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02 de Setembro de 2024

SIDERURGIA

Valor - SP   02/09/2024

Setor é responsável por 8% das emissões globais, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia

Diante do cenário que combina as metas do Acordo de Paris e os impactos das mudanças climáticas, a indústria siderúrgica tem buscado formas de reduzir as emissões de poluentes globais. Integram a agenda de descarbonização no Brasil investimentos em hidrogênio verde, o aumento do uso de sucata nos processos produtivos, a diversificação da matriz de energia com o avanço do uso de renováveis e de gás, além de projetos de uso de briquete, um aglomerado de minério de ferro de alta qualidade que reduz em até 10% as emissões de carbono na produção do aço.

Responsável por 8% das emissões globais, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia, o setor siderúrgico é considerado de difícil abatimento de poluentes globais. A produção de aço é altamente dependente do carvão, usado principalmente como agente redutor para extrair ferro do minério e fornecer o teor de carbono necessário ao produto. Cerca de 70% do aço produzido no mundo usa o coque, cuja queima gera gás carbônico.

Em dezembro, a Vale inaugurou a primeira planta de briquete de minério de ferro do mundo, na unidade Tubarão, em Vitória (ES). O produto tem o potencial de reduzir em até 10% as emissões de Gases de Efeito Estufa no alto-forno ou possibilitando, no futuro, a produção de aço de zero emissão, quando o hidrogênio verde estiver disponível. Os testes com carga na primeira planta tiveram início em agosto de 2023.

Uma segunda planta em Tubarão tem inauguração prevista para este ano. Juntas, terão capacidade de produzir 6 milhões de toneladas por ano — resultado de um investimento de R$ 1,2 bilhão e que gerou 2,3 mil empregos no pico das obras.

Mais de 30 empresas já demonstraram interesse em receber carregamentos de briquete em 2024. Por se tratar de um produto inovador, a produção dos dois primeiros anos será destinada a testes nas instalações destes clientes. A maioria dos interessados é da Europa e do Oriente Médio, mas houve pedidos de clientes de todo o mundo, inclusive do Brasil, garantindo a demanda por mais de um ano.

O briquete é produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de ferro de alta qualidade, utilizando uma solução tecnológica de aglomerantes, que confere elevada resistência mecânica ao produto final. Anunciado pela Vale em 2021, o produto emite menos particulados e gases como dióxido de enxofre (SOX) e o óxido de nitrogênio (NOX), quando comparado aos processos tradicionais de aglomeração, além de dispensar o uso da água em sua fabricação.

A Vale também assinou recente protocolo de intenções com a H2 Green Steel para estudarem em conjunto o desenvolvimento de hubs industriais no Brasil e na América do Norte. Nestes complexos industriais, a H2 Green Steel pretende fabricar produtos da cadeia siderúrgica de baixo carbono, como hidrogênio verde e briquetes com menor impacto ambiental, tendo como insumos briquetes de minério de ferro produzidos pela Vale e eletricidade de fontes renováveis para suprir a produção de hidrogênio verde.

“O novo marco do hidrogênio é um importante impulsionador deste potencial. Com a aprovação do marco legal, há um ambiente regulatório mais seguro e incentivos fiscais que poderão impulsionar novos investimentos na produção do hidrogênio verde, solução promissora para a transição energética do país. Além disso, esta nova indústria poderá também incentivar outras indústrias, como a de energias renováveis, fertilizantes e siderurgia verde, sendo fundamental para a neoindustrialização do país ”, informa a empresa por meio da assessoria de imprensa.

Fundada em 2020, na Suécia, a startup H2 Green Steel tem sua história acompanhada de perto pela indústria. A empresa prevê produzir aço, a partir do próximo ano, utilizando hidrogênio verde em seu processo, o que representaria redução de 95% nas emissões de CO2 em relação aos altos-fornos que queimam carvão. Com financiamento de 6 bilhões, o projeto é considerado o de maior escala no segmento de H2V no mundo.

Com uma matriz baseada em renováveis, como eólicas e solares, o Brasil pode se tornar um polo de produção de hidrogênio verde, cujo marco regulatório foi aprovado recentemente em Brasília. “Ele pode ser o ponto de partida da neoindustrialização verde no Brasil com a transformação da economia mundial rumo a uma matriz de baixo darbono”, diz a presidente da Associação Brasileira da Indústria Eólica, Elbia Gannoum.

No Brasil, a indústria siderúrgica começa a analisar oportunidades. Um exemplo está na Arcelor Mittal, que anunciou em 2022 a compra da Companhia Siderúrgica do Pecém por US$ 2,2 bilhões. Além de ampliar sua produção no Brasil, a aquisição teve na energia um de seus pilares, com a intenção de capitalizar investimentos de terceiros para formar um hub de eletricidade limpa e de hidrogênio verde em Pecém (CE).

Projeções destacadas na publicação “Hidrogênio de baixo carbono”, da FGV Energia, apontam que até 2050 a fatia do hidrogênio (H2) na matriz global poderá crescer de 2% para 5% (mais conservadora) ou até 22% (mais otimista), com a ampliação sendo dominada pelo hidrogênio de baixo carbono, popularmente chamado de verde. O porto de Pecém, que tem o porto de Roterdã (Holanda) como acionista, foi eleito pela União Europeia, em 2022, como o principal hub de importação de H2V pelo bloco. Um dos projetos mais avançados é o da mineradora australiana Fortescue, que pode investir US$ 5 bilhões no projeto do gás.

Valor - SP   02/09/2024

Ministro Herman Benjamin nega recurso da União e mantém decisão do TRF-4 que derrubou cobrança de R$ 363,2 milhões

Mauricio Bueno: “Caso Gerdau forma precedente, mas não tão bom quanto o da Cremer” — Foto: Divulgação

Um dos últimos atos do ministro Herman Benjamin antes de assumir a presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi negar um recurso da Fazenda Nacional em um caso da Gerdau que discute ágio interno. Na prática, o antigo relator manteve acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) favorável à empresa, afastando cobrança de R$ 363,2 milhões de Imposto de Renda (IRPJ) e CSLL por amortização de ágio gerado por meio de reorganizações societárias realizadas entre 2004 e 2005.

Foi o primeiro caso do tema julgado na 2ª Turma. O recurso chegou a ser pautado para julgamento no colegiado, mas foi adiado e decidido de forma monocrática por Benjamim, às vésperas de assumir o comando do STJ. O ministro não conheceu o recurso da Fazenda Nacional, ou seja, não analisou o mérito da demanda.

Havia muita expectativa do mercado sobre o desfecho, pois só existe manifestação da 1ª Turma sobre o assunto, favorável à empresa Cremer, de setembro de 2023 (REsp 2026473). Com uma decisão da 2ª Turma, haveria uma uniformização do entendimento no STJ. Porém, como o recurso não foi conhecido, há advogados que entendem que a decisão não é precedente.

O tema é relevante para a Gerdau. Existem outras ações administrativas e judiciais contra a produtora de aço envolvendo o mesmo assunto e reorganização societária. Somadas, elas podem ter impacto de R$ 7,9 bilhões em caso de perda, segundo o último balanço contábil, divulgado em julho de 2024. A companhia classifica a derrota como possível e não provisiona os valores. A jurisprudência nos TRFs tem sido favorável, indicam tributaristas.

A maioria das discussões sobre ágio interno se encerrou em 2014, com a Lei nº 12.973, que tornou expressa a vedação desse procedimento entre empresas do mesmo grupo econômico com a dedução dos valores do IRPJ e CSLL. A economia tributária é relevante, de 34% - é a soma das alíquotas dos dois tributos. Para os contribuintes, antes de 2014 não havia proibição.

Já a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) entende que a dedução não é possível, mesmo para os casos anteriores a 2014, “por não haver um terceiro independente que faça a aquisição, pagando o sobrepreço que materializa o ágio”. Em nota, a PGFN diz que sem essa terceira figura, “abre-se margem para que ocorram operações artificiais, que resultem em aproveitamento indevido do benefício fiscal”.

Para o órgão, a lei de 2014 apenas esclareceu “uma vedação que é intrínseca à natureza da operação”. Também afirma que “o ideal seria o STJ enfrentar o mérito da questão, o que ainda não foi feito”. Da decisão, cabe recurso para levar a discussão à 2ª Turma. Sobre esse ponto, a PGFN diz que “as equipes da representação judicial estão avaliando a estratégia para o trato da questão”.

Na decisão, o entendimento do ministro Herman Benjamin foi o de que a Fazenda não enfrentou todos os pontos do acórdão do TRF-4 e a argumentação não foi suficiente. “Não foi combatido o argumento que prevaleceu no voto vencedor na origem de que a proibição da amortização do ágio entre partes dependentes apenas foi positivado no ordenamento jurídico com os artigos 20 e 25 da Lei 21.973/2014, a qual foi posterior à ocorrência da reestruturação societária”, afirma.

A PGFN, acrescenta o ministro, não indicou quais dispositivos do Código Tributário Nacional (CTN) teriam sido violados. “Dessa forma, constata-se que o recurso especial está deficientemente fundamentado”, diz. Também foi analisado um recurso da Gerdau que discutia questões laterais, como ressarcimento de seguro garantia e o pagamento de honorários. Os pedidos foram negados (REsp 1988316).

Renato Silveira, sócio do Machado Associados, diz que o ágio surge quando há aquisição de um investimento pelo valor superior ao patrimônio da empresa. “Se faz a aquisição por um valor maior, acreditando que, no futuro, vai gerar resultado e compensar essa mais-valia”, explica.

A Lei nº 9.532/1997, anterior a de 2014, permitia a amortização da diferença, segundo ele. “Essa despesa era dedutível da base de cálculo do IRPJ e CSLL.” Com os novos critérios legais, a operação só pode ser deduzida se ocorrer entre empresas independentes.

Para Silveira, a decisão não forma precedente. “Hoje, a gente continua na situação de que só a 1ª Turma se manifestou sobre essa matéria”, afirma. Ele cita que existem outros quatro casos de ágio pendentes de julgamento na 2ª Turma e mais quatro na 1ª Turma do STJ.

Mauricio Bueno, sócio do HRSA Sociedade de Advogados, porém, entende que o caso Gerdau forma sim precedente, mas não “tão bom” quanto o da Cremer. “Ele não expõe o entendimento sobre o mérito, mas mesmo apreciando as questões processuais, na minha visão, indica que se e quando tiver a análise do mérito em outros casos, o entendimento deve ser favorável ao contribuinte”, diz.

A Fazenda Nacional, afirma, não atacou de forma direta o caso no recurso. “Ela quase que faz uma petição inicial de uma tese e não um recurso especial”, diz Bueno. “Não adianta a Fazenda não enfrentar a tese principal defendida pelo tribunal de origem. Eles atacam o caso, mas sustentam que a legislação deve ser interpretada de outra forma.”

O caso da Gerdau, para especialistas, é emblemático porque, quando a ação estava no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a empresa, conselheiros e advogados foram alvo da Operação Zelotes, do Ministério Público Federal (MPF), por suspeita de compra de votos no tribunal administrativo - a denúncia, porém, foi arquivada na segunda instância.

Segundo o procurador do MPF Frederico Paiva, coordenador da Operação Zelotes, o ágio interno foi o principal motivo da força-tarefa. “Começou a ser muito usado pelas empresas, que começaram a fazer essas operações de fusão para criar artificialmente o ágio interno”, afirma. Para ele, a “lei deu essa brecha para as empresas” e o Fisco “está errado mesmo em alguns casos”.

Foram mais de 120 pessoas denunciadas e mais de 20 denúncias feitas, segundo Paiva. A maioria, contudo, não foi analisada pela primeira instância ou a denúncia foi anulada pelo TRF-1, como no caso da Gerdau - que não chegou a ser julgado. O procurador ainda recorreu para o STJ, mas não teve sucesso (HC nº 1029467-75.2019.4.01.0000).

Em nota ao Valor, a Gerdau diz que “recebeu, com o respeito de sempre, a decisão do STJ que reafirma as decisões que reconheceram a legitimidade da reorganização societária do grupo”. A empresa reforça que “não existe nenhum processo penal contra a Gerdau ou seus executivos ou ex-executivos em curso relativa à Operação Zelotes”.

Também em nota, o STJ afirma que a relatoria do caso foi assumida pela ministra Maria Thereza de Assis Moura, antiga presidente. Sobre a retirada de pauta e julgamento do recurso de forma monocrática, diz que “o ministro Herman não se manifesta sobre processos em andamento”.

ECONOMIA

O Estado de S.Paulo - SP   02/09/2024

O projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2025 encaminhado pelo governo federal ao Congresso nesta sexta-feira, 30, tem projeções mais otimistas do que as do mercado financeiro para os principais indicadores da economia, como PIB, inflação, câmbio e juros.

Com relação ao crescimento do PIB, por exemplo, o governo estima alta de 2,6% para o ano que vem, enquanto o último dado do Boletim Focus, que colhe informações de instituições financeiras, projeta um crescimento de apenas 1,86%, quase um ponto percentual menor.

Para os anos seguintes, de 2026 a 2028, o mercado entende que o País crescerá 2% ao ano, enquanto o governo Lula prevê alta de 2,6%.

