de Tecnologia da Mercedes, Markus Schäfer, no domingo, às vésperas do Salão do Automóvel de Munique, na Alemanha. – Esse carro é extremamente importante para a inovação e para ampliar os limites do que podemos com veículos de série.
Mercado chinês
A Mercedes está sob pressão para turbinar seu portfólio de veículos após números frustrantes de vendas na China forçarem a companhia a cortar os preços de alguns de seus modelos elétricos.
Também no domingo, a BMW revelou sua próxima geração de veículos elétricos, um cupê de luxo com uma tela digital projetada em toda a largura do para-brisas. Tanto o protótipo da BMW quanto o futuro carro elétrico da Mercedes deverão entrar em produção apenas em meados da década.
A Mercedes está tentando superar a Tesla e turbinar as vendas na China, onde os consumidores cada vez mais escolhem marcas locais, como BYD e Nio. A multinacional alemã tem a meta de, até o fim da década, vender apenas veículos elétricos onde for possível e planeja construir oito fábricas de bateria, em parceria com outras empresas.
Aerodinâmica
O conceito do CLA difere do estilo dos modelos EQS e EQE, sedãs já fabricados pela Mercedes. Seu teto mais baixo é mais aerodinâmico, aumentando a autonomia da bateria – quanto maior a aerodinâmica, menos energia o motor elétrico usa –, mas o desenho também reduz a altura para a cabeça nos bancos traseiros.
Isso pode ser um problema no mercado chinês, onde consumidores mais ricos preferem andar com motorista.
O CEO da Mercedes, Ola Källenius, apresentou uma estratégia para impulsionar as margens de lucro, focando em veículos topo de linha, como as limusines Maybach, os carros com a marca AMG e o off-road G-Wagon, e deixando de lado os modelos de entrada, como o compacto Classe A.
O novo CLA demonstra como a fabricante tentará defender sua posição no mercado de luxo, no qual tenta atrair consumidores jovens, competindo com fabricantes focados em volume, como a alemã Volkswagen e japonesa Toyota.
O Estado de S.Paulo - SP 04/09/2023
O desenvolvimento econômico recente registado por Goiânia e região está diretamente associado ao aumento dos preços dos imóveis, segundo o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França. “A cidade teve, em 2022, um crescimento do PIB duas vezes acima da média nacional; Goiás, por sua vez, também conquistou o 2° melhor Índice de Atividade Econômica do País, medido pelo Banco Central.”
Acrescido a isso, o nível de desemprego do Estado é um dos menores do Brasil, completa França. “O grande avanço nesses indicadores econômicos acaba sendo um impulsionador para o crescimento imobiliário na região, considerando que o preço do m² na cidade ainda está abaixo das grandes cidades brasileiras”, afirma.
De acordo com dados da FipeZap+, o preço médio do metro quadrado (m²) em Goiânia subiu 45% entre 2019 e 2023. O diretor institucional do Grupo Lopes, Cyro Naufel, explica que outras duas tendências estão ligadas ao aumento de preços em Goiânia. “A primeira foi o plano diretor, que reduziu o volume que se pode construir na cidade. Antes, era possível construir 13,5 vezes a área do terreno. Agora, caiu para 7,5 vezes. Ou seja, a oferta será menor do que antes. A segunda foi a chegada dos apartamentos mobiliados e compactos na cidade, o que acontece há cerca de dois anos”, diz.
A valorização do m² é ainda maior entre os imóveis de alto padrão. Prova disso é o caso da incorporadora Opus, que teve imóveis residenciais vendidos em 2020 por R$ 2 milhões e atualmente são vendidos por R$ 4 milhões. A empresa tem agora um projeto chamado Ar Opus, com apartamentos residenciais de 208 m² a 464 m², com preços que partem de R$ 2,5 milhões e chegam a R$ 6,5 milhões.
Dener Justino, diretor da Opus, diz que um terço dos compradores dos imóveis da empresa é composto por empresários do agronegócio, enquanto os demais são médicos, advogados e empresários de setores variados.
