Diário do Aço - MG 03/02/2025
Um processo em tramitação na Justiça de Minas Gerais tem chamado a atenção do mundo jurídico e econômico-financeiro. De um lado a Usiminas, tradicional siderúrgica mineira. Do outro, a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch. Em discussão, a relutância da CSN em cumprir à decisão do Tribunal Regional Federal da 6ª Região que determinou a venda das ações que a empresa mantém na Usiminas. A saída da CSN do quadro de acionistas da Usiminas, determinada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), se arrasta há mais de 10 anos.
O processo em tramitação no TRF-6 diz respeito às ações da Usiminas compradas pela CSN em 2011 e 2012, quando a empresa chegou a ter 16,42% dos papéis da Companhia. Em 2014, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) decidiu que a aquisição de ações por parte da CSN configurava uma conduta anticoncorrencial e firmou um Termo de Compromisso de Desempenho (TCD) com a CSN no qual ela se comprometia a se desfazer de suas ações até deter menos de 5%, no prazo máximo de 5 anos.
A CSN não cumpriu a sua obrigação e pediu mais tempo para realizar a transação. Em 2022, o Cade alterou o seu entendimento e o prazo para a alienação passou a ser indeterminado. A Usiminas entrou na Justiça pedindo a venda imediata dos papéis e o cumprimento do acordo assinado pela CSN. A Justiça Federal de Belo Horizonte obrigou a venda das ações, conforme decidido pelo Cade, até 10 de julho de 2024. Novamente, a CSN não cumpriu a decisão. Na entrevista a seguir, o Diretor Jurídico da Usiminas, Guilherme Poggiali, fala sobre o impacto do imbróglio na Usiminas.
Em 29 de julho foi divulgado que a CSN tinha que vender imediato as ações da Usiminas após a decisão do TRF-6 mas isso ainda não ocorreu. O que aconteceu após esta decisão?
A decisão do TRF-6 continua sendo descumprida pela CSN, que permanece com as ações. Para entender melhor o caso, precisamos dar alguns passos atrás. O Cade, autoridade máxima do Poder Executivo responsável por zelar pela livre concorrência no mercado, entendeu que a compra de ações da Usiminas pela CSN configurava uma conduta anticoncorrencial. A CSN assinou em 2014 um Termo de Compromisso de Desempenho (TCD), no qual assumiu a obrigação de vender a participação até ficar com menos de 5% do capital social. É importante destacar que a própria CSN concordou que as ações que excediam o limite previsto na norma eram irregulares e se comprometeu, por livre e espontânea vontade, a reduzir a sua participação até 2019, sob pena de severas multas e até a nomeação de um interventor na CSN. O prazo se esgotou e a CSN não cumpriu o seu compromisso. O Cade prorrogou o prazo e, em 2022, tornou o mesmo indeterminado. A obrigação de venda sem uma data limite não tem qualquer efeito e causa danos para a Usiminas ao manter um concorrente dentro da empresa. Você pode imaginar o Atlético como sócio da SAF do Cruzeiro? Um absurdo, mas isso acontece no setor do aço pela postura da CSN.
Foi neste contexto que a Justiça foi acionada?
Exato. A Usiminas acionou o Poder Judiciário para corrigir uma situação que prejudica não apenas a empresa, mas o mercado e a livre concorrência. Na Justiça, a obrigação da CSN vender as ações foi confirmada na primeira instância e no TRF-6. Pelas decisões judiciais, a CSN deveria ter comercializado os papéis até julho de 2024. No entanto, a empresa vem descumprindo essa determinação. Essa situação é ruim para a Usiminas e para o mercado.
Quais os próximos passos?
A CSN usa de todo tipo de artifício para protelar o efeito da decisão contrária ao seu interesse e essa situação se arrasta há mais de 10 anos. Isso nos obriga a atuar junto ao Judiciário para garantir o cumprimento da Lei e remover a participação ilegal de nosso principal concorrente no quadro acionário da Usiminas.
Como a presença da CSN como acionista relevante da Usiminas prejudica a Empresa?
Não há como negar que ter um concorrente dentro da empresa é prejudicial para o desenvolvimento da Usiminas. Há casos inclusive que este concorrente se posicionou contra iniciativas estratégicas para a Usiminas, como o aumento de capital de 2016 realizado pela Ternium e Nippon Steel. Até hoje a CSN utiliza de sua posição ilegal como acionista e vem lutando na justiça para derrubar esse aporte financeiro, que foi crucial para tirar a Usiminas de uma grave crise que ameaçava sua sobrevivência. Além disso, grande parte das ações ordinárias da Usiminas disponibilizadas para circulação em bolsa estão nas mãos da CSN, reduzindo bastante a liquidez de nossas ações. Em seus comunicados na imprensa, a CSN pede respeito à Usiminas, na qualidade de acionista. É curioso, pois a posição acionária da CSN contraria a Lei e causa transtornos à Usiminas.
Enquanto os processos tramitam na Justiça, como ficam os investimentos na Usiminas?
Todos os investimentos necessários para cumprir as nossas obrigações estão sendo realizados. A segurança jurídica é um importante aspecto do ambiente de negócios. A falta dela pode afetar inúmeras empresas no Brasil em situação societária semelhante e afugentar investidores.
Infomoney - SP 03/02/2025
Diante de perspectivas mais otimistas para o aço brasileiro, impulsionadas pela possível redução das exportações chinesas neste ano, o Morgan Stanley reiterou a recomendação equivalente à compra (exposição para Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5).
Segundo estimativas, a reforma do setor siderúrgico na China pode reduzir a produção e exportação de aço em 15% e 20% em 2025, o que ajudaria no ganho de participação de mercado e recuperação das margens das siderúrgicas brasileiras.
Nesse cenário, analistas esperam preços domésticos mais altos no Brasil, à medida que a queda nas importações aperta o mercado de aço, mesmo com a demanda estável.
No entanto, há riscos positivos para essa projeção, considerando as perspectivas dos principais setores consumidores de aço (automotivo, construção civil e indústria), que juntos representam mais de 80% do consumo de aço no Brasil. Por essa abordagem, a demanda doméstica poderia crescer 3,3% em 2025.
Além disso, o Morgan lembra que tarifas adicionais de importação e outras medidas de proteção estão sendo discutidas e, se implementadas, dariam suporte adicional à sua tese.
Em termos de valuation, analistas desatcam que as ações de Usiminas e Gerdau estão sendo negociadas em múltiplos atraentes tanto em Valor da Firma (EV)/EBITDA quanto Preço/Lucro, em relação às médias históricas, e contam com catalisadores positivos de médio prazo.
Para Gerdau, o banco aponta a possibilidade de liberação de caixa com a redução do capital de giro, enquanto para Usiminas, a previsão é de uma recuperação operacional com a nova gestão e redução de custos com a modernização do alto-forno #3.
Brasil Mineral - SP 03/02/2025
O empreendimento será implantado na área rural de Itaperuçu, na Zona Preferencial para Mineração (ZPM), indicada como um dos principais distritos minerários da região metropolitana de Curitiba.
A Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná – Amep, do Governo do Estado, emitiu parecer favorável à instalação de uma fábrica de cimento e outra de calcário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no município de Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba. A manifestação do órgão metropolitano é um dos requisitos para o processo de licenciamento ambiental, tendo em vista que compete à Amep definir as condicionantes para empreendimentos nas cidades metropolitanas.
A CSN vai investir cerca de R$ 3 bilhões nas plantas, estimando a geração de 15 mil empregos diretos e indiretos durante as obras das fábricas e minas, além de outros 3 mil postos de trabalho após sua implantação. Segundo a Amep, as matrículas apresentadas pela companhia somam uma área de aproximadamente 5 milhões de metros quadrados, o que fará do complexo um dos maiores do segmento no Brasil.
O empreendimento será implantado na área rural de Itaperuçu, na macrozona de extração mineral. De acordo com o Plano Diretor de Mineração da Região Metropolitana de Curitiba, o imóvel está localizado na Zona Preferencial para Mineração, indicada como um dos principais distritos minerários da região metropolitana.
Para o presidente da Amep, Gilson Santos, além do município de Itaperuçu, um empreendimento deste porte traz impactos positivos para todo o entorno, principalmente na geração de emprego e renda. “Nas próximas etapas do licenciamento ambiental e municipal, serão debatidas as contrapartidas visando à instalação do empreendimento”, explicou.
Money Times - SP 03/02/2025
A Empiricus Research realizou apenas uma mudança em sua carteira recomendada de dividendos para fevereiro. As ações da Telefônica Brasil (VIVT3) deixaram o portfólio para dar lugar a Gerdau (GGBR4).
“Com a forte alta da Vivo, aproveitamos para trocar suas ações pelas da Gerdau, que caíram em janeiro com as persistentes preocupações com a atividade na China, mas que podem se beneficiar de políticas protecionistas de Donald Trump nos Estados Unidos neste início de mandato”, afirmam os analistas.
Além da novata, Eletrobras (ELET6), Itaú (ITUB4), Porto Seguro (PSSA3) e B3 (B3SA3) completam a seleção da Empiricus.
Na média, o dividend yield (rendimento de dividendo) para a carteira para 2025 é de de 6,5%.
A carteira é composta por empresas sólidas, geradoras de caixa, que estejam descontadas e que pagam ótimos dividendos, segundo os analistas.
No mês de janeiro, o portfólio registrou alta de 9,1%, sendo que VIVT3 e PSSA3 foram os destaques positivos, com avanços de, respectivamente, 10,9% e 10,7%. O Ibovespa (IBOV) valorizou 4,9% no período.
Dividendos: Veja as indicações da Empiricus Research
Empresa Ticker
Gerdau GGBR4
Eletrobras ELET6
Telefônica Brasil VIVT3
Porto Seguro PSSA3
B3 B3SA3
Por Giovana Leal
Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
O Estado de S.Paulo - SP 03/02/2025
O presidente Donald Trump confirmou a imposição imediata de tarifas de 25% sobre os produtos mexicanos e canadenses e de 10% sobre os chineses. A União Europeia também será sobretaxada em breve, assim como aço e alumínio, que o Brasil exporta para os Estados Unidos.
Metade das frutas e verduras consumidas pelos americanos é importada do México. As tarifas elevarão os preços de abacates, berries, tomates, hortaliças, café e cerveja do México, assim como trigo, canola, frutas, verduras, frutos do mar e alimentos processados do Canadá.
O alto custo dos alimentos, assim como da moradia, é um dos principais motivos da eleição de Trump. A construção civil também terá elevação de custos, com a sobretaxação de madeira, produtos de celulose (que afetam o dry wall e as embalagens de cimento e outros produtos), aço e alumínio importados do Canadá.
Isso, sem contar o aumento do custo da mão-obra na construção civil, agricultura, bares, restaurantes, cozinhas industriais, clubes, balneários e hotéis, resultante da expulsão dos imigrantes latinos, que formam o grosso dessa força de trabalho. Salários mais altos causam inflação.
Não estou considerando aqui a elevação do preço dos combustíveis, já que Trump anunciou a isenção para petróleo e gás.
As importantes indústrias de veículos, maquinários, eletroeletrônicos e aeroespacial sofrerão com a elevação das tarifas dos produtos do México, Canadá e China. Os três são grandes fornecedores de componentes, partes e bens acabados nesses setores.
A China também exporta roupas, tecidos, calçados, equipamentos esportivos, móveis, eletrodomésticos, celulares, computadores, baterias, brinquedos e uma infinidade de outros produtos cujo custo baixo contribui decisivamente para o padrão de consumo dos americanos.
Plásticos e produtos químicos utilizados pela indústria americana vêm da China e permitem a fabricação, nos EUA, de bens a preços competitivos, empregando 21 milhões de pessoas. O mesmo se aplica aos insumos e implementos usados na agricultura e agroindústria, que empregam outros 22 milhões de americanos.
Estudo do Peterson Institute for International Economics, de Washington DC, publicado no dia 17, estima que a combinação das tarifas de 25% sobre o México e o Canadá e de 10% sobre a China, e a resultante retaliação desses países com a sobretaxação de produtos americanos, causarão inflação adicional de dois pontos porcentuais e redução de US$ 55 bilhões no PIB dos EUA nos quatro anos de governo Trump.
O cálculo já considera os eventuais incentivos que essa política protecionista gera de instalação de indústrias nos EUA.
IstoÉ Dinheiro - SP 03/02/2025
Quando “contratou”, na última reunião do ano passado, mais dois aumentos de juros a um ritmo de 1 ponto porcentual, o Banco Central (BC) colocou a política monetária para rodar em piloto automático. Ainda assim, a reunião da última quarta-feira, 29, do Comitê de Política Monetária (Copom) atraiu as atenções pelas sinalizações que seriam ou não dadas para, principalmente, o encontro dos diretores do BC marcado para os dias 6 e 7 de maio.
Neste sentido, o comunicado do Copom veio sem grandes surpresas. Para a reunião de março, a próxima, o comitê segue antevendo a repetição do aumento de 1 ponto porcentual da Selic. Como esperado, o piloto automático não foi desligado. As sinalizações param, porém, por aí, com o Banco Central não assumindo um compromisso sobre o ritmo de alta da Selic a partir de maio.
Confirmou, assim, as expectativas de que a autoridade monetária buscaria “graus de liberdade” diante das incertezas com o início do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que a economia dá os primeiros sinais de desaceleração, a inflação de serviços não dá trégua e a depreciação do câmbio, alimentada por incertezas fiscais, ainda não foi completamente transmitida aos preços pagos pelos consumidores.
Em grande parte, o mercado interpretou o comunicado do Copom como dovish – ou seja, suave – porque, além de não ter renovado a sinalização de aumentos da mesma magnitude nas duas reuniões à frente, o colegiado mudou a abordagem em relação à atividade doméstica. Também houve análises de que o documento veio com projeções moderadas para a inflação e uma avaliação relativamente benigna sobre os possíveis efeitos das tarifas prometidas por Trump, que podem levar a um cenário menos inflacionário para as economias emergentes por causa de seus choques sobre o comércio internacional.
Economistas de instituições como Itaú e XP Investimentos já cogitam a possibilidade de a Selic não subir tanto como o previsto, enquanto alguns analistas entendem que o Copom não deixou claro até mesmo se o movimento de maio será mais uma alta dos juros.
Divergência
Contudo, há um grupo de economistas que entenderam o texto de outra forma, fazendo uma interpretação hawkish. O comunicado do “novo Copom” – agora com sete dos nove membros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva – entrega argumentos para os dois lados. Ao mesmo tempo em que chama a atenção para a piora relevante das expectativas de inflação do mercado, ainda mais desancoradas, mantém em 4% a projeção de inflação do Copom no horizonte relevante de política monetária, agora o terceiro trimestre de 2026. Aponta dinamismo e resiliência da atividade, mas também inclui uma eventual desaceleração da economia doméstica maior do que o previsto entre os riscos de baixa da inflação.
“A sensação que fica é que a autoridade monetária já está pensando nas defasagens da política monetária”, resume a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal.
Para a economista do BNP Paribas no Brasil, Laiz Carvalho, o comunicado veio um pouco mais dovish porque o Banco Central poderia ter dado uma sinalização mais forte de continuidade do ciclo de aperto monetário. Ela considera que a troca no balanço de riscos, incluindo a observação sobre a atividade econômica doméstica, parece ter sido feita muito cedo. “A desaceleração mais acentuada, que é citada no balanço de riscos, ainda deve demorar”, pondera.