Nos últimos anos, contudo, o mercado tem errado para baixo os seus números, e feito correções ao longo do ano que se aproximaram dos dados do governo federal.

Com relação ao IPCA, o governo estima alta de 3,3% no ano que vem, para já chegar à meta de 3% a partir de 2026. Nesse caso, nem o Focus nem o Banco Central têm números tão otimistas. O mercado entende que a inflação de 2025 ficará em 3,93%, com alta de 3,6% em 2026, e de 3,5% nos anos seguintes.

Já o BC, em seu cenário de referência, que segue as estimativas de juros do Focus, prevê que no primeiro trimestre de 2026 a inflação será de 3,4%. No cenário alternativo, com a Selic estável em 10,5%, o IPCA ficará em 3,2% no mesmo período.

Esta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o economista Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, a partir de janeiro de 2025. Lula tem sido um forte crítico à política de juros da gestão de Roberto Cmpos Neto. Para atingir a meta de 3%, no entanto, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria que colocar a Selic em nível ainda mais elevado.

Para a taxa Selic, o governo estima uma taxa média anual de 9,61% no ano que vem, com redução progressiva, ano a ano, até 6,9% em 2028. Já o Focus, que divulga o número para o final do período, prevê que a Selic chegará em dezembro do ano que vem em 10%, para chegar a 9% nos anos de 2027 e 2028.

IstoÉ Dinheiro - SP   02/09/2024

A inflação permaneceu estável, em termos anuais, em julho nos Estados Unidos, a 2,5%, e aumentou a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central) reduza as taxas de juros em meados de setembro.

O índice PCE, o mais utilizado pelo Fed, registrou, no entanto, uma recuperação na medição mensal entre junho e julho, passando para 0,2% frente a 0,1% entre maio e junho.

Esta evolução está alinhada com as expectativas dos analistas.

Em um ano, “os preços dos bens caíram menos de 0,1% e os dos serviços cresceram 3,7%”, afirmou o Departamento do Comércio.

A inflação subjacente, que exclui os preços voláteis da energia e dos alimentos, manteve-se estável tanto em uma base mensal como anual, em 0,2% e 2,6%, respectivamente.

Outra medida da inflação, o índice IPC, com base no qual as aposentadorias são indexadas, mostrou, no início de agosto, uma continuação da desaceleração em julho, para 2,9% em um ano, o nível mais baixo desde março de 2021, em comparação com 3% no mês anterior.

Os gastos dos consumidores aumentaram mais rapidamente em julho do que em junho (0,3%, contra 0,2%), assim como sua renda (0,3%, contra 0,1%), indicou o Departamento do Comércio.

– É tempo –

A queda da inflação anual durante vários meses pode convencer o banco central americano a começar a reduzir suas taxas de juros em sua próxima reunião, nos dias 17 e 18 de setembro.

O Fed aumentou as taxas a níveis não vistos há mais de duas décadas, para tornar o crédito mais caro e, assim, desencorajar o consumo e os investimentos após a pandemia, para moderar as pressões sobre os preços.

“Chegou a hora de um ajuste na política monetária, uma redução das taxas de juros”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira passada, durante a reunião anual de banqueiros centrais mundiais em Jackson Hole, Wyoming.

É “difícil” imaginar que o Fed não reduza as taxas em meados de setembro, afirmou na segunda-feira a presidente do Fed em São Francisco, Mary Daly.

“Não queremos nos encontrar em uma situação em que mantemos uma política excessivamente restritiva em uma economia em desaceleração”, destacou.

O Fed pretende que a inflação chegue a 2% ao ano, nível considerado saudável para a economia.

Atualmente, as taxas de referência estão na faixa de 5,25-5,50%. O Fed observou que a taxa de desemprego subiu a 4,3% em julho.

Wall Street reagiu positivamente aos dados de inflação e abriu em alta nesta sexta-feira. Nas primeiras cotações, Dow Jones ganhou 0,19%, Nasdaq 0,77% e o S&P 500, 0,47%.

O Estado de S.Paulo - SP   02/09/2024

O sócio, diretor de investimentos (CIO) e gestor dos fundos macro da Ibiuna Investimentos, Rodrigo Azevedo, avalia que o Banco Central brasileiro poderia ser proativo para agir na política monetária. Segundo ele, um ajuste da Selic na casa de 1,5 ponto porcentual até o fim do ano deve ser o mais apropriado.

“Será que tem de elevar a taxa de juros? Quanto tem? Alguns bancos centrais preferem esperar. Alguns preferem ser proativos, como se estivessem ‘comprando seguro’. Tenho tendência a achar que o BC deveria ser proativo. Um ajuste de 1,5 ponto porcentual seria suficiente para atravessar esse momento”, afirmou Azevedo, durante painel no evento Expert XP, nesta tarde. Para ele, com os atuais dados de emprego, inflação, câmbio e fiscal ainda “é difícil falar que a economia está pedindo uma queda de juros”, comentou. “Mas será que está pedindo alta?”, refletiu.

Já André Jakurski, sócio-fundador e diretor-executivo da JGP, pondera que o gasto do governo cresceu 15% nos últimos 12 meses e a massa salarial subiu 8%. “Temos um trem andando a 120 km/h. Acho que o BC teria de aumentar o juro mais que 1,5 ponto”, afirmou o executivo, destacando que “1,5 ponto não vai fazer diferença nem para a economia nem para a inflação nem para a Bolsa”. Para a Bolsa, ele disse considerar a entrada de capital estrangeiro.

Jakurski também comentou a meta de inflação no Brasil, que avalia ser muito agressiva, em 3%.

O gestor de fundos multimercado da XP Asset, Bruno Marques, avalia que o Banco Central brasileiro talvez esteja “se atendo demais ao cenário externo” em suas decisões de política monetária, com a expectativa de início de cortes pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e isso “passa a sensação errada de que não quer elevar juros aqui”. Marques ainda observa ruídos na comunicação e “colocações infelizes” do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

“Roberto foi bastante infeliz nas colocações dele nesta semana. Os ciclos de política monetária são muito específicos em cada país e talvez ele tenha se atentado demais ao cenário externo. Mas o BC se ater ao mercado externo, ao risco do Fed reduzir juros, passa a sensação errada de que não quer subir aqui. Roberto foi mais dove (suave)”, detalhou Marques. Para o gestor, o ruído de comunicação é um problema criado pelo próprio BC.

Já o indicado à presidência do BC, Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, tem passado um discurso mais duro, o que trouxe volatilidade para o Brasil nas últimas semanas, segundo Luiz Eduardo Portella, sócio-fundador e portfolio manager da Novus Capital. “Há um clima de desconfiança”, disse.

“Uma das ferramentas mais fortes que o BC tem é a credibilidade, e o custo de fazer a inflação convergir (à meta) quando não se tem credibilidade é maior”, destacou Guilherme Preciado, gestor de portfólio multimercado na Opportunity. Para ele, há motivos para o BC elevar os juros, mas não deve ser um ciclo “tão forte”, limitando-se a 100 pontos-base ou 150. “Então posições tomadas (que apostam na alta) em juros não são tão interessantes”, afirmou.

O Estado de S.Paulo - SP   02/09/2024

A reação dos empresários à alta de impostos proposta pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi imediata. Em nota divulgada na tarde desta sexta-feira, 30, a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) afirmou que “não há espaço para mais impostos” e que se trata “de um passo na direção errada”.

Projeto de lei enviado pelo Executivo ao Congresso prevê a elevação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), um tributo cobrado sobre o lucro das empresas, e do Imposto de Renda incidente sobre os Juros sobre Capital Próprio (JCP), um tipo de remuneração paga pelas companhias aos seus acionistas.

O objetivo do governo é arrecadar R$ 21 bilhões no próximo ano, quando o Executivo se comprometeu com a manutenção da meta de déficit zero. O aumento da CSLL, como antecipou o Estadão, será restrito a 2025, enquanto que a alteração no JCP será permanente – ou seja, sem data delimitada no projeto de lei.

“Na tributação da renda, já temos uma das mais elevadas alíquotas corporativas, e, com este aumento, teremos uma carga ainda maior. No consumo, segundo as últimas estimativas do Ministério da Fazenda, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ficará em 28%, o mais alto de que se tem conhecimento”, diz a Abrasca, frisando que o “Brasil caminhará para ter a maior carga tributária do mundo”.

A associação, que reúne 453 companhias do País e diz representar 40% do PIB brasileiro, tem forte influência no Congresso Nacional e deverá atuar junto aos parlamentares para evitar a aprovação do texto. Esses temas, inclusive, já foram alvo de debates recentes dentro do Parlamento, com sucessivas derrotas para o Executivo.

No comunicado, a Abrasca também afirma que a arrecadação vem batendo recordes mensais seguidos e, mesmo assim, o governo não alcançou o equilíbrio fiscal pretendido. “Por mais meritório que seja o trabalho inicial da equipe econômica para revisão de despesas, é urgente que este esforço se intensifique”, diz a nota.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a anunciar um corte de R$ 25,9 bilhões em programas sociais e previdenciários no próximo ano. As alterações, porém, focam apenas em pente-fino com exigência de biometria, revisões cadastrais e maior foco em perícias, sem alterações estruturais nas despesas obrigatórias – que crescem acima do limite do novo arcabouço fiscal.

Diante desse cenário, a Abrasca sugere 19 ações a serem adotadas pelo governo com o objetivo de alcançar o equilíbrio orçamentário sem elevação de carga tributária. A lista inclui a ampliação das transações tributárias (acordos entre governo e contribuintes para a resolução de litígios) e o combate ao devedor contumaz (projeto que prevê punições mais severas às empresas que têm na inadimplência um modelo de negócio), além de privatizações e a realização da reforma administrativa e de uma nova reforma previdenciária.

Também constam nas sugestões temas que encontram pouco amparo dentro do governo Lula, como a alteração dos pisos constitucionais da saúde e da educação, que crescem em velocidade superior ao limite do arcabouço, e o debate sobre a desvinculação de benefícios previdenciários do salário mínimo.
Congresso

A Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) do Congresso publicou um manifesto contra o projeto enviado pelo governo. “Essa medida afeta negativamente a economia brasileira, tendo em vista que afasta o investimento nacional e estrangeiro, reduz a fomentação de novas empresas, bem como dificulta a ampliação de geração de emprego e renda no País”, diz o texto.

Para a FPE, o projeto tem impacto negativo sobre o setor bancário e de seguros, provoca desincentivo ao investimento e inovação e ameaça o crescimento macroeconômico do País. A frente diz ainda que “sanha fiscal arrecadatória do governo vai além do limite do razoável” e diz não ver “ações específicas para redução dos gastos da área pública de forma a trazer maior estabilidade fiscal e facilidade de criação de empregos”.

“Trabalharemos para que o Congresso Nacional derrube estas iniciativas que põem o futuro macroeconômico do País em risco”, diz o manifesto.

O Estado de S.Paulo - SP   02/09/2024

A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central pelo presidente Lula não causou surpresas, o que é positivo. O mercado já esperava a indicação e está atento a ele há meses, como é normal. Galípolo tem a confiança do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de Lula; agora terá de demonstrar independência e compromisso com a missão de manter a inflação dentro da meta. Terá de trabalhar para ganhar a confiança de todos como presidente de Banco Central.

O fato de ser a primeira sucessão no Banco Central sob a lei da autonomia cria peculiaridades. Galípolo permanecerá como diretor de Política Monetária até o final do ano, quando termina o mandato de Roberto Campos Neto. Sua postura nas próximas três reuniões do Copom deste ano será observada com muita atenção pelos agentes econômicos.

Galípolo tem a vantagem de ser diretor de Política Monetária há quase dois anos. Conhece bem a metodologia e os modelos econométricos do BC, que permitem traçar cenários sobre inflação, juros e atividade econômica, e são usados pelo Copom para a tomada de decisões.

As críticas do presidente Lula a Campos Neto colocaram uma carga nos ombros de Galípolo. Quando assumir, ele terá de agir com firmeza, não só para não ser visto como um presidente do BC sem independência e leniente com a inflação, como também para gerenciar as expectativas, fundamentais para o crescimento da economia.

Eu já disse aqui que o termo “mercado” não se resume a meia dúzia de grandes investidores com escritórios na Faria Lima. Um dono de padaria no interior da Bahia e um microempreendedor em Goiás também fazem parte do “mercado”. Se sentirem efeitos da inflação, vão aumentar os preços; se estiverem otimistas sobre o futuro da economia, podem contratar um funcionário e investir no aumento da produção. O trabalho de um presidente do BC deve levar em conta o emprego e os investimentos.

A lei da autonomia protege Galípolo do risco de demissão por razões políticas e permite que ele trabalhe com tranquilidade.

Quando assumi o Banco Central, em 2003, não havia lei, apenas um acordo entre mim e o presidente Lula de que agiria com independência. Sofri críticas fortes, fui pressionado pelo fogo amigo. Mas permaneci oito anos, com inflação na meta e crescimento do PIB acima de 4% ao ano, em média.

Conto em detalhes esta história do fogo amigo em 2003 – e outras – em meu livro de memórias, Calma Sob Pressão. Será um prazer receber a todos no lançamento, dia 24, a partir das 19h na livraria da Travessa, no shopping Iguatemi, em São Paulo.