“Os diferenciais dos nossos apartamentos são arquitetura autoral, sempre com fachada elaborada, esquadria, área iluminada e arejada, áreas comuns completas, com mobiliário de design de ponta e boa localização. Temos projetos com apartamentos com uma suíte de 48 m² até apartamentos de 500 m²”, afirma.
O superintendente da Ademi, Felipe Melazzo, lembra que o preço do m² de imóveis de luxo chega a ser quase o dobro da média geral de preços da cidade de Goiânia. “No alto padrão, o preço do metro quatro chega a R$ 11,7 mil e nas regiões dos parques, pode atingir R$ 14 mil”, afirma.
Outro termômetro do bom momento do mercado é a velocidade de vendas. Se hoje nada mais fosse lançado, o estoque atual seria zerado em 12 meses. “Isso é muito baixo, a média nacional varia entre 15 e 16 meses”, observa Melazzo. Ele acrescenta que atualmente há 110 canteiros de obras ativos na cidade.
O executivo conta que tem recebido telefonemas de pessoas interessadas em comprar um empreendimento que só será lançado no ano que vem: um apartamento de 350 m², um por andar, com preço entre R$ 15 mil e R$ 16 mil o m². Entre os interessados, estão empresários do agronegócio. Eles representam 40% da clientela da incorporadora nos imóveis de alto padrão.
Baptista conta que esses clientes têm uma forma peculiar de pagar. No lugar de prestações mensais, eles sincronizam os pagamentos às entradas de dinheiro por conta da venda da safra e da safrinha de grãos, que é semestral.
“Trabalhamos com o sistema plano safra/safrinha. Isto é, em março o cliente dá uma sinal grande porque acabou de fazer a colheita e vender a safra e a outra parte é paga em setembro ou outubro, quando entra a renda da safrinha.”
Valor - SP 04/09/2023
Setor imobiliário era um dos maiores impulsionadores dos embarques marítimos de minério de ferro
A redução da atividade comercial está punindo os graneleiros que alimentam a segunda maior economia do mundo com as matérias-primas que ela usa na produção industrial e nesta semana as tarifas cobradas pelos proprietários desses navios caíram ao nível mais baixo em meses.
Particularmente preocupante é o problemático setor imobiliário chinês, um dos maiores impulsionadores dos embarques marítimos de minério de ferro. Os problemas financeiros da incorporadora imobiliária chinesa Evergrande Group, grande usuária de aço, alumínio e concreto, pioraram uma perspectiva já bastante difícil para os grandes navios que transportam essas commodities. Especialistas afirmam que o setor imobiliário enfrentará uma longa recuperação se Pequim não intervir.
“A fraqueza geral, o desacoplamento do Ocidente e a inadimplência das incorporadoras provavelmente significam que uma recuperação movida pela China não acontecerá”, diz Basil Karatzas, presidente-executivo da Karatzas Marine Advisors de Nova York. “É uma sensação péssima.”
As tarifas diárias de frete para os maiores navios graneleiros caíram nesta semana abaixo de US$ 10 mil pela primeira vez desde o começo de junho. Trata-se de uma queda de 40% desde o começo de agosto e de 27% em comparação à semana passada.
O Dry Bulk Index, índice que mede o custo de movimentação de cargas em geral, caiu mais de 18% desde o começo do ano e os grandes navios graneleiros são os mais vulneráveis, com a China representando cerca de metade do mercado mundial de granéis sólidos.
Os armadores afirmam não haver outros “motores” globais para assumir o lugar da China na navegação de granéis sólidos. O mercado de exportação de grãos do Mar Negro se deteriorou desde que a Rússia se retirou de um acordo internacional que facilitava as exportações de grãos ucranianas, bombardeando posteriormente instalações portuárias ucranianas. O resto da Ásia e Europa são mercados fracos para os graneleiros sólidos.