O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, entende que o comunicado do Copom foi semelhante ao anterior, o de dezembro, adotando um viés hawkish. “Foi em um tom muito parecido, em que acrescentou atualizações em relação à política econômica americana e reconheceu uma piora das expectativas de inflação”, afirma. “De fato, o momento requer cautela e foi um comunicado muito positivo. Sugere que a autoridade monetária está bastante atenta com o cenário externo e doméstico”, salienta Oliveira.
Ex-diretor do BC, Fabio Kanczuk entende que a decisão desta quarta-feira pode ser interpretada como a “mais dovish possível”. “Foi uma decisão dovish, sem chacoalhar o barco, e dando uma sinalização de um cenário em que é até possível ele dar só mais uma elevação. Isso é consistente com as palavras que ele usou, apesar das projeções econômicas”, afirmou Kanczuk, que atualmente é diretor de macroeconomia da ASA.
Para ele, há alguma chance, porém, de a ata do Copom, a ser divulgada na terça-feira, vir com um tom diferente do comunicado. No entendimento Kanczuk, isso pode ocorrer caso o mercado reaja mal, com inclinação da curva de juros e piora das projeções de inflação, ao tom adotado hoje pela instituição.
O Estado de S.Paulo - SP 03/02/2025
O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, afirmou em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast que existe uma compreensão dentro do governo de que é necessário garantir uma desaceleração na economia para evitar um descontrole inflacionário. Ele afirmou que a equipe econômica será rigorosa na tentativa de garantir uma política fiscal mais contracionista no primeiro semestre do ano e, assim, ajudar no processo de acomodação dos indicadores.
“Isso resolve? Não, mas contribui na margem. A política fiscal atuar de uma forma contracionista colabora para a harmonização da política monetária. Neste momento, para garantir esse processo, esse choque inicial, eu acho que tem um papel importante”, disse. Ceron citou, por exemplo, que a execução dos gastos públicos neste início de ano já está mais rígida, com limitação de um dezoito avos (1/18) nas despesas por parte dos ministérios.
Recentemente, o ministro Fernando Haddad indicou que é preciso desacelerar a economia para que o País não seja prejudicado em outros aspectos, como na questão inflacionária. Ele comparou a taxa do PIB a um carro de fórmula 1. “Se você entende que está havendo uma disfuncionalidade, é que nem você dirigir o carro de Fórmula 1: acelerar é sempre bom? Depende. Tem uma curva na sua frente, tem um muro na sua frente, você está com gasolina? Você está com o pneu adequado? Você tem de olhar para tudo”, disse Haddad.
Agentes de mercado têm desconfiança se o governo embarcará integralmente nessa visão, tendo em conta ainda as eleições de 2026. Ceron argumentou, contudo, que existe compreensão dentro da gestão Lula sobre essa necessidade.
O secretário estima que o País registre um crescimento entre 2% e 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o suficiente para garantir um equilíbrio macroeconômico no País. A projeção, segundo ele, se dá pelo fortalecimento do agronegócio, e não pelo consumo das famílias, fator que geraria maior pressão sobre a inflação. O crescimento de 3,5% do PIB sinaliza estar acima do potencial, avaliou ele.
Centro da meta
As próximas sinalizações do governo na política fiscal, de acordo com agentes econômicos, devem passar pelo orçamento e, principalmente, pelo contingenciamento e bloqueio de gastos. Segundo Ceron, a equipe econômica está discutindo caminhos formais para perseguir o centro da meta fiscal estabelecida pelo arcabouço, de déficit zero em 2025.
Ele afirma que o Tribunal de Contas da União (TCU) deu parecer técnico, mas não definitivo, de que o governo poderia perseguir o centro da meta, sem precisar contingenciar no limite para atingir apenas a banda inferior. “A gente está discutindo quanto a gente consegue ou não, formalmente, trabalhar dessa forma. Do ponto de vista gerencial, há sim o intuito de buscar o centro da meta”, disse.
Ao longo do ano passado, a interpretação adotada pelo Executivo era de que não seria possível manter o orçamento contingenciado se houvesse receitas suficientes para cumprir a meta, mesmo que no limite inferior da banda - de déficit de 0,25 ponto porcentual do PIB.
Resultados do arcabouço fiscal
Ceron defendeu o arcabouço fiscal e disse que o instrumento já apresentou resultados e está funcionando, além de ter espaço para ser aperfeiçoado. Durante a coletiva sobre o resultado do governo central em 2024, Ceron ponderou que o delta de recuperação fiscal no primeiro ano de vigência do arcabouço é muito relevante, ainda que haja ponderações sobre gastos extraordinários e o pagamento de precatórios. Ele disse que, na última década, nenhum modelo de regra fiscal funcionou melhor do que o arcabouço.
“Foi o segundo melhor resultado fiscal da década no primeiro ano de vigência e o terceiro menor patamar de despesas do PIB na década. Podemos discutir se poderia ser mais agressivo ainda, mas em poucos momentos da nossa história recente podemos encontrar alguém que fale que trouxe resultados melhores do que isso”, disse.
Ceron reconhece que os bons resultados não significam que a situação está resolvida e disse que, embora o arcabouço esteja funcionando bem, pode ser aperfeiçoado, o que é “bom e saudável”. Ele também disse que o debate sobre ritmo do ajuste fiscal é legítimo, e fez a ressalva sobre o cenário externo desafiador, indicando que é preciso atenção para acompanhar as decisões do Federal Reserve (Fed) e o que elas irão significar.
Mais medidas fiscais
Ele voltou a dizer que, se forem necessárias mais medidas fiscais para garantir os resultados buscados pelo governo, elas serão adotadas. “Claro que dá para discutir se a intensidade (da recuperação) está adequada, se precisa acelerar, se precisa de sinalização mais forte, debate é legítimo”, afirmou Ceron. Além disso, a equipe vai desenhar medidas para compensar eventuais frustrações de receita, como fez em 2024, comentou.
“Não dá para adiantar quais, porque precisamos esperar ver o que a Receita vai prever em suas reanálises, em quanto vai se frustrar de receita”, disse. Ele ainda argumentou que o pacote fiscal aprovado no fim do ano passado não é trivial e que o momento é de fazer um balanço do efeito das medidas.
Além disso, o governo ainda aguarda a eleição das mesas no Congresso para debater com a nova cúpula quais medidas de incremento de receita que já estão no Legislativo poderão ou não ser aprovadas. “Das medidas que serão ou não aprovadas precisamos esperar Congresso voltar. Fazer articulação política para saber o que é possível e o que não é possível”, disse Ceron, citando ainda que nem todas as medidas de compensação da desoneração da folha se efetivaram e que, portanto, esse assunto com o Congresso ainda está em aberto.
“Algumas medidas não performaram e, portanto, temos ainda não compensação. Não sei como será tratado, mas é questão em aberto que precisa ser discutida”, disse o secretário, repetindo ainda que em 2025 buscará um resultado primário melhor que o verificado em 2024.
Dominância fiscal
Ceron, refutou a tese de que o Brasil se encontra em um cenário de dominância fiscal. Ele avaliou que há casos em que falta serenidade para análises de cenários mais longos, que prejudicam esse debate, que fica dessa forma muito focado no curtíssimo prazo.
“Não há um exemplo razoável de que isso tenha acontecido com um País que tenha resultados fiscais como o nosso”, disse. “Não tenho dúvidas de que não estamos em cenário de dominância fiscal”, frisou.
O secretário ainda ponderou que vê momentos em que uma síndrome de vira-lata se impõe e se tenta colocar enfoque negativo – mas frisou que o País está no caminho de recuperação fiscal.
Ele reafirmou a importância de harmonização das políticas fiscal e monetária para a reancoragem da inflação, mas destacou os bons indicadores da economia do País, sem menosprezar os desafios.
Exame - SP 03/02/2025
A indústria de transformação brasileira conseguiu reverter uma queda de -1,0% no 3º trimestre de 2023 em expansão de +4,6% no 3º trimestre de 2024, segundo os últimos dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO).
Como resultado, a produção manufatureira no Brasil registrou um ritmo de alta duas vezes maior do que o crescimento mundial do setor, do que foi de 2,3%.
A indústria global perdeu fôlego no período com um crescimento de apenas 0,4% em relação ao segundo trimestre do ano passado, menos da metade da taxa anterior, de +0,9%. A agência da ONU aponta que as travas do setor ficaram concentradas nas economias desenvolvidas do Hemisfério Norte.
Industrial global encerra 2024 em queda em meio a expectativa sobre políticas do novo governo Trump
Houve queda da produção na Europa, que saiu de um crescimento de +0,1% para -0,5%. De acordo com a UNIDO, a região passa por uma "trajetória volátil, lutando contra obstáculos importantes, como a inflação alta e a fraca demanda dos consumidores".
Entre os principais produtores da região, a indústria da França (0,0%) ficou estagnada, enquanto Alemanha com -1,8%, Itália (-1,3%) e Suíça (-1,2%) experimentaram declínio. Em contraste, a produção na Áustria (+0,6%), Rússia (+1,4%) e Suécia (+0,7%) mostrou crescimento.
Já na América do Norte, a variação negativa do desempenho foi de -0,2%, impulsionada pela virtual estabilidade nos Estados Unidos (-0,2%) e retração no Canadá (-1,6%). Na comparação com mesmo período de 2023, a queda foi de -0,6%, com recuos de -0,4% nos EUA e de -3,6% em seu vizinho.
Mesmo na China, o resultado positivo de sua indústria mostra perda de dinamismo, segundo a UNIDO.
Na comparação com trimestre anterior, a produção do país asiático teve variação de +1,1%, mostrando uma desaceleração, mas ainda assim com certa dose de resiliência frente ao +1,8%, no 3º trimestre de 2023, e + 1,5% no segundo trimestre de 2024.
Ao superar os resultados da indústria mundial, a produção manufatureira do Brasil também impulsionou a recuperação da América Latina e Caribe.
O levantamento da UNIDO mostra que a região registrou sua primeira taxa positiva após cinco quedas consecutivas, crescendo 1,1% na comparação anual e 1,7% em relação ao trimestre anterior.
Créditos e redução de juros ajudam indústria, diz Iedi
Ao compilar os dados da agência da ONU, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) observa que o desempenho da indústria nacional foi puxado pelos setores de alta e média-alta tecnologia, que cresceram 9,4% no trimestre, segundo estudo da instituição com base nos dados do IBGE.
Esse resultado contrasta com o cenário do final de 2023, quando o setor recuava 17,3% em relação ao ano anterior. No cenário global, setores de alta tecnologia também impulsionaram o crescimento industrial, com destaque para a produção de computadores e eletrônicos (+2,1%) e farmacêuticos (+2,6%).
Na análise do Iedi, a recuperação da indústria no Brasil foi favorecida pela redução das taxas de juros ao longo do ano passado que, segundo o instituto, melhoraram as condições de crédito e incentivaram investimentos.
"Além disso, programas de transferência de renda e estímulos governamentais ajudaram a impulsionar a demanda interna. O BNDES também teve um papel relevante no financiamento de projetos de inovação, digitalização e sustentabilidade, fortalecendo a produção de bens de capital e duráveis", acrescenta.
Apesar do momento positivo, o Iedi projeta que o setor industrial brasileiro possa enfrentar desafios nos próximos meses com a alta da Selic e incertezas no cenário internacional, como potenciais medidas protecionistas por parte do presidente dos EUA, Donald Trump.
Uma eventual aplicação de tarifas pode "reorganizar as cadeias industriais globais e afetar a competitividade da produção nacional", diz o instituto.
Pressionado, o Federal Reserve (Fed) manteve as taxas de juros inalteradas em sua primeira reunião nesta quarta-feira, 29. E no Brasil o Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu com sua política de aperto monetário diante da falta de soluções de longo prazo para o cenário fiscal do país.
A taxa Selic foi elevada para 13,25% ao ano e, segundo os analistas, há um aumento precificado para março, quando os juros podem chegar a 14,25%.
Depreciação acelerada pode mitigar impactos negativos
A análise do Iedi conclui que o programa de depreciação acelerada e o reforço da liquidez do BNDES podem mitigar parte dos impactos negativos no curto prazo.
"O desafio, no entanto, será manter o ritmo de crescimento da indústria brasileira frente às incertezas econômicas globais e ao novo ciclo de juros mais elevados no país", afirma o instituto.
Nesta segunda, Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), anunciou que o instrumento de depreciação superacelerada da indústria terá disponíveis R$ 2,2 bilhões neste ano e R$ 2,2 bilhões em 2026.
Lançado no ano passado pela pasta, o programa de depreciação superacelerada é um incentivo fiscal que permite as indústrias deduzir em até dois anos, da base de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), investimentos realizados em máquinas e equipamentos.
Já o banco de fomento afirmou à EXAME, na semana passada, que o ciclo de investimentos na indústria será mantido ao longo deste ano. Até novembro de 2024, R$ 11,1 bilhões foram investidos em inovação, um recorde para o BNDES.
"Há um grande processo de investimento no setor industrial. Claro que nós vamos acompanhar, com a subida de juros, tudo isso. Mas entendemos que há um ambiente favorável, vamos observar aos pouquinhos o que está acontecendo", disse à EXAME José Luiz Gordon, diretor de desenvolvimento produtivo, inovação e comércio exterior da instituição financeira.
CNN Brasil - SP 03/02/2025
O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirmou na última quarta-feira (29), que o Brasil caminha para reprimarização das exportação.
Velloso reconhece a robustez da balança comercial brasileira de 2024, que encerrou o ano com superávit de US$ 74,6 bilhões, o segundo maior valor da série histórica, mas chama atenção para o comportamento das exportações da indústria de transformação.
“Há 10 anos, 64% das exportações eram da indústria de transformação. Hoje, é 52%”, afirma. “Percebemos que há muita exportação de itens com baixíssima transformação, como açúcar, óleos combustíveis e carne bovina. Estamos caminhando para uma reprimarização”, alertou.
Velloso também chamou atenção para o crescimento de 25,6% das importações de bens de capital em 2024, um resultado positivo.
“Na teoria, isso se traduziria em aumento de produtividade no país. No entanto, o investimento no Brasil não cresceu e o consumo aparente de máquinas caiu.”
O presidente da Associação ainda afirmou que o país não está investindo na indústria como deveria.
“O investimento em máquinas é 35% menor do que o que tínhamos há 10 anos”, recordou.
Guerra comercial entre EUA e China já está trazendo consequências para o Brasil
O presidente da Abimaq disse que a guerra comercial entre Estados Unidos e China já está trazendo consequências para o Brasil.
Ele lembrou que o governo americano anterior, sob o comando de Joe Biden, já trabalhava com medidas tarifárias, e a perspectiva é de continuidade do protecionismo na liderança de Donald Trump, principalmente sobre os produtos chineses.
“Já estamos tendo problemas por aqui, porque aqueles produtos da China que iam para os Estados Unidos ou Europa, já estão procurando novos mercados, e o Brasil é um deles”, afirma. “Isso já tem sido um problema para a indústria nacional, sobretudo a de máquinas e automóveis, que tem maior valor agregado”, acrescentou.