IstoÉ Dinheiro - SP   02/09/2024

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira que tem havido um aumento das medidas de protecionismo contra produtos chineses em diversos países, que pode resultar em um menor crescimento econômico do gigante asiático, com impacto em todo o mundo emergente.

Durante palestra em um evento da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Campos Neto explicou que a China está transicionando a sua economia para funcionar em um modelo de exportação de produtos ligados à eletrificação, mas tem havido resistência de vários governos, ele disse.

“Se a gente realmente tiver uma onda de protecionismo em relação a isso, que já está acontecendo, inclusive em países asiáticos, a gente pode ter um crescimento muito menor da China”, ele disse.

Simulações apontam que essa perda de crescimento pode ser na linha de 2 até 3,5 pontos porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o presidente do BC. “Se a China tiver uma queda de 3%, 3,5% de crescimento, vai afetar o mundo emergente, porque a China hoje é o grande motor de crescimento”, afirmou.

Valorização de ações de tecnologia

O presidente do Banco Central também disse que a valorização das ações ligadas à tecnologia nos Estados Unidos é cercada de questionamentos, e um deles é que manter o crescimento exponencial de empresas de inteligência artificial exige uma energia que ainda não está disponível.

“Quem for visitar um dia a OpenAI, olhar o ChatGPT 5 e o que eles estão fazendo… não tem nem de perto a energia suficiente que precisa para continuar com esse crescimento do jeito que está sendo projetado nas ações”, disse o presidente do BC.

Outro questionamento, afirmou Campos Neto, é se o mercado está precificando um crescimento muito agressivo nas ações.

Ele comentou que, nesta sexta-feira, as ações da Nvidia caíram fortemente, mesmo após a divulgação de um balanço melhor do que era esperado.

MINERAÇÃO

CNN Brasil - SP   02/09/2024

Os contratos futuros de minério de ferro subiram nesta quinta-feira (29), impulsionados por esperanças renovadas de melhora na demanda da China, principal mercado consumidor do minério, nas próximas semanas.

No entanto, as preocupações com os altos estoques e com a extensão da recuperação da demanda de aço downstream limitaram os ganhos.

O contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com alta de 0,53%, a 760 iuanes (US$ 106,93) a tonelada.

O minério de ferro de referência de setembro na Bolsa de Cingapura devolveu parte dos ganhos registrados mais cedo, mas ainda subia 0,84%, para US$ 101,65 a tonelada.

“Esperamos que a produção de metal quente se recupere na próxima semana, embora uma queda contínua seja observada nesta semana”, disse Xie Qingwei, analista da consultoria Shanghai Metals Market (SMM).

A produção de metal quente, um produto de alto-forno, é normalmente usada para avaliar a demanda de minério de ferro.

Os analistas da BMI revisaram sua previsão de preço do minério de ferro para 2024 para uma média anual de US$ 110 por tonelada, de US$ 120 por tonelada, uma vez que a demanda fraca na China continua a pressionar o mercado de minério de ferro.

“Esperamos que o sentimento negativo em relação à lentidão da atividade no setor imobiliário chinês, cuja queda agora parece irreversível, persista, limitando ainda mais os preços.”

Outros ingredientes de fabricação de aço na bolsa de Dalian tiveram comportamentos mistos, com o carvão metalúrgico subindo 0,29% e o coque caindo 0,1%.

Valor Investe - SP   02/09/2024

Mineradora está 27% abaixo de sua máxima histórica, alcançada em janeiro de 2023. Além de questões locais, empresa enfrenta desvalorização no preço de seu principal produto, o minério de ferro

Apesar da alta acumulada na semana, seguida do anúncio do novo diretor-presidente, as ações da Vale ainda estão 27% abaixo da sua máxima histórica vista em 26 de janeiro de 2023, época em que fecharam cotadas a R$ 82,36. Ontem elas encerraram o pregão em R$ 59,30

A desvalorização do minério de ferro, que atinge todo o setor mundialmente, se somou a questões locais e políticas que fizeram com que a empresa tivesse um desempenho pior que as concorrentes internacionais este ano. No acumulado de janeiro até ontem, os papéis caíram 17,27%, mesmo depois de a companhia ter apresentando aumento de produção e incremento de mais de 200% no lucro no segundo trimestre.

De acordo com o Valor 360, oito de 11 analistas recomendam a compra da ação. O restante se mantém neutro e ninguém indica a venda do papel. Para especialistas, o potencial médio de alta do ativo é de quase 39%, chegando a R$ 82,30, pouco aquém de seu recorde.

Mas, para voltar aos dias de glória, a mineradora precisa superar questões como:

Dúvidas sobre a sucessão de seu então presidente Eduardo Bartolomeo;

Reparações devidas no caso do desastre em Mariana (MG) em 2015, ainda em negociação;

Crise imobiliária na China que derruba demanda e preço do minério de ferro, principal produto da Vale;

Problemas com a renovação de concessões de ferrovias.

O primeiro fator de risco foi posto de lado esta semana, após Gustavo Pimenta ser eleito presidente por unanimidade do Conselho de Administração. O nome foi bem recebido pelo mercado, que temia a ingerência do governo caso algum político ocupasse a cadeira.

Atual vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da companhia, ele é visto como um nome técnico que dará continuidade aos projetos iniciados pelo antecessor.

“A substituição interna (por um executivo da companhia) é a melhor alternativa para a Vale pelas seguintes razões: suaviza a transição e limita as mudanças na estratégia da companhia, não interrompe os processos de negociação em curso em tópicos importantes”, diz o relatório do Itaú BBA.

No início do ano, a mineradora passou por um momento de enorme estresse, quando circularam rumores de que Guido Mantega, ex-ministro de Dilma Rousseff, seria o novo nome à frente da companhia. Mesmo que o fato tenha sido negado, ainda permaneceram as incertezas.

Em março, mais um ruído. O conselheiro José Luciano Duarte Penido renunciou ao cargo e acusou o processo sucessório de estar sendo manipulado. Depois, ele voltou atrás, mas os papéis sofreram revés.

Um dia após a escolha de Pimenta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar as privatizações e cobrou o dinheiro que a empresa deve pagar pelo desastre de Mariana, ocorrido em novembro de 2015.

""A Vale, que tinha uma diretoria, eu sabia quem era o presidente da Vale, a gente sabia quem era. Hoje, nessa discussão que a gente está de fazer um acordo para receber o dinheiro de Mariana [cidade de Minas Gerais], o dinheiro que a gente está para receber, o dinheiro que prometeram para o povo, você não tem dono", afirmou o presidente da República.

Segundo o banco Goldman Sachs, o executivo é a melhor escolha que o conselho da Vale poderia fazer na sucessão da presidência da companhia porque alinha diversos interesses em torno da mineradora.

De acordo com Felipe Abad, gestor da Polo Capital, Pimenta demonstra ter um perfil conciliador, que tem tudo para manter uma boa relação com políticos. O especialista afirma que gestões petistas costumam demandar mais investimentos de empresas extrativistas e a mineradora tem as ferramentas para atender a essas exigências. A Vale tem vários projetos que são interessantes para o governo e rentáveis para os investidores, só precisam sair do papel.

"Ele transita bem por Brasília, Minas e Pará. Agora, deve ser proativo para já apresentar projetos de interesse em comum. Se ele conseguir executá-los com sucesso, vai mostrar que tem excelentes ativos, que fazem parte da nova matriz energética, como o cobre. Precisando de mais licenças, o governo pode ter boa vontade para fazer o projeto de cobre, bom para o país e para o acionista", avalia.

Reparações de Mariana

O segundo grande obstáculo (as indenizações ainda pendentes do desastre de Mariana) tem sido um dos fatores de risco mais debatidos pelo mercado, tanto do ponto de vista de recursos financeiros como no modo como a empresa opera. Pelo bem do meio ambiente e dos lucros, se faz necessário garantir que novas tragédias sejam evitadas.

Quase dez anos depois, o acordo de reparação para o desastre de Mariana (MG) ainda está em negociação. No entanto, segundo Abad, essas incertezas estão prestes a chegar a uma conclusão, dentro dos próximos meses.

"É preciso virar essa página. Desde o desastre, quando os analistas se reúnem, o foco são esses problemas. Paramos de discutir projetos. É algo que precisa ficar para trás. O provisionamento da empresa provavelmente já foi embutido pelo mercado", afirma o gestor.

Ilan Arbetman, analista de ações do time de análise da Ativa, entende que o acordo deve ficar num meio termo entre o que o governo quer, que seriam R$ 164 bilhões pagos em 12 anos, e a proposta dos representantes da Samarco, de R$ 140 bilhões quitados no prazo de 20 anos.

"Sabendo quem é o novo presidente e sem o fator Mariana, a Vale fica mais livre para trilhar o próprio caminho de agora em diante", diz.

Ele nota que Mariana e Brumadinho foram tragédias gravíssimas que pesaram sobre a empresa. "Mariana tem um agravante que é o Rio Doce. No decorrer dos anos, vimos esse passivo piorar. A lição que fica clara é de que não se pode crescer a qualquer custo e hoje a parte qualitativa fala mais forte que a quantitativa", comenta.

O analista afirma que, além do carro-chefe, que é o minério de ferro, a Vale possui ativos de qualidade, como o cobre e o níquel. Esses metais são fontes de diversificação de receita da empresa que, assim como outras mineradoras, sofre com a queda no preço da matéria-prima.

O minério de ferro e a China

Investimentos na exploração de cobre e níquel podem ajudar a suavizar, mesmo que marginalmente, o buraco deixado pelo terceiro impasse para a valorização dos papéis da Vale: a queda no preço do minério de ferro. A crise de demanda pelo metal talvez seja a única dificuldade que não depende da gestão da empresas para ser superada.

Segundo Abad, da Polo Capital, os problemas micro parecem estar sendo endereçados, o que seria positivo para as ações. "Entretanto, o mais importante de tudo é o preço do minério de ferro, que vem caindo muito, por problemas de demanda da China, especialmente mercado imobiliário que não está se recuperando", afirma.

A China é a maior importadora de minério de ferro do mundo. A commodity é usada na fabricação do aço, muito demandado na construção civil. Mas mesmo com estímulos do governo chinês, o setor imobiliário ainda patina, colecionando falências de gigantes como a Evergrande.

O gestor frisa que, no curto prazo, a busca pelos metais deverá continuar fraca. Para Abad, mesmo que outros mercados estejam em crescimento, como é o caso da Índia, será difícil compensar uma eventual queda da China.

Arbetman, analista da Ativa, afirma que a China não deve mais ter as taxas de crescimento econômico que tinha duas décadas atrás, sempre acima de dois dígitos. "Agora será um crescimento mais modesto. Além disso, cada vez mais, o país quer deixar de ser uma economia pautada em setores tradicionais como imóveis e infraestrutura, dando espaço para tecnologia, e essa mudança prejudica os negócios da Vale", diz.

Nem por isso, as ações da mineradora brasileira perdem a atratividade. Embora o preço do minério de ferro esteja em queda, sendo negociado por volta dos US$ 100 por tonelada, ele continua trazendo vantagens para o caixa da Vale.

Para manter sua estabilidade financeira (o chamado break even no jargão dos negócios), o metal precisa ser vendido acima dos US$ 70, explica o Arbetman.

Em momentos pontuais, os investidores poderão ver avanços nos papéis, como aconteceu nesta semana, quando os estoques de minério de ferro nos portos chineses caíram e elevaram o preço do minério de ferro. No entanto, isso não indica necessariamente uma tendência de alta da commodity.

Ferrovias

As ferrovias são o principal meio de escoamento da produção da Vale, mas um impasse em relação à renovação das concessões também tem entrado na balança de riscos dos analistas.

Em relatório, o Itaú BBA destaca que o novo presidente precisa buscar um acordo sobre as concessões ferroviárias de forma a balancear pagamentos potenciais com obrigações futuras, para alcançar uma situação de “ganha-ganha”.

Na visão de Abad, o governo tem interesse nas concessões de ferrovias e deverá agilizar para o destrave do processo.

O gestor conclui ainda que, numa comparação relativa com suas concorrentes australianas, BHP e Rio Tinto, as ações da Vale tendem a se sair melhor uma vez que consiga sanar os imbróglios locais e internos. Afinal, esses fatores deixaram a mineradora brasileira mais descontada que as demais.

"Não quer dizer que a ação da Vale vá subir, mas talvez caia menos que as outras. No fim das contas, a crise de demanda na China é um mau sinal para as mineradoras", diz.

AUTOMOTIVO

Automotive Business - SP   02/09/2024

Os Estados Unidos resolveram investir pesado na infraestrutura de recarga para carros elétricos. O governo concedeu US$ 521 milhões em subsídios para implantar mais de 9 mil pontos de carregamento pelo país, segundo informações da Reuters.
Parte dos recursos, segundo o Departamento de Energia e a Administração Federal de Rodovias do país, US$ 321 milhões, serão aplicados em 41 projetos comunitários que visam expandir a infraestrutura de carregamento de veículos elétricos.

Os outros US$ 200 milhões serão usados para financiar 10 projetos de carregamento rápido em rodovias.

A expectativa é de que este novo investimento do governo norte-americano aumente a infraestrutura de recarga e o país chegue a cerca de 500 mil pontos, incluindo carregadores rápidos.