“A China está engasgando e, portanto, se o resto do mundo não se animar, as perspectivas para os granéis sólidos não parecem boas”, diz um executivo experiente do transporte marítimo, cuja companhia opera mais de 100 embarcações. “Durante anos, os investimentos chineses que impulsionaram o PIB foram para o mercado imobiliário e a infraestrutura. Isso não é mais útil porque eles já têm muito disso.”
A China no geral ficou aquém das previsões econômicas para o ano até agora. Sua economia cresceu em um ritmo anualizado de 6,3% no segundo trimestre, ficando abaixo do crescimento de mais de 7% que os analistas esperavam. Os investimentos em projetos imobiliários caíram 8% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado.
Contribuindo para os problemas do mercado estão os atrasos no Canal do Panamá provocados por uma seca severa que levou as autoridades a reduzir as travessias de navios. Dezenas de navios graneleiros estão enfileirados nas duas entradas do canal, com espera de semanas para transitar. Os graneleiros transportam principalmente grãos dos EUA e Brasil pelo canal.
A corretora de navios Braemar de Londres disse em um relatório divulgado no fim de agosto, que todas as rotas de granéis sólidos estão sofrendo perdas diárias, uma vez que os portos chineses movimentam os navios “a um ritmo que os atuais volumes de carga são incapazes de absorver”. Isso levou a um excesso de navios no Pacífico, enquanto poucas embarcações foram fretadas para o Atlântico nas últimas semanas, segundo a Braemar.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a economia chinesa crescerá 4% ao ano entre 2022 e 2027. No entanto, grande parte desse crescimento deverá vir do consumo privado e não de investimentos fixos, como os imobiliários.
“Éramos 900 trabalhando nesse conjunto habitacional”, diz Jia Zhao, um motorista de caminhão que transportava barras de ferro e tijolos em um empreendimento imobiliário da Evergrande em Nanjing. “Agora, está tudo parado. Há menos carga chegando no porto de Xangai. Está realmente difícil.”
O Estado de S.Paulo - SP 04/09/2023
No ano em que a produção no pré-sal completa 15 anos, a Petrobras enfrenta um novo desafio para renovar suas reservas e manter o Brasil entre os maiores produtores mundiais de petróleo, posição que somente o avanço sobre a Margem Equatorial teria condições de preservar.
A margem, que vai do litoral do Rio Grande do Norte ao do Amapá, é encarada pela indústria como a última grande fronteira brasileira de exploração de óleo e gás. E, assim como a bacia de Santos substituiu a bacia de Campos depois do pré-sal, especialistas apontam que somente a ida para o litoral Norte do País pode garantir que o Brasil continue forte entre os grandes países produtores do mundo nas próximas décadas. O País responde hoje por 3% da produção global.
O primeiro óleo do pré-sal, uma região que se estende de Santa Catarina ao Espírito Santo sob uma espessa camada de sal, foi extraído em 2 de setembro de 2008, dois anos após a descoberta do primeiro campo da província pela Petrobras, em 2006. Hoje, o pré-sal já representa 78% da produção da estatal.
Das 57 plataformas da Petrobras, 31 estão instaladas em campos do chamado “Polígono do pré-sal”, e mais 11 serão instaladas para produzir até 2027. Além do grande volume extraído nesses campos, a qualidade do óleo é mais leve do que o Brasil explorava até a descoberta, e as emissões de gases de efeito estufa (GEE) dos principais campos — Tupi, Búzios e Mero — ficam abaixo da média mundial, o que torna o óleo mais atrativo em tempos de transição energética.
“O pré-sal mudou a cara da Petrobras e do País. O Brasil passou a ser o 10º produtor de petróleo do mundo e hoje é o maior exportador da América Latina. Mas, a partir de 2030, 2031, essa produção começa a cair, e não há mais campos grandes para leiloar no pré-sal. Por isso a preocupação de explorar a Margem Equatorial”, diz Adriano Pires, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e hoje sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Ponto de virada
Testemunha da história, Pires participou do primeiro leilão do pré-sal, do campo de Tupi, quando ainda estava na ANP, na época das licitações sob o regime de concessão.