Velloso disse que, com a continuidade de restrições impostas pelos Estados Unidos, esse efeito deve persistir no Brasil e em outros países, mas descarta uma possibilidade de rompimento bilateral entre o País e os Estados Unidos. “O Brasil não é uma das principais preocupações, tem outras na frente.”
O presidente da Abimaq ressaltou ainda que os Estados Unidos são o principal destino das exportações de máquinas e equipamentos brasileiros. No ranking de 2024, 26% das exportações foram destinadas para os Estados Unidos, seguida por 9% para a Argentina, 6,2% para Cingapura, e 6% para o México.
Monitor Digital - RJ 03/02/2025
Em 2024, a China tem registros de importação e exportação para quase todos os países e regiões do grupo estatístico das Nações Unidas, e as exportações chinesas para mais de 160 países e regiões aumentaram, segundo dados divulgados pela Administração Geral das Alfândegas (AGA).
Mantendo crescimento por oito anos consecutivos, a escala de exportação da China ultrapassou 25 trilhões de yuans (cerca de 3,50 trilhões de dólares americanos) em 2024 pela primeira vez, atingindo 25,45 trilhões de yuans em 2024, um aumento anual de 7,1%.
De acordo com as estatísticas alfandegárias, as exportações da China para o Brasil cresceram 23,3% em termos anuais em 2024. As exportações chinesas para os países parceiros do Cinturão e Rota, ASEAN, União Europeia e Estados Unidos aumentaram anualmente 9,6%, 13,4%, 4,3% e 6,1%, respectivamente.
Sendo o maior país manufatureiro e o maior exportador de manufatura do mundo, a indústria manufatureira representou 98,9% do valor total das exportações da China em 2024.
Para 2025, as exportações da China continuarão a mostrar resiliência e vitalidade, disse Lyu Daliang, diretor do Departamento de Estatística e Análise da AGA, mencionando a variedade dos produtos exportados, a flexibilidade na mudança dos motores de crescimento, a estabilidade e diversidade dos mercados, além do suporte de um pacote abrangente de políticas incrementais.
Globo Online - RJ 03/02/2025
O governo brasileiro já deve ter se preparado para reagir com tarifas a uma possível imposição tarifária por parte do governo dos Estados Unidos, afirma Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial.
Para o economista, a taxação sobre produtos brasileiros - especialmente aço e alumínio - é apenas questão de tempo, assim como a que vem se desenhando sobre a União Europeia. Ontem Trump, voltou a citar o déficit comercial com o bloco, indicando que deve anunciar algo em breve.
Embora o Brasil possa seguir os passos da China e recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), Canuto aponta que a entidade está paralisada e não será o canal mais eficiente no novo cenário de fragmentação econômica global que se configura.
Canuto, que também é pesquisador do Policy Center for the New South, projeta um choque de preços como efeito imediato do "tarifaço" de Trump. Mas avalia que o Federal Reserve (banco central americano) aguardará a magnitude desses impactos para determinar os próximos passos da política monetária.
Há risco de o Brasil ser atingido por tarifas?
É uma mera questão de tempo. Trump vai anunciar algo sobre a União Europeia. É inevitável que ele não fique só nisso. O Brasil será afetado. Depois da vitória de Trump, vejo duas trajetórias possíveis na área comercial.
Uma delas, de acordo com os termos e a designação do secretário do Tesouro, tem fins transacionais ou seja, uma ameaça para negociar e obter concessões, inclusive no setor comercial dos demais países. Há uma segunda linha, dos que acreditam, de fato, que as tarifas são um mecanismo legítimo para resolver déficits comerciais. Para eles, os déficits comerciais representam um dano à economia americana.
De uma maneira ou de outra, Trump vai ter que compensar esse tiro no próprio pé, estabelecendo tarifas sobre os outros. Isso pode ser o começo de uma história dolorosa. A dúvida apenas é como isso vai chega ao Brasil. Ele pode optar por uma tarifa geral ou por medidas específicas. O nosso pessoal de aço e alumínio tem que estar preocupado agora.
O presidente Lula falou em reciprocidade. Temos condição de responder à altura?
A China vai aplicar (taxas), assim como fez no primeiro mandato do Trump. Até porque a OMC está, na prática, paralisada como órgão apelativo. O tribunal de apelação está incompleto porque os juízes que deveriam ser indicados pelos Estados Unidos não foram nomeados.
Infelizmente, a ordem global está de cabeça para baixo. Nós não temos nesse momento nenhum sistema de regras que prevaleça. Então, por isso mesmo, o Canadá não esperou ação na OMC para responder e já anunciou sua retaliação.
O Brasil pode querer fazer como a China, que prometeu entrar com processo legal, mas as ações unilaterais americanas não vão ser constrangidas esperando pela OMC. Imagino que o governo brasileiro esteja fazendo ou já tenha feito o dever de casa de verificar como poderá jogar tarifas de volta.
O Brasil tem um escopo mais limitado do ponto de vista daquilo que pode fazer feito. Os americanos poderão não usufruir tanto das exportações brasileiras de suco de laranja, de cana-de-açúcar e alguns outros produtos, mas não é tão doloroso. Mas, para o Brasil, pior é não fazer. É claro que isso pode dar lugar a outras rodadas do Trump, mas nós já vimos esse mundo nos anos 1930.
No limite, todo mundo sofre. Ainda que a dor seja um pouco maior no início para os países que vão ser afetados pelas tarifas imediatas do Trump.
Como isso vai afetar o comércio global?
Quando muita gente anteviu essa tendência de fragmentação, esse movimento foi visto como algo que teria um conteúdo regional. Virou moda falar em “nearshoring”, “friend shoring” (prática de transferir a produção para países mais próximos ou considerados aliados políticos ou comerciais). Agora, com essas tarifas do Trump sobre Canadá e México, quer mais “friend shoring” que esse?
A fragmentação tende a aumentar. E não apenas a retaliação em relação aos Estados Unidos, mas se a União Europeia - e ela é meio dividida nisso - resolver retomar políticas de proteção em relação aos chineses, isso vira uma espiral terrível. Mas há nomes mais sensatos na Europa a esse respeito do que Trump.
Aliás, é até possível que esse movimento do Trump acelere outros tipos de acordo regional. A Europa tem anunciado interesse em aprofundar acordos com o México. Assim como finalmente parece que vai ter um acordo com o Mercosul. A arquitetura vai mudar. O movimento de Trump contra os vizinhos, amigos, realmente vai contra qualquer lógica de fragmentação organizada regional e assim por diante.
O que a escalada de tarifas representa para as trocas comerciais?
Os preços vão subir porque as cadeias produtivas não mudam da noite para o dia a configuração de produção. Essas cadeias são integradas. E há também o impacto nas taxas de câmbio. Nãoé fortuito que desde a campanha eleitoral, especialmente após a vitória do Trump, o peso mexicano e o dólar canadense tenham se deteriorado em relação ao dólar americano, antevendo um impacto maior e mais imediato sobre os parceiros comerciais dos EUA.
Além disso, os Estados Unidos têm outros fatores impulsionando o dólar para cima. Tem a perspectiva de que o dólar vai se beneficiar dos juros, que vão continuar mais altos, e podem até subir dependendo da inflação.
Tem a perspectiva de que a excepcionalidade americana vai ser mantida e exacerbada com as políticas de desregulamentação, então tem um lado que explica esse otimismo com a economia americana que reforça o dólar para cima.
Esse choque de preços pode ser parecido com o que vimos na pandemia?
Tem uma controvérsia sobre a magnitude que os especialistas estimam desse choque de preços. Em termos de proporção do PIB americano, as importações não são tão grandes.
Durante a primeira guerra comercial entre os EUA e a China, o efeito sobre os preços nos EUA não foi muito grande porque houve uma substituição de produtos chineses por fornecedores de outros países ou até mesmo por produtos chineses disfarçados, o que acabou reduzindo o impacto em termos de preço nos Estados Unidos.
Agora, dessa vez, dada a abrangência provável, vai ser difícil ignorar. Tem quem já esteja estimando, só com esses anúncios, uma subida de inflação de pouco acima de 2% para 3%. Não estamos falando de hiperinflação, mas tem um pequeno efeito inflacionário nos Estados Unidos.
E se os preços subirem nos EUA, o país não pode acabar “exportando inflação” para o resto do mundo? Ou ainda é cedo para pensar isso?
Sim, essa é uma preocupação. A preocupação será a reação do Federal Reserve parando de baixar juros e talvez até subindo os juros lá adiante. O principal canal de transmissão do impacto americano sobre o Brasil hoje não é tanto pelo comércio direto, mas sim pela política monetária.
Mas como isso vai afetar negativamente a China, aí indiretamente nos pega. Os chineses podem vir a fazer alguma nova rodada de substituição de agricultura americana por agricultura brasileira. Mas o fato é que o menor dinamismo da China impactaria o Brasil e o mundo inteiro, que virou comercialmente dependente da relação com a China.
Com esse cenário, o que podemos esperar para as próximas reuniões do Fed?
Na última reunião, o Fed já sinalizou que pretende esperar antes de tomar novas decisões. Essa reunião ocorreu antes dos anúncios de tarifas do Canadá, México e outros, e o Fed não poderia comentar sobre isso. Mas a fala do presidente Jerome Powell já denota uma ideia de que é preciso esperar para ver o que vem nos próximos meses em termos de impacto inflacionário.
Agora, se Trump ampliar ainda mais as tarifas, isso reforçará a posição do Fed de ficar onde está e não baixar mais os juros.
O Estado de S.Paulo - SP 03/02/2025
O Banco Central agiu corretamente ao elevar em um ponto porcentual a Selic, para 13,25% ao ano, como havia anunciado que faria. Isso é fundamental para trazer a inflação para a meta de 3% e para ancorar as expectativas. Mas não apenas isso. É importante para Gabriel Galípolo consolidar a imagem de independência logo no início de sua gestão como presidente do BC, em um momento de certa desconfiança na economia brasileira.
Galípolo é o primeiro presidente do Banco Central escolhido sob a lei da autonomia. Foi apontado pelo presidente Lula e desfruta de proximidade com ele. O mercado desconfia da política fiscal do governo e cobrou um preço alto no final do ano por não acreditar nas medidas de controle de despesas. Assim, pode levar tempo para o mercado abandonar qualquer desconfiança de que Galípolo possa fazer algo para ajudar um governo que gasta mais do que deveria. Isso não é bom para um presidente de BC.
Já contei aqui que, ao assumir a presidência do BC em 2003, enfrentei desconfiança semelhante. Demonstramos independência logo de saída — e o mercado entendeu que não haveria leniência com a inflação.
Como disse em uma conferência na semana passada, acredito que, diante deste quadro, Galípolo deveria manter uma distância respeitosa e técnica da Presidência da República. Deveria evitar fazer muitas reuniões com ministros. Faz parte do trabalho de um presidente de Banco Central dar sinais além das decisões técnicas. Fiz bastante isso em meus oito anos no cargo. Em determinados períodos antes de reuniões do Copom, eu recusava convites e chamados para reuniões. Posso dizer que funciona.
O cargo de presidente do BC tem particularidades devido à sua missão institucional e, em certa medida, a lei da independência facilita isso. Guardar certa distância de outras autoridades pode ajudar Galípolo a consolidar a imagem de independência que está construindo e convencer alguns agentes do mercado mais céticos de que não está no cargo para ajudar o governo, mas para trabalhar pela estabilidade da economia. Deve mostrar claramente que fará o que for necessário para trazer a inflação à meta.
O momento da economia é de cautela e certa desconfiança, mas o BC tem totais condições técnicas de levar a inflação para a meta de 3%. É preciso fazer com que o mercado acredite que Galípolo e toda a diretoria tomarão as medidas necessárias para isso, independente da conveniência delas para o governo. Com isso, o BC assumirá o controle das expectativas.
Veja - SP 03/02/2025
A ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar 100% dos produtos dos Brics caso os países membros do bloco passem a utilizar uma moeda comum alternativa ao dólar para as transações reacendeu um debate que teve início em 2023.
Tradicionalmente o dólar é a moeda utilizada nas transações comerciais entre os países membros do Brics, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que recebeu outros países nos últimos anos: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e a Indonésia.
No mundo, 58% dos pagamentos internacionais, excluindo aqueles dentro da área do euro, utilizam o dólar, e 54% das faturas de comércio exterior são denominadas na moeda americana, segundo os dados do Brookings Institution de 2022.
No entanto, a ideia de criação de uma alternativa à moeda que tem dominado o comércio internacional desde o século passado, ganhou força em agosto de 2023 depois que a Rússia começou a propor mudanças nos pagamentos feitos a partir de transações comerciais entre os membros do bloco.
Isso porque os bancos russos foram excluídos do sistema SWIFT, que promove a comunicação entre bancos e outras instituições financeiras, como parte das sanções internacionais após a invasão da Ucrânia. O SWIFT permite que as transações internacionais sejam realizadas de forma segura, rápida e padronizada.
Uma das propostas dos russos é utilizar tokens . A Rússia propõe o uso de tecnologia de registro distribuído (DLT) ou uma plataforma multinacional para transações com tokens, destacando a eliminação do risco de crédito associado ao sistema bancário tradicional. Os argumentos são de que o uso dessa tecnologia agiliza e reduz custos, eliminando intermediários e verificações de conformidade. o que poderia gerar uma economia de até US$ 15 bilhões anuais para os países do Brics, caso metade das transações entre os membros do bloco fosse feita via DLT.
A ideia de substituir o dólar é apoiada pela China. Mas o país busca fortalecer a própria moeda e tem promovido o uso do yuan nas transações comerciais. Já o presidente Lula tem se posicionado em defesa de um sistema financeiro menos atrelado ao dólar. Em discurso por videoconferência durante reunião na cúpula dos Brics em Kazan, na Rússia, em outubro do ano passado, Lula defendeu novamente que o bloco avance nas discussões sobre o uso de uma moeda comum nas transações entre os países do bloco.
“Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas, mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Donald Trump reagiu logo após vencer as eleições ameaçando tarifas de 100% contra países que apoiarem uma nova moeda do Brics e reiterou a ameaça nesta semana. Na prática, até agora o dólar se mantém forte, apesar dos esforços do Brics para reduzir a dependência da moeda.
O Estado de S.Paulo - SP 03/02/2025
Como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu a orientação dada na reunião de dezembro último e aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Unânime e sem surpresas, a decisão levou a Selic ao maior nível desde setembro de 2023.
Desta vez, foram poucas as vozes dispostas a criticar o Banco Central (BC). O tom foi dado por Lula da Silva, para quem o presidente do BC, Gabriel Galípolo, não poderia dar “um cavalo de pau em um mar revolto de uma hora para outra”. “Já estava praticamente demarcada a necessidade de subida de juros pelo outro presidente”, afirmou.
A rara trégua dada ao Copom só ocorreu porque, na versão petista, ainda é possível atribuir toda a culpa a Roberto Campos Neto. “Nós temos que ter paciência. Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central e tenho certeza de que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor no tempo em que a política permitir que ele faça”, afirmou Lula da Silva.
Em tempos de tanta instabilidade, o armistício é positivo. Como disse o comunicado divulgado pelo Copom após a reunião, o ambiente externo continua desafiador, há dúvidas sobre qual será o ritmo de desaceleração da economia norte-americana e os bancos centrais das principais economias do mundo ainda lutam para conduzir a inflação à meta em meio a um mercado de trabalho pressionado.