O Estado de S.Paulo - SP   02/09/2024

Estacionado do lado de fora das portas da frente de um belo prédio de tijolos da década de 1920 em um subúrbio parisiense está um Renault 5 amarelo brilhante, um novo veículo elétrico apresentado pela montadora francesa em fevereiro. Esse lugar invejável lhe foi permitido porque pertence a Luca de Meo, o chefe da empresa, cujos altos funcionários ocupam o prédio.

Meo trouxe uma confiança renovada à Renault desde que assumiu o cargo de executivo-chefe há quatro anos. Ele deu uma guinada nos negócios e os preparou para enfrentar as montadoras chinesas que estão querendo se expandir no mercado europeu.

Quando Meo assumiu o comando da Renault em 2020, a situação era “desanimadora”, diz David Lesne, do banco UBS. A empresa vendeu 2,9 milhões de carros naquele ano, ante 3,7 milhões em 2017, e teve um prejuízo líquido de € 8 bilhões (US$ 8,7 bilhões). As dívidas estavam aumentando. Oscilações em sua aliança com a Nissan, uma montadora japonesa, e uma tentativa abortada de fusão com a Fiat Chrysler, uma ítalo-americana, deixaram a empresa em um estado lastimável.

Desde então, Meo vem conduzindo a Renault em uma reestruturação brutal. Ele cortou custos e está reduzindo a capacidade de cerca de 4 milhões de veículos em 2019 para uma meta de 3,1 milhões em 2025. As vendas caíram em sua gestão, para 2,2 milhões de veículos no ano passado, mas os lucros aumentaram. No ano passado, a Renault obteve um lucro líquido de € 2,3 bilhões.

A empresa vem tirando lições da Dacia, sua submarca sediada na Romênia, que fabrica veículos baratos com margens que superam em muito as das montadoras alemãs premium. As medidas de economia de custos da Dacia vão desde a padronização de motores e outras peças até o desligamento das luzes nas estações de sua linha de produção, operadas apenas por robôs.

Para melhorar o foco, Meo reorganizou a Renault em três partes: Ampere, uma divisão de veículos elétricos e software; Power, um negócio ligado de motores de combustão interna (ICE); e Horse, que continuará a desenvolver ICEs em parceria com a Geely, uma montadora chinesa; e a Aramco, a gigante estatal de petróleo da Arábia Saudita. (Um plano para desmembrar a Ampere foi abandonado em janeiro, depois que o crescimento começou a desacelerar no mercado de veículos elétricos da Europa).

Ao contrário de muitos de seus rivais, a Renault está disposta a admitir que não pode fazer tudo sozinha. Fabricantes de automóveis como a Volkswagen mantiveram o desenvolvimento de software em sua maior parte internamente, com resultados decepcionantes. A Renault, por outro lado, formou parcerias com empresas como a Google, uma gigante do software, e a Qualcomm, uma fabricante de chips, o que manteve os custos baixos sem ceder muito controle a terceiros.

Stephen Reitman, da Bernstein, uma corretora, descreve a Renault como um jogador de cartas que não recebeu a mão mais forte, mas que está aproveitando cada ponto dela. Sua reviravolta a posicionou bem para enfrentar as montadoras chinesas que estão começando a exportar veículos elétricos baratos para a Europa, apesar de sua mão de obra francesa ser mais cara.

Quando o Renault 5 for colocado à venda no final deste ano, seu preço inicial será de € 25 mil, o que o torna competitivo em relação às importações chinesas. O Twingo, um veículo elétrico menor que a Renault planeja lançar em 2025, será vendido por menos de € 20 mil.

Tudo isso pode explicar por que Meo parece não se incomodar com a ameaça das montadoras chinesas. Elas “não são imbatíveis”, diz ele, acrescentando que “não é hora de entrar em pânico”. A montadora fez uma parceria com uma empresa de engenharia chinesa para desenvolver o novo Twingo. Ela espera replicar o dinamismo das montadoras chinesas, reduzindo o tempo de desenvolvimento de novos modelos. As tarifas sobre os veículos elétricos chineses impostas a partir de julho darão algum tempo a montadoras como a Renault. Ela não pretende desperdiçá-lo.

Muita coisa ainda pode dar errado para a Renault. Um plano para que a Horse venda motores a outras montadoras depende de encontrar clientes dispostos a desistir de fabricar seus próprios motores de combustão interna. Até o momento, poucos parecem interessados em fazer isso. A esperança de reduzir em 40% os custos de fabricação da próxima geração de veículos elétricos da Renault dependerá, em grande parte, do fato de as baterias ficarem mais baratas e mais densas em termos de energia. Isso, observa Lesne, do UBS, está nas mãos dos fornecedores de baterias e, em grande parte, fora do controle da montadora.

Outra preocupação para a empresa e, de modo geral, para as montadoras europeias, são as metas de emissão da União Europeia, que serão consideravelmente mais rigorosas no próximo ano. Para cumpri-las, cerca de 16% dos carros que a Renault vende na Europa terão de ser totalmente elétricos, segundo os cálculos do UBS, em comparação com quase 12% no primeiro semestre deste ano. Embora o Renault 5 aumente esse número, ele pode não ser suficiente para evitar multas. A empresa poderia ser forçada a vender menos carros ICE, que são mais lucrativos, para atingir as metas.

Meo observa que, durante 125 anos, a Renault “sobreviveu a tudo”. Ele merece crédito por ter conseguido afastar a montadora francesa do desastre. Mas seu trabalho está longe de ser concluído.

Infomoney - SP   02/09/2024

A busca por carros elétricos no Brasil mais que dobrou nos sete primeiros meses deste ano e o dado joga luz sobre uma indústria que disputa investimentos à unha. Os principais players do setor automobilístico que trabalham com modelos elétricos e híbridos enxergam potencial de protagonismo no país em transição energética, mas reconhecem que existem inúmeras barreiras, tanto do ponto de vista da acessibilidade desses veículos quanto a necessidade de regulamentação.

Luciana Costa, diretora do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz que o Brasil se depara com uma janela de oportunidade inédita em termos de transição energética. “Nenhuma grande economia, nem um país do G20 possui a vantagem competitiva que nós temos”, afirmou, durante o painel “O papel da eletrificação na transição energética”, esta sexta-feira (30), durante a Expert XP 2024.
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Segundo Luciana, o BNDES é o maior financiador de energia renovável do mundo.

“Nós já temos as hidrelétricas, nós já temos energia solar e eólica. Agora, precisamos entrar na segunda onda de transição energética que é a eletrificação”, complementou.
Estratégia das montadoras

Na General Motors, “o direcionamento é 100% elétrico”, afirmou Raquel Mizoe, diretora de engenharia de produtos da GM na América do Sul. A companhia acabou de lançar um SUV elétrico no mercado brasileiro e em breve vai trazer o Equinox, da Chevrolet.

Na Stellantis, um grupo jovem, porém formado por empresas experientes do setor automotivo (Fiat Chrysler e Peugeot Citroen), a preocupação com descarbonização vai além do que sai do escapamento do veículo. “Avaliamos todo o ciclo, desde a mineração, metais, plástico e alumínio [que compõe o automovóvel] do ponto de vista de emissão de CO2”, explicou João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da empresa.

“O Brasil tem todas as oportunidades de fazer uma transição energética, equilibrando diferentes níveis de eletrificação e combustíveis renováveis para fazer essa transição de forma equilibrada”, complementou o executivo.

A chinesa BYD se apresenta como a maior produtora de painéis solares do Brasil, mas se tornou popular no país pelos carros de passeio 100% elétricos. A companhia disputa com a Tesla a liderança em vendas de carros elétricos no mundo. No Brasil, a companhia tem recebido apoio do BNDES para eletrificar a frota de ônibus – hoje, com mais de 100 mil veículos, sendo que menos de 300 são elétricos.

“O Brasil tem chances de ser o protagonista global da transição energética”, afirmou Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD no Brasil. Ele e Luciana, do BNDES, defendem um marco regulatório para a eletrificação da mobilidade urbana.

Ele destacou o recurso de matérias-primas para a eletrificação, como minerais usados na fabricação de baterias e cana-de-açúcar – o Brasil, no momento, conduz pesquisas para a conversão de etanol em hidrogênio verde, “combustível” de carros híbridos, incluindo os eletrificados. “Temos todas as condições aqui para um protagonismo”, disse o executivo.
Disputa por investimentos

O principal desafio, segundo Luciana, é competir por investimentos com outros players como Estados Unidos, Europa, China e Índia, países em que são cada vez mais frequentes planos de incentivo e subsídios. “O Brasil tem uma limitação fiscal nesse momento”, lembra a diretora do BNDES.

Luciana explica que o mundo vai precisar de uma média de US$ 4 trilhões por ano, até 2030, para investir em transição. “Os bolsos de liquidez vão ser variados e todos vão ter que ser acessados”.

O acesso a esses veículos também é outro desafio. Para Medeiros, da Stellantis, os diferentes níveis de hibridização vão dar poder de compra para o cliente brasileiro. “O biocombustível e diferentes níveis de eletrificação vão compor o portfólio da Stellantis nessa nossa ambição de descarbonização em 50% até 2030, o que para indústria automotiva é amanhã e, em 2038, fazer o net zero”.

A BYD investe na produção de um motor híbrido para que o consumidor tenha “vias de escolha”, segundo Baldi.

Raquel Mizoe concorda que o carro híbrido tem um papel importante na transição energética, mas afirma que é preciso trabalhar para “um futuro elétrico”.“Precisamos trabalhar para aumentar a escala dessas novas tecnologias para torná-las economicamente sustentáveis. E eu acredito que o Brasil pode vir a ser um polo produtor e exportador dessas tecnologias através de economia de escala”, disse.

Exame - SP   02/09/2024

Apesar das montadoras chinesas estarem presentes no Brasil há pelo menos 20 anos, com Chery e JAC sendo as pioneiras, foi nos últimos dois anos que o país se tornou um destino para investimentos robustos das marcas asiáticas. Entre o final deste ano e o início do próximo, pelo menos quatro novas marcas devem desembarcar em solo brasileiro.

Mais do que vender carros, algumas dessas empresas chinesas querem deixar um legado no Brasil, desenvolvendo veículos focados especificamente no consumidor local. Esse é o caso da GWM, que pretende investir um total de R$ 10 bilhões até 2032. Na primeira fase desse aporte, de R$ 4 bilhões, está incluída a construção de uma fábrica e de um dos ativos mais estratégicos para a companhia: um centro de pesquisa e desenvolvimento.

Ricardo Bastos, diretor de Assuntos Institucionais da GWM Brasil, explica, em entrevista exclusiva à EXAME Casual, que o espaço físico do centro ainda não está pronto, faltando a compra de alguns equipamentos, mas que os engenheiros já estão trabalhando para homologar carros vindos da China e adaptar os veículos ao gosto do consumidor brasileiro. O projeto é liderado por Márcio Alfonso, ex-CEO da Caoa Chery.

Bastos relata que a GWM está finalizando a adaptação de uma planta na cidade de Iracemápolis, no interior de São Paulo, que pertencia à Mercedes-Benz. O centro de engenharia será instalado no mesmo local. "Com o início da produção local, previsto para o primeiro semestre do próximo ano, a ideia é que possamos olhar cada vez mais para o consumidor brasileiro. Podemos também, no futuro, desenvolver um produto regional. Esse é um dos nossos desejos", afirma.

Produção local

Com o início da produção local, a GWM espera crescer ainda mais em volume de vendas. No segmento de híbridos, a montadora chinesa ocupa a terceira colocação entre as que mais vendem no país, com 11.829 carros emplacados entre janeiro e julho deste ano, representando 20% do mercado. No segmento de elétricos, a marca está em segundo lugar, com 4.085 carros emplacados e 11% de participação, segundo dados da Fenabrave.

Esses números são impulsionados pelo Haval H6, que foi escolhido para ser o primeiro carro da GWM montado no Brasil. Ricardo Bastos avalia que a produção de baterias ainda é um assunto distante devido ao custo ser consideravelmente inferior na China. "Talvez, utilizando recursos do Mover, possamos montar baterias aqui, mas isso ainda é algo para o futuro", revela.

Haval H6: sucesso no mercado brasileiro

Em julho, a linha Haval H6 liderou as vendas em três segmentos. Entre os híbridos, foram comercializadas 2.786 unidades, à frente do BYD Song (2.138) e do Toyota Corolla Cross (1.267).

Entre os eletrificados, o Haval H6 também foi líder de vendas, com suas 2.786 unidades superando o BYD Song (2.138) e o BYD Dolphin Mini (1.466). No segmento Premium (acima de R$ 300 mil), o Haval H6 se destacou, com 605 unidades da versão GT vendidas.

CONSTRUÇÃO CIVIL

A Tribuna - SP   02/09/2024

O bom desempenho das vendas de imóveis novos no Brasil tem deixado o setor imobiliário otimista para os próximos meses. Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ouviu aproximadamente 600 empresários em todo o País durante o mês de julho e mostrou que 52,4% deles estão confiantes para novos lançamentos e serviços nos próximos seis meses. Além disso, 54,6% deles estão otimistas quanto ao nível de atividade do setor.