“A gente não tinha ideia de quão bom era, realmente surpreendeu”, diz Pires, que participou do leilão de Tupi, leiloado ainda sob o regime de concessão. Depois, o campo foi rebatizado de Lula, voltando a se chamar Tupi no governo Temer. Segundo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o campo poderá voltar a receber o nome do presidente em comemoração aos 70 anos da empresa.
A ex-diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, afirma que a ficha sobre a potência do pré-sal caiu aos poucos. Ela era superintendente de exploração da agência quando, pouco mais de um ano depois da descoberta, o geólogo Mario Carminatti chegou ao seu gabinete para submeter um plano de avaliação para Tupi.
“Ele (Carminatti) mostrou que ali havia algo diferente do que estávamos acostumados. Então, queria uma área de avaliação bem maior, próxima a 1,2 mil quilômetros quadrados, quando o normal era um terço disso”, afirma.
Segundo Chambriard, a ANP já vinha estudando as potencialidades da descoberta e havia expectativas de oportunidades grandes. Mas o primeiro poço não foi espetacular, tinha algo como 64 metros de espessura de hidrocarbonetos. Só depois, quando Tupi começou a ser desenvolvido é que vieram “aqueles poços maravilhosos”, como se refere, com mais de 200 metros de espessura de hidrocarbonetos. Processo parecido se deu em outros blocos da região, levando à euforia que ganhou o setor naqueles anos.
A partir de então o Brasil ganhou definitivamente as atenções da indústria mundial. O pré-sal elevou o patamar de produção e exportação do Brasil em pouco tempo. Em seis anos, a produção da nova fronteira petrolífera atingiu 500 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/d), dobrando a produção da Petrobras, e hoje ultrapassa os 2 milhões de boe/d. Para se ter uma ideia, a estatal levou 26 anos para atingir a produção de 5,5 bilhões de barris de petróleo, marca acumulada em 15 anos do pré-sal, segundo dados da Petrobras.
Essa produção ultrapassa o volume produzido por países com tradição no setor de óleo e gás, como México, Nigéria e Noruega. Se fosse um país, o pré-sal ocuparia sozinho o 11º lugar no ranking mundial dos produtores de petróleo.
“É uma jornada de sucesso sem precedentes no setor, com impacto positivo não só para a Petrobras, mas para a indústria global e a sociedade nas mais diversas frentes, com um legado valioso de conhecimento científico, tecnológico e intelectual”, define o atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
Apesar das reclamações de agentes privados e especialistas sobre as vantagens da Petrobras no desenvolvimento do pré-sal, como a regra de preferência para participar de operações no polígono, Chambriard destaca sua centralidade na história do desenvolvimento da província.
“Quem botou dinheiro no pré-sal foi a Petrobras. A perfuração dos dois primeiros poços demorou mais de 400 dias. Que outra empresa teria insistido tanto”, diz Magda. “Empresas privadas migram de mercado quando encontram dificuldades, o que é normal. Só uma estatal é capaz de tomar determinados riscos e insistir no País de origem, como está acontecendo no caso da margem”, continua. Ela lembra que essa perfuração já foi tentada e abandonada pela francesa TotalEnergies no passado.
Nova geografia
Adriano Pires destaca que o início da exploração da Margem Equatorial vai levar para o Norte e Nordeste uma produção que antes era focada no Sudeste, ajudando a desenvolver as regiões mais pobres do País. Esse deslocamento, na avaliação de Chambriard, já era uma ambição da ANP no início da década passada, quando surgiram os primeiros entraves de licenciamento ambiental com o Ibama, que já recusou licenciamento para a Petrobras, Total e BP. Na época do pré-sal, a autorização para a exploração foi decidia em uma mesa de negociações e não enfrentou tanta resistência.
Hoje, tanto Ibama como Ministério do Meio Ambiente estão contra a exploração em bacias da margem. Para a ex-diretora da ANP, a fim de manter o nível atual de produção e sua autossuficiência, o Brasil precisa avançar sobre a área e, especialmente, a bacia Foz do Amazonas, fronteiriça à grandes descobertas em países vizinhos.