Não é diferente no Brasil. A taxa de desemprego segue baixa, as projeções para a inflação estão acima da meta para este ano e 2026 e ainda subiram nas últimas semanas e a percepção dos investidores sobre a política fiscal e a trajetória da dívida continua a causar impactos relevantes nos preços dos ativos e nas expectativas.
Se o Copom cumprir a rota indicada, haverá ao menos mais uma elevação de 1 ponto porcentual e a Selic irá a 14,25% ao ano em março, o maior nível desde o fim de 2016. Depois disso, o caminho está em aberto, o que é até compreensível em um momento de tantas incertezas e o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Na conjuntura atual, os três meses até a reunião do Copom marcada para os dias 6 e 7 de maio parecem uma eternidade para sinalizar algo mais firme.
A desaceleração econômica ainda parece incipiente, mas já entrou no rol de preocupações do BC. O recuo do câmbio nos últimos dias pode ajudar a arrefecer o aumento dos preços dos alimentos, enquanto os serviços devem continuar pressionados. Parte do mercado aposta em uma Selic a 15% ao ano em maio, mas a última vez em que a taxa esteve neste patamar foi em 2006, e nem esse nível seria capaz, hoje, de conduzir a inflação ao centro da meta, de 3%.
Tantas dúvidas no cenário econômico poderiam ser parcialmente dissipadas se o governo estivesse disposto a ajudar a autoridade monetária com uma política fiscal mais austera. Sobre isso, no entanto, Lula da Silva não poderia ter sido mais claro e declarou que, a depender dele, não haverá novas medidas para cortar gastos. Como o BC lidará com esse cenário ainda é uma incógnita, mas, até maio, a instituição poderá contar com a condescendência do presidente da República.
O Estado de S.Paulo - SP 03/02/2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu nesta quinta-feira, 30, às ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de tarifas aos produtos brasileiros, afirmando que o Brasil adotará medidas de reciprocidade caso isso ocorra. “Se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos que são importados dos Estados Unidos. Não há nenhuma dificuldade”, disse Lula. No discurso, o presidente brasileiro disse que sua intenção é melhorar as relações entre os dois países, apesar das declarações de Trump. O presidente norte-americano havia citado o Brasil como um dos países que cobram muitas tarifas e que querem “prejudicar” os EUA.
Os dados de 2024 da balança comercial brasileira indicam que o País importa mais do que exporta para os Estados Unidos. De janeiro a dezembro de 2024, as exportações para os EUA cresceram 9,2% e atingiram US$ 40,33 bilhões, recorde histórico. No mesmo período, a importações avançaram 6,9% e totalizaram US$ 40,58 bilhões, num déficit de US$ 0,25 bilhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Exportações
Dados tabulados pelo Monitor do Comércio Brasil-EUA da Amcham Brasil apontam que o volume exportado também alcançou níveis inéditos, com 40,7 milhões de toneladas, representando um aumento de 9,9% sobre 2023. Os Estados Unidos são o segundo na balança comercial do Brasil quando o assunto são exportações, respondendo por 14,95% do total, ficando atrás da China, com 21,10%. Confira abaixo quais são os produtos mais enviados pelo Brasil para os Estados Unidos.
Minério de ferro: 25,3%;Óleo de petróleo ou minerais betuminosos: 19,07%;Soja: 11,52%;Carne: 10,6%;Celulose: 9,15%
Equipamentos de telecomunicações, incluindo peças e acessórios: 5,36%;Veículos: 5,06%;Compostos organo-inorgânicos, compostos heterocíclicos, ácidos nucléicos e seus sais, e sulfonamidas: 4,17%;Inseticidas, rodenticidas, fungicidas, herbicidas, reguladores de crescimento para plantas, desinfetantes e semelhantes: 3,22%.
Ainda segundo a análise da Amacham Brasil, o resultado de importações do Brasil de produtos dos Estados Unidos representaram o segundo maior volume da história, atrás apenas dos US$ 51,3 bilhões de 2022.
Ipesi - SP 03/02/2025
A Abimaq prevê que indústria de máquinas e equipamentos vai crescer 3,7% em 2025 na receita liquida de vendas, após três quedas consecutivas: 8,6% em 2024, 11% em 2023 e 5,8% em 2022. No mercado doméstico a expectativa é de crescimento e 2,3%. Parte desse crescimento será devida aos investimentos das empresas do próprio setor. Pesquisa realizada pela entidade indica que a intenção das empresas de máquinas e equipamentos é investir em 2025 R$ 8,4 bilhões, um aumento de 4% sobre os investimentos realizados em 2024 (R$ 8 bilhões).
Nas exportações, que se encontram em níveis historicamente elevados, a previsão é de estabilidade nos valores em dólares. Mas o real relativamente desvalorizado (R$/US$ 5,9 em 2025 contra R$/US$ 5,4 em 2024) contribuirá para uma receita total maior no período.
A expectativa é que setor fabricante de máquinas e equipamentos apresente aumento da receita liquida nos segmentos de máquinas para agricultura, petróleo e energia renovável, infraestrutura e construção civil. Por outro lado, deve haver desaceleração nas receitas com máquinas para a indústria de transformação e de bens de consumo.
Como o desempenho do setor do terceiro trimestre de 2024 apresentou recuperação de 5,9% na receita, com crescimento de 2,7% no mercado interno e 14,5% nas exportações, a expectativa é que a expansão continue no primeiro trimestre, até porque esse é o comportamento que costuma ser observado. Para o segundo trimestre, se a tendência for mantida, deverá haver algum arrefecimento no mercado.
2024 – No mês de dezembro de 2024, a receita líquida total somou R$ 21.296,67 milhões, com queda de 7,3% em relação ao mês de novembro e crescimento de 9,1% em comparação a dezembro de 2023. No acumulado do ano, a receita somou R$ 270.857,59 milhões, com queda de 8,6%.
Considerando apenas o mercado doméstico, em dezembro de 2024 o faturamento foi de R$ 14.546,83 milhões, com queda de 13,3% na comparação com o mês anterior e crescimento de 5,1% em comparação ao mesmo mês de 2023. No acumulado do ano, o faturamento somou R$ 198.562,27 milhões, uma queda de 11% em relação a 2023.
EXPORTAÇÕES – Em dezembro de 2024, as exportações de US$ 1.107,07 milhões foram 4,2% superiores às de novembro e 1% menor que no mesmo mês de 2023. No acumulado do ano, as exportações somaram US$ 13.182,68 milhões, queda de 5,5% em relação em 2023. Em que pese o recuo, as exportações setoriais tiveram o segundo melhor desempenho, lembra José Velloso, presidente executivo da Abimaq. O volume exportado em 2024 só é menor que a do ano de 2023 (US$ 13,96 bilhões).
A queda nas exportações em 2024 não foi generalizada. Os maiores recuos foram vistos no setor de Máquinas para logística e construção civil (-20,5%) e Máquinas para (-15.8%). Juntos, esses setores são responsáveis por cerca de 40% das exportações totais do setor de máquinas e equipamentos.
No ano, dentre os países que registraram aumento na aquisição de máquinas e equipamentos brasileiros se destacaram Cingapura, Coréia do Sul, México, Guiana, França e Arábia Saudita. E dentre os com quedas aparecem Estados Unidos, Argentina, Paraguai, Chile e Peru.
Para os Estados Unidos, a queda nas exportações foi de 11,2%, concentradas principalmente em máquinas para construção civil; para a Argentina, a queda foi de Argentina, com recuo de 17% em máquinas para óleo e gás.
IMPORTAÇÕES – O volume de importações no mês de dezembro de 2024 foi de US$ 2.600,34 milhões, com crescimento de 14,1% em relação a novembro e aumento de 18,5% em comparação co m o mesmo mês de 2023. No ano, as importações totalizaram US$ 29.594,99 milhões, um aumento de 10,6% na comparação com 2023.
De acordo com relatório da Abimaq, em 2024 duas atividades registraram queda nas importações: a de extração de petróleo e a agrícola. No período, o maior crescimento de importação ocorreu na indústria de transformação, tanto de bens duráveis como não duráveis ou semi-duráveis. “Os dados evidenciaram que setores com melhor performance em 2024 ampliaram seus investimentos e boa parte de origem estrangeira, em alguns mercados há uma clara perda de participação da indústria local”, frisa.
OUTROS INDICADORES – A indústria de máquinas e equipamentos encerrou o mês de dezembro utilizando 73,2% da sua capacidade instalada. Na carteira média de pedidos, medida em semanas para o seu atendimento, houve estabilidade em relação ao mesmo mês do ano anterior. Mas houve queda na carteira de pedidos dos fabricantes de máquinas agrícolas e para construção. Demais segmentos registraram expansão.
O setor encerrou o mês de dezembro com 398,758 mil colaboradores, um aumento de 0,2% em relação ao mês de novembro de 2024
Globo Online - RJ 03/02/2025
A ex-ministra das finanças do Canadá Chrystia Freeland disse que Ottawa deveria retaliar quaisquer tarifas dos EUA, acrescentando enormes taxas sobre os veículos da Tesla para punir Elon Musk, um dos “amigos bilionários” de Donald Trump, segundo informações do Financial Times.
— O Canadá deve ameaçar impor uma tarifa de 100% sobre todos os veículos da Tesla e uma tarifa de 100% sobre o vinho, a cerveja e os destilados dos EUA se tarifas injustas forem impostas aos canadenses — disse Freeland.
O presidente Donald Trump reiterou hoje que as tarifas sobre o Canadá, México e China começariam a valer a partir deste sábado (1º de fevereiro).
Freeland disse ainda que a divulgação de uma lista direcionada de possíveis tarifas retaliatórias sobre importações americanas no valor de US$ 200 bilhões mostraria que “podemos atingir Trump onde dói”.
A ex-ministra fez parte da equipe canadense que negociou o acordo comercial EUA-México-Canadá assinado por Trump em seu primeiro mandato e o qual ameaça abandonar.
Segundo ela, ao mirar em produtos fabricados "por seus amigos bilionários, o Canadá pode exercer uma pressão política sobre a Casa Branca.
Em entrevista ao jornal Financial Times, a ministra de Relações Exteriores do Canadá, Mélanie Joly, disse que a decisão pode fazer com que os EUA se tornem dependentes do petróleo da Venezuela.
— Enviamos petróleo com desconto, que, no fim das contas, é refinado no Texas. Se não formos nós, será a Venezuela — afirmou.
Autoridades do governo do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, por sua vez, já elaboraram uma lista de produtos dos Estados Unidos, no valor de aproximadamente US$ 105 bilhões, que poderão ser alvo de tarifas caso a guerra comercial se intensifique, segundo fontes próximas ao governo.
A lista inclui café da Louisiana e bourbon do Kentucky, semelhante à resposta adotada em 2018, quando Trump taxou as importações de aço e alumínio.
Trudeau também considera opções ainda mais drásticas, incluindo impostos sobre exportações de commodities estratégicas do Canadá para os EUA, como petróleo e urânio.
Infomoney - SP 03/02/2025
Poucos minutos no trânsito de uma grande cidade brasileira são o suficiente para identificar ao menos um carro elétrico. Um observador atento também vai encontrar diversos dos carregadores responsáveis por manter esses veículos rodando em pontos como shoppings, postos de gasolina e estações de carregamento.
Mas a chegada de novos fabricantes, como a BYD, bem como projeções de eletrificação mais ousadas vindas boa parte das principais montadoras deve levantar a dúvida: afinal, há pontos de carregamento suficientes no Brasil para a modalidade de veículo que tem quase dobrado suas vendas no País nos últimos anos?
Apenas em 2024, a quantidade de carregadores cresceu 182% no Brasil, de 4,3 mil ao fim de 2023 para 12,13 mil, apontam dados da empresa de tecnologia para mobilidade elétrica Tupi. Só no último trimestre, a infraestrutura de carregamento teve um acréscimo de 1.515 pontos.
“Há uma recomendação que fala em 10 carros eletrificados [o que inclui elétricos e híbridos] para um ponto de recarga público. Se olharmos para o número do Brasil, é bastante razoável”, diz o presidente executivo da Tupi, Davi Bertoncello.
Ao todo, foram vendidos 397 mil veículos eletrificados no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Calcula-se que cerca de 204 mil deles sejam plug-in — isso é, que precisam ser conectados a um carregador. É um número que atende a recomendação.
No setor, não é raro ouvir uma versão própria do clássico dilema do “ovo ou a galinha”. Trata-se de entender se a demanda de veículos elétricos deve puxar a infraestrutura de carregamento ou a infraestrutura de carregamento estimula os consumidores a comprarem eletrificados.
“No mundo dos sonhos, os dois vêm juntos, mas aqui no Brasil, os carros vieram primeiro. E não foi só no Brasil, foi quase que mundo afora foi assim”, diz Bertoncello. Por algum tempo, comprar infraestrutura de carregamento foi muito caro. Em 2019, um carregador elétrico rápido custava em média R$ 1 milhão, esse valor hoje é de R$ 250 mil.
A ampliação da rede de recarga rápida é a grande questão agora: são apenas 1.516 pontos desse tipo no Brasil. São eles quem garantem aquele carregamento ao estilo posto de gasolina, uma parada rápida para viagens longas ou dias inteiros de direção na cidade.
A redução do custo dos carregadores em 1/4 estimula a instalação de pontos de carregamento ao abreviar o tempo para obter retorno sobre o investimento. Na rede da Tupi, a receita diária mínima apurada por um carregador do tipo é de R$ 350. A depender da localização dos pontos e dos acordos comerciais, esses ganhos podem chegar a R$ 1,5 mil.
A expectativa da empresa é de que, no próximo ano, a potência instalada em carregadores mais que dobre, ainda que a quantidade de pontos não cresça no mesmo ritmo. “A expectativa é que só nesse ano haja um incremento de algo como 2 mil carregadores rápidos, o que nos levaria a ter pelo menos 3.500 carregadores rápidos pelo Brasil ao fim de 2025”, conta o executivo.
A Tupi funciona em um modelo B2B2C, oferecendo serviços para empresas e também para o consumidor final. Funciona assim: se uma empresa quer abrir postos de carregamento, a Tupi oferece uma plataforma para que os proprietários de veículos paguem pela energia. Os pontos são registrados e um aplicativo mostra onde eles podem carregar os carros.
Quando algum dos mais de 140 mil usuários da plataforma acessa o aplicativo, ele vai se deparar com um concentração de 5,14 mil carregadores apenas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, sendo que 2,36 mil deles estão nas capitais.
Para Bertoncello, essa dinâmica deve ser normal no setor. Dada a alta densidade das grandes cidades, a quantidade de serviços de carregamento é maior e, principalmente, os postos são necessários porque nem sempre há infraestrutura para carga dentro das casas — ou melhor, apartamentos.
“No interior, em geral, existem mais casas do que prédios, é um bálsamo para o carro elétrico, porque é muito mais fácil de instalar um carregador residencial”, diz. Embora o estado de São Paulo hoje fuja da curva, uma espécie de “Califórnia” quando comparada a adesão aos elétricos com os Estados Unidos, a rede tem crescido fora da região sudeste.
A Bahia, por exemplo, já é o sétimo estado em quantidade de carregadores no Brasil. É o estado que está prestes a abrigar a produção de automóveis da BYD, gigante chinesa do setor de fabricação de elétricos que pretende produzir 300 mil veículos anualmente nos próximos anos.