Os números fazem parte de um levantamento apresentado pela economista-chefe da Câmara Brasileira da Industria da Construção, Ieda Vasconcelos, durante a 11ª edição do Summit da Construção Civil, realizado pelo Grupo Tribuna na última segunda-feira em Santos.

"Desde janeiro de 2024, o índice de confiança do empresário da construção permanece em patamar elevado, com expectativas positivas para o nível de atividade, novos empreendimentos, compras de matérias-primas e número de empregados”, afirmou Ieda.

Segundo a economista, as novas condições do programa Minha Casa, Minha Vida e as expectativas positivas com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são alguns fatores que explicam o resultado.

Abrainc

Diretor de Assuntos Econômicos da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Renato Lomonaco esteve à frente do Painel Panorama do Mercado Imobiliário e concorda com o cenário de otimismo.

Segundo ele, melhorias contínuas no programa Minha Casa, Minha Vida têm impulsionado contratações ao longo deste ano. De acordo com Lomonaco, no segundo trimestre de 2024, foram vendidas 159 mil unidades, volume 40% maior que o registrado no mesmo período de 2023.

Além disso, uma pesquisa realizada no segundo trimestre deste ano pela Deloitte, a pedido da Abrainc, indicou que 86% dos empresários pretendem adquirir terrenos nos próximos 12 meses e 93% pretendem lançar imóveis no mesmo período.

“Esses números têm uma relação grande com a melhora na economia. Mesmo ainda em patamares elevados, as taxas de juros vêm caindo e o desemprego vem diminuindo, o que aumenta a intenção de compra dos consumidores e faz crescer a confiança no setor”, completa o executivo.

Índice atualizado
No final de julho, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revisou para 3% a sua previsão de crescimento econômico do setor para 2024. No fim de março, a CBIC já havia elevado de 1,3% para 2,3% seu prognóstico para alta da construção para o período. O índice fica acima das previsões de 2,43% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para este ano.

Vendas e lançamentos sobem no primeiro semestre
As vendas e os lançamentos de imóveis residenciais no Brasil subiram no 1º semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2023. É o que mostra levantamento divulgado pela Confederação Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Durante o primeiro semestre de 2024, o total de unidades lançadas subiu 5,7% (em relação ao mesmo período do ano passado), totalizando 149.487 novos imóveis. Enquanto isso, as vendas tiveram um aumento de 15,2%, levando a uma diminuição das unidades em estoque. Atualmente, segundo a CBIC, existem 274 mil unidades disponíveis para venda no Brasil, uma queda de 11,5% em relação ao primeiro semestre de 2024.

Segundo o levantamento de Indicadores Imobiliários Nacionais de 2024, referente ao 2º trimestre do ano, as vendas alcançaram um patamar recorde na série histórica do indicador, elevando o acumulado dos últimos 12 meses para 353,95 mil unidades. Somente no segmento do Minha Casa, Minha Vida, as vendas subiram 46% na comparação com o segundo trimestre de 2023 e 37% em relação ao primeiro semestre do ano passado.

O que esperar para o 2º semestre de 2024?

Alguns fatores ajudam a justificar a expectativa mais positiva para o ano:

- Mercado de trabalho nacional continua com resultados positivos: de janeiro a maio de 2024, o País gerou 1,089 milhão de novos empregos com carteira de trabalho assinada. A taxa de desemprego, que era de 8,3% entre março e maio de 2023, passou para 7,1% em igual período de 2024.
- O Índice de Confiança do Empresário da Construção permanece em patamar elevado, com expectativas positivas para nível de atividade, novos empreendimentos, compras de matérias primas e número de empregados.
- As novas condições do programa Minha Casa, Minha Vida e as expectativas positivas com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
- As obras de reconstrução do Rio Grande do Sul podem gerar efeito mais positivo no setor.

Money Times - SP   02/09/2024

No início do mês, o Governo Federal aumentou o teto do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) para as Faixas 1 e 2. Com as mudanças, o setor da construção civil comemora e visa um maior impulsionamento do segmento nas demandas federais voltadas às populações menos abastadas.

Na Faixa 1, o reajuste do valor máximo por família foi de R$ 2.640 para R$ 2.850, o que possibilita aos compradores adquirir a casa própria com 95% da obra subsidiada pelo governo. Já na Faixa 2, o ganho mensal passou de R$ 4.400 para R$ 4.700. Nesse caso, o subsídio vale até R$ 55 mil. Esses valores são relativos aos moradores da área urbana.

Para quem faz parte da população rural, as regras mudam um pouco. Calculado de forma anual, o teto da Faixa 1 foi de R$ 31.680 para R$ 40 mil. Na Faixa 2, o montante aumentou de R$ 52.800 para R$ 66.600.

Quanto à Faixa 3, não houve modificações e a renda mensal familiar permanece em até R$ 8 mil.

Impactos do Minha Casa, Minha Vida no mercado imobiliário

A medida se tornou necessária para evitar exclusão de famílias em decorrência de mera atualização de renda, sem significar melhoria efetiva na capacidade de compra. Ademais, ela tem o potencial de ampliar o volume de orçamento gasto.

Sendo assim, é ainda mais importante continuar com medidas de contenção, visando direcionar esse funding, o único capaz de dar acesso a famílias perfil HIS — Habitação de Interesse Social, voltada às camadas de menor renda. Afinal, é, de longe, onde se concentra o maior percentual do déficit habitacional brasileiro.

Juntamente, os profissionais da construção celebram cada incentivo dado ao MCMV. Isso porque a medida influencia também no planejamento das construtoras. Com a readequação das faixas, as empresas do segmento veem a demanda pelos empreendimentos dessas faixas também subirem, o que, como consequência, resulta em maior volume de vendas.

Isso implica atender uma parcela maior de clientes, que, antes, enquadravam-se em outros níveis do programa, com taxas de juros menos atrativas, bem como dar a eles o acesso a um financiamento maior e com prestações mais baratas.
Momento para acelerar

O mercado imobiliário vive em um ciclo de altos e baixos. Então, em momentos como esse, em que a onda vem pronta para as empresas surfarem, é a hora de usar os benefícios da melhor forma possível. Aqui, aprimorar o direcionamento do planejamento estratégico para os próximos meses pode ser uma boa alternativa, de olho nas oportunidades que podem ser aproveitadas devido ao incentivo ao MCMV.

Somado a esta novidade, no dia 8 de agosto, o Conselho Curador do FGTS aprovou a liberação de uma verba adicional de R$ 23 bilhões para o MCMV. Do total, R$ 21,95 bilhões serão destinados para a contratação de 600 mil unidades habitacionais. Pouco mais de R$ 1 bilhão deverá compor o subsídio que possibilita a redução das prestações. Com essa aprovação, a verba para habitação neste ano alcançará R$ 127 bilhões.

Levando isso em consideração, a capacitação das equipes para a adequação às exigências do programa, bem como planos de ação para antecipar as contratações e evitar sofrer com a falta do funding, são outras opções que vêm a calhar.

Analisando todo o contexto, as recentes alterações no programa Minha Casa, Minha Vida representam uma oportunidade para o setor da construção civil. Com o aumento da demanda por imóveis, a redução das taxas de juros e o aumento dos subsídios, as construtoras têm todos os ingredientes necessários para impulsionar seu crescimento e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Que os ventos continuem soprando a favor!

A Tribuna - SP   02/09/2024

Mesmo aquecida e confiante, a construção civil tem grandes desafios para enfrentar neste segundo semestre. A elevada carga tributária e o alto custo com mão de obra aparecem no topo da lista na Sondagem da Construção, um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e apresentado no 11º Summit da Construção Civil, realizado pelo Grupo Tribuna em Santos.

A pesquisa ouviu cerca de 600 empresários em mais de 200 municípios brasileiros e revelou que, para 28,3% deles, os tributos são o principal problema a ser encarado pelo setor até o fim de 2024.

“Além da elevada carga tributária, existe uma preocupação com a reforma tributária. O redutor de 40% sobre a alíquota geral de 26,5% prevista não será suficiente para manter a neutralidade da carga do setor”, explicou a economista-chefe da Câmara Brasileira da Industria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos.

“No início, não será fácil para a indústria da construção, que hoje tem uma tributação simples e que passará a ser mais complexa. Mas (a reforma tributária) será boa para o País, então será boa para a construção”, ponderou o presidente da CBIC, Renato Correia, durante discurso na abertura do evento. “Esperamos que melhore o ambiente de negócios e traga mais habitação e infraestrutura para a sociedade brasileira”, disse Correia.

Mão de obra
A falta ou o alto custo da mão de obra não qualificada preocupa 24,7% dos empresários ouvidos pela sondagem em junho. “Trata-se do maior percentual desde o início da série histórica (em 2015)”, afirma Ieda. As taxas de juros elevadas ficam em 3º lugar (24%), seguidas pela burocracia excessiva (20,1%) e o alto custo da mão de obra qualificada (19,1%).

“Mesmo vivendo um momento positivo e de otimismo, isso não significa que o setor não tem desafios”, alerta Ieda Vasconcelos.

Custo
Segundo a economista da CBIC, o custo da construção sofreu uma alta muito forte durante a pandemia e permanece em patamar elevado. “De janeiro a junho de 2024, o custo com materiais (para construção) já aumentou 60%. Por outro lado, a inflação oficial do País aumentou 30,47% no mesmo período”, compara ela.

Economia vê ganho extra com reforma
Na palestra de encerramento do 11º Summit da Construção Civil, o economista Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral, afirmou que a reforma tributária deverá impactar positivamente a construção civil. As mudanças têm previsão de implantação a partir de 2026 e, segundo Carazza, o setor será o mais beneficiado, com estudos apontando que a mudança pode levar ao crescimento extra de 10,5 pontos percentuais.

“Estudos mostram que a perspectiva para o setor da construção civil é que, além do esperado da média de crescimento para os próximos 15 anos, ele venha a crescer 10,5 pontos percentuais a mais, dadas as vantagens da reforma tributária: simplificação, desoneração dos investimentos e fim da tributação em cascata”, disse o especialista.

Desafios para a construção civil

- Reforma tributária que poderá vir a onerar ainda mais o setor
- Sustentabilidade do FGTS (consignados, saque-aniversário e usados)
- Falta de mão de obra qualificada e a falta de mão de obra não qualificada
- Altas taxas de juros que reduzem o volume de recursos para o financiamento imobiliário
- Alternativas de fundings para o crédito imobiliário
- Custo da construção em patamar muito elevado
- Insegurança jurídica e burocracia (Custo Brasil)
- Incertezas nos cenários doméstico e internacional

FERROVIÁRIO

IstoÉ Dinheiro - SP   02/09/2024

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou neste sábado, 31, que mesmo com a troca recente na presidência, a Vale se comprometeu a manter a proposta inicial ao governo federal envolvendo a renovação de concessões de ferrovias exploradas pela mineradora no País. “Com a nova gestão, vamos afunilar para ver se aquela proposta da Vale tende ao que o governo federal acha razoável ou se haverá uma contraproposta para chegarmos a um denominador comum”, detalhou, após participar de um painel da Expert, evento da XP Investimentos em São Paulo.

No último dia 18, Renan Filho disse que o valor do acordo sobre o pagamento das concessões será muito superior ao de anteriores.

Sem dar prazo específico para a conclusão do processo, Renan Filho explicou que foram realizadas quatro renovações antecipadas das concessões à Vale, sendo que duas já foram renegociadas e assinadas, e uma está no Tribunal de Contas da União (TCU), por tramitação do entendimento do acordo. O ministro não deu detalhes sobre a quarta renovação.

“Enviaremos nos próximos dias ou meses ao TCU, junto com a Vale, um acordo já avançado”, emendou Renan Filho, citando ainda que valores do acordo já estavam incluídos no Orçamento deste ano, e podem ser incluídos também no de 2025. “O problema é que precisamos de um entendimento sobre isso. Não são receitas líquidas e certas, são, inclusive, no âmbito do Orçamento, inseridas como possibilidade de receita extraordinária”, afirmou.

Rodoviário

Valor - SP   02/09/2024

Corredor, conhecido como ‘Rodovia da Morte’, é importante rota de transporte de grãos do Centro-Oeste para região Norte

Quem circula pela BR-163 ouve falar, com frequência, sobre a duplicação da rodovia e a chegada da Ferrogrão, ferrovia que pretende ligar os Estados de Mato Grosso e do Pará. Nas rodas de conversa entre os caminhoneiros, a constatação é de que o progresso virá, seja por asfalto ou ferrovia.

A realidade está mais favorável, no curto prazo, às novas pistas da 163, principalmente no trecho sob administração da concessionária Nova Rota do Oeste, entre os municípios Itiquira (MT) e Sinop (MT). Ednilson Silva da Cruz, o Gaúcho, e Raimundo Gonçalves Borges, conhecido por Maraúcho - mistura de maranhense com gaúcho -, passaram pelo trecho, com destino a Miritituba (PA), onde descarregaram soja no terminal da Cianport.

Enquanto tomavam chimarrão, à espera de uma nova carga de fertilizantes para fazer o trajeto de volta, os dois conversaram com a reportagem da “Globo Rural”. Há três anos, Gaúcho faz este trecho Sinop-Miritituba com lotação no caminhão nove eixos. Ele conta que a expansão dos grãos no Arco Norte está gerando muito trabalho para os caminhoneiros e a rota para o Pará é o que mais compensa atualmente.