Já Pires argumenta que o pré-sal comprovou a excelência da Petrobras para explorar petróleo no mar, assim como a de outras empresas que hoje atuam na região consorciada ou não à estatal.
“A barreira tecnológica da Petrobras já foi testada no pré-sal. Existe um certo radicalismo ambiental lá, mas não é incompatível a preservação do meio ambiente com a exploração do petróleo, você vai melhorar a vida das pessoas no arco norte, a região mais pobre do País, e pode usar esse dinheiro para uma política ambiental mais robusta”, diz Pires.
O Estado de S.Paulo - SP 04/09/2023
Depois de grandes descobertas, o País e o pré-sal passaram cinco anos, entre 2008 e 2012, sem ter blocos licitados à iniciativa privada. Encarado como grave descontinuidade no desenvolvimento da indústria e razão de seu encolhimento no País, esse hiato também é justificado por agentes públicos que atuavam na época como freio de arrumação “necessário” para viabilizar um regime de produção — a partilha — condizente com a riqueza mineral encontrada em termos de arrecadação.
Classificado como uma sombra na história do segmento de óleo e gás brasileiro, longos períodos sem leilões estão afastados por ora pelo modelo de oferta permanente, espécie de sistema de leilões contínuos, que acontecem conforme a manifestação de interesse das empresas. Mas, ainda assim, executivos do setor pedem mais celeridade nas ofertas para preservar o investimento de suas matrizes nas subsidiárias e no mercado brasileiro.
Ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e hoje sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires lembra que, frente à enorme produtividade do campo de Tupi, ainda hoje o maior produtor do pré-sal, o governo decidiu em 2007 retirar da 9ª Rodada de Licitações 41 blocos que seriam licitados sob concessão e tinham indicação de reservas no pré-sal.
Depois, foram cinco anos sem leilões de petróleo, até a aprovação do regime de Partilha de Produção, que reserva parte da produção para a União, maximizando a receita pública.
Apesar das queixas do mercado, a ex-diretora-geral da ANP Magda Chambriard, defende ainda hoje o intervalo nos leilões. “A reclamação da indústria é compreensível, mas os agentes públicos tinham outra perspectiva, de valorar aquilo a contento. A indústria estava interessada em garantir portfólio para só explorar no melhor momento para elas. Nós precisávamos adequar o nível de arrecadação e pensar em mecanismos que garantissem operação dentro de prazos determinados”, defende.
Na partilha, diz Magda, a parte do governo (“government take”) descontados custos, que ficava em 60% na concessão, foi reajustada para 75%, em linha com o que se fazia em campos gigantes em outras partes do mundo. Além disso, a participação obrigatória da Petrobras como operadora, também questionada pelo mercado, teria garantido ritmo adequado ao desenvolvimento dos campos.
Em 2013, aconteceu o primeiro leilão do pré-sal sob o novo modelo, do campo de Libra, que gerou grande expectativa no mercado e acabou com um único consórcio concorrendo, liderado pela Petrobras.
Para Pires, o leilão “não foi o sucesso que todo mundo esperava”. “Tinha o modelo da partilha e a Petrobras tinha que ficar com 30% dos campos, ganhando ou perdendo, e isso espantou muita gente e acabou tendo um consórcio único, Petrobras, Shell, Total e as chinesas (CNOOC e CNPC), e a Petrobras teve que ficar com mais de 30% para fechar a conta”, explica. Na visão de Chambriard, entretanto, o modelo com protagonismo da Petrobras garantiu produção em prazo adequado.
“A partir de 2017, com a mudança (dos leilões convocados pelo governo) para a oferta permanente, se licitou um monte de áreas. E o que saiu de óleo? Nada, nenhuma descoberta comercial. Quando a gente licitou Libra, em quatro anos já tinha o primeiro óleo no tanque. Licitar não é o essencial. O essencial é licitar ativo bem estudado. Só sou a favor da correria para bacias maduras, com ativos bem conhecidos, como é o caso de Campos”, diz Magda.