Segundo dados da ABVE, foram 93,9 mil elétricos vendidos em 2023, um aumento de 90,7% frente ao ano anterior. Em 2024, as vendas cresceram 88,8%, para 177,3 mil.
Valor - SP 03/02/2025
Novas tarifas dos Estados Unidos visando México, Canadá e China devem ter repercussões nas cadeias de suprimentos globais, com a indústria automobilística americana potencialmente enfrentando um golpe de US$ 33 bilhões no lucro.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou no sábado ordens executivas impondo tarifas de 25% sobre importações canadenses e mexicanas, bem como 10% adicionais sobre produtos da China, a partir de 4 de fevereiro.
Espera-se que as tarifas tenham um grande impacto na indústria automobilística em particular. De acordo com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, automóveis e peças automotivas foram responsáveis por 27% das importações totais do México no período de janeiro a novembro de 2024 e 12% das importações do Canadá.
Quanto às vendas de automóveis em 2024 nos Estados Unidos, 22% dos veículos foram produzidos no México ou Canadá, de acordo com a S&P Global Mobility. O analista da Nomura Securities, Anindya Das, estima que as tarifas sobre os três países suprimiriam o lucro operacional na indústria automobilística dos Estados Unidos, incluindo veículos e peças montados, em US$ 33 bilhões.
Um número crescente de fabricantes de automóveis e fornecedores de autopeças se expandiram para o México, sustentados por custos mais baixos e termos comerciais favoráveis sob o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
A Nissan envia do México cerca de 27% dos carros que vende nos Estados Unidos. A Honda envia 13% e a Toyota, 8%. Considerando que o México importa metade de suas autopeças dos Estados Unidos, tarifas retaliatórias levariam a uma queda ainda maior.
As tarifas direcionadas ao Canadá afetarão as importações de petróleo, gás e recursos minerais dos Estados Unidos, mesmo com o governo Trump limitando as taxas sobre categorias como petróleo a 10%. O Canadá responde por cerca de 60% das importações de petróleo dos Estados Unidos, com a porcentagem crescendo para cerca de 70% ao se incluir o México.
O Canadá foi responsável por cerca de 40% dos minerais e metais importados pelos Estados Unidos em valor em 2023, de acordo com a Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos. O setor de manufatura intensificou o investimento no Canadá nos últimos anos, motivado por esforços para diversificar a aquisição de metais raros além da China.
A imposição de tarifas adicionais à China provavelmente alimentará preços mais altos para bens de consumo nos Estados Unidos. Produtos eletrônicos, como TVs e equipamentos de áudio, foram responsáveis por cerca de 30% das importações totais da China nos primeiros 11 meses de 2004. Com móveis, brinquedos e vestuário também no topo da lista de importações, um aumento nos preços arriscaria minar o apetite do consumidor.
"Tarifas, como um imposto sobre o consumo, são regressivas, então seu impacto é mais pesado sobre consumidores de baixa renda", disse o presidente da Mitsui & Co. dos Estados Unidos, Sayu Ueno.
Shunsuke Kobayashi, economista-chefe da Mizuho Securities, diz que "se os países que enfrentam tarifas adicionais decidirem impor tarifas retaliatórias, o impacto na economia global e na economia japonesa pode aumentar rapidamente".
Tarifas gerais reduziriam o produto interno bruto (PIB) real dos Estados Unidos em 0,76% e o PIB real do Japão em 0,07%, estima a corretora japonesa.
As empresas estão reavaliando suas cadeias de suprimentos devido à ameaça de tarifas. A Volkswagen, que envia mais de 40% de seus carros vendidos nos Estados Unidos a partir do México, está considerando mover a produção dos modelos Audi e Porsche para os Estados Unidos, de acordo com uma reportagem da mídia alemã.
A fabricante japonesa de equipamentos de escritório Ricoh tem enviado produtos feitos na China para os Estados Unidos. Mas com a perspectiva das tarifas de Trump, a empresa planeja enviar produtos feitos na Tailândia para os Estados Unidos. Equipamentos de escritório feitos na China seriam enviados para mercados como Japão e Europa.
Infomoney - SP 03/02/2025
Os trabalhadores que viajaram da China para o Brasil para construir a nova fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia, ganhavam cerca de 70 dólares por turno de 10 horas, mais do que o dobro do salário mínimo chinês por hora em várias regiões. Para muitos, isso tornou a candidatura uma decisão fácil, que depois se mostrou muito mais difícil de reverter.
Os trabalhadores chineses contratados pela Jinjiang, prestadora de serviços para a BYD no Brasil, tiveram que entregar seus passaportes ao novo empregador, deixar que a maior parte de seus salários fosse enviada diretamente para a China e desembolsar um caução de quase 900 dólares que só poderia ser resgatado após seis meses de trabalho, segundo um contrato de trabalho visto pela Reuters.
O documento de três páginas, assinado por um dos 163 trabalhadores libertados de “condições análogas à escravidão” por auditores fiscais do trabalho no mês passado, inclui cláusulas que violam leis trabalhistas do Brasil e da China, segundo investigadores brasileiros e três especialistas na legislação trabalhista chinesa.
Outras cláusulas previamente não relatadas davam à empresa o poder de prorrogar unilateralmente o contrato de trabalho por seis meses e aplicar multas de 200 iuanes por xingamentos, discussões ou outras condutas, como andar sem camisa no local de trabalho ou nos alojamentos.
: BYD trouxe centenas de chineses irregulares para fábrica na Bahia, diz auditora
Muitas das cláusulas “são clássicos ‘sinais de alerta’ de trabalho forçado”, disse Aaron Halegua, advogado e pesquisador da Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, que obteve compensação para trabalhadores chineses que processaram seus empregadores por trabalho forçado nas Ilhas Marianas do Norte, um território dos Estados Unidos.
Ele acrescentou que reter os passaportes dos trabalhadores ou exigir qualquer tipo de caução ou pagamento de segurança não seria permitido pelas leis e regulamentos chineses.
A Jinjiang, que trabalha na construção de fábricas da BYD em várias cidades da China, como Changzhou, Yangzhou e Hefei, contestou as alegações, afirmando que as conclusões dos auditores fiscais brasileiros são inconsistentes com os fatos e resultado de traduções equivocadas.
“A alegação de que os funcionários da Jinjiang foram ‘escravizados’ e ‘resgatados’ é totalmente equivocada”, disse a Jinjiang em uma declaração no mês passado.
Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD Brasil, disse à Reuters que a montadora não tinha conhecimento de qualquer irregularidade até o final de novembro, quando surgiu a primeira reportagen na imprensa sobre o caso, e que entrou em contato com a Jinjiang para questionar as alegações.
Baldy e o presidente da BYD no Brasil, Tyler Li, se reuniram em 2 de dezembro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, eles informaram a Lula que a BYD estava lidando com a questão, segundo duas fontes familiarizadas com a conversa.
O gabinete de Lula não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
Duas semanas depois, uma operação de auditores fiscais do trabalho encontrou os trabalhadores vivendo amontoados em alojamentos sem colchões. Trinta e um trabalhadores viviam apertados em uma única casa, com apenas um banheiro e comida empilhada no chão ao lado de pertences pessoais, em condições que os auditores descreveram como “degradantes”.
Baldy negou ter discutido o assunto com Lula em sua reunião e disse que a empresa não tinha conhecimento do contrato de trabalho da Jinjiang. A BYD está tomando medidas para garantir que “essa situação não se repita”, afirmou ele à Reuters. Após a inspeção, a BYD rescindiu seu contrato com a Jinjiang.
Os auditores não forneceram qualquer evidência de que a BYD estava ciente das violações, mas a montadora é “diretamente responsável”, disse Matheus Viana, chefe interino da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), porque a companhia é responsável pelas ações de um contratante terceirizado em suas instalações.
Substituindo a Ford
O contrato não divulgado anteriormente oferece novos detalhes sobre como uma fábrica, considerada um símbolo do estreitamento das relações Brasil-China, se tornou o epicentro de um escândalo para a BYD em seu maior mercado fora da China.
A BYD concordou no final de 2023 em assumir e investir pesadamente na produção de veículos elétricos em um parque industrial em Camaçari, no Estado da Bahia, onde por duas décadas funcionou uma fábrica da Ford Motor.
A Ford abandonou a unidade em 2021, demitindo cerca de 5.000 trabalhadores ao encerrar a produção no país.
Para Lula, ex-líder do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na região metropolitana de São Paulo, o acordo com a BYD prometia gerar empregos industriais do século 21 em um reduto petista.
A notícia do grande investimento alimentou esperanças de que a empresa chinesa traria de volta o dobro de empregos que a Ford eliminou, em um Estado onde quase 10% das pessoas estão desempregadas.
Mas quando a BYD contratou uma empreiteira chinesa para construir a fábrica, Antonio Ubirajara Santos Souza, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial de Camaçari e Região (Sindticcc), disse que foi um sinal de que a empresa “não jogou limpo”.
Em uma declaração encaminhada à Reuters, a BYD disse que a empresa está comprometida em gerar empregos locais e que, quando o complexo fabril estiver em plena operação, contará com 20 mil trabalhadores, incluindo brasileiros.
Durante a operação de dezembro, os inspetores encontraram cópias de 10 contratos com cláusulas similares às vistas pela Reuters, eles disseram. Alguns trabalhadores disseram aos auditores que não tinham contratos, e outros afirmaram que só assinaram os seus papéis depois de meses no Brasil.
A BYD e a Jinjiang serão acusadas de embaraçar a investigação porque, quando solicitadas, não forneceram aos auditores o endereço dos alojamentos dos trabalhadores, disse Daniel Santana, auditor fiscal do trabalho que investiga o caso. A acusação expõe as duas empresas a uma possível multa.
Investigação agita moradores da região
Centenas de trabalhadores chineses ainda estão trabalhando no canteiro de obras junto a brasileiros, disseram líderes sindicais à Reuters. Os representantes sindicais afirmam que os empregados brasileiros se queixaram este mês de irregularidades no local, incluindo falta de água potável.
A BYD compartilhou com a Reuters fotos dos novos alojamentos e refeitórios que disponibilizou para os empregados. Mesmo assim, o Sindticcc decidiu processar tanto a BYD quanto a Jinjiang por violações anteriores.
Políticos locais também levantaram preocupações sobre outros projetos na Bahia previstos para serem construídos por empresas chinesas, como uma ponte em Salvador orçada em 7,6 bilhões de reais, o que alguns moradores temem que possa ser o mais recente de uma série de projetos dependentes da mão de obra estrangeira.
“Jamais a gente pode trazer um desenvolvimento para um Estado às custas de um trabalho escravo”, disse o deputado estadual Alan Sanches (União Brasil).
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), disse à Reuters que a BYD ainda deve criar 10.000 empregos locais e que o Estado não pode “perder essa oportunidade”, mas que a montadora precisa fornecer trabalho em condições decentes.
Júlio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, disse que já alertou os representantes da BYD de que a entidade não aceitará que brasileiros percam oportunidades de emprego para trabalhadores trazidos da China.
Se isso acontecer, afirmou, “a fábrica vai ter a primeira greve da BYD antes mesmo do início de produção”.
(Reportagem de Fabio Teixeira em Camaçari, Luciana Magalhães em São Paulo e Lisandra Paraguassu em Brasília; reportagem adicional de Ricardo Brito em Brasília e James Pomfret em Hong Kong)
Veja - SP 03/02/2025
As construtoras Adolpho Lindenberg e Eztec juntaram as escovas, como adiantado pelo Radar Econômico em agosto de 2024. A Eztec está fazendo uma capitalização de 130 milhões de reais na Lindenberg em troca de 47% da companhia.
As negociações entre a Eztec e a Lindenberg começaram há três anos. Em 2022, ambas fecharam uma parceria para o desenvolvimento em conjunto de projetos imobiliários. Apesar da ‘fusão’, as marcas serão preservadas — a Eztec tem foco na classe média e a Lindenberg, no mercado de alto padrão.
À época, a Eztec encaminhou para a coluna nota com a negativa dizendo que “não há negociação ou intenção de realizar combinação de negócios (fusão) com a Construtora Adolpho Lindenberg S.A. (“CAL”)”, apenas “acordo para o desenvolvimento conjunto de empreendimentos imobiliários” e “cessão à Companhia de bônus de subscrição de emissão da CAL que garante à Companhia a opção de subscrição de novas ações de emissão da CAL”. Pois é.
Globo Online - RJ 03/02/2025
Aquecido, setor investe em capacitação e ‘linhas de produção’ com pré-moldados para enfrentar gargalo de mão de obra, que tem, em média, 41 anos
Por João Sorima Neto
02/02/2025 04h00
O setor de construção civil, um dos que mais empregam no país, com 2,9 milhões de trabalhadores formais, vive o desafio de rejuvenescer. Com idade média dos trabalhadores de 41 anos, as construtoras tentam acelerar a digitalização e a industrialização dos canteiros de obras, além de oferecer salários mais altos, para atrair os jovens e, especialmente os mais qualificados, principal gargalo do segmento neste momento em que as vendas de imóveis novos batem recordes consecutivos. Algumas empresas do ramo até criaram escolas para treinar interessados e evitar atrasos na entrega dos imóveis.
— Com a economia aquecida e o desemprego no menor patamar histórico (6,6% em 2024), o desafio da construção civil é atrair, treinar e reter mão de obra. Este é o principal limitador dos negócios e preocupação central das empresas, segundo nossa sondagem — diz Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre.
Fábrica vira escola
Lucas Moura, gerente de Gente e Gestão da Tenda, conta que a construtora teve de criar, em 2023, uma “fábrica-escola” nos canteiros para ensinar funções como acabamento, pintura e instalação de cerâmica, entre outras, como forma de profissionalizar jovens e atraí-los para a carreira. Os alunos se tornam aprendizes e podem ser efetivados. Foram treinadas 151 pessoas até dezembro do ano passado.
— Um dos principais resultados foi a reposição rápida de colaboradores, com impacto mínimo na linha de produção, pois o turnover (rotatividade nos postos de trabalho) ocorre dentro da escola, e não diretamente nas obras — diz Moura.
Outra forma de treinar profissionais é o programa de refugiados nos canteiros, lançado na pandemia, para contratar venezuelanos acolhidos em abrigos em Roraima após cruzarem a fronteira. O programa cresceu e atraiu pessoas de outros países, como Angola e Haiti. Matuvanga Mputu, de 41 anos, é um deles. Vindo de Angola em 2021, ele ficou num albergue em São Paulo por 8 meses, com dificuldades para encontrar emprego formal.
— Eu não era do setor, mas recebi treinamento na escola-fábrica e acabei sendo efetivado. Quero seguir carreira e chegar a analista — diz ele, que deixou a mulher e quatro filhos em Angola e deseja trazê-los no futuro, quando se firmar no setor.
Fábio Gato, gestor de Qualidade e Segurança do Trabalho na construtora Vinx, conta que processos burocráticos nas construções, que “usam papel”, têm sido digitalizados. As conferências de serviços executados nas obras e até mesmo da chegada de material nos canteiros, por exemplo, já são feitas com tablets e aplicativos no celular.
Com isso, a informação fica disponível quase que instantaneamente para engenheiros de obras, que otimizam o cronograma, evitam atrasos e aproveitam as habilidades dos jovens com a tecnologia. O executivo conta que estagiários que trabalham com esses engenheiros já questionam se esses serviços foram digitalizados e se existe uso de escaneamento de dados antes de aceitar a vaga.