“Não dá mais para trabalhar para os lados de Rondonópolis. É tudo travado, não comporta novas cargas, chegou no limite. Aqui é o futuro, a gente vê a mudança da pecuária para os grãos, os novos silos, as empresas de fertilizantes chegando”, afirma.

Questionado sobre a expectativa da Ferrogrão e um possível receio de a ferrovia reduzir o volume de trabalho no futuro, Raimundo responde com tranquilidade: “Só o tempo vai dizer. Mas nos próximos dez anos, vamos ter muito trabalho para esses lados. O negócio é melhorar a rodovia, tem muito acidente.”

Não por acaso, a BR-163 é conhecida como a “Rodovia da Morte”. Sem duplicação, iluminação noturna, postos de parada e curvas sinuosas em muitos trechos, viver na boleia por esta estrada é risco constante. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) referentes ao primeiro semestre de 2024 mostram 400 acidentes na via, aumento de 21% em relação ao mesmo período do ano passado.

Um dos motivos é a redução repentina de velocidade, segundo a avaliação dos caminhoneiros. “Você vem a 100 quilômetros, daí aparece uma placa de 60 km/hora, outra de 40 km/hora, numa diferença de 20 metros, e o radar. Levando 74 mil quilos na carreta, ou você diminui e causa um acidente, ou passa do radar e perde a carteira por estourar os pontos”, relata Ednilson da Cruz, o Gaúcho.

A expectativa é de uma realidade diferente em breve. Pelo menos nos 100 quilômetros entre os municípios de Diamantino e Nova Mutum, onde os motoristas exercem a paciência com uma série de filas em “pare e siga”. Desde julho de 2023, as obras para duplicação foram retomadas, depois de um longo período de espera entre população, governo estadual e concessionária.

Em 2013, o trecho sob concessão da Rota do Oeste, à época pertencente a Odebrecht TransPort, fez parte do terceiro lote de concessões federais. Devido à Operação Lava-Jato, o financiamento de longo prazo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para as obras previstas no contrato não se confirmou, e a duplicação ficou interrompida.

“Houve a tentativa com a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] para fazer uma revisão a cada cinco anos, mas não era um instrumento correto para uma repactuação, entre outras tentativas regulatórias e legislativas”, explica Roberto Madureira, gerente de relações institucionais da Nova Rota do Oeste.

Até que, entre 2021 e 2022, a concessionária apresentou proposta para que o governo de Mato Grosso assumisse como acionista majoritário e único da Nova Rota do Oeste. A partir da decisão, a retomada das obras da BR-163 entre Itiquira e Sinop foi desenhada em conjunto pela concessionária, o antigo acionista, o Estado e a ANTT.

Após o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) ser validado no Tribunal de Contas da União (TCU), o governo estadual assumiu a empresa em 2023, ao injetar R$ 1,6 bilhão na concessionária para retomar as obras.

“Foi imediato. Primeiro, com uma leva de obras de manutenção estrutural, e em julho de 2023, tivemos a retomada da duplicação entre Diamantino e Nova Mutum”, diz Madureira.

Até o final de 2024, a concessionária pretende entregar os 100 quilômetros que estão em obras deste trecho. Até 2028, a meta é duplicar 450 quilômetros, até Sinop.

Não dá mais para trabalhar na região de Rondonópolis. Está tudo travado”

— Ednilson Silva

Madureira afirma que a Nova Rota do Oeste está submetida a uma empresa de capital misto, a MTPAR, com validação do Tribunal de Contas do Estado (TCE), por 24 meses. Após esse período, a companhia fica submetida à lei das estatais

A concessionária tem em seu conselho três pessoas do governo estadual e dois integrantes com origem no mercado. “Importante dizer que o governo não escolhe obra. Ele submete isso a ANTT, do governo federal, que é quem tem total controle sobre o nosso contrato de concessão”, explica o gerente.

De Sinop em direção ao Pará, a responsabilidade pela BR-163 fica a cargo da concessionária Via Brasil. São 1.009 quilômetros até Miritituba, com três praças de pedágio: Cláudia (MT), Guarantã do Norte (MT) e Trairão (PA). Neste último pedágio, o preço chama a atenção: R$ 711,90 para carretas de nove eixos - quanto menos eixos, mais barato. Carros de passeio estão isentos da cobrança. Apesar do alto custo, a falta de infraestrutura pela rodovia persiste.

Ricardo Barra, diretor-presidente da Via Brasil, diz que preço do quilômetro é regulado pelo próprio edital da concessão. Se as praças de pedágio de Claudia e Guarantã correspondem a 100 quilômetros cada uma, o raio de cobertura da cobrança no município paraense é muito maior. “Quando chega em Trairão, a praça do pedágio é condizente a 800 quilômetros. Mas esse é o modelo que foi idealizado para essa concessão.”

Diferentemente da duplicação de Itiquira a Sinop, que ficou represada por anos, as obras até Miritituba ainda não foram definidas. Barra conta que o assunto está em discussão com o Ministério dos Transportes.

A expectativa é de uma definição sobre possíveis intervenções até o município de Guarantã do Norte, ainda em Mato Grosso. “Com otimismo, teremos uma sinalização do TCU em 2024. Para 2025, expectativa é de avanço do projeto e a licença ambiental para obras iniciarem em 2026”, projeta.

NAVAL

Veja - SP   02/09/2024

Desde o regime militar, fracassaram vários programas para criar uma indústria naval forte no Brasil. Agora, o presidente do BNDES defende sua reedição. A Petrobras fez uma grande encomenda. Dificilmente dará certo.

Há exemplos, é verdade, de estaleiros que exportam para mercados mundiais, como a empresa de Itajaí (SC) que vende barcos de turismo para quarenta países. Sua capacidade de concorrer nesses mercados lhe permite superar, via inovação e eficiência, as desvantagens de nosso ambiente de negócios e da tributação que ainda incide nas exportações. Ela não precisa do governo para continuar competitiva.

Ao que parece, o governo pretende apoiar a construção naval de grande porte, justamente onde fracassamos. Não teríamos como competir com estaleiros chineses. Em 2003, a China respondeu por 59% do faturamento da indústria naval do mundo, de 207 bilhões de dólares. O segundo lugar coube à Coreia do Sul (24%). Outros grandes fabricantes foram o Japão, países da Europa e os Estados Unidos.

Naquele ano, dos dezoito navios de maior porte vendidos, a China construiu quatorze. Nas encomendas recentes, de graneleiros, petroleiros, embarcações de contêineres e transportadores de veículos, a China comandou 79,6%, 72,1%, 47,8% e 82,7%, respectivamente. É difícil acreditar que possamos competir com os chineses, inclusive porque eles têm maior capacidade de conceder subsídios. Será o caso de uma das famosas leis de Murphy, a saber: “Se algo tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará errado”.

“Nos anos 1970 e 1980, o setor só exportava graças a fortes subsídios que hoje não é mais possível conceder”

O BNDES tem essas e outras informações relevantes sobre o setor. Mesmo assim, Lula e o presidente do banco querem recriar o programa naval. Alegou-se que o país já produziu navios competitivos para enfrentar mercados globais, o que é correto. É preciso, no entanto, considerar em que circunstâncias isso aconteceu.

Nos anos 1970 e 1980, havia forte apoio financeiro às vendas externas. Além da desoneração de impostos (ICMS e IPI), concedia-se crédito muito subsidiado com recursos do Fundo de Financiamento das Exportações, operado pela hoje extinta Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil. Ao mesmo tempo, o Ministério da Fazenda concedia subsídios em espécie, de acordo com a importância atribuída a certos segmentos exportadores. Como secretário-geral daquela pasta, coordenei estudos que determinavam os percentuais de cálculo dos respectivos benefícios. O campeão era, lembro-me bem, a indústria naval, que recebia, em dinheiro, 40% do valor exportado de cada navio.

Os subsídios eram aprovados pelo Conselho Monetário Nacional. Não se exigia sua inclusão no Orçamento da União. Isso ficou para trás com os avanços institucionais dos últimos quarenta anos. Mesmo que fosse possível, a rigidez orçamentária não deixaria margem para repetir a benesse.

Em suma, esses arranjos são coisa do passado. Davam certo porque, como costumava dizer o ex-diretor do Banco Central Claudio Mauch, “turbinado, até tijolo voa”.

 

A Tribuna - SP   02/09/2024

Investimentos em hidrogênio verde podem representar um novo ciclo econômico para o Brasil, segundo especialistas entrevistados por A Tribuna. Os transportes terrestre e marítimo estão inseridos nesse contexto.

A diretora do Instituto E+ Transição Energética, Rosana Santos, afirma que a possibilidade surge devido à abundância de recursos renováveis de alta qualidade disponíveis no País, aliados à alta demanda por produtos de baixa emissão de carbono.

A Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, também chamada de Marco do Hidrogênio Verde, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no começo deste mês, vai ao encontro dessa proposta.

“Há uma eficiência no processo e esse hidrogênio sai por um custo naturalmente mais baixo do que o dos nossos competidores internacionais”, esclarece Rosana.

Como a segurança jurídica é fundamental para os investimentos, a diretora do Instituto E+ Transição Energética considera a legislação sancionada muito importante para a produção do hidrogênio verde no Brasil. “O marco define quem faz o quê dentro dessa cadeia do hidrogênio, o que pode ser considerado como hidrogênio de baixas emissões, além de ser importantíssimo para definir os padrões na produção”.

Além das certificações, o Marco do Hidrogênio Verde cria mecanismos de incentivo para aumentar a atratividade dos projetos de produção de energia. Serão oferecidos R$ 18 bilhões em incentivos fiscais pelo Governo Federal nos próximos cinco anos, com o objetivo de descarbonizar a indústria e os transportes.

Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o Brasil já tem mais de R$ 200 bilhões em projetos de hidrogênio verde anunciados no âmbito do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2).

Conforme o Plano Decenal de Expansão de Energia 2031, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério, o Brasil possui potencial técnico para produzir 1,8 gigatonelada de hidrogênio por ano, sendo aproximadamente 90% desse volume utilizando energias renováveis.

Para Luciana Moreira, consultora da GO Associados, os incentivos governamentais têm papel fundamental para tornar o País competitivo no mercado internacional. “O Brasil não é atualmente competitivo nos custos de produção de hidrogênio verde, principalmente por conta dos elevados incentivos governamentais na produção de energia renovável em outros países”, afirma.

Contudo, de acordo com ela, estudos da consultoria McKinsey & Company apontam que, até 2030, há a possibilidade de o Brasil ter o hidrogênio verde mais competitivo do mundo. “Os portos brasileiros devem estar preparados para essa nova demanda, ao mesmo tempo em que atuam para a descarbonização de suas próprias operações”, pontua. “Isso exige adequação da estrutura portuária e está em linha com a Agenda ESG, com a qual alguns portos nacionais já estão comprometidos, como o Porto de Santos”, complementa a consultora.

De acordo com Rosana Santos, essa adequação será possibilitada pelo Marco. “Vai permitir que os portos se preparem para receber essas instalações ou plantas industriais de produção de hidrogênio”, afirma. “Nos portos, é possível fabricar o combustível e sintéticos para alimentar os navios”, diz.

“Caso haja uma indústria estabelecida em torno do porto, é possível usar esse hidrogênio para a fabricação de produtos de baixas emissões, e esses produtos podem, inclusive, ser exportados pelo porto”, emenda.

A respeito da exportação de produtos verdes, Rosana Santos destaca que esse processo pode destacar o Brasil no cenário internacional, dada a demanda por esse tipo de produto e pela qualidade dos recursos naturais do país para possibilitar a fabricação.

Para o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Eduardo Nery, a política é o primeiro passo para os investimentos necessários. “Com isso, a médio prazo, será possível receber embarcações menos poluentes e implementar infraestrutura adequada que supra a demanda de energia elétrica”, complementou Nery.

O que é

O hidrogênio verde, identificado pela sigla H2V, é produzido por meio de fontes de energia limpas e renováveis. A produção é a partir da eletrólise da água, uma reação química provocada pela passagem de uma corrente elétrica. A produção do hidrogênio verde não emite gás carbônico e o elemento pode ser utilizado para fins que vão desde a geração de energia elétrica à produção de amônia para a fabricação de fertilizantes. Segundo Rosana Santos, do Instituto E+ Transição Energética, o H2V é uma das alternativas no combate ao uso de combustíveis fósseis e uma peça importante para a descarbonização de diversos processos.

A produção de hidrogênio verde pode ser feita a partir da instalação de um eletrolisador junto à Usina Hidrelétrica de Itatinga, em Bertioga (Vanessa Rodrigues/Arquivo AT)

Cais santista tem interesse na produção de energia limpa

O Porto de Santos é um dos portos brasileiros interessados na produção de H2V. De acordo com o presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Anderson Pomini, o Porto cresce “observando critérios de sustentabilidade”.

Ele lembrou que, em novembro do ano passado, esteve reunido com a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, para pedir apoio do Ministério ao projeto de produção de hidrogênio verde no cais santista. A produção deve ser feita a partir da instalação de um eletrolisador junto à Usina Hidrelétrica de Itatinga, em Bertioga.