O vice-presidente de relações corporativas da Shell Brasil, Flávio Rodrigues, é um dos executivos que pede uma maior na conclusão das etapas da oferta permanente. A Shell tem forte presença no pré-sal, posição atingida com a compra do BG Group em 2016, que fez da Anglo Holandesa a maior sócia da Petrobras na província petrolífera.
“Hoje, os leilões poderiam estar ainda mais céleres. Nominar áreas demora mais de um ano, às vezes um ano e meio. Por que não acelerar esse processo? O razoável seria menos de um ano, até seis meses depois do apontamento das áreas de interesse pelas empresas. Ainda há opções interessantes dentro das bacias de Campos e Santos”, disse Rodrigues ao Estadão/Broadcast.
Segundo o executivo, a Shell ainda terá as atenções voltadas ao Sudeste nos próximos anos, ainda que acompanhando de perto oportunidades em outras bacias, como as da Margem Equatorial.
Novas regras e consolidação
Sob o formato da oferta permanente, tanto os governos de Michel Temer como de Jair Bolsonaro realizaram leilões bem-sucedidos de blocos do pré-sal do ponto de vista de arrecadação.
Um dos defensores da oferta permanente, o ex-diretor-geral da ANP no período e atual presidente da Enauta, Décio Oddone, reconhece que os leilões mais recentes não levaram a grandes descobertas, o que atribui ao ciclo natural de qualquer província petrolífera, em que os “filés” são descobertos primeiro, sendo seguidos por achados médios e, depois, pequenos.
Oddone lembra que a flexibilização das regras de conteúdo local sob sua gestão garantiram aumento contínuo da produção do pré-sal e esse sucesso atraiu as petroleiras, que vieram ao País para leilões “super competitivos”, com arrecadações recordes.
“De 2017 a 2019, mais de 90% dos bônus de assinatura do mundo, cerca de R$ 30 bilhões, aconteceram no Brasil, basicamente no pré-sal. Aproveitamos o interesse enorme para vender caro aqueles blocos. Antecipamos o recebimento de um dinheiro que poderíamos jamais receber”, argumenta Oddone.
Para ele, seu período na ANP foi de afirmação do pré-sal, uma aposta que começou nos anos 2000, quando a Petrobras contratou os blocos originais. Apesar da discordância sobre o ritmo de ofertas ao mercado, Oddone e Magda concordam sobre a centralidade da Petrobras no desenvolvimento da indústria, o que deve se repetir no caso da Margem Equatorial.
O Estado de S.Paulo - SP 04/09/2023
Considerado o pai do pré-sal por ter sido na sua gestão que a prospecção do petróleo e gás nessa camada foi adiante, o geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras Guilherme Estrella, disse ao Estadão/Broadcast que a estatal tem todas as condições de enfrentar o desafio da Margem Equatorial, como fez no início da década no pré-sal.
Apesar de admitir que as questões ambientais são mais complexas, a tecnologia da empresa evoluiu e, segundo ele, manter a produção elevada é uma questão de soberania nacional. “É provavelmente a última fronteira petrolífera, tem que fazer parte do portfólio da Petrobras”, afirma.
Ele lembra que, no governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobras e a Shell chegaram a perfurar um bloco em 2001 na bacia de Santos, na área de Libra, mas o sal muito espesso impediu o prosseguimento da exploração, que demandava investimentos elevados. Ele já sabia da existência do petróleo abaixo do sal desde 1982, mas só com chegada do presidente Lula ao poder, em 2003, a empresa decidiu enfrentar o desafio.
“A Petrobras era administrada como um fundo de investimento na época do Fernando Henrique Cardoso, e essa exploração é uma questão de política pública, política de Estado, como é agora a questão da Margem Equatorial. Eles deixaram 10 bilhões de barris de petróleo lá embaixo do sal. Quando Lula assumiu, em 2003, com outra visão de sociedade. Provamos que era tecnicamente sustentável e retomamos as atividades”, informou.