— Ninguém quer andar com pilhas de papel. E economizamos até 80% do tempo que gastávamos com impressões e no recebimento de material — explica Fábio Gato, acrescentando que a construtora também está criando uma universidade corporativa para oferecer treinamento.
O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) revisou a sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do setor de 3,4% para 4,4% para 2024, o que significa que o segmento está aquecido e deve abrir mais vagas este ano. Uma das frentes em aceleração é a do programa Minha Casa, Minha Vida, que foi turbinado pelo governo federal.
200 mil vagas em 2024
Segundo dados do Sinduscon-SP, foram criadas mais de 200 mil vagas formais na construção civil em 2024. Ainda assim falta gente. A escassez de mão de obra nos canteiros acaba obrigando as empresas a elevar os salários, o que é bom para os trabalhadores em um setor historicamente conhecido por baixa qualificação e remuneração na informalidade. Por outro lado, o custo mais alto da força de trabalho tem se refletido no Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que acompanha a variação dos preços nesse segmento, e acaba elevando o valor final dos imóveis. O índice subiu 6,34% entre janeiro e dezembro de 2024.
Dados do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos (GTRH) do Sinduscon-SP mostram que salários mais altos têm sido um dos instrumentos das construtoras para reter e atrair trabalhadores. Nos postos formais da construção civil, os empregados ganham R$ 3.661 mensais, em média, já acima da indústria (R$ 3.571). Mas há construtoras que remuneram funcionários por produtividade, com o salário podendo chegar a R$ 7,5 mil. Os mais qualificados têm mais chance de conquistar as melhores vagas.
— É preciso capacitar pessoas, usar inteligência artificial (IA) para ganhar produtividade e atrair mais mulheres para o setor, que atualmente representam apenas 12% da mão de obra em São Paulo e 6% na média nacional — observa Ana Maria Castelo, do FGV/Ibre.
O Sinduscon-SP em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo está formatando um curso técnico de edificações, que deve começar em 2026. O presidente da entidade, Yorki Estefan, também quer incentivar o aumento da produtividade via industrialização dos canteiros, mas observa que essa transformação não se faz no curto prazo. Ele observa também que apenas 26% das pessoas que trabalham no setor têm carteira assinada, mantendo ainda a alta informalidade do setor. Para ele, é preciso discutir se a CLT é o melhor caminho para atrair essa mão de obra:
— Há visão de empreendedorismo disseminada, muitos preferem ser informais.
Nos canteiros da Tenda, por exemplo, os empregados já trabalham como numa “linha de produção de apartamentos” industrializada. A empresa criou um Centro de Distribuição e Transformação (CDT) de materiais, que são enviados para as obras apenas quando necessário (como no modelo industrial just in time, para uso imediato em vez de grandes estoques).
Uma parte do material chega em kits com peças prontas para serem instaladas nas unidades, como ramais de esgoto e água ou conjuntos de esquadrias, por exemplo. Isso reduz a área necessária para armazenamento nas obras, além de eliminar um dos piores inimigos da construção: o desperdício de material. Esse processo também permite que trabalhadores sejam remanejados de uma obra para outra sem “distúrbios” no processo.
— São Paulo já tem avançado na agenda de industrialização (na construção), e ela tende a avançar no restante do país com as discussões de sustentabilidade — diz Ana Maria, da FGV.
Reforma tributária ajuda
Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP, diz que a tributação atrapalhou a industrialização da construção civil no Brasil, onde se cobra do setor ICMS e IPI sobre materiais pré-moldados produzidos fora dos canteiros de obras, encarecendo o custo total. A reforma tributária equaliza essa questão e será outro fator em favor dessa tendência.
— Há custos maiores no processo de industrialização do setor. Por isso, não foi para a frente aqui como no resto do mundo — diz Zaidan.
O Estado de S.Paulo - SP 03/02/2025
Além das duas primeiras multas milionárias divulgadas nessa quinta-feira, 30, mais três empreendimentos paulistanos foram notificados de que receberão “sanções de cancelamento da isenção ou redução do fator de interesse social, bem como a sua cobrança em dobro a título de multa”, entre o fim de dezembro e janeiro deste ano. Os casos envolvem uma investigação de mais de dois anos do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que acionou a Prefeitura da capital por “negligência” na fiscalização de possíveis fraudes na destinação de milhares de apartamentos que receberam incentivos municipais para a habitação de baixa renda.
Os valores das novas penalidades ainda não foram divulgados. As sanções envolvem o Houx Pinheiros (da Tecnisa) e o Viva Benx Pinheiros, ambos na zona oeste paulistana, além do Famile Gentil 300 (da Consthruir), no Alto do Ipiranga, zona sul. Os imóveis em investigação são majoritariamente microapartamentos (grande parte com menos de 30 m²) em bairros de classe média, tipo de construção que teve “boom” nos últimos anos.
Os responsáveis pelo Viva Benx Pinheiros (e pelo Viva Benx Lapa, multado em R$ 13,3 milhões na quinta) afirmaram ter “compromisso com o cumprimento da lei e com as necessidades habitacionais da população”. Dizem ainda seguir “rigorosamente a legislação vigente no desenvolvimento das unidades habitacionais de interesse social, atendendo aos critérios e normas estabelecidas pela Prefeitura, permitindo a venda para pessoas enquadradas nos critérios do HIS / HMP, bem como a venda para locação social”.
Em nota, a Tecnisa afirmou que as “unidades foram destinadas regularmente” e acrescentou que apresentará defesa no processo no prazo legal e adotará “medidas legais cabíveis”. O Estadão não conseguiu contato com a Consthruir. A gestão Ricardo Nunes (MDB) vem afirmando que atua para punir fraudes (leia mais abaixo).
Em ação civil pública na terça-feira, 28, a Promotoria requereu a suspensão da política de incentivos fiscais e urbanísticos municipais para a construção de edifícios com apartamentos para a Habitação de Interesse Social (HIS) — famílias com renda mensal de um a seis salários mínimos — e Habitação de Mercado Popular (HMP) — até dez salários mínimos.
O pedido de liminar ocorreu após a Promotoria identificar indícios de fraude e “falta de controle” na disponibilização do benefício, com possível “enriquecimento ilícito” de construtoras. Os incentivos para a construção desse tipo de moradia foram autorizados pela Prefeitura para mais de 446,5 mil unidades entre agosto de 2019 e outubro de 2024 (não há números sobre o período anterior, embora parte do benefício tenha sido criada no Plano Diretor de 2014).
Desse montante, ao menos 143,3 mil estão prontas e 303,1 mil foram licenciadas ou estão em construção. Não se sabe, contudo, o número de unidades que não respeitaram a legislação, tampouco o valor estimado de incentivos urbanísticos e fiscais concedidos aos empreendimentos.
A Prefeitura tem destacado que instaurou 200 processos sobre possíveis irregularidades desde o ano passado, com ao menos 14 mil notificações. Também salientou que a revisão do Plano Diretor, em 2023, teria reforçado regras para garantir que essas habitações sejam destinadas a famílias de baixa renda, exigindo comprovação da faixa de renda e averbação da tipologia do imóvel por 10 anos.
Na quinta, Nunes chamou os casos penalizados de “ato criminoso”. Destacou, ainda, que a gestão apura outros casos denunciados pelo MP e disse que pedirá à Procuradoria Geral do Município para entrar com ação de danos morais contra os empreendimentos. “Temos uma política pública e eles, de certa forma, por uma conduta ilegal, acabaram atrapalhando a política habitacional. Também devem responder criminalmente sobre isso”, afirmou em agenda pública sobre outro tema.
As penalidades já anunciadas envolvem os empreendimentos B.Side Faria Lima, na Avenida Eusébio Matoso, em frente ao Shopping Eldorado, e Viva Benx Lapa, na Avenida José Maria de Faria, nas proximidades da Marginal do Tietê. Ao todo, somam mais de R$ 31 milhões, mas os valores devem aumentar, visto que ainda deve ser calculada a parte de ISS (Imposto sobre Serviços), feita pela Fazenda.
Desde o Plano Diretor de 2014, empreendimentos voltados a esse tipo de apartamentos têm descontos e até isenção de outorga onerosa (principal taxa cobrada do mercado imobiliário, que pode chegar à casa de alguns milhões em bairros valorizados). Há, ainda, diversos incentivos construtivos atrativos para o setor — que favorecem, em especial, uma verticalização mais acentuada.
O procedimento de fiscalização do Município oficialmente foi estabelecido em portaria publicada em outubro do ano passado. Os casos multados começaram a ser apurados, contudo, alguns meses antes, a partir de encaminhamentos do MP-SP. “É certo que vem ocorrendo em larga medida”, tem apontado.
Ao ingressar com a ação, a Promotoria apontou a falta de punição a casos suspeitos durante uma década da lei que criou os novos incentivos. “Há absoluta ineficiência administrativa em controlar fraudes”, avalia. “A confessada falta de controle da política pública está possibilitando, por um lado, que construtoras que descumprem a legislação aplicável enriqueçam ilicitamente e, por outro, que as famílias vulneráveis (público-alvo) sejam preteridas no acesso à moradia.”
A gestão Nunes tem sido informada sobre supostas irregularidades desde a abertura do inquérito no MP, em 2022. Em dezembro, segundo consta do processo, comunicado interno da Prefeitura disse que iria deflagrar uma licitação para possivelmente terceirizar a fiscalização.
A ação judicial é pela suspensão da política municipal até que seja revista. “Essa privatização dos lucros e socialização dos prejuízos é resultado de uma política pública mal formulada e que pode estar gerando vultosos prejuízos ao erário, sendo também fruto, inexoravelmente, da falta de avaliação técnico-financeira. Nesse contexto, questões como eficácia, economicidade e eficiência jamais foram verificadas pelo requerido”, argumenta.
Quais são os empreendimentos que receberam aviso de sanção?
As sanções têm sido determinadas com a explicação de que receberam “diversas vantagens (isenção tributária de ISS e isenção urbanística referente à outorga onerosa) para, em contrapartida, alienar as unidades para famílias de baixa renda”. “Sem que o público-alvo tenha sido atendido, não se justifica a subsistência das benesses legais, como corolário do princípio da proporcionalidade e razoabilidade”, completa a justificativa.
As situações envolvem a venda de unidades para pessoas acima da faixa de renda e, também, de mais de um apartamento para a mesma família. Nos processos, há, ainda, a apuração de aluguel (tradicional e de curta temporada) e venda pelos proprietários por valores muito acima dos equivalentes a uma habitação de interesse social, os quais são anunciados em plataformas virtuais especializadas.
Uma das novas sanções é para o Fernão Dias Empreendimentos Imobiliários, cujo nome fantasia é Houx Pinheiros, na Rua Fernão Dias. O empreendimento é da Tecnisa, nas proximidades do Largo da Batata e da Estação de Metrô Faria Lima.
O prédio tem cerca de 25 andares. Ao todo, é composto por 271 unidades habitacionais, das quais 217 são HIS-2, 26 são HMP e 28 são apartamentos sem restrição de renda.
No Houx Pinheiros, identificou-se ao menos dois casos de venda para famílias com renda superior, além de uma mesma família ter comprado mais de um imóvel e outros dois terem sido adquiridos por pessoa jurídica. No processo, também há sete exemplos de anúncios de apartamentos em plataformas virtuais, com aluguel próximo de R$ 5 mil e venda que chega a R$ 750 mil.
Já o Viva Benx Pinheiros fica na Avenida Eusébio Matoso, em frente ao Shopping Eldorado. O nome oficial do empreendimento é M.A.R. Evora. Segundo informações da Prefeitura, teria recebido incentivos para a construção de 177 apartamentos para HIS-2 (três a seis salários mínimos) e 19 para HMP (até 10 salários mínimos).
À Prefeitura, os responsáveis pelo empreendimento responderam que os comprados assinam termo em que declaram renda familiar mensal bruta de até R$ 6 mil. Os documentos entregues foram, contudo, considerados insuficientes. Foram identificados ao menos dezesseis apartamentos HIS-2 com indícios de comercialização para famílias com renda superior ao previsto pela lei municipal, além de dois imóveis vendidos para a mesma família.
Ao menos outros três empreendimentos Viva Benx estão em apuração em inquérito do MP-SP: o Viva Benx Vila Olímpia, o Viva Benx Vila Leopoldina e o Viva Benx Faria Lima. Na quinta, o Viva Benx Lapa foi penalizado em R$ 13,3 milhões como um dos casos que se “beneficiaram de isenção de impostos para construir unidades habitacionais à população de baixa renda, mas desvirtuaram o processo comercializando moradias a pessoas que não se encaixavam”, segundo comunicado da Prefeitura.
A Consthruir foi notificada, por sua vez, por um empreendimento na Avenida Doutor Gentil de Moura, em frente à Estação de Metrô Alto do Ipiranga. O edifício tem sido anunciado com o nome de Famile Gentil 300, com unidades de cerca de 35 m².
O empreendimento tem licença para 72 apartamentos HIS e outros 81 no perfil HMP. “Não foram apresentados dados passíveis de comprovação da destinação correta das faixas de renda”, diz relatório da Prefeitura. No processo, são mencionadas unidades anunciadas para venda com valores de mais de R$ 400 mil e aluguel acima de R$ 3 mil mensais.
‘Fake HIS’ e ‘padrão reiterado de ilegalidades’
No processo aberto pelo MP, é mencionada uma expressão do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (Labcidade) da USP: “fake HIS”. Os pesquisadores da Faculdade de Arquitetura de Urbanismo têm falado em “social housing washing”, com possível maquiagem que daria indevida aparência de produção de moradia popular a uma política que incentivou imóveis utilizados por outra parcela da população.
Fala-se em “grande número de casos fraudulentos detectados pelos serviços extrajudiciais”. No ano passado, após solicitar notificação dos cartórios paulistanos, a Promotoria recebeu, em menos de dois meses, mais de 560 casos de imóveis e empreendimentos suspeitos.
“De forma deliberada ou não, (a Prefeitura) vem negligenciando seu dever legal de fiscalizar e controlar sua própria política habitacional, deixando de garantir que seu público-alvo seja atendido e de punir os infratores (construtoras e terceiros adquirentes)”, aponta o MP.
“Unidades colocadas à venda pelo mercado imobiliário como HIS e HMP têm metragem (em geral) entre 24 e 30 m², não raras vezes por valor que ultrapassa R$ 20 mil por metro quadrado. Essa tipologia e preço evidenciam-se claramente, em princípio, como sendo incompatíveis com famílias que recebem de três a seis salários mínimos”, também destaca.
Na ação, o MP compara que o Plano Diretor de 2014 fez grande alteração na política de produção privada de HIS na cidade, ante a legislação anterior, de 2002. Se antes essa possibilidade envolvia convênios e consórcios junto ao poder público, passou a não ter exigência de regulação de oferta e demanda pelo Município e ainda ampliou a gama de incentivos.
“O desenho da política municipal destinou ao mercado a tarefa de controlar se indivíduos e famílias que adquirem as unidades de HIS estão ou não inseridos adequadamente nos critérios de renda estipulados pela legislação”, argumenta a Promotoria.