A partir dessa produção, a APS teria condições de produzir, armazenar e distribuir o H2V para os consumidores, que seriam terminais portuários, navios acostados no cais, bem como empresas, indústrias e moradias da região.

Conforme Pomini, uma das iniciativas da APS é a eletrificação do cais, o que permite que os navios atracados deixem de usar, no Porto, combustível fóssil. “É um dos principais projetos associados à ideia de um Porto mais sustentável”, afirma.

A APS, em nota, acrescentou que, por meio da Portaria Dipre nº° 208, de 1º de dezembro de 2023, reduziu as tarifas cobradas dos chamados “navios verdes”, com cadastro e pontuação positiva no Índice Ambiental de Navios. Segundo a Autoridade Portuária, os descontos “também beneficiam os navios que navegam com frequência pela costa brasileira (cabotagem) e os de passageiros, como forma de incentivar o turismo”.

Pecém
O Complexo Portuário do Pecém, no Ceará, onde o presidente Lula sancionou o Marco, é considerado como o centro do H2V no Brasil. Com 19 mil hectares de área, o complexo portuário abrange os principais projetos do setor no País.

O diretor comercial do Porto, André Magalhães, explicou como a produção do Hidrogênio Verde vai funcionar no complexo. Segundo ele, as empresas responsáveis ficarão instalados na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) Ceará, em uma área de 1,9 mil hectares, para receber novos investimentos.

Magalhães detalha que o hub de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém vai oferecer, através de parceiros, soluções compartilhadas aos produtores.

“Com isso, o produtor não precisa investir nesses equipamentos e, assim, consegue reduzir seus custos de produção”, explica. Ainda de acordo com o diretor, as primeiras decisões de investimento são esperadas para o próximo ano.

Portos e Navios - SP   02/09/2024

A Transpetro anunciou recentemente o TP 25, Programa de Renovação e Ampliação da Frota, e com ele vai atender à nova estratégia do Sistema Petrobras que visa à ampliação da capacidade própria de logística de petróleo e derivados e redução de sua exposição ao afretamento na cabotagem.

Desenvolvido em conjunto entre Petrobras e Transpetro, o TP 25 é bom para o Brasil, porque recoloca o país como protagonista no setor naval.

A decisão de ampliar a frota própria na cabotagem está ancorada numa posição empresarial, porque essa opção logística gera mais valor, traz mais segurança operacional e dá retorno para os acionistas da Petrobras.

Com o TP 25, a Transpetro vai ampliar em 25% sua capacidade logística no transporte de petróleo e derivados na costa brasileira, em linha com o crescimento da produção e do refino planejado pela Petrobras.

Além disso, o Programa de Renovação e Ampliação da Frota impulsiona a Transpetro para o futuro, cria perspectivas de crescimento das suas operações logísticas e com navios mais sustentáveis.

O primeiro lote de contratações, lançado em julho, prevê a aquisição de quatro navios da classe handy. Essas embarcações irão incorporar um pacote tecnológico que garante uma redução de até 30% no volume de emissões.

Se esses handys usarem etanol como combustível, será possível inclusive classificar essas operações como carbono neutro.

Ou seja, o TP 25 é um programa efetivamente bom para o Brasil e essencial para o Sistema Petrobras.

A Tribuna - SP   02/09/2024

O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, assinou nesta quinta-feira (29) a portaria que regulamenta o Decreto 11.964/2024, que estabelece critérios para facilitar a emissão de debêntures de infraestrutura. A assinatura ocorreu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (30).

A regulamentação definida pela portaria vai permitir que a emissão das debêntures para financiar os investimentos em infraestrutura de portos e aeroportos seja realizada sem a necessidade da autorização prévia do MPor, o que dá agilidade ao processo. Hoje, há espera de dois a três meses para essa autorização.

As modalidades foram criadas por lei com o intuito de incentivar os investimentos em infraestrutura por meio do mercado de capitais. A atualização das regras busca dar maior transparência aos processos de emissão de dois tipos de valores mobiliários. As debêntures de infraestrutura foram criadas em janeiro deste ano, por meio da Lei 14.801.

No portal do MPor, o investidor interessado poderá acessar a página com o passo a passo sobre como protocolar os documentos. Um formulário eletrônico também será disponibilizado. Na portaria terá toda a documentação necessária para preencher o Formulário de Projeto de Investimento.

PETROLÍFERO

Petro Notícias - SP   02/09/2024

Nem todo mundo está contente com a publicação do decreto do programa Gás para Empregar, que foi anunciado no início desta semana. Para o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), presidido por Roberto Ardenghy, as novas regras trazem mudanças significativas, inclusive com possíveis inovações e contradições em relação à Lei do Gás. A entidade, que representa as principais petroleiras que operam no Brasil, vê que o decreto “tem o potencial de gerar insegurança jurídica e elevar a percepção de risco”. O IBP também cita que há o risco de redução da livre concorrência, por conta das novas atribuições concedidas à Agência Nacional do Petróleo (ANP) e à Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Em comunicado, o IBP revela três das suas principais preocupações. A primeira delas diz respeito à possibilidade de revisão dos Planos de Desenvolvimento por iniciativa da ANP, inclusive em campos que já estão em produção e/ou cujas infraestruturas já passaram por decisão final de investimento. Outro temor é que, na visão do IBP, o decreto converte atividades concorrenciais, de livre iniciativa, como a construção de dutos de escoamento e plantas de processamento, em atividades reguladas pela ANP. Na avaliação da entidade, “o regulador terá poder para estabelecer ‘a justa remuneração’ de ativos já existentes, e a EPE poderá definir quando e onde novas infraestruturas de escoamento e processamento deverão ser construídas”.

O IBP prevê ainda “uma centralização na EPE de todo o planejamento do setor, não mais de maneira indicativa, como vinha sendo feito até agora através da publicação de relatórios informativos, mas agora de maneira determinativa, onde se passa a requerer que toda nova infraestrutura para atender a oferta e a demanda de gás natural no futuro deverá ser identificada pelo órgão público e submetida ao interesse privado por meio de processo seletivo público, a ser realizado pela ANP”.

Para o instituto, eventuais questionamentos jurídicos e regulatórios, além do próprio tempo que será necessário para implementar alguns dispositivos do Decreto, poderão impactar o cronograma de projetos já aprovados e atrasar as decisões de investimentos ao longo da cadeia de gás, sem, no entanto, garantir efeitos tangíveis imediatos, ou de curto prazo, seja no aumento da oferta, ou mesmo na redução dos preços aos consumidores.

“O IBP reitera o apoio aos programas e iniciativas do Governo Federal que visem a garantir um suprimento energético sustentável, confiável e acessível, o que é indispensável para o crescimento social e econômico do País. Entretanto, ressalta que o desenvolvimento do mercado de energia deve ser baseado em um ambiente de negócios com estabilidade de regras, pautado pela livre concorrência e o respeito aos contratos em vigor”, concluiu.

O Estado de S.Paulo - SP   02/09/2024

O especialista no setor de óleo e gás Edmar Almeida, pesquisador do Instituto de Energia da PUC-Rio, afirma que o governo Lula deve ter cautela na hora de implementar as regras ditadas no decreto do gás, editado na última segunda-feira, 26.

O governo estabelece que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) poderá determinar o aumento da produção de gás natural mesmo para campos de exploração onde já existem planos de desenvolvimento aprovados.

“O governo tem espaço para trabalhar sem provocar um desastre no setor de óleo e gás”, afirma Almeida em entrevista ao Estadão. “O processo de revisão dos planos de desenvolvimento pela ANP não pode criar incertezas que gerem paralisia ou criem dificuldades para atrair investimentos para novos campos de petróleo. Isso pode gerar um ambiente de negócios muito ruim.”

O especialista diz que está em jogo mais do que os investimentos na produção de gás, mas de todo o setor de petróleo, que vive hoje um momento de planos de expansão.

“A fase é de expansão de investimentos no transporte de gás, na importação de GNL (gás natural liquefeito), querem trazer gás da Argentina… tem muita coisa acontecendo e é importante que os mecanismos criados não gerem conflito e incerteza”, disse. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual a sua avaliação do pacote anunciado pelo governo Lula para aumentar a oferta de gás?

O pacote misturou problemas que são muito diferentes, e isso dificulta a percepção geral. Toda essa questão da transição energética foi colocada junto com o decreto do gás, que tem mais a ver com a questão da competitividade do gás brasileiro. Sobre como resolver uma demanda da indústria. É um ponto muito mais específico do que a transição energética. Tem que separar os temas para debater melhor.

Os grandes consumidores alegam que o gás no Brasil é caro, e que as petroleiras preferem extrair o óleo, que é mais rentável, do que o gás. O governo deve induzir as empresas a produzir gás?

É verdade que o gás brasileiro é caro, e isso está associado ao fato de que nós precisamos importar gás para atender o mercado. A parcela do transporte e distribuição, além dos impostos, também é muito alta. Então, não é só a molécula do gás: as outras etapas da cadeia produtiva também estão acima do custo médio de outros países. Isso tem a ver com questões regulatórias, com o fato de os investimentos não estarem ainda amortizados e com o imposto sobre o gás no Brasil ser de 25% – o que é raro nos outros países. Além disso, o gás no Brasil é mais de 80% associado ao petróleo em águas ultraprofundas. Isso faz com que, do ponto de vista técnico e econômico, esse gás tenha um custo muito alto. Não impede que o governo tente buscar tudo o que seja possível para aumentar a oferta de gás. Este é o dever da ANP (Agência Nacional do Petróleo), sempre foi, o de olhar tudo o que seja tecnicamente viável no processo de aprovação dos planos de desenvolvimento (dos campos de produção) e exigir que isso seja produzido.

Por que a Lei do Gás, de 2021, vendida como uma medida que poderia derrubar o preço, não deu o resultado esperado?

O que estava errado era alardear que, de uma hora para outra, o preço iria cair e resolveria todos os problemas da indústria. Os problemas são complexos e vão demorar a ser resolvidos, e a redução de preço é uma questão que vai levar tempo. Com a Lei do Gás, nós fizemos uma abertura de mercado da indústria do gás que foi bem-sucedida. Temos várias empresas, não só a Petrobras, vendendo gás. Onde há maior competição, como no Nordeste, o gás é mais barato do que nos locais onde a Petrobras tem pouca competição. Mas o processo de regulamentação desse mercado, pela ANP, está indo muito devagar – e isso gerou uma frustração. Os consumidores estão certos em pressionar, mas é importante entender que são questões técnicas. Se elegemos o caminho do mercado, temos que ter paciência. A alternativa é o governo tabelar o preço, o que eu acho que é pior ainda; que pode funcionar no curto prazo, mas é um desastre no longo prazo.
O sr. identificou problemas no decreto do gás?

É importante que o governo tenha cuidado na implementação do decreto para não gerar incertezas na indústria, porque pode paralisar o bom momento que estamos vivendo. A fase é de expansão de investimentos no transporte de gás, na importação de GNL (gás natural liquefeito), querem trazer gás da Argentina… Tem muita coisa acontecendo e é importante que os mecanismos criados não gerem conflito e incerteza.
Como assim?

O que me preocupa muito é a ideia de criar um plano para a indústria do gás determinativo, ou seja, os investimentos da indústria vão se dar a partir de um plano elaborado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), que vai determinar o que vai entrar nesse plano: quais serão os novos gasodutos, sistemas de escoamento, unidades de processamento, qual a oferta e a demanda esperadas… esse tipo de plano é muito desafiador do ponto de vista técnico. Além disso, os atores que têm interesse nos projetos vão pressionar o governo para que os projetos deles estejam no plano. Isso pode atrasar o processo. E como os investimentos agora vão ficar esperando esse plano, isso pode atrasar os investimentos e criar uma paralisia. Já caímos nessa armadilha em 2009. É importante não deixar parar o processo de investimento, porque isso vai ser pior para a oferta. E todo o plano está sendo feito com a ideia de que vamos trazer mais gás – e com mais gás, o preço cai. Se não tem mais oferta, o preço não cai.
Há risco de judicialização?

Não é interesse do governo nem das empresas judicializar. Tem muita coisa em jogo. O decreto apontou as diretrizes e colocou o que é o interesse público, mas a implementação é muito importante. O governo tem espaço para trabalhar sem provocar um desastre no setor de óleo e gás. O processo de revisão dos planos de desenvolvimento pela ANP não pode criar incertezas que gerem paralisia ou criem dificuldades para atrair investimentos para novos campos de petróleo. Isso pode gerar um ambiente de negócios muito ruim. No decreto, existem mecanismos para evitar isso, ter oitiva das empresas, respeitar o aspecto técnico-econômico. Porque os planos de desenvolvimento foram ditados com algumas premissas. Se, de repente, essas premissas são mudadas de forma arbitrária, isso pode criar uma incerteza sobre o investimento – e isso afeta a atratividade do Brasil no setor. O que está em jogo é a atratividade do País para além da produção de gás.

Valor - SP   02/09/2024

Gerdau e CSN aderiram ao ambiente livre, mas riscos aos primeiros entrantes são elevados

Rogério Pizeta, diretor de energia da CSN, prevê aumento no suprimento de gás no curto e médio prazo e diz que novos entrantes estimulam concorrência — Foto: Gabriel Reis/Valor

A abertura do mercado livre de gás natural no Rio de Janeiro marca um importante movimento entre as grandes empresas consumidoras do insumo. A expectativa de migração para esse modelo de contratação é elevada, mas ainda há correções a serem feitas e os riscos para quem entra nesse segmento não são poucos.