O primeiro poço perfurado na gestão de Estrella custou US$ 250 milhões. “Nenhuma outra empresa faria isso”, se orgulha. Com a evolução da tecnologia, hoje o custo gira em torno dos US$ 70 milhões.
Para ele, assim como ocorreu na época do pré-sal, a Petrobras precisa sentar com o Ibama e mostrar que pode atender todas as exigências do órgão. A região, informa o ex-diretor, não é tanta novidade assim para a empresa, que já perfurou poços no local sem nenhum acidente. Os rumores de que a estatal teria perdido equipamentos na nova fronteira por conta da força das marés no norte do País é minimizada por Estrella.
“Isso faz parte numa exploração como essa, mas não é nada que a Petrobras não possa resolver. Produzimos por algumas semanas na costa do Pará na década de 1980, no bloco Palácio Marino 11, mas não era comercial. Mas a simples ocorrência desse poço mostra que a área é prospectável. Tudo lá é muito complexo, mas a tecnologia avançou muito, a sísmica, a interpretação geológica, tudo evoluiu. Ambientalmente é mais complicada que Campos (bacia)”, diz, recomendando a mesma fórmula usada na época da descoberta do pré-sal.
“Tem que sentar com o Ibama e conversar, é uma questão de Estado, de política pública, de garantir a soberania nacional. A Petrobras tem todas as condições de resolver essa parada”, ressalta Estrella, que vem sendo convidado a falar em universidades do País sobre sua experiência no setor.
Diário do Comércio - MG 04/09/2023
Os preços do petróleo subiram nesta sexta-feira para o maior nível em mais de meio ano e interromperam uma série de perdas de duas semanas, impulsionados pelas expectativas de redução da oferta.
Espera-se que a Arábia Saudita prolongue um corte voluntário de 1 milhão de barris por dia na produção de petróleo até outubro, prolongando as restrições à oferta combinadas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados, conhecidos coletivamente como Opep+, para apoiar os preços.
A Rússia, segundo maior exportador de petróleo do mundo, já concordou com os parceiros da Opep+ em cortar as exportações de petróleo no próximo mês, disse o vice-primeiro-ministro do país, Alexander Novak, na quinta-feira.
O petróleo Brent fechou em alta de 1,66 dólar, ou 1,9%, a 88,49 dólares o barril. Anteriormente, atingiu a máxima da sessão, a 88,75 dólares por barril, a maior desde 27 de janeiro.
O petróleo nos EUA (WTI) subiu 1,39 dólar, cerca de 1,7%, para 85,02 dólares. Anteriormente, subiu para 85,81 dólares, o maior nível desde 16 de novembro.
O Brent subiu cerca de 4,8% na semana, maior avanço em uma semana desde o final de julho. O WTI avançou 7,2% na semana, seu maior ganho semanal desde março.
“Há uma percepção de que a economia não está saindo do mapa e há sinais de que a demanda está perto de níveis recordes”, disse Phil Flynn, analista do Price Futures Group. “As pessoas têm de enfrentar a dura e fria realidade de que os suprimentos estão abaixo da média.”
O apetite pelo petróleo nos Estados Unidos tem sido robusto, com recuo dos estoques comerciais de petróleo em cinco das últimas seis semanas, de acordo com pesquisa da Administração de Informação da Energia dos EUA.
Um relatório dos EUA divulgado nesta sexta-feira também mostrou um aumento na taxa de desemprego e uma moderação no crescimento dos salários, reforçando as expectativas de uma pausa nos aumentos das taxas de juros.
Entretanto, as expectativas de recuperação da demanda em outros países está crescente.
Associe-se!
Junte-se a nós e faça parte dos executivos que ajudam a traçar os rumos da distribuição de aço no Brasil.
© 2019 INDA | Todos os direitos reservados. desenvolvido por agência the bag.