Também assinala que os incentivos atuais estariam “direcionados apenas ao agente produtor de HIS – e não aos beneficiários”. “Condicionam (viabilizam) a construção a um custo de empreitada bastante inferior, trazendo maior rentabilidade ao incorporador, nem sempre alcançando, porém, o objetivo da norma, que é o de aumentar a oferta de moradias a preços condizentes aos destinatários do citado programa social.”
O que o MP defende?
Na ação, o Ministério Público aponta que a política de incentivo precisa ser suspensa temporariamente por ter sido “mal desenhada”. Descreve, também, a “precariedade no exercício de seu poder fiscalizatório” pela gestão municipal.
Por isso, defende que a suspensão deveria ocorrer até o desenvolvimento de um “sistema seguro e eficiente de fiscalização pública de adquirentes e locatários”. Além disso, aponta a necessidade de definir controle de preços de venda de unidades e locações.
“Não deve continuar sendo implementada até que o poder público adote novos mecanismos de controle e aferição de resultados, visando corrigir seu rumo ou, então, descontinuá-la”, destaca. “Quando o desenho da mesma política permite que desvirtuamentos passem desapercebidos como regra, é imperioso que todo esse desenho seja revisto com máxima presteza.”
A petição é assinada por Marcus Vinicius Monteiro dos Santos, Camila Mansour Magalhães da Silveira, Roberto Luís de Oliveira Pimentel e Moacir Tonani Junior, promotores de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital. Na avaliação deles, a situação resulta em danos sociais.
“Um universo indeterminado de famílias pobres foram impossibilitadas de ter acesso à moradia por conta dos valores exorbitantes estipulados, unilateralmente, pelo mercado imobiliário para aqueles imóveis”, assinalaram. “Está servindo para beneficiar (em grande parte) construtoras e pessoas de alta renda.”
Em resumo, o MP aponta os seguintes problemas em relação a essa política pública:
inexistência de fiscalização se as unidades de HIS ou HMP estão sendo alienadas ou locadas para as famílias que se enquadram nas respectivas faixas de renda;falta de controle público dos preços das unidades habitacionais produzidas pelo setor privado a partir dos incentivos públicos concedidos;ausência de controle sobre o volume de incentivos públicos concedidos;não punição de infratores (empreendedores e adquirentes dos apartamentos);inexistência de indicadores de desempenho;desconhecimento sobre os efeitos da política municipal.
A Tribuna - SP 03/02/2025
Para ampliar o volume de exportação de grãos e açúcar a partir do seu novo terminal no Porto de Santos, a gigante chinesa Cofco anunciou o investimento de R$ 1,2 bilhão na compra de 23 locomotivas e 979 vagões. A frota ferroviária tem capacidade de transporte de até 4 milhões de toneladas de cargas. Os produtos são oriundos do Centro-Oeste e do Interior de São Paulo e terão como destino o STS11, na Margem Direita do Porto santista, que deverá começar a operar parcialmente ainda neste semestre.
Em nota, a companhia informou que os ativos serão entregues ao longo deste ano, “de acordo com a liberação das capacidades no STS11”. A operação ficará a cargo da Rumo Logística. A meta da Cofco é ampliar o seu volume de exportação anual das atuais 4,5 milhões de toneladas para 14,5 milhões de toneladas, a partir de 2026, via Porto de Santos.
Para isso, a companhia está investindo R$ 1,6 bilhão no STS11. A empresa arrendou a área de 98 mil metros quadrados na Margem Direita do Porto de Santos por 25 anos, prorrogáveis até o limite de 70 anos de concessão.
“Esse investimento em material rodante com foco em ferrovias é o grande projeto que pensamos para alcançar o volume de carga esperado, e tudo levando em consideração a sustentabilidade. Queremos continuar crescendo de forma sustentável, reforçando nosso compromisso de investir no agronegócio brasileiro e figurando entre os maiores players do setor”, informou a Cofco, em nota.
Desafios logísticos
De acordo com o diretor de logística para a divisão de grãos e oleaginosas da Cofco no Brasil, Fabrício Degani, a ampliação da capacidade da empresa em quase três vezes traz desafios logísticos.
"Optamos por este investimento em ativos ferroviários que possibilitarão nosso crescimento de forma sustentável, reforçando nosso compromisso de investir no agronegócio brasileiro e figurando entre os maiores players do setor. Esse movimento de negócios está totalmente atrelado à estratégia em reduzir emissões e alcançar as metas da companhia”, reiterou Degani.
Expansão
Já o vice-presidente comercial da Rumo, Eudis Furtado, destacou, em nota, que “a partir desse inédito contrato no transporte de grãos e açúcar", as duas empresas, juntas, conseguirão expandir a participação no Porto de Santos. "Além disso, estamos contribuindo para otimizar a logística nacional e diminuir o custo Brasil”.
A companhia ferroviária informou que, em paralelo, vem realizando outros investimentos para aumentar a sua capacidade no complexo portuário santista, como a Ferrovia Norte-Sul, a Malha Paulista e outros empreendimentos.
“A integração de todos esses investimentos da Rumo eleva a produtividade do chamado corredor Santos, o principal e mais competitivo para o escoamento do agrone-gócio brasileiro, tanto para a exportação de grãos quanto de fertilizantes e açúcar. Adicionalmente a isso, vai proporcionar crescimento para o Brasil, com soluções mais competitivas e um melhor nível de serviço aos clientes”, finalizou Furtado.
Infraestrutura
A Cofco possui armazéns e indústria de esmagamento no Centro-Oeste e quatro usinas de açúcar no Interior de São Paulo.
IstoÉ Dinheiro - SP 03/02/2025
O governo federal aprovou a abertura de audiência pública para a concessão à iniciativa privada da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). O período para contribuições às propostas coordenadas pelo Ministério dos Transportes vai de 7 de fevereiro a 24 de março.
A Ferrovia de Integração Oeste-Leste ligará o interior da Bahia ao Porto de Ilhéus, facilitando o escoamento da produção agrícola e mineral. Já a Ferrovia de Integração Centro-Oeste conectará o Mato Grosso à Ferrovia Norte-Sul, o que também fortalece a logística do agronegócio.
As ferrovias Fico/Fiol integram o plano federal de expansão da malha ferroviária – ainda a ser lançado oficialmente. É previsto a implantação de cerca de 2,7 mil km de extensão de trilhos, cruzando Bahia (BA), Tocantins (TO), Goiás (GO) e Mato Grosso (MT). As estradas de ferro serão interligadas à Ferrovia Norte-Sul e à Ferrovia Centro-Atlântica (FCA).
Os estudos foram conduzidos pela Infra S.A., em parceria com a International Finance Corporation (IFC). A proposta com R$ 108 milhões em investimento contempla a prestação do serviço ferroviário de cargas associado à exploração da malha ferroviária da Fico 1, Fiol 2 e Fiol 3; construção da FIOL 3 pela futura concessionária e a possibilidade de inclusão do trecho Fico 2 mediante reequilíbrio econômico-financeiro do contrato.
O secretário nacional de Transportes Ferroviários, Leonardo Ribeiro, diz que a audiência pública é um passo fundamental para o avanço dos projetos. “Nosso compromisso é garantir um debate transparente e produtivo, ouvindo todas as partes interessadas e assegurando que este projeto atenda às necessidades do País com sustentabilidade, eficiência e inovação.”
Além das contribuições online que podem ser feitas pelo site da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), estão previstas três sessões presenciais. Todas serão em março. A primeira ocorrerá no dia 11, em Brasília; a segunda será no dia 12, em Salvador (BA) e a terceira acontecerá no dia 14, em Cuiabá (MT).
Valor - SP 03/02/2025
Edital compreende a exploração da infraestrutura e serviços de recuperação, manutenção, conservação, operação, monitoração, implantação de melhorias e ampliação de capacidade da BR-163/MS
A CCR disse nesta sexta-feira (31) que foi publicado edital para a venda das ações da sua controlada MSVia, de acordo com decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) e acordo com a União.
O edital compreende a exploração da infraestrutura e da prestação dos serviços de recuperação, manutenção, conservação, operação, monitoração, implantação de melhorias, manutenção do nível de serviço e ampliação de capacidade da BR-163/MS.
O trecho em questão tem 845,9 quilômetros, atravessando o Mato Grosso do Sul, e compreende uma extensão que vai de Mundo Novo (MS), na divisa do Paraná, até Sonora (MS), na divisa do Mato Grosso.
Na licitação da MSVia, outras empresas terão a chance de apresentar lances na tentativa de assumir a concessão. Vence a disputa quem oferecer maior desconto na tarifa de pedágio no certame marcado para 22 de maio.
“Após a conclusão do processo competitivo, será celebrado um aditivo ao contrato de concessão com o vencedor do leilão, garantindo a continuidade da prestação dos serviços públicos na BR-163/MS”, afirma a CCR.
A Tribuna - SP 03/02/2025
O setor portuário brasileiro, um dos mais estratégicos para a economia nacional, enfrenta desafios estruturais que dificultam sua competitividade global. De olho em soluções para modernizar e integrar os portos do país, a A&M Infra, o Navarro Prado Advogados e a APM Terminals lançaram o estudo técnico inédito “Contribuições para o planejamento da consolidação de hub ports no Brasil”.
O levantamento oferece uma análise aprofundada sobre como a adoção do modelo hub-and-spoke pode alavancar a eficiência logística e reduzir custos no transporte marítimo.
Atraso estrutural e oportunidades
Enquanto grandes portos internacionais já operam com navios de 366 metros há mais de uma década, no Brasil, a chegada pontual dessas embarcações ainda é motivo de celebração. O estudo revela que essa defasagem, resultado de infraestrutura inadequada, faz com que os portos brasileiros fiquem até 15 anos atrás de seus pares europeus. Caso a infraestrutura fosse adequada, o Brasil poderia ter recebido esses navios desde 2018, aponta a análise.
O modelo hub-and-spoke, amplamente utilizado em países desenvolvidos, consiste concentração de cargas em grandes portos (hubs), que distribuem mercadorias para portos menores por meio de navios alimentadores. Esse sistema não apenas otimiza a logística, mas também reduz custos de transporte.
O estudo estima que a implementação desse modelo no Brasil poderia gerar uma economia de R$ 600 milhões por ano até 2030, apenas na rota ECSA-Ásia.
Impactos econômicos e ambientais
Além das economias diretas, os benefícios são múltiplos. A adoção de hubs no Brasil pode triplicar o volume de transbordo, elevando a participação de 18% para até 40%. Marcos Pinto, sócio-diretor da A&M Infra, afirma que o Porto de Santos (SP) é o principal candidato para assumir esse papel estratégico, mas ressalta a necessidade de superar desafios relacionados ao acesso aquaviário.
Outros portos como: Paranaguá (PR), Itapoá (SC), Itajaí-Navegantes (SC), Suape (PE) e Pecém (CE) também possuem potencial. “Planejar e coordenar ações para implementar hubs é essencial para atrair investimentos e ampliar a competitividade do comércio exterior brasileiro”, afirma Lucas Navarro Prado, do Navarro Prado Advogados.
Entre os impactos positivos apontados, destacam-se o aumento da arrecadação portuária – estimado em até R$ 160 milhões anuais para Santos –, a redução de emissões de CO2 e o fomento às indústrias naval e de combustíveis no Brasil. A otimização de investimentos em dragagem é outro benefício, permitindo uma alocação mais eficiente de recursos públicos e privados.
Cenário global e perspectivas
A consolidação de hubs no Brasil não é apenas uma oportunidade, mas uma necessidade para acompanhar a evolução do transporte marítimo global. Segundo Leonardo Levy, diretor de investimentos da APM Terminals, o país tem condições de elevar sua conectividade logística, desde que haja um alinhamento entre planejamento público e ações privadas.
O estudo técnico está disponível para consulta no site da APM Terminals e representa um chamado à ação para modernizar o setor portuário brasileiro. Com investimentos planejados e colaboração entre governo e iniciativa privada, o Brasil pode transformar seus portos em centros logísticos de classe mundial, com impactos positivos para a economia e o meio ambiente.
Estudo Inédito Aponta Caminhos para Transformar Portos Brasileiros em Hubs Globais
O setor portuário brasileiro, um dos mais estratégicos para a economia nacional, enfrenta desafios estruturais que dificultam sua competitividade global. De olho em soluções para modernizar e integrar os portos do país, a A&M Infra, o Navarro Prado Advogados e a APM Terminals lançaram o estudo técnico inédito “Contribuições para o planejamento da consolidação de hub ports no Brasil”. O levantamento oferece uma análise aprofundada sobre como a adoção do modelo hub-and-spoke pode alavancar a eficiência logística e reduzir custos no transporte marítimo.
Atraso estrutural e oportunidades
Enquanto grandes portos internacionais já operam com navios de 366 metros há mais de uma década, no Brasil, a chegada pontual dessas embarcações ainda é motivo de celebração. O estudo revela que essa defasagem, resultado de infraestrutura inadequada, faz com que os portos brasileiros fiquem até 15 anos atrás de seus pares europeus. Caso a infraestrutura fosse adequada, o Brasil poderia ter recebido esses navios desde 2018, aponta a análise.
O modelo hub-and-spoke, amplamente utilizado em países desenvolvidos, consiste na concentração de cargas em grandes portos (hubs), que distribuem mercadorias para portos menores por meio de navios alimentadores. Esse sistema não apenas otimiza a logística, mas também reduz custos de transporte. O estudo estima que a implementação desse modelo no Brasil poderia gerar uma economia de R$ 600 milhões por ano até 2030, apenas na rota ECSA-Ásia.
Impactos econômicos e ambientais
Além das economias diretas, os benefícios são múltiplos. A adoção de hubs no Brasil pode triplicar o volume de transbordo, elevando a participação de 18% para até 40%. Marcos Pinto, sócio-diretor da A&M Infra, afirma que o Porto de Santos (SP) é o principal candidato para assumir esse papel estratégico, mas ressalta a necessidade de superar desafios relacionados ao acesso aquaviário.
Valor - SP 03/02/2025
Grupo de empresas no Brasil se junta para o desenvolvimento e produção de embarcações movidas a hidrogênio verde, com investimentos de R$ 150 milhões
Ernani Paciornik, do grupo Náutica: “Vai ser uma solução do nosso país” — Foto: Rogerio Vieira/Valor
Um grupo de empresas no Brasil se juntou para o desenvolvimento e construção de embarcações movidas a hidrogênio verde, que visam a reduzir de forma significativa as emissões de gases poluentes. O projeto é encabeçado pelo Parque Tecnológico Itaipu (Itaipu Parquetec), centro referência na produção do combustível sustentável no Brasil, e a JAQ Apoio Marítimo, unidade de negócios do Grupo Náutica, criada em 2021. O programa engloba duas embarcações, sendo que uma delas vai ser apresentada na COP30.
Ao Valor, Ernani Paciornik, presidente do conselho da JAQ e CEO do Grupo Náutica, disse que o projeto vai contar com investimentos da ordem de R$ 150 milhões, dos quais um terço vindo de financiamento próprio. “Encontramos o parceiro ideal e juntamos os conhecimentos náutico e de navegação com o deles em hidrogênio.”
“Essa vai ser uma solução para o nosso país, que já fez os carros movidos a álcool há 30 anos. O etanol é mais limpo que a própria bateria e é coisa do Brasil”, disse o executivo. As conversas para a produção dos barcos se iniciaram em 2023 e o acordo foi assinado no fim de 2024.