Os primeiros acordos com produtores ou comercializadoras foram firmados na busca de melhores condições de preço e suprimento, flexibilidade para definir valores de contratos em diferentes indexadores, novos canais de fornecedores e competitividade.

O Rio de Janeiro responde por mais de 70% da produção nacional de gás. O novo modelo tem gerado otimismo entre grandes consumidores, petroleiras e empresas de transporte de gás, que veem novas oportunidades no setor.

A Gerdau deu o pontapé em um contrato com a Petrobras e a Naturgy para suprimento de gás natural à Cosigua, unidade de produção de aços longos no Rio, na primeira migração de um cliente do mercado industrial regulado para o mercado livre no Estado.

Depois, a siderúrgica CSN, principal consumidora livre de gás do país, migrou a usina Presidente Vargas (UPV), em Volta Redonda (RJ), para o ambiente livre de contratação de gás. A mudança ocorreu por meio de uma assinatura de um contrato com um pool de empresas - Petrobras, Shell e Galp -, que garante o fornecimento de 1.350.000 m³ de gás por dia.

Ao Valor, Rogério Pizeta, diretor de energia da CSN, diz que a migração é justificável, pois a empresa, por si só, era responsável por cerca de 60% do volume comercializado pela distribuidora local, a Ceg-Rio, o que permite ao grupo tratar diretamente com os produtores condições melhores.

“Faz sentido para uma empresa do nosso porte assumir um pouco mais de risco e entrar no mercado livre (...). Contratamos não apenas a molécula, como também o transporte de saída com a NTS [operadora de gasodutos], e isso me dá a liberdade de buscar o gás natural de outros supridores”, diz.

Pizeta prevê aumento no suprimento de gás no curto e médio prazo e diz que, até alguns anos atrás, o Brasil contava apenas um fornecedor, a Petrobras. Hoje, no entanto, a entrada de novos fornecedores e distribuidoras privadas estimulou a concorrência e mais investimentos no setor.

Embora consigam melhores condições financeiras, os novos entrantes também assumem o risco de eventual falta de suprimento, precisando buscar por conta própria contratos de molécula com prazos definidos, e ficam mais expostos às oscilações de preço com o contexto geopolítico, fatores que geralmente não ocorrem no mercado regulado (atendido pelas distribuidoras de gás).

A Shell Energy Brasil será responsável pelo fornecimento de 50% do volume diário contratado pela CSN. O presidente da empresa, Rodrigo Soares, diz que o ambiente de negociação do mercado livre permite que o cliente tenha liberdade de negociar a molécula de gás de acordo com seu perfil de consumo, além de poder gerenciar seu portfólio de acordo com as flutuações comprando e vendendo no mercado spot, sem multas ou penalidades.

“Fomos o primeiro distribuidor do pré-sal além da Petrobras a negociar para o mercado regulado. Também fomos o primeiro vendedor do mercado livre e viemos com uma série de novos produtos para revolucionar esse mercado”, diz.

Hoje, a Petrobras detém 80% da produção e reinjeta o gás natural nos poços durante a exploração para manter a pressão do reservatório e aumentar a recuperação de petróleo. A empresa informou recentemente que a reintrodução de gás nos campos em que opera passará por “correção de rumo”, mas o aumento do aproveitamento será feito só em novas plataformas, pois não é possível mudar projetos já entregues ou contratados.

O gerente-executivo de gás e energia da Petrobras, Álvaro Tupiassú, diz que a companhia vem oferecendo ao mercado desde 2023 novos produtos comerciais, mais flexíveis às necessidades dos clientes. Ele espera que a dinâmica de mercado e o crescimento de oferta previstos no planejamento, com a entrada de uma nova capacidade de escoamento na Rota 3, juntamente ao portfólio pelas demais fontes de ofertas domésticas e importação da Bolívia e nos terminais de GNL, permitam a atuação competitiva da companhia.

“Prevemos mais de US$ 7 bilhões de investimentos em novas infraestruturas de ofertas de gás natural. Estamos investindo também em um novo canal de relacionamento com os clientes, que tem como objetivo principal gerar valor e facilitar para o cliente a gestão dos contratos com a Petrobras.”

A ampliação do mercado livre ocorre em um momento em que o governo formaliza o programa Gás para Empregar, mais uma tentativa de oferecer gás mais barato aos consumidores. A proposta foi criticada. Agentes enxergam traços de intervencionismo, já que a medida estabelece que a agência reguladora ANP determine a redução da reinjeção de gás natural “ao mínimo necessário”, incluindo a fixação do volume máximo a ser reintroduzido nos poços, o que pode abrir uma onda de judicializações no país.

A Abrace, associação que representa os grandes consumidores livres de energia, entretanto, vê a iniciativa como positiva. Argumenta que o número de consumidores que conseguem comprar o gás diretamente dos produtores ainda é pequeno. A entidade vê avanços, como o acesso a gasodutos de escoamento e ao processamento de GNL da Petrobras, considerados infraestrutura essencial, a um custo justo.

Supremo Tribunal Federal - DF   02/09/2024

O Núcleo de Solução Consensual de Conflitos do Supremo Tribunal Federal (Nusol/STF) marcou para o próximo dia 12, às 15h, uma audiência de conciliação para discutir a quem compete operar o Gasoduto Subida da Serra (ou Gasoduto “Reforço Metropolitano”), em São Paulo. Na Ação Cível Originária (ACO) 3688, o Estado de São Paulo pede que a operação seja mantida no âmbito estadual, e não federal.

O tema de fundo da discussão é se o gasoduto deve ser classificado como de distribuição, sujeito à competência da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do estado (Arsesp), ou de transporte, sujeito ao monopólio da União e sob competência regulatória da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A agência reguladora estadual argumenta que o gasoduto é um elemento crítico na infraestrutura de distribuição do estado, responsável pela segurança operacional do abastecimento de gás canalizado na maior metrópole e no maior parque industrial do país. Segundo a Arsesp, essa segurança está em risco em razão de recente decisão da ANP, que reclassificou o gasoduto como de transporte, ficando assim sob regulação federal.
Amplos poderes

No despacho de convocação da audiência, a coordenadora do Nusol, juíza auxiliar da Presidência do STF Trícia Navarro Xavier Cabral, possibilitou às partes a apresentação prévia das pretensões conciliatórias ou de elementos que ajudem a entender os pontos controvertidos, a fim de facilitar a construção de consenso.

Também determinou que os representantes das partes enviados para a audiência presencial tenham amplos poderes para transacionar. O relator da ação, ministro Edson Fachin, também poderá designar servidores de seu gabinete para participar da audiência.

AGRÍCOLA

Globo Rural - SP   02/09/2024

Apesar dos prejuízos causados no agronegócio pelas chuvas no Rio Grande do Sul, as empresas de máquinas agrícolas estão otimistas em relação às vendas durante a Expointer 2024, feira que encerra neste domingo (1º/9), em Esteio (RS).

Expositores presentes no evento acreditam que os negócios devem igualar ou até superar a comercialização do ano passado, um movimento incentivado por ações das concessionárias junto a clientes e a necessidade de investimentos dos produtores diante do início do plantio de uma nova safra.

Para o Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), a perspectiva para as vendas do setor durante a feira é de, no mínimo, igualar a comercialização de 2023, que alcançou R$ 7,3 bilhões.

“Na Expointer são apresentadas as novas tecnologias, o agricultor sabe disso e espera pela feira para fechar compras. Nossos estandes estão com bastante gente conversando com os vendedores, o que indica alta possibilidade de negócios”, afirma o presidente do Simers e da Federação das Indústria do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cláudio Bier.

Em parte, o movimento de compras é incentivado com auxílios das próprias empresas de máquinas aos produtores.

É o caso de Verner Brendler, de Cachoeira do Sul (RS). Com as enchentes do Rio Jacuí, o agricultor perdeu toda a sua área de 500 hectares de soja e 40% dos seus 600 hectares de arroz. Além disso, as águas destruíram bombas e canais de irrigação, estradas e cercas da propriedade. Todas essas perdas geraram um prejuízo de cerca de R$ 7 milhões.

Mesmo assim, Brendler está adquirindo uma nova colheitadeira, com incentivo da New Holland. “A concessionária da marca em Cachoeira do Sul fez uma proposta para comprar à vista, por R$ 1,5 milhão, minha colheitadeira usada, e financiar uma nova. Eu não tinha intenção de fazer isso, mas o dinheiro que perdi está fazendo falta e, dessa forma, consigo me capitalizar a tempo de começar o plantio no final de setembro”, afirma.

“Nossos concessionários fizeram ações com suporte da fábrica para ajuda ao cliente na recuperação de máquinas, troca de usados, concederam prazos de pagamento, tudo para amenizar o que aconteceu no Rio Grande do Sul”, afirma Cláudio Calaça, diretor de Mercado Brasil da New Holland.

Segundo Calaça, embora as expectativas para a Expointer estivessem baixas, os resultados estão sendo melhores do que o esperado. “O produtor vai plantar, vai voltar a investir, e está ocorrendo uma procura para investimento. Apesar dos preços da soja, temos culturas relevantes no Estado, como arroz e fumo, que estão em um momento muito positivo”, destaca.

Consórcio é alternativa

O produtor Marcos Antônio Berte cultiva, junto com dois sócios, 1.670 hectares de soja espalhados entre os municípios de Boqueirão do Leão, Butiá, Cachoeira do Sul, Gramado Xavier e Sinimbu. Ele estima que teve perdas de R$ 2,5 milhões com as chuvas, incluindo prejuízos com máquinas.

“Em nossa área em Cachoeira do Sul, onde a gente tem 280 hectares de soja, esperava colher 82 sacos por hectare, mas atingimos só 29 sacos por hectare. Em Sinimbu e Gramado Xavier, perdemos 328 hectares de lavoura que não deu para colher”, relata.

Mesmo com as perdas, Berte buscou ajuda com a SLC Máquinas de Lajeado (RS), representante da John Deere, para adquirir novos equipamentos, incluindo uma colheitadeira. “A gente não tem como parar. Preciso de equipamento para a próxima safra. A situação está ruim, mas temos uma dívida para pagar e, para isso, temos que plantar e colher bem”, observa.

O produtor fez um consórcio para comprar máquinas em condições que considera vantajosas. “Foi uma proposta da empresa que nos pareceu muito econômica. Pagamos parcelas de seis em seis meses, com um juro um pouco maior de 3% ao ano, até menor do que o do Pronaf”, afirma.

A necessidade de ajuda aos agricultores é confirmada por Gustavo Barden, gerente Divisional de Negócios da John Deere Brasil. “Alguns produtores, pelas perdas que tiveram, estão com dificuldade de financiamento. Por isso, estamos com algumas linhas subsidiadas, ajudando alguns agricultores a fazer negócio com os usados deles, e oferecendo máquinas com taxa de juro financiada muito atrativa”, detalha.

“Dessa forma, com o dinheiro da máquina usada, o produtor ganha capital de giro para poder reinvestir na terra dele, pagando em cinco anos os equipamentos”, complementa Barden.

Para o gerente da John Deere, nesta edição da Expointer, a marca deverá igualar os números de negócios realizados em 2023. “O mercado está muito promissor no arroz e no fumo, assim como em alguns hortifrútis. Então os resultados estão acima do esperado na feira”, afirma.

Case IH espera crescimento de 10%

Para Juliano Vicari, gerente comercial da Case IH para a região Sul, os resultados da Expointer estão sendo uma surpresa muito positiva, especialmente para quem tinha dúvidas até se a feira seria realizada. Morador de Esteio, Vicari lembra que, há dois meses, era difícil acreditar que pudesse ocorrer o evento, uma vez que o parque que sedia a feira estava completamente alagado.

“Quem viesse aqui há 60 dias não imaginava que seria possível fazer uma feira do porte da Expointer no final de agosto”, lembra Vicari. No entanto, o cenário de incertezas em relação à mostra já se transformou em uma perspectiva positiva. Para a Case IH, a expectativa é de fechar a Expointer de 2024 com um resultado de negócios 10% superior ao atingido em 2023.

“O mercado gaúcho sempre nos surpreende positivamente. Mesmo produtores que sofreram perdas estão vindo aqui nos procurar para buscar equipamentos que permitam retomar o processo produtivo deles, em especial tratores de média e baixa potência, assim como colheitadeiras para arroz”, afirma Vicari.

Iniciativas da Massey Ferguson

A Massey Ferguson também espera que os negócios fechados na Expointer alcancem o mesmo patamar de 2023 ou mesmo um leve crescimento, segundo Lucas Zanetti, gerente de marketing de produto da marca. A principal procura na Expointer é por veículos de média e baixa potência, assim como máquinas para arroz.

Zanetti lembra que as concessionárias fizeram várias ações para apoiar os produtores que sofreram perdas. “Recolhemos máquinas para fazer revisão, trocar peças ou até o produto. Na questão financeira, estamos oferecendo formas de crédito para ajudar o agricultor a retomar sua produção, temos parceiros de consórcios e bancos com iniciativas nesse sentido”, descreve.

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