A iniciativa consiste na adaptação das embarcações Explorer H1 e Explorer H2 para operar 100% com hidrogênio verde. Os dois barcos eram usados para transportar trabalhadores para plataformas de petróleo e foram comprados pelo Grupo Náutica. As embarcações vão contar com eletrolisadores (dispositivos que quebram moléculas de água em hidrogênio e oxigênio através de eletricidade) a bordo, produzindo o produto 100% verde para a célula de combustível que irá gerar energia para o barco.
Segundo dados da Organização Marítima Internacional (IMO), a participação do transporte marítimo nas emissões globais aumentou de 2,76% em 2012 para 2,89% em 2018. Atualmente, o hidrogênio não é usado por navios oceânicos - apenas para poucas embarcações costeiras. Mas a tecnologia é considerada como combustível do futuro para o modal.
Outras indústrias também estudam o hidrogênio verde, como a aviação, que estima já ter as primeiras soluções de propulsão em meados de 2035. O desafio do setor, globalmente, é encontrar formas de armazená-lo.
“Essa tecnologia é algo que pode mudar um dos modais mais poluentes hoje”, disse. “O gol do projeto é mostrar ao planeta que esse tipo de solução existe e que estamos evoluindo”, acrescentou.
A embarcação Explorer H1 será apresentada na COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em novembro, em Belém (PA). Com 36 metros de comprimento (118 pés), o barco atualmente possui sistema de hidrojatos da marca Doen para navegação em águas rasas e está localizado no Estaleiro INACE, em Fortaleza (CE).
Já no ano que vem, o plano do grupo é entregar a Explorer H2, com 50 metros de comprimento (164 pés). Esta embarcação vai usar um motor fabricado pela marca MAN, importado da Alemanha e que funciona tanto com diesel quanto hidrogênio. Ao usar apenas 20% de hidrogênio, essa embarcação já vai conseguir reduzir suas emissões em 80%.
Instalar os eletrolisadores nos barcos visa a trazer autonomia às embarcações caso estejam em lugares sem a possibilidade de serem abastecidas de hidrogênio. O motor híbrido na segunda versão traz a possibilidade de se usar também o diesel - embora tenha capacidade de operar 100% com hidrogênio.
Atualmente, o hidrogênio é majoritariamente produzido tendo como base energia fóssil, principalmente gás natural. Mas há outras formas menos poluentes: eletrólise (usando eletricidade renovável), produção direta de hidrogênio solar, fermentação de biomassa e conversão termoquímica de biomassa.
O diretor de negócios e empreendedorismo do Itaipu Parquetec, Eduardo de Miranda, destacou que a empresa trabalha no segmento de hidrogênio de baixa emissão de carbono há mais de 10 anos. “Temos uma planta laboratório que produz hidrogênio verde (por meio da eletrólise) e fazemos diversas aplicações”, disse o executivo.
Segundo um estudo da Agência Europeia de Segurança Marítima de 2023, a eletrólise é considerada o caminho mais adequado para se produzir esse insumo que é fonte de energia limpa, uma vez que a técnica promove a divisão de água pura usando eletricidade renovável.
O estudo destaca que hoje a produção global de hidrogênio verde é inferior a 0,1 milhão de toneladas por ano. Na contramão, a estimativa é que a demanda global de energia para o transporte marítimo internacional seja de aproximadamente 95 milhões de toneladas de hidrogênio ao ano até 2040.
Paciornik contou que, após o desenvolvimento, ambas as embarcações devem rodar rios e costa brasileiros e serão transformadas em laboratórios flutuantes, salas de aula e plataformas tecnológicas para fomentar a pesquisa, a educação ambiental e a preservação dos biomas brasileiros.
Valor - SP 03/02/2025
Marco Rubio, secretário de Estado americano — Foto: Gerald Herbert/AP
Caso o Panamá não aja para reduzir a influência da China sobre o canal, o governo dos Estados Unidos tomarão providências, disse neste domingo (2) o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, ao presidente panamenho, José Raúl Mulino.
Segundo Rubio, os Estados Unidos consideram Pequim uma ameaça ao canal do Panamá e uma violação do acordo sobre a via marítima, segundo relato de um porta-voz do Departamento de Estado sobre a reunião entre Rubio e Mulino no palácio presidencial.
O presidente Donald Trump vem ameaçando tomar o controle do canal do Panamá por considerar que ele está sob "influência chinesa", mas sem dar detalhes de sua queixa.
O governo panamenho nega estar cedendo a operação do canal à China e insiste que administra a via de forma justa para todos os navios.
Embora o próprio canal seja operado pelo Panamá, os dois portos em cada lado são geridos por uma empresa de Hong Kong, enquanto outros terminais próximos são operados por empresas privadas dos Estados Unidos, Cingapura e Taiwan.
Mulino declarou que a soberania do Panamá sobre a via não está em discussão. Em entrevista coletiva, ele disse não ver uma ameaça concreta contra os tratados pelos quais os Estados Unidos entregaram ao seu país o controle do canal.
"Não sinto que haja neste momento qualquer ameaça real contra o tratado, sua vigência e muito menos de uso de força militar para se apoderar do canal, não sinto isso", afirmou Mulino.
Estratégico, o canal une os oceanos Pacífico e Atlântico, por onde passam 5% do comércio marítimo mundial e 40% dos contêineres dos Estados Unidos.
Rubio chegou na noite de sábado (1º) ao Panamá, em sua viagem inaugural ao exterior como secretário de Estado.
O Panamá é a primeira parada de um giro de seis dias que inclui El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana. Os principais temas da viagem são o canal, migração, o combate ao crime organizado e a crescente influência da China na região.
No tema da migração, o governo panamenho reagiu de forma mais positiva. Mulino disse que o Panamá poderia repatriar migrantes detidos ao tentar cruzar a selva de Darien, desde que os americanos paguem pelos voos de deportação.
Por lá atravessaram cerca de 300 mil migrantes em 2024, em sua maioria venezuelanos, rumo aos Estados Unidos. Trump, que considera "criminoso" qualquer pessoa a entrar ilegalmente nos Estados Unidos, prometeu um número recorde de deportações.
No final da tarde de domingo (2), o secretário de Estado visitaria as eclusas de Miraflores no canal. Trump não descartou o uso da força militar para reaver a passagem, construída pelos Estados Unidos, inaugurada em 1914 e entregue ao Panamá no fim de 1999 em virtude de tratados bilaterais.
Rubio minimiza a opção militar, mas assegura que Washington não permitirá que a China supostamente controle o canal por meio da empresa de Hong Kong.
Após sua reunião com Mulino, Rubio, que é filho de imigrantes cubanos e fala espanhol fluentemente, visitará também instalações de gás natural liquefeito em Colón.
Na capital panamenha, cerca de 200 pessoas protestaram neste domingo, gritando: "Fora do Panamá, Rubio! A pátria não se vende, a pátria se defende!". Dezenas de policiais impediram que os manifestantes se aproximassem do centro histórico. "Ao mensageiro imperial (Rubio), reiteramos que Trump não tem absolutamente nada aqui. O Panamá é um país livre e soberano", declarou à AFP o líder sindical Saúl Méndez, um dos organizadores dos atos.
O secretário de Estado chegou à América Latina propondo uma política externa agressiva. No sábado (1º), Trump desencadeou uma crise diplomática e comercial com as tarifas que impôs à China, ao Canadá e ao México, cujo governo acusou de se aliar aos narcotraficantes. Com Trump, está de volta a política do "grande porrete" do início do século 20, quando os EUA ameaçavam usar força militar para atingir seus objetivos na região.
Em sua primeira semana de governo, Trump pôs em curso um plano de deportações de latino-americanos, algemados e alguns com grilhões, em aviões militares. Diante da recusa da Colômbia de receber os deportados nessas condições, Trump ameaçou impor tarifas, e o presidente colombiano, Gustavo Petro, recuou.
Em El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana, o secretário de Estado pressionará por cooperação com a política de deportação de migrantes. "Está se construindo o cenário perfeito para que os países latino-americanos tenham cada vez menos margem de manobra para resistir à política migratória de Trump", disse Sandra Borda, professora de ciência política da Universidade dos Andes.
O enviado especial do Departamento de Estado para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, declarou que Rubio poderia discutir em El Salvador cujo presidente, Nayib Bukele, é aliado de Trump a possibilidade de receber membros da facção criminosa Tren de Aragua, caso se recusem a ir para a Venezuela.
Valor - SP 03/02/2025
Busca no mercado internacional de substitutos para combustível de Oriente Médio e Rússia joga a favor do produto brasileiro
Ardenghy lembra que demanda pelo petróleo brasileiro se favorece pela maior qualidade do produto brasileiro — Foto: Leo Pinheiro/Valor
O petróleo pode ser, de novo, o principal item da pauta de exportações do Brasil em 2025. A expectativa é do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). No ano passado, o produto superou a soja, que até então ocupava a primeira posição; e se tornou líder entre principais exportações brasileiras. E, para o segmento de óleo e gás, o bom desempenho nas vendas externas pode se repetir neste ano, de acordo com Roberto Ardenghy, presidente do instituto.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), compilados pelo IBP, indicam exportações de petróleo no ano passado de US$ 44,8 bilhões. O montante foi 5,4% superior aos US$ 42,5 bilhões de 2023. Quanto ao volume físico, foram exportados 640 milhões de barris em 2024, 10% a mais do que em 2023.
Isso ocorreu em cenário de baixa das compras externas, do mesmo produto, informou ainda o IBP, no mesmo mapeamento. As importações de petróleo caíram 4,4% no ano passado frente a 2023, passando de US$ 9,1 bilhões para US$ 8,7 bilhões.
Europa substitui óleo da Rússia comprando esse petróleo do Brasil”
— Roberto Ardenghy
Assim, no saldo da balança comercial, resultado das exportações frente às importações, o petróleo apurou US$ 36,2 bilhões, 8% acima do verificado em 2023, quando obteve US$ 33,5 bilhões.
Ardenghy completou ainda que, em cinco anos até 2024, o petróleo produziu uma receita total de US$ 145,8 bilhões. Considerando o saldo final da balança comercial, o superávit foi da ordem de US$ 111 bilhões.
“Isso é uma amostra da pujança do setor”, disse Ardenghy.
Em média, afirmou o executivo, o país tem exportado 2,5 milhões de barris de petróleo por dia (barris/dia), o que corresponde a cerca de 1 bilhão de barris em um ano. Para este ano, continuou ele, a tendência é que esse comportamento se repita.
No entendimento do executivo, o petróleo brasileiro tem condições de aumentar oferta para o mercado externo. Segundo projeções de Ardenghy, o Brasil pode subir da oitava para a quinta posição entre maiores exportadores do mundo, até 2032.
Ele justificou sua posição ao citar o atual contexto global. Há, no momento, busca por alternativas de suprimento de petróleo, em substituição à Rússia e ao Oriente Médio. Nessas duas regiões, lembrou, conflitos elevaram riscos de interrupção de fornecimento de petróleo. Assim, o Brasil, na análise dele, poderia elevar a oferta do produto no mercado externo, a aproveitar esse contexto, notou.
“A Europa está substituindo o petróleo que era comprado da Rússia, comprando esse petróleo do Brasil”, disse.
Outro aspecto que favorece maior demanda pelo produto do país, na avaliação dele, é a qualidade do óleo brasileiro, que tem baixa emissão de gás carbônico em relação à média mundial. O óleo brasileiro tem emissão média da ordem de 11 quilos de CO2 equivalente por barril (kgCO2eq/barril), menos da metade da média mundial. Para o executivo, esse aspecto tende, ainda, a tornar o produto mais vantajoso em horizonte de médio prazo. Isso porque se prevê, nos próximos anos, consolidação de mercado internacional de carbono.
O presidente do IBP salientou, também que o mundo ainda vai comprar e consumir petróleo em larga escala nas próximas décadas - ainda que em volumes menores do que o atual nível de 100 milhões de barris por dia. Projeções citadas por ele apontam para demanda entre 60 milhões de barris/dia e 65 milhões de barris/dia em 2050.
Mas Ardenghy fez uma ressalva. A manutenção do petróleo na primeira posição na lista de principais exportações também depende da evolução, em 2025, de duas commodities “concorrentes” do produto: o minério de ferro e a soja. Ou seja, podem ocorrer vendas externas muito fortes desses dois itens em 2025, e eles podem superar o ritmo de exportações de petróleo.
Por outro lado, no segmento de derivados de petróleo o cenário é bem diferente do óleo cru. Em 2024, o país exportou o equivalente a US$ 11,7 bilhões e importou US$ 17 bilhões em combustíveis. No saldo da balança comercial, o déficit dos derivados foi de US$ 5,3 bilhões. De acordo com o levantamento do IBP, o óleo diesel seguiu como principal derivado importado, respondendo por quase 50% do total trazido do exterior, grande parte da Rússia.
Para Ardenghy, no entanto, o déficit na balança comercial de derivados tenderia a mudar em horizonte de longo prazo. Isso porque, segundo ele, há investimentos previstos em novas refinarias, que elaboram derivados nesse período, recordou. Ardenghy afirmou, no entanto, que esse cenário positivo para a balança comercial do petróleo pode ser comprometido com um possível aumento da carga tributária sobre o setor de óleo e gás.
O presidente do IBP lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a regulamentação da reforma tributária. E vetou artigo que isentava exportações de petróleo da incidência do imposto seletivo - algo que vinha sendo questionado pela indústria. Segundo Ardenghy, a expectativa é que o Congresso derrube o veto. Caso não consiga, o IBP não descarta recorrer ao Judiciário para derrubar a medida, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Money Times - SP 03/02/2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira que espera que seu governo imponha tarifas relacionadas a petróleo e gás por volta de 18 de fevereiro.
Ele não mencionou um país específico ao qual as tarifas se aplicariam ou especificou mais detalhes sobre os planos.
“Vamos impor tarifas sobre petróleo e gás”, disse Trump aos repórteres no Salão Oval da Casa Branca. “Isso acontecerá muito em breve, acho que por volta do dia 18 de fevereiro.”
Perguntado se as tarifas de sábado incluiriam o petróleo canadense, Trump disse: “Provavelmente vou reduzir um pouco a tarifa sobre isso. Acho que vamos reduzi-la para 10% para o petróleo.”
TN Petróleo - RJ 03/02/2025
No último dia 28, a Algás e a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas (Arsal) realizaram uma reunião estratégica para tratar das demandas do gás natural no estado. O encontro reforçou a parceria entre as instituições e destacou a importância do diálogo contínuo para aprimorar a regulação e a expansão do serviço, beneficiando diversos segmentos da economia alagoana.
Durante a reunião, foram discutidos temas essenciais, como a ampliação da infraestrutura de distribuição, a modernização regulatória e os desafios para a disseminação do gás natural. A troca de informações entre a concessionária e a agência reguladora é fundamental para garantir a segurança, eficiência e competitividade do recurso, que se consolida como alternativa energética sustentável e econômica.
O encontro reafirma o compromisso de ambas as instituições com o crescimento sustentável de Alagoas, alinhando esforços para garantir um fornecimento eficiente e seguro do gás natural. A relação entre a Algás e a Arsal segue fortalecida, com o objetivo de impulsionar a competitividade do estado e oferecer soluções energéticas cada vez mais acessíveis e inovadoras.
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